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Ainda nunca houve uma guerra que, se os fatos fossem calmamente apresentados
ao indivíduo comum, não pudesse ser prevenida. O homem comum é, penso eu, a maior proteção contra a guerra.
...a ideia é que a razão pela qual o mundo está tão desordenado é que, sem a guerra fria, há todos esses
grupos étnicos matando-se uns aos outros. Bem, é sempre uma boa ideia começar perguntando pelos fatos.
Sempre que se ouve algo dito com muita segurança, a primeira coisa que deve vir à mente é: "espera, será que isto é verdade?"
Uma palestra na Universidade de Harvard Escola Governamental John F. Kennedy Quarta-feira, 6 de Fevereiro de 2002
MORAL DISTORCIDA Uma Guerra Ao Terrorismo?
Obrigado. Eu acabo de voltar do Brasil, onde não há leis anti-incêndio,
e se vocês acham isto desconfortável, deveriam ver uma palestra lá.
Tão lotado que era de se perguntar se o
oxigênio bastaria. Felizmente não houve incêndio, senão teria sido uma enorme catástrofe.
Bem, vocês notaram que o título tem um ponto de interrogação.
O motivo dele é que o que quer que venha acontecendo
nos últimos vários meses, e está acontecendo agora, e não importa como se avalie,
quer se goste ou odeie, é bastante claro que
não pode ser uma guerra ao Terror. Isso é quase uma necessidade lógica, ao menos se aceitarmos certos pressupostos
e princípios elementares. Tentarei esclarecê-los de saída.
O primeiro princípio, diretriz se preferirem, é que
deveríamos...tentarei, e penso que devemos, forçar a barra
e dar o benefício da dúvida ao governo dos EUA
sempre que possível. De modo que se houver controvérsia sobre como interpretar algo, assumiremos que estão certos.
A segunda diretriz é que devemos levar muito a sério
os pronunciamentos da liderança, especialmente quando feitos com grande
sinceridade e emoção. Por exemplo, quando George Bush diz
que é o cristão mais devoto desde os apóstolos, devemos acreditar,
aceitar sua palavra, e concluiremos por conseguinte que ele
certamente memorizou, várias vezes, em seu estudo bíblico
e na igreja, a famosa definição de hipócrita presente no evangelho.
A saber, hipócrita é aquele que aplica a outrem padrões que
se recusa a aplicar a si mesmo. Então, se você não é hipócrita,
deve assumir que algo certo para nós é certo para eles, e se é errado quando eles fazem, é errado quando nós fazemos.
Isso é bem elementar, e assumo que o presidente concordaria
e todos seus admiradores também. Pois esses são os princípios com que gostaria de começar.
Bem, apenas um adendo: a menos que possamos atingir esse nível mínimo de integridade
moral, devemos pelo menos parar de falar de coisas como direitos humanos,
certo e errado, bem e mal, e todas essas coisas pernósticas,
pois toda nossa fala deveria ser descartada, de fato com total
repugnância, a menos que atinjamos tal nível mínimo.
Acho que isso é óbvio e espero que haja consenso.
Bem, isso posto, estabelecido o contexto, deixe-me
formular uma tese. A tese é que somos todos completos hipócritas
em qualquer assunto ligado a terrorismo. Deixe-me explicar a noção de 'nós'
Por 'nós', quero dizer pessoas como nós. Gente com um grau elevado o bastante
de privilégio, treinamento, recursos, acesso a informação, para quem é bem fácil descobrir a verdade das coisas
se quisermos. Se decidirmos que é nossa vocação. E no caso em questão,
não é necessário cavar muito fundo: está tudo na superfície.
Então, quando digo nós, refiro-me a essa categoria. E desejo definitivamente
incluir a mim mesmo, já que nunca propus que nossos líderes fossem
submetidos aos tipos de punição que já recomendei aos inimigos.
Então isso é hipocrisia. E se há pessoas que dela escapam,
eu realmente não conheço e nunca encontrei nenhuma.
É uma cultura muito poderosa, é difícil escapar de suas garras.
Então essa é a tese nº 1: Somos todos completos hipócritas, no sentido das escrituras,
no que tange a terrorismo. A 2ª tese é mais forte, a saber: que
a 1ª é tão óbvia que é preciso mesmo um esforço para não percebê-la.
Na verdade, eu deveria ir para casa agora mesmo, já que ela é óbvia.
Não obstante, irei adiante e direi por que penso que ambas teses são corretas.
Bem, para começar, o que é terrorismo? Preciso dizer algo a esse respeito.
Supostamente, trata-se de uma pergunta bem difícil. Seminários acadêmicos
e programas de pós-graduação filosóficos e por aí vai: uma questão
problemática e complexa. Entretanto, de acordo com as diretrizes que
mencionei, penso haver uma resposta simples, que é exatamente aceitar a definição oficial dos EUA.
Já que estamos levando ao pé da letra os pronunciamentos de nossos líderes,
levemos em conta sua definição. Com efeito, é o que sempre fiz.
Tenho escrito sobre terrorismo nos últimos vinte anos, aproximadamente.
Apenas aceite a definição oficial. Então, por exemplo, um caso simples
e importante é o manual do Exército dos EUA de 1984, que define terrorismo
como o uso calculado de violência, ou ameaça de violência, para atingir
metas que sejam de natureza política, religiosa ou ideológica.
