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Bacon e ovos no café da manhã.
Carne assada no almoço.
Seguido por uma porção de torta de maçã
e creme de leite fresco.
Todos nós temos nosso prato favorito.
É um banquete para os olhos, uma tentação para o nariz,
e puro deleite para a boca.
Mas aquilo que comemos teve um papel muito maior
para nos tornar o que nós somos
do que qualquer um poderia ter imaginado.
A comida é absolutamente fundamental
para a evolução humana.
O que há em nossos pratos
é a conexão mais direta que temos com nossos ancestrais.
Nós não nos tornaríamos
as criaturas dominantes que somos sem ela.
De um único ingrediente que nos transformou para sempre...
Nós sabemos que há 2.6 milhões de anos,
nossos ancestrais começaram a comer carne.
Você precisa ser forte e inteligente
para ser capaz de viver assim,
e nossos ancestrais certamente o eram.
...à descoberta de que algo que fazemos diariamente
mudou o curso da história humana.
O cozimento é grandioso.
Acho que é, sem dúvidas, a maior melhoria
na qualidade da dieta de toda a história da vida.
Poderia ser realmente possível
que cozinhar nos tornou humanos?
COZINHAR NOS TORNOU HUMANOS?
Por todo o mundo, cientistas têm preparado
um conjunto fascinante de experimentos
para resolver um dos maiores mistérios humanos.
Eles estão fazendo com que dentes de 3 milhões de anos
voltem a mastigar novamente.
Isso é incrível.
Um pouco mais pra frente, pessoal. Aqui vamos nós.
É uma boa menina.
Alimentando pítons à força com bifes em forma de rato.
Parece um pouco com talco.
E um estômago de £ 1 milhão
está recriando as maravilhas de nosso sistema digestivo.
Os pesquisadores estão tentando resolver
o quebra-cabeça de como nossos ancestrais -
os primatas andantes,
tornaram-se os humanos atuais.
Há 6 milhões de anos, no coração da África,
os ancestrais humanos começaram a andar eretos.
O Professor Travis Pickering está em sua trilha
para descobrir como nossa espécie evoluiu.
Bem, esse é um tipo de ancestral humano primitivo,
o qual nós chamamos Australopithecus.
Nós sabemos que é um ancestral humano,
porque nós temos indicação
de que ele andava ereto, tal como nós,
mas, por outro lado, ele é bem semelhante aos primatas.
Ele tem um cérebro relativamente pequeno
e uma grande face proeminente.
Então, cerca de 2.3 milhões de anos atrás,
houve uma transformação.
Essa é uma espécie de humano primitivo
{\a7}handyman: "faz-tudo"
Seu nome científico é *** habilis.
Nós o chamamos 'handyman',
porque ele está associado a ferramentas de pedras.
Você pode ver que nós temos uma expansão cerebral
e uma face menor, a qual está oculta sob o crânio.
Finalmente, há cerca de 1.8 milhão de anos,
surgiu nosso primeiro ancestral humano autêntico -
o *** erectus.
É o primeiro humano primitivo
que realmente tem características
semelhantes às do homem moderno.
Um cérebro bem grande
e a indicação de que era um caçador de presas grandes.
Essas foram mudanças evolutivas extraordinárias.
Mas por que elas ocorreram?
Durante muito tempo se pensou
que onde nossos ancestrais viveram
e como eles se relacionavam entre si
afetara sua evolução.
Mas os cientistas agora estão se perguntando
se outra parte integrante da vida -
os próprios alimentos que eles comiam -
poderiam ter gerado um efeito tão revolucionário.
Para descobrir a resposta,
precisamos retroceder 4 milhões de anos,
para quando o Australopithecus - o primata das florestas -
caminhou sobre a Terra,
sobrevivendo com uma dieta de frutas e vegetais crus.
Aparte de andar ereto, o Australopithecus
era muito semelhante aos primatas modernos.
Você sabe no quê os chimpanzés
passam a maior parte de seu tempo fazendo?
Eles passam a maior parte de seu tempo apenas mastigando.
E o Australopithecus teria, sem dúvidas,
feito a mesma coisa.
Provavelmente, durante mais de 12 horas por dia,
eles teriam passado seu tempo
simplesmente movendo suas mandíbulas pra cima e pra baixo,
porque eles estão comendo
alimentos de qualidade relativamente baixa,
se comparados a nós.
Eles passam a maior parte de seu tempo
fazendo nada além de comer.
Apesar de nossos estilos de vida serem, agora,
mais sofisticados do que os dos nossos ancestrais,
não há nada como uma fruta ou vegetal cru
para nos pôr em contato com nosso primata interior.
A coisa da qual mais gosto são... as frutas.
Eu tendo a comê-la mais em seu estado natural
do que quando ela está misturada a algo.
- Ei, veja. - É suculenta, não é?
Nós, humanos, gostamos de frutas
e, até mesmo, de alguns vegetais -
algo muito bom, dado o mantra moderno das "5 por dia".
O que, então, poderia ser melhor do que
uma volta à dieta básica do melhor da natureza:
tudo cru?!
E isso é, exatamente, o que 8 voluntários farão.
Eles viverão no Zoológico de West Country,
junto a nossos parentes - os primatas,
durante 2 semanas, e eles também comerão como eles.
- Bom dia a todos. - Bom dia.
A nutricionista a cargo do estudo é Lynne Garton.
- Vocês estão com fome? - Sim.
