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Será sem saber como, imagino
Será na batalha final entre mim e o tempo
Haverá um pássaro azul na árvore junto aos meus olhos?
De flores estarão cobertas as cerejeiras do ***ão, talvez nessa hora
Uma guerra travada na Zâmbia, talvez nessa hora elimine culturas
Um submarino de marinheiros mortos tocará o mais fundo do mar, talvez nessa hora
O sol impedido, talvez nessa hora escureça para sempre
Será no meio fio da Rua das Lonjuras?
Será na solidão de miragens em Gobi onde a sede do beduíno não importa ao deserto?
Será nos braços de mouras num palácio andaluz?
Talvez nessa hora seja eu o ponto cinzento caído sob as brumas de Londres
Ou talvez a morte não queira minha morte
Seja eu um pirata na mira longínqua de outro pirata
Talvez nessa hora as ondas do mar se elevem tão alto afogando as enseadas de minhas retinas
Talvez nessa hora a lua encubra-se de sol e a noite eternize em meus lábios o verso da vida
Nessa hora talvez ninguém saiba qual seja meu nome
Talvez naufragado me encontre no mar a rede certeira e jogado ao convés de um barco pesqueiro tragam à terra um pedaço de mim
Nessa hora talvez as Negras Montanhas enrochem minha carne
e haja dança em meio à neve que cai sobre índios ao sul de Dakota
Canções sibilando nos ventos talvez nessa hora se abrandem
e calado o violino do tempo se abrace aos meus braços como um beijo em silêncio
Negras bandeiras talvez se levantem nos olhos daqueles que vivem onde nasci
Nessa hora um poema incompleto se apaga em mim.