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[LEONARDO] Muito bom dia pra você que está ligando a sua televisão agora!
São, exatamente, 8:23am - sem o horário de verão.
Você já está ouvindo os acordes do violão do meu querido Richell Martins!
Você vê imagens da Av. Beira Mar, lindas imagens! Uma Fortaleza bastante ensolarada, nesta manhã de quarta-feira.
Poeta, compositor, escritor, cantor, dramaturgo e diplomata...
Essa última função é a menos lembrada, quando se fala sobre Vinicius de Moraes...
O carioca que completaria, no dia 19 deste mês, cem anos
O carioca que completaria, no dia 19 deste mês, cem anos
se destacou tanto pelas composições e poesias, que é até compreensível que as lembranças sobre sua trajetória musical
sejam bem mais reconhecidas do que os fatos que marcaram sua carreira na diplomacia.
Mas Vinicius também ajudou a levar o nome do Brasil para outros países, de forma institucional
Na função de promover a cultura brasileira, ninguém mais adequado do que um dos compositores da 2ª música mais cantada, na história,
com mais de 500 interpretações gravadas em vários países: "Garota de Ipanema", fruto da parceria com Tom Jobim...
Só foi menos tocada do que "Yesterday", dos Beatles.
E, pra gente falar um pouco mais sobre o centenário de Vinicius de Moraes,
eu tenho o prazer danado de receber meu colega Richell Martins!
[RICHELL] Bom dia, Leonardo! Saudações! [LEONARDO] Bom dia, meu querido! Tudo bem?
[LEONARDO] Olha, eu estava esperando a sua visita há muito tempo! Pra quem não sabe, eu acho que... Mas eu vou apresentar
porque educação é receber bem as visitas, né?
Richell Martins, nosso jornalista que apresenta o União Brasil aqui, de segunda a sexta-feira, das 18:00 às 18:30,
também tem as edições especiais, aos Sábados e Domingos...
pra quem não sabe, além de jornalista, Richell é ator, compositor...
[LEONARDO] Posso dizer que é poeta também? [RICHELL] Também!
[LEONARDO] E Richell também, às vezes, não chega aqui de manhã, Eu já tinha feito esse convite, várias vezes...
mas Richell tem um coletivo, né? Que é "Os Comparsas da Vivenda". [RICHELL] Exatamente!
[LEONARDO] Você tem essa segunda função, dentre várias!
[RICHELL] Fora o Jornalismo, tem o pessoal dos "Comparsas" que toca comigo, desde 2010.
Aliás, eu toco com eles, eles tocam comigo...
Como é um coletivo, a gente se reúne sempre, faz sempre shows aqui em Fortaleza
Já fizemos fora, no Piauí, no interior do Ceará...
Até algumas, digamos assim, pequenas apresentações informais, em outros estados.
[LEONARDO] E aí fica um pouco difícil do Richell acordar um pouco cedo!
Você sabe que vida de músico é assim, toca na noite. O Richell tem vários shows com o coletivo...
Mas, hoje, ele veio pra falar... Porque, quando a gente estava falando no assunto,
ele se prontificou logo, para falar sobre o centenário de Vinicius de Moraes.
Ô, Richell. Você trouxe aqui uma série de coisas... Eu queria, desde já, lhe agradecer, alguns livros que você tem...
Você trouxe um vinil aqui, algumas coisas bem bacanas... Posso mostrar isso aqui?
[RICHELL] Eu fiquei muito feliz em ter sido convidado pra participar, hoje, do Matina...
Aliás, começamos a conversar... Bom dia para você que está em casa!
É sempre bom contar aqui com a boa energia do Matina.
O Vinicius, na verdade, fez parte da minha formação musical. Eu comecei o violão, já tinha 17 anos. E comecei pela Bossa Nova.
Então, uma das primeiras músicas que eu aprendi a tocar tinha a ver com o Vinicius de Moraes, com esse ambiente de Bossa Nova.
Mas, o Vinicius, eu descobri aos 13 anos de idade.
[LEONARDO] Você ouvia em casa? Como é que foi essa questão do Vinicius na tua formação musical? [RICHELL] Na minha casa, as pessoas não ouviam muita música, não.