Sim? Bem, eu irei passar para vocês
a dieta pela qual nossos ancestrais se alimentariam.
Dentro da caixa,
há um monte de frutas, vegetais e nozes,
para lhes dar uma idéia da enorme gama e variedade
de diferentes alimentos, os quais eles teriam comido.
Nozes.
A cada voluntário são dados
os 5 kg de frutas e vegetais dos quais eles precisarão
para suprir sua demanda energética diária.
Não comam as folhas do brócolis.
Elas têm poucas calorias.
De modo a suprir seus requisitos nutricionais,
precisamos nos assegurar de que haja
bastantes frutas e vegetais,
para garantir que eles sejam supridos.
E se comer a casca?...
Na verdade, não é tão ruim quanto eu pensava.
Quem gosta de melancia?
Mas nem todos os voluntários estão tão dispostos a voltar
os 4 milhões de anos que se passaram
e viver como um Australopithecus.
Eu fiquei mastigando essa cenoura durante 20 minutos.
E ela não irá descer.
Eles seguem mastigando noite adentro.
Na manhã seguinte...
Bom dia.
...as folhas da dieta os deixam
definitivamente insatisfeitos.
- ...sanduíches com salsicha. - Sanduíches de salsicha?
Eu mataria por um sanduíche de salsicha!
Eu não me importaria com um ovo cozido.
Estou um pouco desapontado com meu brócolis.
Mas não há como fugir das frutas e vegetais.
Ao terceiro dia, nem tudo está bem
com seus sistemas digestivos do Século XXI.
Eu acho que deve ser a fruta! Um bocado dela.
Quando você precisa ir, tem que ir, não é?
Esse é um sintoma de um problema mais sério.
Ao longo do curso da semana,
ficou claro que os corpos dos nossos voluntários
são bastante diferentes dos do Australopithecus,
de modo que, simplesmente, eles não conseguem ingerir
a quantidade necessária de alimentos.
Eles vão precisar lutar para seguir até o fim.
São muitas coisas.
Eu acho que alguns deles
não ingeriram sequer 1/3 de sua comida.
E a preocupação é que...bem, eles estão ficando famintos.
Essa dieta não fornece energia suficiente
para os humanos modernos.
Você se sente cheio, mas não satisfeito.
Eu costumava comer muito mais queijo, batatas fritas
e coisas que fazem você se sentir realmente cheio.
Apesar de não estar com fome,
tampouco estou me sentindo saciada.
Ao final de 2 semanas,
os voluntários perderam, em média, quase 5 kg.
Apesar de que, a curto prazo,
eles tenham gostado de perder peso,
a longo prazo, é provável que morressem de fome.
Parece que os humanos modernos
simplesmente não conseguem sobreviver por muito tempo
comendo apenas frutas e vegetais crus.
O estudo piloto mostrou que algo deveria ter acontecido
para diferenciar nosso corpo daquele do Australopithecus.
Mas o que seria?
Eu gosto de tudo mesmo. Carne fresca.
Eu gosto bastante de um café da manhã com fritada inglesa.
Um bacon de boa qualidade,
belas fatias grossas de pão branco,
bastante ketchup, um pouco de manteiga.
Perfeito.
Será que comer carne fez com que realmente evoluíssemos?
Cerca de 2.3 milhões de anos atrás,
surgiu o *** Habilis -
o primeiro ancestral que, se supõe, tenha comido carne.
Houve, a seguir, uma mudança incrível.
Apesar do Habilis não medir, ereto, mais de 1 m de altura,
os fósseis mostraram que ele tinha um crânio maior
e um cérebro 30% maior do que o do Australopithecus.
E, ainda mais importante,
os cientistas especularam que
esse chimpanzé de cérebro grande e de andar ereto
evoluiu como um resultado por ter comido carne.
O tamanho do cérebro do Australopithecus
permaneceu estável.
Depois, veio o ato carnívoro,
e, a seguir, os cérebros ficaram maiores,
e isso desencadeou tudo rumo aos humanos modernos.
O problema é que a carne é bem mais difícil de se obter
do que frutas e vegetais.
E alguns pesquisadores
acreditam que o Habilis não tinha a capacidade
para realizar a complexa empreitada de uma caçada.
Evidências intrigantes
podem vir das primeiras ferramentas de pedra,
encontradas quase na mesma época do surgimento do Habilis.
Uma teoria era de que elas
eram apenas usadas para fatiar carcaças de presas;
a outra é de que o Habilis
as usava para desenvolver armas de caça.
O Professor Travis Pickering
está viajando para o norte da Namíbia
para encontrar alguns dos
maiores especialistas em caça do mundo.
Ao vê-los em ação, ele espera obter uma noção
de como é possível realizar a complexa caça
usando apenas armas básicas.
Mal posso esperar para ver esse pessoal caçar amanhã -
vai ser bem divertido.
Esses são os Jut'want, o que significa 'povo real'.
Sua localização remota
significa que eles ficaram relativamente intocáveis
até o Século XXI.
Nessa sociedade, não há agricultura.
Tudo que eles comem vem da caça e da coleta.
Travis está encontrando N'lao e seus amigos,
conforme eles partem para caçar o jantar de suas famílias.
Eu estou curioso para conhecer um pouco
sobre a tecnologia de caça.
Essa é uma lança feita de metal e coberta por pele.
Ela tem uma ponta flexível.
Nós a usamos para matar o animal.
Travis quer descobrir
como eles usam essas armas para caçar.
Em menos de uma hora,
eles encontram rastros recentes de um animal.
