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Tradutor: Theresa Ranft Revisor: Alessandra Areias
Em muitas sociedades patriarcais e tribais,
os pais são geralmente conhecidos por seus filhos,
mas eu sou um dos poucos pais
que é conhecido por sua filha,
e tenho orgulho disso.
(Aplausos)
Malala começou sua campanha pela educação
e defendeu seus direitos em 2007,
e quando seus esforços foram homenageados em 2011,
e ela recebeu o Prêmio Nacional da Paz da Juventude,
e ela se tornou uma jovem famosa
e muito popular no seu país.
Antes disso, ela era minha filha,
mas agora sou o pai dela.
Senhoras e senhores,
se olharmos para a história da humanidade,
a história das mulheres
é uma história de injustiça,
desigualdade,
violência e exploração.
Vejam bem,
em sociedades patriarcais,
desde o início,
quando uma menina nasce,
seu nascimento não é comemorado.
Ela não é bem-vinda,
nem pelo pai e nem pela mãe.
A vizinhança chega
e se lamenta junto à mãe,
e ninguém parabeniza o pai.
E a mãe fica constrangida
por ter uma menina.
Quando ela dá à luz a primeira filha,
ela fica triste.
Quando ela dá à luz a segunda filha,
ela fica chocada,
e, na expectativa de um filho,
quando ela dá à luz uma terceira filha,
ela se sente culpada como uma criminosa.
Não é só a mãe que sofre,
mas a filha, a filha recém-nascida,
quando ela cresce,
ela também sofre.
Com cinco anos de idade,
enquanto ela deveria estar indo para a escola,
ela fica em casa
enquanto seus irmãos vão para a escola.
Até a idade de 12 anos, de certa forma,
ela tem uma boa vida.
Ela pode se divertir,
ela pode brincar com seus amigos na rua,
e ela pode andar pelas ruas
igual a uma borboleta.
Mas quando ela entra na adolescência,
quando ela chega aos 13 anos,
ela fica proibida de sair de casa
sem um acompanhante masculino.
Ela fica confinada entre as quatro paredes de sua casa.
Ela não é mais um indivíduo livre.
E se torna a denominada honra
de seu pai e de seus irmãos
e de sua família,
e se ela transgride
o código dessa denominada honra,
ela pode até ser morta.
E também é interessante que
esse código de honra,
não afeta apenas a vida da menina,
mas também afeta a vida
dos homens da família.
Conheço uma família com sete irmãs e um irmão,
e aquele irmão,
migrou para os países do Golfo,
para sustentar suas sete irmãs
e seus pais,
porque ele achava que seria uma humilhação
se suas sete irmãs aprendessem uma profissão
e saíssem de casa
para ganhar o sustento.
Então, esse irmão
sacrifica as alegrias de sua vida
e a felicidade de suas irmãs
no altar desta suposta honra.
E tem mais uma norma
das sociedades patriarcais
que é chamada obediência.
Uma boa menina deve ser
muito calada, muito humilde
e muito submissa.
Estes são os critérios.
A menina exemplar tem que ser muito quieta.
Ela deve ficar calada
e aceitar as decisões
de seu pai e sua mãe
e as decisões dos mais velhos,
mesmo se ela não gosta.
Se ela se casa com um homem de quem ela não gosta
ou se casa com um homem velho,
ela tem que aceitar,
porque ela não quer ser chamada
de desobediente.
Se ela casa muito nova,
ela tem que aceitar.
Caso contrário, ela será chamada de desobediente.
E o que acontece no final?
Como disse uma poetisa,
ela é desposada, usada na cama,
e então ela dá à luz mais filhos e filhas.
E a ironia da situação
é que essa mãe
ensina a mesma lição de obediência
à sua filha
e a mesma lição de honra aos seus filhos.
E este ciclo vicioso continua sem fim.
Senhoras e senhores,
esta condição de milhões de mulheres
pode mudar,
se nós pensarmos de forma diferente,
se mulheres e homens pensarem de maneira diferente,
se os homens e mulheres nas sociedades tribais e patriarcais
nos países em desenvolvimento
puderem quebrar algumas das normas
da família e da sociedade,
se eles puderem abolir as leis discriminatórias
dos sistemas em seus Estados,
que vão contra os direitos humanos básicos
das mulheres.
Queridos irmãos e irmãs, quando Malala nasceu,
pela primeira vez,
acreditem em mim,
eu não gosto de crianças recém-nascidas, para ser honesto,
mas quando eu olhei nos seus olhos,
acreditem,
eu fiquei extremamente honrado.
E muito antes de ela nascer,
eu pensei sobre o nome dela,
e fiquei fascinado com uma legendária
e heroica defensora da liberdade do Afeganistão.
Seu nome era Malalai de Maiwand,
e escolhi o nome de minha filha em homenagem a ela.
Alguns dias depois que Malala nasceu,
que minha filha nasceu,
meu primo veio
e foi uma coincidência,
ele veio à minha casa
e trouxe uma árvore genealógica,
uma árvore genealógica da família Yousafzai,
e quando eu vi a árvore genealógica
ela remontava a 300 anos de nossos antepassados.
Mas quando eu olhei, todos eram homens,
e eu peguei minha caneta,
desenhei uma linha do meu nome,
e escrevi "Malala."