E nem tinham essa preocupação com a música... E eu acabei descobrindo o Vinicius, assim, por acaso...
Porque eu comecei a descobrir o Vinicius através do Tom Jobim. Ouvindo as músicas do Tom Jobim, descobri a parceria...
Comecei a escrever, também, os meus primeiros textos, os meus primeiros poemas...
eram um pouco inspirados no que fazia o Vinicius de Moraes,
naquela fase da obra dele em que ele falava muito de amor, falava muito de coisas assim, do dia, do sol, da natureza...
Eu acho que me baseei um pouco por aí, quando comecei a escrever, com 11, 12 anos de idade.
LEONARDO] Com 11, 12, você já fazia poema?Já compunha também? [RICHELL] Já escrevia. Eu acho até tarde! Tem gente que começa mais cedo.
O próprio Vinicius começou muito cedo, com 5, 7 anos de idade, a escrever.
Por não ter, assim, ninguém em casa que ouvisse mais música, que tivesse intimidade com poesia, intimidade com literatura,
eu comecei a escrever até tarde... Com 11, 12 anos, eu já escrevia alguma coisa...
Inclusive, esse livro aqui, que é a obra completa do Vinicius de Moraes,
eu ganhei em um concurso de literatura, no colégio, que eu fazia, aqui em Fortaleza, no Ensino Médio
1º lugar do concurso de Poesia, eu ganhei esse livro do Vinicius de Moraes.
[LEONARDO] A gente vê que é uma capa que é... [RICHELL] É uma edição especial que saiu, de vários autores brasileiros.
E reuniram toda a obra do Vinicius. Aqui não só tem poesia; tem o cancioneiro inteiro do Vinicius, tem as peças que ele escreveu,
as crônicas pra jornal, as críticas de cinema... Tudo está aqui neste volume.
[LEONARDO] A gente sabe que o Vinicius foi um grande poeta. Eliete, a gente tem aí um pequeno video dele, declamando um poema,
se eu não me engano... A gente tem aí, pra gente colocar? Richell, daqui a pouco, eu quero que você também declame um pra mim, [RICHELL] Claro, claro!
[LEONARDO] A gente tem um que é o "Soneto da [[ Fidelidade ]]"... Vamos colocar aí. Acompanhe aí! Olha aqui, Richell!
[[ VÍDEO ]] Vinicius de Moraes declama "Soneto de Fidelidade".
[RICHELL] Leo, é engraçado. Esse vídeo faz parte de uma série de shows que foi feita no final da vida do Vinicius, entre 1977 e 79, 78...
Esses shows reuniam Vinicius, o Tom Jobim - talvez, o maior parceiro dele -, o Toquinho - que foi um dos últimos parceiros -,
e a Miúcha - irmã do Chico Buarque.
Esse show começou no Canecão, em 1977, e foi para a Itália, foi pra outras cidades brasileiras,
e ficou 7 meses em cartaz, no Canecão, com muito sucesso, sempre a casa lotada...
E este soneto, o "Soneto de Fidelidade", um soneto bonito que o Vinicius fez em 1939. Era para a Tati, a primeira esposa dele
O Vinicius estava naquela transição de viajar para a Inglaterra, a trabalho, digamos assim... Para estudo, na verdade.
E tinha que se deslocar, porque ele morava num canto da Europa e a esposa no outro. E, entre essas viagens, ele escreveu este soneto.
Nessa mesma época, o Vinicius escreveu um famoso soneto chamado "Soneto de Separação", a bordo de um navio, indo para a Inglaterra.
Era um dos textos que o Tom Jobim mais gostava de citar, lembrando o Vinicius de Moraes.
É um texto, inclusive, que, anos depois, ainda o Vinicius em vida, o Tom Jobim musicou. Diz assim:
"De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma...
...E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto... (tudo fala de separação, né?)
...De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama...
...E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama...
...De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente...
...Fez-se do amigo próximo, o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente."
Então, essa tristeza da separação toda em homenagem à 1ª esposa.