Bem, isso parece simples, apropriado. Uma escolha particularmente boa pela época.
1984, vocês se lembram, foi a época em que o governo Reagan lutava uma
guerra contra o terrorismo. Em especial aquilo que chamavam
terrorismo internacional com apoio estatal, "uma praga espalhada
por inimigos depravados da própria civilização, num retorno ao barbarismo
na era moderna". Estou citando George Shultz, que era o moderado
do governo. Outra diretriz é que nos ateremos aos moderados, não aos extremistas.
Então estamos em 1984. Reagan assumira dois anos antes.
Sua administração havia imediatamente declarado que a guerra contra
o terrorismo seria o foco da política internacional dos EUA, e eles identificaram
duas regiões como a fonte desta praga de oponentes depravados da civilização em si: América Central e Oriente Médio.
E houve um consenso amplo sobre isso. Então em 1985, por exemplo...
Todo ano a Associated Press tem uma enquete entre editores sobre a matéria mais importante, e em 85 a eleita foi Terrorismo no Oriente Médio.
Então eles concordam. No fim daquele ano, 1985, Shimon Peres, premiê de Israel, veio a Wahington; Reagan e ele
denunciaram o flagelo malévolo do terrorismo, referindo-se ao Oriente Médio.
O meio acadêmico e experts também concordam. Há uma enorme literatura
nos últimos 20 anos sobre terrorismo, em particular terrorismo internacional com apoio estatal. Não temos tempo para revê-la,
mas tomo como bom exemplo a edição de dezembro de 2001 do jornal Current History, jornal bom e sério,
o artigo chamado "América em Guerra", que inclui historiadores relevantes,
especialistas e experts em terrorismo; e eles apontam on anos 80 como
a era do terrorismo com apoio... patrocínio estatal, concordando com o governo Reagan.
Eu também concordo com isso. Eu penso que foi a era do terrorismo
internacional com patrocínio estatal. Uma das principais autoras, Martha Crenshaw,
diz que naquela era os EUA adotaram uma uma postura pró-ativa
para conter a praga. Em maior parte trata-se do Oriente Médio,
mas a América Central é ocasionalmente mencionada. Por exemplo,
o apoio americano a... Um ou dois autores, ou co-autores, do Instituto dos Trabalhadores
descrevem a guerra Contra dos EUA contra a Nicarágua como modelo de combate ao terrorismo.
Eles dizem que aquele foi um modelo para o apoio dos EUA à Aliança do Norte
na atual fase da guerra ao terrorismo. As sementes
do terrorismo contemporâneo, contanto, são muito mais profundas.
O principal historiador do grupo, David Rapoport, grande
acadêmico especialista em terrorismo, editor do Jornal do Terrorismo, e por aí vai,
aponta que ele remonta a... A origem do terrorismo moderno,
como Osama bin Laden, remonta ao início dos anos 60;
estou citando-o agora, "quando o terror Viet-Cong contra
o Golias americano suscitou esperanças de que o coração
do Oeste fosse vulnerável." Não vou comentar, mas,
à guisa de exercício, vocês podem tentar achar uma analogia histórica a essa declaração. Vou deixá-la como tal,
sem comentá-la. Se percorrermos a literatura acadêmica, acharemos a mesma história o tempo todo, virtualmente sem exceções.
O mundo também concorda com os "Reaguianos". Em 1985, logo
após Reagan e Peres denunciarem o flagelo malévolo do
terrorismo, a Assembleia Geral passou uma resolução
condenando o terrorismo, e em 1987, outra ainda mais forte e explícita denunciando
o terrorismo em todas suas formas e apelando a todos Estados que fizessem tudo que pudessem para combater a praga e tudo mais.
É verdade que não foi unânime. Houve uma abstenção, Honduras,
e dois votos contra: os de sempre.
Eles deram seus motivos para votar contra a maior resolução da ONU
sobre terrorismo internacional; dando nome aos bois: ambos EUA e
Israel apontaram o mesmo parágrafo como o motivo para
o voto negativo. Era um parágrafo que dizia que "nada
na presente resolução poderia de modo algum prejudicar o
direito à auto-determinação, liberdade e independência, como advindo da Carta das Nações Unidas, de povos forçosamente
privados daquele direito, em especial povos sob regimes coloniais e racistas, e ocupação estrangeira; ou privá-los
do direito de obter apoio para outros, com esses fins, em consonância com a Carta da ONU."
Esse era o parágrafo ofensivo, e é fácil entender
por que ele trouxe um problema sério para os EUA e Israel.
O Congresso Nacional Africano era identificado oficialmente como uma
organização terrorista nos EUA, e a África do Sul era oficialmente um aliado. Mas a frase "luta contra regimes
coloniais e racistas" se referia abertamente à luta do CNA contra o apartheid. Então isso é inaceitável.
A expressão "ocupação externa", todos entendiam se referir
à ocupação israelense na Cisjordânia e em Gaza, que então
completava 20 anos. Extremamente cruel e brutal desde o início, e continuando apenas em função do decisivo apoio militar,
econômico e diplomático americano, que persiste até hoje. Então aquilo era obviamente inaceitável.
portanto foi 135 a 2 com uma abstenção. Então não foi
uma unanimidade total. Não foi divulgado e desapareceu
da História. Pode-se pesquisar para descobrir. Incidentalmente, isso
é procedimento padrão. Quando o "senhor" diz que algo é errado, vai para o buraco da memória, não é noticiado e é esquecido.