Parece que vocês, pessoal, encontraram uns rastros.
O que é isso?
Esses são rastros de porco-espinho.
- Porco-espinho. - Porco-espinho?
Está escondido no buraco.
Essa é uma ótima carne,
tão valiosa que os bosquímanos estão preparados
para perseguir o porco-espinho através de seu buraco.
Mas após 30 minutos cavando, o buraco fica pequeno demais.
Sob o sol escaldante da Namíbia,
eles começam a cavar um poço
com quase 2 metros de profundidade dentro do túnel.
Quando você tenta reconstruir
o forrageio dos humanos primitivos,
a única forma de fazê-lo
é vir até o mundo real e ver as pessoas fazendo-o.
E isso lhe mostra o tanto de trabalho envolvido
nesse estilo de vida.
É notável.
Eles estiveram fazendo isso a manhã inteira.
Os bosquímanos cavam poços dentro dos túneis
dos porco-espinhos durante 4 horas,
sob temperaturas que passam dos 40°C.
Está bem excitante, agora -
você pode ver o porco-espinho no fim de sua toca,
então, eles estão cavando um buraco do outro lado,
de modo que cheguem até ele de uma forma ou de outra.
Finalmente, o porco-espinho aparece.
É a culminação de várias horas de caça.
É um porco-espinho grande e adulto.
Veja como seus espinhos são longos!
Os bosquímanos, agora, têm o seu jantar.
Eu, particularmente, não gosto de comer porco-espinho,
mas carne é carne.
Para Travis, a caçada do dia
mostrou-lhe que nossos ancestrais
poderiam ter sido muito bem exitosos
em usar ferramentas bastante básicas
para caçar suas presas.
Eles mataram esse porco-espinho com uma lança,
no fundo desse buraco,
o qual vimos eles cavarem o dia todo,
e uma lança é uma tecnologia bem simples -
esses caras dispõem de lâminas de metal nelas,
mas nossos ancestrais teriam usado lanças sem metal.
Mesmo sem a pedra, eles teriam conseguido.
Você precisa ser resistante e inteligente
para ser capaz de viver assim,
e nossos ancestrais certamente o eram.
Então, nossos ancestrais poderiam ter caçado carne,
mas quando foi que eles começaram a comê-la?
Em Bradford, uma cientista está executando uma série
de experimentos básicos, porém, reveladores,
os quais devem ser capazes de nos dar uma resposta.
A Professora Julia Lee-Thorp
está examinando dentes muito antigos
de mandíbulas - tanto de animais, quanto de humanos,
os quais viveram há milhões de anos.
Eu fico bastante nervosa
quando eu estou lidando com dentes humanos primitivos.
É uma experiência de tirar o fôlego, na minha opinião.
Eu estou bastante consciente
do fato de que precisamos ser cuidadosos
sobre danificar o material,
porque ele é bastante precioso e raro.
Ela realiza seus experimentos nessa pequena câmara laser.
Nós estamos alinhando o feixe para dispará-lo nela,
e o laser desprende uma quantidade mínima de esmalte.
O laser vaporiza buracos microscópicos
no esmalte dos dentes primitivos.
O gás liberado contém dois isótopos de carbono.
A relação entre um e outro irá indicar
se nossos ancestrais se alimentavam nas árvores,
ou se estavam indo rumo às planícies cobertas de grama.
O resultado irá revelar
o tipo de alimento ingerido pelos humanos primitivos,
e o ambiente no qual eles viveram.
Até agora, a pesquisa de Julia
revelou que no período anterior ao da evolução do Habilis,
houve uma enorme mudança
no estilo de vida de nossos ancestrais.
Os resultados nos dizem que nossos ancestrais mudaram
de uma dieta e ambiente centrados nas florestas
para uma concentrada nas pastagens.
Isso está nos dizendo que nossos ancestrais comiam
animais que se alimentavam das pastagens
Mas não é apenas o esmalte dos dentes
que mostra uma variação na dieta de nossos ancestrais -
é o próprio formato dos dentes
que guarda pistas do que eles comiam.
No mundo natural,
a adaptação dos animais à sua dieta é clara.
Herbívoros, como gazelas,
têm grandes dentes posteriores planos,
úteis para mastigar as plantas...
...enquanto que carnívoros, como leões,
ganharam dentes afiados
para agarrar suas presas e rasgar sua carne.
A mudança nos dentes de nossos ancestrais,
quando eles começaram a comer carne,
é revelada em um novo experimento.
O Professor Peter Ungar passou sua vida examinando
o esqueleto de humanos primitivos.
Há uma característica em particular que o fascina.
Você poderia chamá-lo de dentista primitivo.
Essa é uma mandíbula de Australopithecus.
Seus dentes são grandes, eles são planos -
o esmalte é bem grosso neles.
Esse é o ancestral humano mais recente.
Seus dentes são menores -
mais serrilhados, de esmalte mais fino.
O Professor Ungar quer descobrir como
esses conjuntos bem diferentes de dentes
se adaptaram a dietas diferentes.
Conheça o BITE Master II.
Essa máquina única simula a mastigação.
Ela irá testar essas mandíbulas primitivas.
Nós iremos fazê-los mastigar diferentes tipos de alimentos,
e tentar ver como os diferentes dentes
afetam a forma pela qual a comida é partida
durante a mastigação.
Essa é a primeira vez, em 3 milhões de anos,
que esses dentes de Australopithecus agem.
Então, como eles irão se sair contra uma cenoura crua?