[LEONARDO] É lindo, né? Bom, Richell, você, primeiro como jornalista, como músico, como pessoa bem informada que é...
até falou que começou a escrever os seus poemas cedo... Aliás, achou até tarde! Aos 11 anos.
E que você não teve isso muito dentro de casa, essa questão da convivência com a Música.
Hoje, o que você acha, nessa questão cultural, pra difundir mais até o Vinicius, que foi chamado como "poetinha"...
As escolas, hoje, terem essa disciplina de Música, pra gente aprender mais sobre os nossos artistas brasileiros.
Você acha que tem que ter uma disciplina, para que as pessoas aprendam mais sobre Música, sobre os nossos poetas, nossos compositores?
Até porque isso... Se você está ligando a sua televisão agora, a gente está conversando, aqui, com o Richell Martins,
sobre um pouco do centenário do Vinicius de Moraes... Quando você vai ler as letras, os poemas...
são coisas lindíssimas que, hoje, você escuta as músicas... Que a gente, aliás, não chama de "música" aquilo ali. Chama de "aberração".
[RICHELL] É, exatamente. Leo, eu acho super importante. O Brasil já teve classes de Música, nas escolas.
O Brasil já teve classes de Arte. E, hoje, nós perdemos, um pouco, isso.
As escolas, hoje, estão investindo, de novo, em algum tipo de arte, algum tipo de música.
Mas, com certeza, faz falta, no Brasil, uma cultura que valorize os nossos autores - não só os conhecidos, como o Vinicius.
O Vinicius tem uma obra infantil imensa, não é? Com o Toquinho, principalmente.
Mas nós precisamos valorizar os nossos autores locais também.
Aqui, no Ceará, por exemplo, poderia ter, nas escolas, aulas de Música e de Literatura que tivessem leitura e audição
de canções do nosso repertório cearense. E, assim, nos outros estados.
Porque isso faz uma falta danada, Leo. Você vê adultos, hoje, muito mal informados, muito mal formados culturalmente... O nosso país tem perdido muito com isso.
[LEONARDO] Richell, a gente inclusive tem um site, que é o viniciusdemoraes.com.br.
[LEONARDO] Richell, a gente inclusive tem um site, que é o viniciusdemoraes.com.br. [RICHELL] Sim, o site oficial.
[LEONARDO] Inclusive, tem uma partitura. Uma composição dele. Tem várias fotos... Você que gosta do Vinicius de Moraes, acesse!
É www.viniciusdemoraes.com.br. Está na tela pra você!
É legal porque tem algumas fotos dele! Olha como ele era bonitão, quando era novo, né? Agora, ele fumava e bebia bastante!
[RICHELL] Fumava! Inclusive, morreu por conta dessas coisas...
[RICHELL] Olha aí, que bacana! Tem os manuscritos, né? [LEONARDO] Exatamente! [RICHELL] Esse site foi organizado pelas filhas dele, sabe?
[LEONARDO] Olha aí: "Chega de Saudade", "Garota de Ipanema", a partitura... Tem várias coisas bacanas. Olha aí que legal.
O rascunho da música "Garota de Ipanema"! Conhecidíssima, para você que já deve ter ouvido, mas, às vezes,nem sabe quem compôs...
[LEONARDO] Richell, eu posso pedir um favor pra você? [RICHELL] Fique à vontade, Leo!
[LEONARDO] Eu queria que você cantasse um pouquinho pra gente. Eu vou até deixar aqui, pra que você fique, nesse momento todo especial.
Porque Richell, inclusive, hoje, terá luz especial! Eu nunca tive luz especial! Mas até o momento merece! O que você pode fazer pra gente?
[RICHELL] Vamos fazer um pouquinho de "Garota de Ipanema", para as pessoas lembrarem, já que é um grande sucesso.
Eu não preparei, mas vamos tentar fazer!