Mas está lá. Se quiserem olhar, podem descobrir. Eu darei as fontes se quiserem.
Bem, Reagan naquele tempo, lembremos, ele e Peres estavam
falando do flagelo malévolo do terrorismo no Oriente Médio.
G.Shultz não concordava inteiramente. Ele achava que o que chamava de "a manifestação mais alarmante de terrorismo internacional de Estado
estava assustadoramente perto de casa. Ou seja, era um "câncer em nosso continente, bem ali ao lado, que estava
ameaçando conquistar o hemisfério com uma revolução sem fronteiras."
Uma invenção bem interessante de propaganda, que revelou ser uma fraude instantaneamente, mas usada repetidamente depois,
até pelos mesmos jornais que explicaram por que era uma total invenção.
Era útil demais para ser abandoada. E há algo interessante - se pensarmos a respeito,
a invenção tinha um certo elemento de verdade, um importante
elemento de verdade. Podemos voltar a ele se quiserem. De qualquer modo, esse câncer em nosso continente ameaçava conquistar
tudo, seguindo abertamente o Mein Kampf de Hitler, e simplesmente tínhamos que fazer algo a respeito.
Há uma séria... Há uma data nos EUA chamada Dia da Lei.
No resto do mundo é chamado Dia de Maio [sic]. 1º de maio, uma data
que celebra as lutas dos trabalhadores americanos
pela jornada de 8 horas. Mas nos EUA, é um feriado "patriotada" chamado Dia da Lei.
No Dia da Lei de 85, o pres. Reagan declarou
Emergência Nacional, porque o governo da Nicarágua "constitui uma ameaça extraordinária e inusitada
à segurança nacional e à política externa dos EUA." Isso foi renovado anualmente.
George Schultz informou ao Congresso que "devemos extirpar o
câncer nicaraguense, e não por meios gentis".
As coisas estão sérias demais para tal; então, citando Schultz,
lembre-se, o moderado do governo, o "tira bom",
disse ele: "Negociação é um eufemismo para capitulação se a sombra do poder não se projetar sobre
a mesa da barganha." Ele condenou aqueles que "defendem meios legalistas utópicos, como mediação externa,
a ONU, a Corte Internacional, enquanto ignoram o elemento de poder da equação". Evitarei citar os linhas-duras.
Naquele tempo, os EUA exerciam o elemento de poder
da equação com forças mercenárias com base em Honduras,
atacando a Nicarágua. Elas estavam sob supervisão de
John Negroponte, que acaba de ser indicado para tocar o lado diplomático,
o componente diplomático, da atual guerra ao terror, como Embaixador na ONU.
O componente militar da atual guerra ao terror é
Donald Rumsfeld, que era naquela época enviado especial de
Ronald Reagan no Oriente Médio, o outro lugar onde a praga atacava, por todo ano de 1985.
Os EUA, ao mesmo tempo, também bloqueavam meios legalistas utópicos, defendidos pela Corte Internacional,
por países latino-americanos e outros, e seguiu bloqueando, até o fim, até a vitória final
de suas guerras terroristas pela América Central. Bem, como se lutou a guerra contra o terrorismo de Estado
nas duas regiões? Pelas pessoas que de fato estão liderando a nova fase. Continuação histórica
bem próxima, não só esses dois, é claro.
Bem, apenas para ilustrar, tomemos o ano-pico, 1985,
o pior ano no Oriente Médio.
A maior matéria do ano. Então, quem ganha o prêmio de piores atos de terrorismo no Oriente Médio em 85?
Bem, eu sei de três candidatos, talvez vocês possam sugerir outro.
Um candidato é um carro-bomba em Beirute. O carro estava parado em frente a uma mesquita.
A bomba foi programada para explodir quando as pessoas saíam, para garantir o máximo de vítimas.
Foram mortas, de acordo com o Washington Post, 80 pessoas.
Mais de 250 foram feridas, na maioria mulheres e garotas saindo da mesquita.
Houve uma explosão enorme, que atingiu toda a rua,
matando bebês em camas e por aí vai.
A bomba tinha por alvo um Xeque muçulmano que escapou.
Ela foi armada pela CIA em colaboração com
a Inteligência Britânica e a Saudita, e
autorizada especificamente por William Casey, de acordo com Bob Woodward,
em 'A História de Casey e a CIA'. Então esse é
um exemplo nítido de terrorismo internacional.
Livre de ambiguidade, e penso que um dos candidatos
ao prêmio no ano-pico, 1985.
Outro candidato certamente seriam as assim-chamadas Operações Mão de Ferro
que o governo de Shimon Peres levou a cabo no sul do
Líbano ocupado, em março de 85. Isso é no sul do país,
então sob ocupação militar, violando a ordem do
Conselho de Segurança de se retirar, mas com autorização dos EUA, então é irrelevante.
As Operações Mão de Ferro tinham por alvo o que o alto comando chamava de "aldeões terroristas do Líbano Meridional"
E incluíram muitos massacres e atrocidades e sequestro de pessoas para interrogatório, levando-os a Israel, e tal.