Pode ligar.
Os dentes do Australopithecus, por serem grandes e planos,
foram bastante eficientes
em esmagar esse alimento e quebrá-lo em 2 pedaços.
Oh, isso é legal.
Ele certamente o partiu!
Mas como eles irão lidar com carne crua?
OK, está pronto. Tirei minhas mãos.
Dentes grandes e planos
prensando carne crua não funciona muito bem.
Pense em tentar esmagar um bife com um martelo:
ele não irá parti-lo em diversos pedaços -
ele irá transformá-lo em uma *** sanguinolenta.
Peter agora prepara
as mandíbulas de um ancestral mais recente,
o qual pode ter sido um caçador.
Serão esses dentes mais eficientes
em lidar com essa nova dieta?
Espere, espere, espere!
Esses são dentes afiados!
Eu não quero ser mordido
por uma boca com 1.7 milhão de anos.
Vejamos que tipo de dano nós causamos.
OK.
O pedaço de carne processado
pelo ancestral humano mais recente
tem um buraco que o atravessa praticamente todo,
enquanto que o pedaço de carne processado
pelo Australopithecus mal sofreu uma perfuração.
Os dentes de nossos ancestrais carnívoros
tornaram-se menores e mais afiados,
tais como os nossos próprios.
A evidência revela que
comer carne mudou nossa evolução para sempre.
Nossos ancestrais aprenderam a caçar,
desenvolveram dentes mais afiados
e desenvolveram, acima de tudo, cérebros maiores.
Mas se a carne proveu um ímpeto poderoso por mudança,
ela não foi nada, se comparada ao que aconteceu a seguir.
Cozinhar é incrível.
Eu acho que é, certamente, a melhoria mais importante
na qualidade da dieta de toda a história da vida.
O alimento cozido aciona todos os nossos sentidos.
O olfato, a visão,
o tato...
...e, é claro, o paladar
estão entre os grandes prazeres da vida.
Meu prato favorito seria qualquer tipo de guisado,
e aquele que me vem à mente
é um prato polonês, chamado bigos.
Carne assada, frango assado - eu gosto bastante disso,
bem como de batatas e vegetais assados.
É uma refeição inglesa saudável e tradicional para mim.
Um autêntico curry indiano.
Eu adoro o cheiro aromático, os temperos -
todo aquele sabor que você tem em um curry.
Será que cozinhar realmente nos fez evoluir?
O Professor Richard Wrangham, da Universidade de Harvard,
tem uma teoria nova e controversa,
a qual sugere que não foi outra mudança
nos ingredientes de nossa dieta,
mas a forma pela qual nós os preparamos
que levou à evolução de
nossos primeiros e autênticos ancestrais humanos.
Certamente, a primeira coisa que aconteceu
na mudança para um tipo moderno de dieta
foi quando as pessoas controlaram o fogo,
e, a seguir, provavelmente por acidente,
lançaram comida sobre ele.
E, então, eles teriam provado daquela comida
e eles a teriam achado deliciosa.
Isso nos lança em uma direção totalmente nova,
porque o surgimento do cozimento
foi, provavelmente, a melhoria mais importante
na qualidade da dieta na história da vida,
mas certamente na história da evolução humana.
Muitos cientistas não concordam
que cozinhar tenha sido a causa de algo tão drástico.
Eles acreditam que a capacidade de se adaptar a novos ambientes
e de interagir, com êxito, com aqueles ao seu redor
também são influências importantes.
Uma das grandes idéias diz que
nós desenvolvemos nossos cérebros grandes e complexos
para lidar com nosso ambiente social.
O que encontramos em sociedades de primatas
é que não são, necessariamente,
os indivíduos mais fortes e maiores
que têm o maior êxito reprodutivo -
frequentemente, são os mais inteligentes,
os quais conseguem manipular os demais, formar coalizões
e atingir uma posição mais alta na hierarquia social.
As razões para o grande passo adiante em nossa evolução
são vistas sob controvérsia,
mas o que é certo é que há cerca de 1.8 milhão de anos,
surgiu o primeiro ancestral,
cujo comportamento era realmente humano.
Era o *** erectus.
Ele perdeu as características simiescas de seus antecessores -
sua anatomia era bem semelhante à nossa,
e ele conseguia correr com a mesma facilidade que nós.
Porém, ainda mais importante,
seu cérebro aumentara em cerca de 20%.
Se Wrangham estiver certo,
e cozinhar for a causa desse salto quântico,
é fundamental descobrir quando surgiu o cozimento.
Isso é tema de alguns debates.
Eu acho que cozinhamos pela primeira vez
há quase cerca de 2 milhões de anos,
com o surgimento do *** erectus.
É possível que o ato de cozinhar
tenha 1 milhão de anos.
Baseado nas evidências que temos,
eu diria que começamos a cozinhar
em algum momento nos últimos 800.000 anos.
A prova de quando nossos ancestrais começaram a cozinhar
poderia estar nessa região do sul da África.
Travis Pickering é, na verdade,
o líder das escavações em Swartkrans -
um dos principais sítios arqueológicos pre-históricos.
O que é incrível sobre Swartkrans
é que não temos apenas centenas de fósseis
do Australopithecus por aqui.
Nós também temos resquícios do *** erectus no local.
Além de termos ossos com mais de, no mínimo,
1 milhão de anos de ambas as espécies,
nós podemos inferir o seu comportamento,
com base nos restos arqueológicos daqui.