E quando ela cresceu,
quando ela estava com quatro anos e meio,
eu a inscrevi na minha escola.
Vocês devem estar perguntando porque estou falando
sobre uma menina indo para uma escola.
Sim, preciso falar sobre isso.
Isso pode ser coisa normal no Canadá,
nos Estados Unidos e em muitos países desenvolvidos,
mas em países pobres,
em sociedades patriarcais e tribais,
é um grande evento na vida de uma menina.
Ser matriculada numa escola significa
o reconhecimento de sua identidade e de seu nome.
Ser aceita numa escola significa
que ela entrou no mundo dos sonhos
e aspirações
onde ela pode explorar seus potenciais
para seu futuro.
Tenho cinco irmãs,
e nenhuma delas podia frequentar uma escola,
e vocês ficarão espantados,
pois duas semanas atrás,
quando estava preenchendo o formulário para visto canadense,
e eu estava preenchendo a parte referente à família,
eu não conseguia lembrar
os sobrenomes de algumas das minhas irmãs.
E a razão para isso foi
que eu nunca tinha visto os nomes das minhas irmãs
escritos em qualquer documento.
Esta é a razão porque
eu valorizo a minha filha.
O que meu pai não pôde dar às minhas irmãs,
e às suas filhas,
eu queria mudar isso.
Eu costumava apreciar a inteligência
e a astúcia da minha filha.
Eu a incentiva a sentar comigo
quando meus amigos vinham.
Eu a incentiva a ir comigo a diversas reuniões.
E todos estes bons valores
eu tentei integrar em sua personalidade.
E não foi somente para Malala.
Transmiti todos esses valores
na minha escola, para as alunas e também para os alunos.
Usei a educação para a emancipação.
Eu ensinei minhas alunas,
Eu ensinei minhas alunas,
a desaprenderem a lição da obediência.
Eu ensinei meus alunos
a desaprenderem a lição da denominada pseudo-honra.
Queridos irmãos e irmãs,
estávamos lutando por mais direitos para as mulheres,
e estávamos lutando por mais,
mais e mais espaço para as mulheres na sociedade.
Mas nos deparamos com um novo fenômeno
que foi letal para os direitos humanos
e especialmente para os direitos das mulheres.
Foi denominado "talibanização".
Isso significa uma total negação
da participação das mulheres
em todas as atividades políticas, econômicas e sociais.
Centenas de escolas foram destruídas.
Meninas foram proibidas de ir à escola.
Mulheres eram obrigadas a usar véus
e eram impedidas de ir aos mercados.
Músicos eram silenciados,
meninas eram chicoteadas
e cantoras assassinadas.
Milhões estavam sofrendo,
mas poucos falaram,
e era a coisa mais assustadora
quando você tem pessoas assim em volta,
que matam e chicoteiam,
e você defende seus direitos.
É realmente a coisa mais assustadora.
Aos dez anos,
Malala defendeu seu direito
à educação.
Ela escrevia um diário para o blog da BBC,
e se oferecia
para os documentários do New York Times,
e ela discursava em toda plataforma que podia.
E sua voz era a voz mais poderosa,
que se espalhou cada vez mais pelo mundo.
E essa foi a razão pela qual o Taliban
não podia tolerar sua campanha,
e em 9 de outubro de 2012,
ela levou um tiro à queima-roupa na cabeça,
Foi o fim do mundo para minha família e para mim.
O mundo se transformou em um grande buraco ***.
Enquanto minha filha estava
entre a vida e a morte,
eu sussurrei no ouvido da minha esposa:
"Será que sou culpado pelo que aconteceu
com a nossa filha?"
E imediatamente ela me disse:
"Por favor, não se culpe.
Você lutou pela causa justa.
Você colocou sua vida em jogo
pela causa da verdade,
pela causa da paz,
e pela causa da educação,
e sua filha se inspirou em você
e se juntou a você.
Vocês dois estavam no caminho certo
e Deus irá protegê-la."
Aquelas poucas palavras significaram muito para mim,
e nunca mais fiz esta pergunta.
Quando Malala estava no hospital,
sofrendo dores terríveis
e fortes dores de cabeça,
porque seu nervo facial estava rompido,
eu via uma sombra escura
se espalhando pelo rosto da minha esposa.
Mas minha filha nunca reclamava.
Ela nos dizia:
"Estou bem com meu sorriso torto
e a dormência no meu rosto.
Vou ficar bem. Por favor, não se preocupem."
Ela era o nosso consolo,
e ela nos tranquilizava.
Queridos irmãos e irmãs,
aprendemos com ela como ser resiliente
nos momentos mais difíceis.
E fico feliz em compartilhar com vocês
que, apesar de ser um ícone
dos direitos das crianças e das mulheres,
ela é como qualquer menina de 16 anos.
Ela chora quando não termina seu dever de casa.
Ela briga com seus irmãos,
e fico muito feliz por isso.
As pessoas me perguntam
o que há de especial na minha orientação
que deixou Malala tão corajosa,
destemida e segura.
E eu digo: "Não me perguntem o que eu fiz.
Perguntem-me o que eu não fiz.
Eu não cortei suas asas, foi só isso".
Muito obrigado.
(Aplausos)
Obrigado. Muito obrigado. (Aplausos)