"Chegaram a novos níveis de brutalidade calculada e morticínio
arbitrário", de acordo com um diplomata ocidental conhecedor da região,
que observava. Não houve a farsa da auto-defesa; foi antes abertamente com fins políticos. Isso foi admitido,
nem sequer argumentado. Isso então é um caso nítido de terrorismo internacional, embora possamos dizer que foi agressão.
Chamarei de terrorismo internacional, de acordo com o princípio de forçar a barra e dar aos EUA
o benefício da dúvida. Claro, essa é uma operação americana. Israel a pratica, porque recebem armas e ajuda,
apoio diplomático, dos Estados Unidos.
Então decidiremos chamá-lo apenas terrorismo internacional,
e não o crime de guerra bem mais sério de agressão.
Incidentalmente, o mesmo se aplica a operações bem piores em
1982, quando Israel invadiu o Líbano e matou em torno de 20 mil pessoas. De novo, com crucial apoio militar, econômico
e diplomático dos EUA, que tiveram que vetar algumas resoluções do CS para dar seguimento à chacina, proveram armas e tal.
Então, é uma invasão de Israel/EUA, se formos honestos.
"O objetivo era [citarei o NYT] instalar um regime amigável no Líbano e minar a OLP, o que ajudaria a persuadir os palestinos
a aceitar o jugo israelense na Cisjordânia e Gaza." Isso é deveras correto, e devo cumprimentar o
New York Times por dizê-lo em 24 de janeiro último.
Até onde eu saiba, esta é a primeira vez na literatura estabelecida dos EUA
que alguém ousou dizer o que era absolutamente de conhecimento público
em Israel e na literatura dissidente há 20 anos. Eu já escrevia isso em 1983, usando fontes israelenses;
mas não conseguia penetrar o comentário nos EUA. Podem verificar. Até onde eu saiba, esse foi o primeiro avanço.
Não estou certo se o repórter entendia o que estava dizendo.
Mas de qualquer modo, ele disse. James Bennet, 24 de janeiro.
Prêmio para James Bennet por dizer a verdade depois de 20 anos.
E é verdade, e obviamente um exemplo de livro-texto de
terrorismo internacional. Desta vez temos que forçar bastante a barra para chamá-lo assim, pois
é difícil ver por que não se trata de agressão aberta, o tipo de ação pela qual líderes de Israel e EUA deveriam ser submetidos a
julgamentos de Nuremberg. Crimes de guerra bem sérios. Mas atenhamo-nos às diretrizes, e chamemos apenas de terrorismo internacional.
Bem, esse foi o segundo exemplo. As Operações Mão de Ferro.
Terceiro: O único outro exemplo de 85 de que eu sei aconteceu
dois dias depois de Shimon Peres chegar a Washington para
se juntar a Reagan na denúncia do flagelo malévolo do terrorismo.
Um pouco antes, Peres enviou a Força Aérea de Israel para bombardear Túnis, matando 75 civis, feitos em pedaços por bombas inteligentes.
Tudo foi bem acuradamente e graficamente apresentado por um
repórter israelense muito respeitado na imprensa hebraica em
Israel, e corroborado por outras fontes. Os Estados Unidos
cooperaram retirando a 6a. Frota, de modo que não tivessem que informar a seu aliado, a Tunísia, de que os bombardeiros
estavam a caminho. Presumivelmente, reabastecendo no caminho. Este foi o terceiro candidato. Eu não sei de nenhum outro
que sequer chegue perto de ser um candidato...
Incidentalmente, George Schultz, o moderado, imediatamente após o
bombardeio, telefonou para o Ministro de Relações Exteriores israelense,
dizendo que os EUA tinha uma considerável simpatia pela operação, mas ele recuou do apoio aberto ao terrorismo internacional massivo,
ou talvez agressão, quando o CS condenou unanimemente o ataque como uma agressão armada;
os Estados Unidos se abstendo, não quiseram votar contra.
Pois são esses os três maiores casos que ganham o prêmio de 1985,
no meu conhecimento, e de novo assumirei que foram apenas
terrorismo internacional, para que não peçamos um Tribunal de Nuremberg.
Apenas mais terrorismo internacional por oponentes depravados da própria civilização, e exemplos difíceis de ignorar,
lembre-se, por serem as maiores matérias do ano. Terrorismo internacional no Oriente Médio: são três
exemplos perfeitos. Na verdade, os únicos grandes exemplos de que eu saiba.
Entretanto, eles não são candidatos. Na verdade, nem entram na disputa. Não são competitivos.
Os exemplos que estão na disputa são, por exemplo, citados no exemplar da Current History a que me referi,
que discute 1985 e dá dois exemplos do flagelo malévolo do terrorismo. Especificamente o sequestro do vôo TWA-897,
em que morreu um mergulhador da Marinha Americana; e o sequestro do Achille Lauro, que levou
à morte de Leon Klinghoffer, um americano aleijado.
Ambos certamente atrocidades terroristas. Esses são os dois exemplos na competição,
que são memoráveis, que contam como terrorismo internacional. Bem, os sequestradores do avião TWA alegam,
e com razão, que Israel sequestrava regularmente navios em águas internacionais, no caminho entre
o Líbano e Chipre, matando pessoas e sequestrando outras, levando-os a Israel, seja para interrogatório
ou simplesmente como reféns, mantendo-os presos por anos. Alguns ainda estão na cadeia, sem acusação.