Ele está trabalhando com um pioneiro
no estudo do comportamento humano primitivo -
o Professor Bob Brain.
Bob tem estado escavando esse lugar durante 50 anos.
Nas camadas mais profundas,
ele descobriu ossos de Australopithecus
com marcas estranhas.
Aqui, nós estamos olhando para a nuca de uma criança -
ela tinha, provavelmente, 10 anos quando morreu -
e há 2 buracos nesses ossos.
Eu fiquei bastante surpreso
ao descobrir que o espaço entre esses 2 buracos
casa-se, quase com perfeição,
ao espaço entre os caninos inferiores
de um fóssil de leopardo da mesma parte da caverna.
Isso indica que essa criança foi morta por um leopardo.
Mas em partes mais recentes da caverna,
ele encontrou ossos com marcas de ferramentas de pedra neles -
prova de que nossos ancestrais estavam comendo carne.
O que isso nos indica
é que as pessoas estavam arrancando a carne desse osso
e suas facas de pedra atravessaram essa carne
e atingiram essa superfície óssea.
Nós também temos um dano por percussão nesses ossos,
onde as pessoas abriam os ossos
para retirar a medula comestível
do interior desses ossos.
O que torna Swartkrans bastante especial
é uma coleção única de ossos de animais,
encontrados em uma mesma camada,
o que Bob acha que são evidências
de que nossos ancestrais podiam controlar o fogo.
Nós, de repente, encontramos
vários exemplos de ossos que haviam sido queimados,
sugerindo que houve um processo bastante repetitivo,
e que ossos eram regularmente queimados
em fogueiras próximas à entrada da caverna.
No processo,
nossos ancestrais deixariam de ser presas dos animais,
usando o fogo para afugentá-los e, até mesmo, para caçá-los.
Certa vez presas, agora, eles eram predadores.
Mas, para Travis,
os ossos queimados representam
uma possibilidade ainda mais intrigante.
O *** erectus
teria usado o fogo em Swartkrans para cozinhar.
Se pudermos provar que aqui se fez cozimento,
seria notável porque essa área tem 1 milhão de anos,
então, seria a evidência mais primitiva
de cozimento em qualquer lugar do mundo.
Até o momento,
Travis encontrou apenas ossos animais,
os quais ou foram fatiados ou queimados.
Mas para provar que houve cozimento aqui,
ele precisa encontrar ossos cortados,
os quais também tenham sido queimados.
Há uma possibilidade alta
de que esses ossos possam, na verdade,
ter sido cozinhados por humanos primitivos.
Nós não podemos provar com certeza, no momento,
porque nós não temos marcas de cortes nos ossos queimados,
mas nós iremos coletar mais ossos
e procurar essas marcas de corte.
Para apoiar sua teoria,
Travis quer examinar as fogueiras
dos caçadores-coletores modernos,
para ver quais resquícios são deixados
após eles cozinharem suas presas.
Bem no centro dos arbustos da Namíbia,
N'lao e seus amigos estão dando a Travis
uma oportunidade maravilhosa
para descobrir como, exatamente,
eles comem suas presas,
e o que eles deixam para trás.
Usando um graveto pro fogo,
eles rapidamente criam o fogo.
Agora, os bosquímanos cozinham apenas
partes cuidadosamente selecionadas do porco-espinho,
as quais irão deteriorar rapidamente
no calor africano.
Qual partes vocês irão comer, agora, na fogueira?
Nós comemos a pele e o coração onde estamos, agora.
A seguir, levamos o resto da carne de volta ao vilarejo.
Tendo queimado a pele do porco-espinho,
eles cortam a gordura, rica em energia,
e a cozinham.
O coração macio e o fígado são assados nas cinzas.
É sua primeira refeição após 9 horas.
Mas essa fogueira é temporária.
Todos os traços irão desaparecer dentro de dias.
Travis acredita que nossos ancestrais
acendiam fogueiras temporárias semelhantes,
não deixando nada para o registro arqueológico.
Mas N'lao se concentra no que acontecerá
com a carne e os ossos do porco-espinho,
os quais os caçadores irão dar para suas famílias.
Ficarei muito orgulhoso de levar a carne de volta ao vilarejo.
Só então me sentirei como um verdadeiro caçador.
De volta ao vilarejo, a carne do porco-espinho
irá proporcionar um farto jantar.
Eles celebram noite adentro.
Na manhã seguinte,
Travis retorna para ver
se os ossos do porco-espinho do jantar
podem ajudá-lo a provar que o *** erectus cozinhava,
um milhão de anos atrás.
Esses ossos são do porco-espinho moderno,
o qual foi morto ontem.
Esse é o osso da coxa, ou fêmur.
Deveria haver bastante carne aqui em volta,
e teriam cortado toda a carne sobrejacente daqui,
e, a seguir, puxado um pouco o fêmur de seu lugar
e cortado o tendão que o ligava.
Há marcas neles semelhantes
às dos ossos que achamos em Swartkrans,
de há 1 milhão de anos,
e elas estão sob a forma dessas marcas de corte.
Compare as marcas de corte, feitas apenas 12 horas antes,
com essas, de 1 milhão de anos atrás.
Sim, há uma semelhança.
Só há uma forma certa de fatiar o corpo de um animal,
e ela deixa marcas semelhantes,
quer você esteja usando metal ou pedras.
Aquilo do qual a teoria de Trevis realmente precisa
é de ossos cortados,
os quais também foram queimados no cozimento.
