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Existe uma postura corrente
de que a arte não é importante para o mundo real.
Mas o estudo da arte pode melhorar nossa percepção
e nossa habilidade de traduzir aos outros o que vemos.
Essas habilidades são úteis.
Essas habilidades podem salvar vidas.
Médicos, enfermeiros e agentes da lei
podem usar a pintura, a escultura e a fotografia
como ferramentas para melhorarem sua percepção visual
e suas habilidades de comunicação,
que são cruciais durante investigações e emergências.
Se você estiver tratando um ferimento,
investigando uma cena de crime,
ou tentando descrever uma dessas coisas
a um colega,
a arte pode tornar você melhor nisso.
Tipo, imagine que você seja um policial experiente
ou um médico dedicado,
mas também imagine que você esteja em um museu
e vamos ver uma pintura.
Time Transfixed, 1938, de René Magritte,
retrata um cômodo misterioso e complexo
que convida a uma análise,
não diferente daquela necessária aos sintomas de um paciente
ou à cena de um crime.
Um trem em miniatura, cuja origem
e destino são desconhecidos,
está saindo de uma lareira,
e a fumaça da locomotiva
parece subir pela chaminé
como se viesse do fogo,
que evidentemente não existe em baixo.
A estranheza da cena
ecoa pela sala de estar vazia,
intensificada pelo piso de tábua corrida
e pelas molduras decorativas na parede
à direita da lareira.
Empoleirados em cima da bancada da lareira
há dois candelabros e um relógio.
Atrás desses objetos, há um grande espelho
que revela um cômodo vazio
e apenas um reflexo parcial
dos objetos diante dele.
A justaposição dos objetos
que cercam o trem em movimento
levanta diversas questões
para as quais parece não haver resposta.
Eu descrevi a pintura com precisão
ou deixei de fora algum detalhe?
Não tem problema
se você vir algo a mais em uma pintura,
mas e se fôssemos ambos policiais experientes?
Eu chamo você para me dar apoio.
Você aparece apenas para perceber
que os dois ladrões de banco ninjas de que falei
eram, na verdade, seis ladrões de banco ninjas com lasers.
O estudo cuidadoso da arte pode treinar os espectadores
a estudarem profundamente,
analisarem os elementos observados,
expressarem-nos de forma sucinta
e formularem perguntas
para tratar das aparentes inconsistências.
Examinando os detalhes
de uma cena pouco familiar,
neste caso a obra de arte,
e precisamente comunicando
quaisquer contradições observáveis
é uma habilidade decisivamente importante,
tanto para as pessoas que analisam raios x
quanto para aquelas que interrogam suspeitos.
Vamos interrogar essa pintura, que tal?
Certo, Magritte, essa pintura que você fez é bem pequena.
Mas por que não há nela nenhum trilho de trem?
Por que não há fogo?
O que aconteceu com as velas?
Por que a lareira
não tem um pequeno túnel para o trem?
Ele simplesmente atravessa a parede.
E o relógio está marcando
quase 1:45,
mas não tenho certeza se a luz
que entra inclinada pela janela
diz que é pouco mais de meio dia.
Do que se trata essa pintura, enfim?
É aí que você, meu parceiro fiel,
me detém,
e eu vou embora.
Você oferece a Magritte uma xícara de café
e continua o interrogando,
para ver se essa pintura ficaria firme no tribunal.
Os espectadores podem fornecer uma descrição
mais detalhada e precisa da situação,
expressando o que é visto
e o que não é visto.
Isso é especialmente importante em medicina.
Se uma doença é caracterizada por três sintomas
e apenas dois estão presentes em um paciente,
um médico deve explicitamente relatar
a ausência desse terceiro sintoma,
indicando que o paciente
talvez não esteja com doença suspeitada.
Expressando a ausência de um detalhe ou comportamento específico,
conhecido como sintoma negativo pertinente,
é tão crucial quanto relatar
os detalhes e comportamentos que estão presentes
para se tratar o paciente.
E ausências evidentes só são evidentes
aos olhos treinandos para enxergá-las.
A arte ensina aos profissionais
de diversas áreas de atuação
não apenas a fazerem perguntas mais efetivas
sobre o que não pode ser prontamente respondido,
mas também, e principalmente,
a analisarem situações complexas da vida real
a partir de uma perspectiva nova e diferente,
por fim, resolvendo problemas difíceis.
Atenção intensa a detalhes,
a habilidade de dar um passo atrás
e ver de forma diferente,
queremos que os socorristas tenham habilidades ***íticas
de historiadores mestres da arte, no mínimo.
A arte nos treina a investigar
e essa é uma habilidade da vida real, se é que já houve alguma.