Tudo isso está correto. As alegações estão corretas. Mas isso não justifica o sequestro, na suposição -
que eu aceito, no mínimo – de que violência não é legítima em retaliação contra atrocidades piores, ou como prevenção de atrocidades futuras.
Violência não é legítima nesses casos, então podemos rejeitar tais alegações, embora estejam de fato corretas.
Incidentalmente, os sequestros israelo-americanos - lembrem-se: se eles fazem, nós fazemos -
tais sequestros também estão fora dos registros históricos.
Ocasionalmente se acha uma referência a eles no
fundo de uma coluna sobre isso ou aquilo, mas eles não são parte da História do terrorismo.
Os sequestradores do Achille Lauro alegaram se tratar de retaliação pelo bombardeio de Túnis,
alguns dias antes. Bem, rejeitamos isso com desprezo, pelo mesmo princípio,
que é: violência não é justificada por retaliação ou prevenção.
Assumindo que possamos atingir o nível moral mínimo
que mencionei mais cedo - se não somos hipócritas, em outras palavras -
algumas consequências se seguem sobre outros atos de retaliação e prevenção; mas isso é óbvio
demais para abordar, deixarei para vocês pensarem. Bem, esse foi 1985, o auge do
terrorismo internacional no Oriente Médio.
Como um projeto de pesquisa vocês podem ver se deixei de fora alguma coisa que compita ao prêmio,
da qual eu não saiba. Nenhum é mencionado na literatura sobre terrorismo.
Como disse no começo, não é preciso um grande esforço para ver essas coisas.
É preciso muito esforço para não vê-las; é preciso uma educação muito boa para ignorá-las. Pensem a respeito e verão.
1985 não foi, é claro, nem o primeiro nem o último ato de
terrorismo internacional no Oriente Médio. Há vários outros muito importantes.
Por exemplo, em 1975, Israel, ou antes pilotos israelenses com aviões e apoio dos EUA,
em dezembro de 75, bombardearam uma vila no Líbano, matando mais de 50 pessoas.
Não foi dado um pretexto, mas todos sabiam qual foi a razão.
Naquela época, o Conselho de Segurança da ONU se reunia para
discutir uma resolução que foi apoiada pelo mundo inteiro – com exceções marginais, apenas uma crucial,
os EUA, que vetaram a resolução – que pedia um acordo diplomático para o conflito israelo-palestino,
incorporando a ONU 242 e os termos da resolução principal, segurança e integridade territorial
e todas essas coisas bacanas, com a fronteira reconhecida internacionalmente.
A parte ofensiva desta foi que ela também
se referia aos diretos nacionais palestinos, o que não é aceitável
para os EUA. Eles a rejeitaram então, e o fazem agora, ao contrário de muita bobagem que se lê.
Os EUA vetaram a resolução que terminou... não, na verdade continua: ano após ano de esforços de solução diplomática,
que os EUA bloquearam unilateralmente. Israel não tem veto no Conselho de Segurança,
então eles reagiram ao debate bombardeando o Líbano e matando cerca de 50 pessoas sem pretexto.
Isso também não está nos anais do terrorismo internacional.
Há muitos casos mais recentes, incluindo as duas invasões de Itzhak Rabin e Shimon Peres em 1983 e 1996, no Líbano.
Os EUA apoiaram ambas: muitas mortes,
centenas de milhares refugiados e por aí vai. Clinton teve de recuar de seu apoio à invasão de 1996
após o massacre de Qana, mais de cem pessoas em um campo de refugiados da ONU. Naquele ponto ele disse: não posso mais lidar com isso, melhor sair.
Não houve pretexto de auto-defesa nesse caso.
Isso é claramente terrorismo internacional ou talvez agressão.
E prossegue. Avancemos então até a atual Intifada,
que se iniciou em 30 de setembro de 2000. Nos primeiros dias, não houve fogo dos palestinos,
algumas pedras arremessadas, mas Israel estava usando helicópteros de ataque dos EUA para atacar complexos habitacionais civis,
matando e ferindo dezenas de pessoas nos primeiros dias. O governo Clinton respondeu a isso,
tomando de empréstimo a expressão do nosso presidente, "incrementando o terror".
Vocês se lembram que o presidente Bush condenou os palestinos por
incrementar o terror mês passado, então usarei sua expressão, de acordo
com as diretrizes. O governo Clinton se comprometeu
com o incremento do terror em 03/10, fechando um contrato para a maior remessa numa década de helicópteros militares
para Israel, juntamente com peças de reposição para os helicópteros Apaches que haviam sido enviados semanas antes.
Isso é incrementar o terror. Dias depois, esses helicópteros estavam sendo usados para matar e ferir civis, atacando complexos
de apartamentos e por aí vai. A imprensa colaborou recusando-se a noticiá-lo.
Note: não deixando de noticiá-lo, recusando-se. O fato foi especificamente trazido à atenção de editores, e
eles simplesmente deixaram claro que não iriam noticiá-lo. Não há dúvida quanto aos fatos, aliás, mas até
hoje não foi noticiado, exceto nas margens. Tal política persiste. Pulemos até dez/2001, 2 meses atrás.
George Bush condenava os Palestinos por incrementar o terror, e contribuiu nos modos convencionais para incrementá-lo,
de fato de forma crucial.