Isso é algo bastante excitante para mim.
É um osso queimado com marcas de corte nele.
Isso mostra que essas coisas não são incomuns.
Eu acho que é provável que nós encontremos
esse tipo de evidências -
Eu acho que é o mais próximo que serei capaz de dizer
que temos cozinhado há 1 milhão de anos.
Quanto mais antiga a data, maior a probabilidade
de que o cozimento tenha afetado a evolução
de nossos primeiros ancestrais humanos verdadeiros.
Mas o debate só será concluído
quando encontrarmos evidências concretas.
O que há em cozer alimentos
que possa ter um efeito tão poderoso em nossos corpos?
É uma questão polêmica, a qual está sendo investigada
pela comunidade científica ao redor do mundo.
Para responder essa pergunta,
o Professor Wrangham não está trabalhando com humanos.
Seus pacientes são ratos,
cuja dieta normal são alimentos crus.
Antes de mais nada,
os ratos são alimentados com inhame cru durante 4 dias.
Nós estamos dando a eles
essa deliciosa batata-doce crua,
e tal como qualquer outro animal selvagem
adaptado a alimentos ricos em amido,
nós esperamos que eles se saiam muito bem.
A seguir, durante 4 dias, eles comem inhames cozidos.
O impacto em seus corpos é chocante e imediato.
Esses ratos passaram por rodas de exercício,
as quais nos permitem monitorar
até onde eles vão, diariamente.
Eles podem percorrer quilômetros, diariamente.
Quando calculamos o total de giros da roda,
desempenhado por cada rato,
aqueles que haviam comido alimentos cozidos
foram significativamente melhores
do que aqueles que comeram alimentos crus.
Eles tinham mais energia, e correram mais.
Apesar de terem consumido tanta energia,
ao final dos 4 dias,
os ratos que haviam comido alimentos cozidos
não perderam peso.
26.1...
Na verdade, eles engordaram.
Aqui, estamos vendo que
os ratos que comeram seus alimentos cozidos
estão obtendo mais energia
do que os ratos que comeram os alimentos crus.
A mesma coisa poderia ser aplicada a nossos ancestrais,
ao comerem seus vegetais cozidos, ao invés de crus.
Por que cozinhar os alimentos nos daria mais energia?
Afinal, o processo de aquecer os alimentos
não aumenta o seu número de calorias.
Essa máquina - um estômago de £1.000.000 -
pode conter a resposta.
Ela simula o processo de decomposição dos alimentos,
conforme eles passam através de nosso sistema digestivo.
Seu projetista é o Dr. Martin Wickham.
Ele a está usando para descobrir
como nossas entranhas reagem aos alimentos cozidos.
Nesse caso, uma batata recheada de amido.
Primeiro, ele prepara uma batata crua, mastigando-a.
Eu esperava que fosse similar a comer uma maçã crua, mas...
É um pouco como...talco.
Antes de mais nada, precisamos alimentar
nosso estômago-modelo -
exatamente do mesmo material
com o qual nossos estômagos são providos.
O que estamos fazendo é decompor o alimento -
desses pedaços maiores para pedaços menores.
Agora, nas entranhas mais caras do mundo...
...enzimas e ácidos,
os quais existem, naturalmente, em nosso próprio estômago,
irão tentar atuar sobre a batata crua.
Após meia hora, Martin examina o resultado.
Com a batata crua, o que vemos aqui é que,
na verdade, há bem pouca decomposição mecânica.
Os pedaços de batata ainda estão aí,
basicamente situados no suco digestivo.
Eles iriam, a seguir, passar para nosso cólon
e iriam, de fato, ficar no cólon
e eles não seriam digeridos,
dando-nos uma grave dor de barriga.
A seguir, ele observa
se as entranhas mecânicas se saem melhor
com a batata cozida.
Com a batata crua, nós vimos pedaços que estavam saindo
praticamente tal como entraram.
Com a batata cozida,
já que temos uma estrutura menos dura e rígida,
podemos começar a digeri-la
e a liberar todos os nutrientes.
Dessa vez, o estômago, de fato,
transformou a batata cozida em uma polpa.
Mas para descobrir quais as vantagens
o cozimento pode ter para o corpo,
Martin quer testar o quanto de energia
foi liberado pelo sistema digestivo a partir das batatas.
Ele adiciona um reagente à batata crua,
marcado com um 'R',
e um à batata cozida, marcado com um 'C'.
Quanto mais fundo o vermelho estiver no líquido,
maior é a quantidade de açúcares liberado no intestino.
Quando cozinhamos a batata,
nós obtemos muito mais desse açúcar,
muito mais dessa energia é liberada
durante o processo digestivo.
E isso se deve ao cozimento.
Cozinhar nos permite digerir a comida facilmente,
liberando quantidades imensas de energia
na corrente sanguínea para alimentar o corpo.
Mas para entender exatamente como isso acontece,
precisamos dar uma olhada mais de perto
para a própria estrutura do alimento.
A cientista em alimentos, Doutora Kathy Groves,
investiga o que acontece aos alimentos,
ao nível microscópico, quando eles são cozinhados.
Ela coloca um pedaço de batata crua sob um microscópio
e começa a aquecê-lo.
O que nós podemos ver aqui
é que temos grãos de amido,
os quais estão crus - não foram cozidos -
e, quando os aquecemos,
eles se incham bastante e as moléculas se quebram
dentro dos grãos de amido,
permitindo que o amido se desprenda do grão,
ajudando, posteriormente, na digestão.