[[ MÚSICA ]] "Garota de Ipanema" (Vinicius de Moraes - Antonio Carlos Jobim)
[RICHELL] Tem uma história curiosa, Leonardo... Essa música, quando foi para os EUA, para fazer a letra em inglês,
os autores [[ americanos ]] não queriam colocar o nome "Ipanema". E o Tom Jobim brigou muito para que essa música tivesse, na letra,
esse nome "Ipanema", porque ambientava o cenário da música. Ainda bem que ele lutou por isso, não é?
Porque, se não fosse esse nome 'Ipanema', o Rio de Janeiro, talvez, não fosse a mesma coisa, né?
[LEONARDO] Ele tem, pelo menos, umas 10 músicas que você, em casa, já deve ter ouvido... Dele, em parceria, como você já falou, o Tom Jobim, um dos maiores parceiros.
"Eu sei que vou te amar" é uma; "Pela luz dos olhos teus", "Chega de Saudade"... Tem muitas outras, né?
A própria "Garota de Ipanema", que você cantou. "Samba da bênção", "Tarde em Itapuã", inclusive, "Canto de Ossanha", "Aquarela", que, inclusive, já entra nessa parte infantil....
[RICHELL] É, "Aquarela" é uma música "póstuma", digamos assim... O Vinicius não fez "Aquarela".
O Toquinho "pegou emprestado", depois da morte, para fazer. Essa melodia de "Aquarela" era tema de uma novela, se não me engano, era "Fogo sobre Terra". Falava de outra coisa!
E, aí, ouviram isso, na Itália... Essa música nasceu em italiano, eu acho, e o Toquinho aproveitou essa melodia para fazer a letra.
[LEONARDO] Entendi. Richell, a gente precisa encerrar. Eu queria que você viesse aqui mais vezes. Isso aqui é um autógrafo do Tom?
[RICHELL] Do Toquinho! [LEONARDO] Olha só! Será que dá pra gente mostrar aqui? Eu sei que está no branco.
[RICHELL] Isso aí é uma raridade, rapaz! É um dos últimos discos do Vinicius.
Aliás, é o penúltimo disco do Vinicius com o Toquinho. Essa foto é de 1979, por aí.
É o disco comemorativo dos 10 anos da parceria Toquinho & Vinicius. Essa foto é na casa do Vinicius na Gávea, no Rio de Janeiro... Jardim Botânico, né?
[LEONARDO] Sabe tudo sobre Vinicius. Richell, é bom! Eu acho que você, de casa, deve estar gostando.
Pelo menos, da gente ter essa manhã com boa música. É bom a gente começar a manhã com boa música. Boa música sempre é bom para os ouvidos!
Pra gente encerrar, meu querido, a gente teria vários programas pra falar sobre Vinicius. Você que é um conhecedor profundo dele,
que gosta, que é um admirador, você poderia fazer um número especial pra gente? Uma música pra gente encerrar.
[RICHELL] Posso! Vamos fazer uma música bem alegre.
Vamos fazer um "afro-samba". Uma época importante da carreira do Vinicius de Moraes, em parceria com o Baden Powell, um violonista brasileiro conhecido no mundo todo.
Vamos fazer um "afro-samba" chamado "Berimbau". [LEONARDO] Eu queria, antes, agradecer pela sua presença aqui!
Muito obrigado, volte sempre, querido! Hoje, inclusive, tem jornal com o Richell, logo mais, às 18 horas.
[RICHELL] Claro, mais tarde, às 6 da noite, ao vivo, estamos aqui, no União Brasil.
[LEONARDO] Obrigado por ter trazido os seus livros, o seu vinil aqui.
[RICHELL] Ah, inclusive, rapidinho, um detalhe... Esse livro aqui, o amarelinho, o "Vinicius sem ponto final"
é a biografia mais famosa do Vinicius. Foi escrita pelo João Carlos Pecci, que é irmão do Toquinho.
Inclusive, eu tive o prazer de conhecer, de estar na casa do João Carlos Pecci, em São Paulo...
É o melhor biógrafo do Vinicius de Moraes. Essa obra, da década de 1990, até hoje, é considerada o melhor livro sobre a vida do Vinicius.
[LEONARDO] Richell Martins aqui no Matina, pra você.
[[ MÚSICA ]] "Berimbau" (Vinicius de Moraes - Baden Powell)