Em 15/12, o CS da ONU debateu uma resolução
iniciada pela Europa, conclamando ambos lados a reduzir a violência
e sugerindo a introdução de monitores internacionais para ajudar
no monitoramento e redução da violência. Trata-se de um grande passo. Que foi vetado pelos EUA, foi pro... Que querem
incrementar a violência. É difícil pensar em qualquer outra interpretação.
A imprensa não precisou se importar em dar qualquer interpretação, porque o fato mal foi noticiado.
A resolução foi então pra Assembleia Geral, onde não foi sequer noticiada,
e houve uma maciça votação em apoio à mesma resolução. Dessa vez, os EUA e Israel não estavam
inteiramente isolados na oposição, várias ilhas do Pacífico se juntaram: Nauru e uma ou outra mais.
Assim, não o usual esplêndido isolamento.
Não me lembro de isso ser noticiado. Uns 10 dias antes,
houve uma grande contribuição ao incremento do terror.
A 4ª Convenção de Genebra, de acordo com o mundo inteiro,
literalmente fora Israel, aplica-se aos territórios ocupados.
Os EUA se recusam. Não votam contra na ONU, abstêm-se. Eu presumo que a razão é que não
querem tomar uma posição aberta em tão evidente violação de princípios fundamentais de lei internacional,
particularmente dadas as circunstâncias sob as quais eles foram firmados.
Se vocês se lembram, as Convenções de Genebra foram estabelecidas logo após
a II Guerra Mundial, de modo a criminalizar os atos dos Nazis;
então dizer que elas não se aplicam é uma afirmação bem forte. Entretanto,
exceto os EUA e Israel, o mundo inteiro concorda.
A Cruz Vermelha Internacional, que é a agência responsável por
aplicá-las e interpretá-las, concorda. De fato, até onde eu saiba, não há discussão a respeito. A Suíça, que é
o Estado responsável, convocou uma reunião das altas partes contratantes das Convenções de Genebra, isto é, aquelas que, como os EUA,
estão legalmente obrigadas por tratado a garantir seu cumprimento.
Um alto e solene compromisso. Uma reunião foi feita em 05/12
em Genebra, que passou uma forte resolução
determinando que as convenções se aplicam a territórios ocupados, o que torna ilegal basicamente
tudo que EUA e Israel fazem lá; eles seguiam a lista: assentamentos, deslocamentos e
tudo que acontece.
Os EUA boicotaram as sessões. Conseguiram outro país
para boicotar: Austrália. De acordo com a imprensa australiana, sob pesada pressão dos EUA, eles se juntaram
ao boicote. Se os EUA boicotam, é como um voto negativo no CS ou na Assembleia Geral.
Não é noticiado e está fora da história. Mas é outro passo importante para incrementar o terror.
Tudo isso se passou, incidentalmente, no meio de uma trégua de 21 dias.
Uma trégua unilateral. Os palestinos não estavam realizando nenhum
ato, mas duas dúzias de palestinos foram mortos, incluindo uma dúzia de crianças. Em meio a isso,
esses esforços em incrementar o terror se deram. Talvez seja uma interpretação injusta, e haja um outro motivo de que eu
não esteja pensando, mas é assim que me parece. Vocês podem pensar a respeito. De qualquer forma, o terrorismo internacional
no Oriente Médio certamente continua e tem uma longa História; e se vocês olharem os registros, claro, são heterogêneos e
complicados. Mas penso que acharão que o balanço é bem nas linhas do que eu descrevi. De fato,
o balanço reflete os meios de violência disponíveis, como de costume,
se você examinar o terror; na verdade, é por isso que, no espectro
total do terror, terror de Estado é bem pior que o individual, pela razão óbvia de que Estados têm meios de violência que
indivíduos ou grupos não têm. E é isso que acharão se olharem, penso que esmagadoramente. É dito comumente que terrorismo é a arma
dos fracos, isso é completamente falso - ao menos se se aceita a definição
oficial dos EUA de terror. Se você fizer isso, então o terror é preponderantemente a arma do forte, como a maioria das armas.
Bem, isso é História, mas todas essas coisas estão fora dela. História é o que é criado por intelectuais bem educados,
e não guarda semelhança alguma com uma coisa chamada "História" por pessoas ingênuas; e se você checar isso, penso que irão
achar isso verdade.
Bem, esse é o Oriente Médio; vamos agora pra a América Central,
o outro foco principal da praga de oponentes depravados da
própria civilização. Aqui serei breve, pois as partes centrais são incontroversas. Pelo menos entre
pessoas que tenham mínima atenção a leis e instituições internacionais. Na verdade o tamanho dessa
categoria é facilmente estimável. Perguntem-se quão frequentemente o que direi agora apareceu nas discussões
sobre a praga malévola do terrorismo nos últimos 5 meses.
Grande profusão, mas quanto se disse sobre alguns casos
incontroversos; de novo, incontroversos se pensarmos que a Corte Internacional,
o Conselho de Segurana e Lei Internacional têm alguma significância.
Bem, em 86, a Corte Internacional de Justiça condenou os
EUA por terrorismo internacional: uso ilegal de força na guerra contra a Nicarágua. De novo me aterei
às diretrizes: forçar a barra, e permitir que se interprete isso apenas como terrorismo internacional, não o crime de guerra
de agressão. Chamemos de terrorismo internacional. A Corte ordenou os EUA a interromper os crimes
e a pagar substanciais reparações - milhões de dólares.