As paredes celulares ao redor dos grânulos
se quebram conforme a rígida estrutura do vegetal
dissolve-se em um mingau,
liberando as moléculas de amido ricas em energia.
A capacidade humana de cozinhar nos dá uma imensa vantagem
sobre todos os outros animais.
O cozimento é um processo pré-digestivo.
Acima de tudo, ele muda a estrutura do alimento.
Ele desprende as células, ele as amolece,
ele permite que elas sejam 'quebradas' na boca
de modo muito mais fácil,
tal que elas possam ser, a seguir, digeridas.
Esse acesso facilitado às calorias
tem tido um efeito fundamental
em mudar o curso da evolução humana,
de acordo com o Professor Wrangham.
A descoberta do cozimento deu a nossos ancestrais
muitíssimo mais energia.
Nós ainda, entretanto, não sabemos o quanto.
Talvez 50% a mais, talvez mais do que isso.
É o bastante para ter um impacto evolutivo gigantesco
na sobrevivência e na reprodução.
O efeito do cozimento não se trata apenas
de liberar mais calorias em nossos corpos.
Ele tem outro papel surpreendente.
No extremo sul dos EUA existe um zoocentro estranho.
Jacarés, tarântulas, lagartos...
...cada um deles desempenha um papel
na exploração de nossa biologia.
Mas por ora,
o Dr. Stephen Secor, da Universidade do Alabama,
está trabalhando com pítons birmanesas.
Ele quer descobrir se elas consomem mais energia
digerindo carne cozida ou crua.
As cobras, por serem, basicamente,
uma cabeça e um estômago,
representam boas cobaias para esse experimento.
Elas comem sua presa inteira
e permanecem quietas por até uma semana.
A única energia gasta é na digestão de seus alimentos.
Estamos tentando ver
se conseguimos encontrar alguma diferença
no decorrer da digestão
entre uma refeição cozida e uma refeição crua.
Isso, isso...
Vamos fazê-las relaxar um pouco.
Lá vamos nós. Boa cobrinha!
A primeira píton ingere o que, para quaisquer padrões,
é um bocado.
Um pedaço de bife cru, no formato de um rato -
é sua presa natural.
É uma boa menina.
Precisamos apenas
lentamente empurrá-lo até sua garganta.
Um pouco de cada vez.
Isso exige bastante tempo e esforço.
Felizmente, elas não têm problemas em comer
uma refeição desse tamanho.
Isso não é nada,
se comparado ao tempo que leva o processo digestivo.
Irá levar cerca de 6 a 7 dias
para que essa píton digira esse pedaço de carne.
É praticamente o mesmo tempo que ela precisaria
para digerir um rato de tamanho semelhante.
Vocês, pessoal, irão ajudá-la, agora.
Lá vamos nós.
Temos que fazer descer até o estômago.
Certo.
A seguir, Stephen inicia a próxima refeição,
moendo e cozinhando a carne.
Você acharia que uma píton faria pouco caso da tritura,
mas os pedaços ficam presos em sua garganta
e Stephen precisa usar uma sonda de alimentação.
Então, o que fazemos é pegar um pouco de cada vez,
colocando-o no tubo e empurrando-o pelo caminho,
descendo até o estômago da cobra.
Lá vamos nós.
Provavelmente, isso não é mais estressante para ela
do que se estivesse comendo um rato grande.
Ambas as cobras são postas em caixas herméticas
e deixadas em uma câmara aquecida e silenciosa,
para que comece o longo e lento processo digestivo.
Após uma hora,
Stephen começa a medir os níveis de oxigênio
dentro dos containers das cobras.
Nós estamos medindo a taxa de consumo de oxigênio.
É uma medida indireta do metabolismo energético.
Ela nos permite quantificar
o quanto de energia elas estão gastando
na digestão de suas refeições.
Duas vezes por dia, durante os próximos 6 dias,
a equipe prossegue com os ***.
Os resultados revelam o efeito extraordinário
que os alimentos cozidos têm
em facilitar o seu caminho através do corpo da cobra.
Então, quando nós alimentamos a píton com um bife cozido,
nós descobrimos que a energia gasta
na realização da digestão
diminuiu cerca de 24%,
comparado ao bife intacto, cru.
A porcentagem é de enorme significância.
Ela mostra que comer
alimentos cozidos reduz em 1/4
a energia necessária para realizar o processo digestivo.
O Professor Wrangham afirma que essa energia extra
levou às adaptações drásticas no *** erectus.
O cozimento fez nossos intestinos diminuírem.
Ao cozinharmos nossos alimentos,
não precisávamos de intestinos grandes,
e intestinos grandes eram uma desvantagem -
eles saíam caros, em termos de energia.
Então, esses indivíduos que nasciam com intestinos menores
eram capazes de poupar energia
e, portanto, tinham mais bebês
e sobreviviam mais.
Então, nós temos o cozimento e temos intestinos pequenos.
Isso nos proveu com energia para que desenvolvêssemos
aquele que é, sem dúvidas,
o órgão mais importante de nosso corpo -
o órgão que, segundo muitos, nos torna humanos.
Nosso cérebro.
A teoria "Intestino pequeno, cérebro grande"
foi desenvolvida pelo paleoantropologista
Professor Peter Wheeler.
Nós acreditamos que o sistema digestivo menor no *** erectus
foi capaz de evoluir devido à mudança na dieta -
isso liberou energia, a qual poderia ser usada
para abastecer um cérebro maior.