O Congresso reagiu instantaneamente recrudescendo a guerra, através de mais verba
para recrudescer a guerra. A Nicarágua levou a matéria ao CS, que debateu a resolução, conclamando todos Estados a observar
a lei internacional, sem mencionar nenhum; todos sabiam a quem se referia. Os EUA vetaram. A Nicarágua foi então à Assembleia Geral,
que passou resoluções similares em anos sucessivos. EUA e Israel se opuseram e em um ano eles tiveram
El Salvador.
Tudo isso está fora da História. Tem de estar. É simplesmente inconsistente
com a imagem preferida deles de como a História deve ser; e,
como digo, podem checar o quanto esses casos incontroversos têm sido citados recentemente, e lembrem-se quem eram as pessoas
responsáveis. Pessoas como Negroponte, procônsul de Honduras,
Rumsfeld, enviado especial ao Oriente Médio, e por aí vai, bastante continuidade.
Os EUA, como eu disse, reagiram recrudescendo a guerra e, pela primeira vez, dando ordens oficiais a suas forças mercenárias para
atacar o que se chama "alvos macios". É assim que o Comando do Sul os chamava: alvos macios, significando
alvos civis indefesos como cooperativas agrícolas e por aí vai. Isso era sabido e foi discutido
nos Estados Unidos.
Era considerado legítimo pela esquerda, então
Michael Kinsley, que representava a esquerda no debate de grande porte,
num artigo interessante - ele era então editor da New Republic - em que disse que não deveríamos ser afoitos em condenar
a autorização do Departamento de Estado para atacar alvos civis indefesos, porque temos de aplicar critérios pragmáticos.
Temos de analisar o custo-benefício e ver se, como ele disse, a quantidade de sangue derramado é compensada
por um bom resultado, ou seja, democracia.
O que determinaremos ser democracia e o que isso significa,
você pode ver olhando para os Estados vizinhos,
como El Salvador e Guatemala, que eram democracias OK.
E se passar no nosso ***, OK. Então, em outras palavras,
terrorismo internacional, tudo bem, desde que se cumpram critérios pragmáticos, e agora ao longo do espectro: esquerda e direita dentre "nós",
isto é, intelectuais educados e privilegiados, não a população, é claro. Na Nicarágua a população tinha
um exército para defendê-la. Foi ruim o bastante, dezenas de milhares mortos, o país praticamente devastado,
talvez nunca se recupere, mas tinha um exército para defendê-la. Em El Salvador e na Guatemala, isso não era verdade, o exército
eram os terroristas de Estado. Os EUA os apoiavam. Eles eram o exército. Não havia ninguém para defender a população,
e de fato as atrocidades foram bem piores. Além disso, eles não são um
Estado, então não podiam ir à Corte Mundial ou ao CS para seguir os meios legais - é claro que sem efeito algum -
porque "nós", pessoas como nós, determinamos que o mundo será regido pela força, não pela lei; e já que temos o poder,
caso o determinemos, um Estado que tente seguir meios legítimos de responder a terrorismo internacional
não tem nada a fazer.
Mas isso é nossa escolha e de ninguém mais. Não se pode culpar mais
ninguém por isso. Houve, contudo, resistência popular - não da elite, mas popular - às atrocidades
lá, e os EUA tiveram de recorrer a uma rede terrorista internacional, uma extraordinária rede terrorista internacional
Lembre-se: os EUA são um Estado poderoso, não são como a Líbia. Se a Líbia quer realizar atos terroristas, eles contratam
Carlos, o Chacal, ou algo assim.
Os Estados Unidos contratam Estados terroristas - somos gente grande.
Então a rede terrorista consistia de Taiwan, Grã-Bretanha, Israel, Argentina - pelo menos enquanto esteve sob o domínio
dos generais neo-nazi, quando eles foram infelizmente removidos, eles saíram do sistema - financiamento saudita.
Uma bela rede terrorista internacional, nunca houve igual. Em termos contemporâneos
podemos chamar de um "Eixo do Mal", eu suponho.
O resultado... de novo se atendo às diretrizes: acreditamos
em nossos líderes... foram centenas de milhares de pessoas chacinadas,
e milhões de órfãos e refugiados. Toda atrocidade concebível.
A região devastada. O único caso incontroverso,
Nicarágua, que foi o menor deles, por si só ultrapassa
os crimes de 11/09 e os outros são ainda piores. De novo estamos forçando a barra e dando aos EUA
o benefício da dúvida, chamando apenas de terrorismo internacional, organizado por oponentes depravados da própria civilização.
Bem, essa foi a segunda área principal: a América Central
Tudo isso, entretanto, está fora dos registros, também;
O jornal Current History, e ele é típico nesse respeito - nada a que me referi é mencionado.
Nem em toda literatura acadêmica, de fato, exceto bem à margem. Vocês podem checar e ver.
Simplesmente não conta. Os 80 são descritos como a era do terrorismo internacional de Estado, mas eles
não estão se referindo a nenhuma dessas coisas.
Os EUA estavam tentando prevenir terrorismo internacional de Estado tomando medidas pró-ativas, como a mais massiva
rede terrorista internacional de que se tem notícia.