E é isso o que nós vemos:
o aumento no tamanho do cérebro, no *** erectus,
espelhado pela redução no tamanho de seu intestino.
E certamente se exige bastante energia
para alimentar nossos cérebros.
Apesar de representar apenas 2,5% de nosso peso corporal,
quando estamos sentados,
nosso cérebro consome 20% de nossa energia.
Isso é, aproximadamente,
o equivalente a ter uma lâmpada acesa de 20 W,
dentro de sua cabeça, o tempo inteiro.
A maioria dos outros primatas
usa apenas 10% de sua energia para abastecer seu cérebro.
Nossos cérebros grandes e famintos
nos tornam a exceção.
Nosso melhor palpite é de que, nos humanos,
uma vez que o cozimento
permitiu que os intestinos ficassem menores,
então, a energia poupada para cuidar do intestino
ficou disponível para o cérebro -
um órgão muito dispendioso,
o qual certamente precisa ser alimentado por alguma parte.
Então, parece provável que o que o cozimento fez
foi viabilizar esses cérebros maiores.
Mas o grande cérebro que nos ajudou tanto...
...agora nos causa grandes problemas no Século XXI.
Somos programados para comer alimentos ricos em energia,
alimentos doces e gordurosos.
Eu poderia, provavelmente, fazer algo ilegal,
se eu soubesse que iria obter uma torta de banana.
Quando se trata de desfrutar do chocolate,
quando ele começa a molhar a parte posterior da língua
e eu consigo senti-lo descendo...
...ele é quente e frio ao mesmo tempo.
Sou viciado em doces.
Talvez seja porque
me privaram de chocolate, quando eu era pequeno.
Nosso desejo por alimentos ricos em energia
é bastante antigo.
No Século XXI,
temos um corpo e um cérebro
que evoluíram com o *** erectus.
Uma parte desse cérebro parece estar no comando,
quando confrontado por nosso mundo Ocidental de abundância.
Mais?
Eu posso ter que reposicionar aquele...
A Dra. Susan Francis e seus colegas
estão mostrando o quão poderoso
é a compulsão de nosso cérebro
por alimentos gordurosos, ricos em energia.
OK, eu acho que estamos prontos.
Estamos interessados em quais partes do cérebro respondem
a diferentes concentrações
de gordura - diferentes níveis de gordura.
A gordura é muito importante,
porque as pessoas sempre almejam mais gordura,
e os conceitos de recompensa da gordura,
e estamos interessados em quais partes do cérebro
estão sendo usadas para essas respostas à gordura.
- Funciona perfeitamente. - OK.
A equipe prepara uma série de soluções ricas em energia,
cujo conteúdo de gordura varia de 5 a 30%.
- Lá vai. - OK.
Um paciente é posto em um scanner de RM,
o qual irá registrar suas respostas cerebrais.
Ele irá ingerir os líquidos repletos de gordura
através desse tubo.
Primeiro, dão a ele uma solução com 5% de gordura.
OK, vamos iniciar, agora, o scanner de RM.
Então, o primeiro nível de gordura é de 5%,
o que é bem semelhante ao leite integral,
e nós temos uma resposta muito baixa do cérebro
a esse nível de concentração de gordura.
O scan revela que seu cérebro mal reage.
Mas, a seguir, dão-lhe a solução com 10% de gordura.
O nível seguinte é de 10% de gordura,
o qual se assemelha bastante ao de uma bola de creme.
E nós estamos vendo, para esse nível,
que as áreas do paladar no cérebro respondem à gordura.
Dessa vez, uma parte bem maior do cérebro é ativada.
Agora, a dose com 30% de gordura é suministrada.
E é o que acontece a seguir que é tão surpreendente.
O maior nível de gordura que estamos dando é de 30%,
e esse é bastante semelhante ao de 2 bolas de creme.
Ela ativa não apenas o paladar,
mas também vemos as áreas do tato no cérebro,
associadas à textura da gordura na boca.
E nós também vemos áreas de recompensa no cérebro,
associadas à resposta de recompensa da gordura.
O que é surpreendente
é que uma parte do cérebro normalmente associada ao tato
foi, agora, ativada.
Nossa boca usou, até mesmo, nosso sentido do tato
para examinar, nos mínimos detalhes,
a textura e a viscosidade da gordura.
O experimento mostra que, ao longo dos milênios,
nós evoluímos uma bateria de antenas
para aprofundar nossa busca por alimentos gordurosos.
Nós, no mundo moderno,
temos usado nossos cérebros famintos
para criar um ambiente no qual
possamos comer aquilo que desejarmos,
onde quisermos,
e quando quisermos.
Aqui estamos no Século XXI -
os alimentos que provêm de nossos supermercados
são sempre, a cada ano, mais ricos em energia do que antes.
Nós estamos sendo constantemente expostos
a alimentos que nos dão
quantidades tremendas de energia,
e aos quais não podemos resistir.
Esse cérebro grande e faminto,
o qual fez tanto para nos tornar aquilo que somos,
ameaça nos destruir.
Os humanos modernos percorreram um longo caminho
desde a sobrevivência de nossos ancestrais
com uma dieta de frutas e vegetais crus.
Nossos alimentos nos ajudaram a superar a desvantagem
de sermos relativamente insignificantes.
Mas, talvez, seja a descoberta do cozimento
que nos preparou com cérebros grandes o bastante
para assumir o controle do planeta.
Tradução e Legendagem: VitDoc (docsPT)
www.docspt.com