Isso é bem típico da literatura acadêmica, jornalismo, e novamente vocês podem checar. Mal se falou palavra
a respeito quando a segunda fase da guerra ao terrorismo foi declarada, mais uma vez com basicamente as mesmas pessoas
e todos motivos para esperar os mesmos resultados.
Bem, de tudo isso uma conclusão óbvia se segue: Há uma
definição operacional de terrorismo, a que de fato é usada.
Significa terror que eles perpetram contra nós - isso é terrorismo,
nada mais passa pelo filtro. Até onde eu saiba, isso é
um universal histórico. Eu não acho uma exceção a isso, vocês podem tentar.
Por exemplo, os japoneses na China e na Manchúria estavam defendendo
a população contra terroristas chineses e iriam criar um
paraíso terrestre para eles, se pudessem controlar os terroristas.
Os nazis na Europa ocupada estavam defendendo os governos legítimos, como Vichy, e a população, de guerrilheiros
terroristas que eram apoiados do exterior, como de fato eram. Eles eram comandados desde Londres, Polônia, França e por aí vai.
O fato é que eu não consigo achar uma exceção, vocês podem tentar; também, até onde eu saiba, isso é virtualmente universal dentre
intelectuais, gente educada como nós.
Afora erro estatístico, essa é a linha que eles adotam.
Bem, não parece assim na História, mas lembrem-se de
quem escreve a História. Isso deveria deixá-los um tanto céticos. Se olharem a História real, não a que está escrita, penso
que acharão que esse é o caso; e eu poderia até talvez sugeri-lo como tópico de pesquisa para algum estudante de pós empreendedor
que aspire a uma carreira como motorista de taxi.
Apenas para continuar no presente, tomemos apenas os dois últimos
meses. 11/09 foi um exemplo perfeitamente claro de
terrorismo internacional, nenhuma controvérsia a respeito, então não temos que perder tempo. E quanto à reação? Bem, ela
acaba sendo também um caso incontroverso de terrorismo internacional. De novo, atenhamo-nos às diretrizes -
vamos apenas ouvir o que dizem nossos líderes.
Então, em 11/10, o presidente Bush anunciou ao povo afegão que "seguiremos bombardeando até que entreguem
pessoas suspeitas de atos terroristas, embora nos recusemos
a fornecer qualquer prova, e nos recusemos a entrar em qualquer
negociação para extradição e transferência" - um caso claro de terrorismo internacional. Em 28/10, a contraparte britânica,
Almirante Sir Michael Boyce, que é o chefe da Equipe de Defesa Britânica, foi um passo além. Lembre-se, livrar-se
do regime Taleban não era uma meta de guerra; foi uma preocupação posterior.
Três semanas após começarem os bombardeios, isso foi acrescentado, presumivelmente
para os intelectuais terem algo para se sentir bem ou
algo assim, não sei; de qualquer modo, 3 semanas após o bombardeio, isso foi acrescentado como uma nova meta de guerra. E o Almirante Boyce anunciou ao
povo afegão nesse sentido, acho que foi a 1ª menção a essa meta, que "continuaremos bombardeando até que vocês
mudem sua liderança".
Primeiro, isso foi tudo bem proeminente, 1ª página do New York Times
em ambos casos. Dois, ambos casos são exemplos de livro-texto de
terrorismo internacional, se não agressão; mas ainda estamos
forçando a barra, e está tudo fora do registro, pela convenção
usual. Nós estamos fazendo, então não conta. É apenas quando eles praticam o que definimos oficialmente como terrorismo que conta.
Bem, é fácil continuar, mas deixe-me voltar à tese fraca:
não pode haver uma guerra ao terrorismo, ao menos como ele é definido nos
documentos oficiais dos EUA. É uma impossibilidade lógica. Esta é uma pequena mostra de ilustrações, pode-se seguir facilmente,
mas é o bastante para mostrar que ela não pode ser real. Bem, essa é a tese fraca. E quanto à tese forte, de que tudo é
tão inteiramente óbvio que seria embaraçador falar a respeito, porque está tudo na superfície,
nada escondido a respeito disso?
Tudo que eu menciono é perfeitamente bem conhecido - não se tem que
penetrar nada para descobrir. Nenhuma fonte obscura, nada. Apenas a óbvia evidência.
E pode-se facilmente acrescentar a isso. Há uma tonelada de literatura a respeito nos 20 últimos anos, mas ela não pode ser
discutida, porque se chegaria à conclusão errada. Então é tratada do mesmo modo que o terrorismo na nossa cultura intelectual.
De novo, escolha, não uma necessidade.
Então acabamos com um tipo de dilema. Se não somos honestos,
esqueça. Mas se somos honestos há um dilema.
Uma possibilidade é apenas reconhecer que somos completos hipócritas
e então pelo menos ter a decência de parar de falar em
direitos humanos, certo e errado, bem e mal e tal, e dizer que somos hipócritas e temos força e
vamos governar o mundo pela força, ponto final. Esqueçamos todo o resto.
A outra opção é mais difícil de trilhar, mas é imperativa, a menos que queiramos contribuir para os desastres ainda piores
que possivelmente que estejam por vir.
Tradução: Leonardo Afonso
Acredito haver algo inerente à fibra da América que vale a pena salvar, e que os destinos do mundo inteiro podem muito bem
depender da habilidade de jovens americanos em encarar as responsabilidades de uma velha América enlouquecida.