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Olá, eu sou o Bruce Alberts
vou fazer uma breve palestra
e só quero transmitir um facto essencial
e que é a importância de aprender com os erros.
Sinto que sou bastante capaz de fazer isto
já que cometi muitos erros ao longo da minha vida.
Penso que todos nós os cometemos, mas o que eu pretendo sublinhar
é como é que este tipo de erros
repensentam importantes experiências de aprendizagem,.
Se sentes que estás a cometer erros, ou recentemente cometeste erros
nao te sintas desencorajado.
encara isso como uma forma de crescimento
e de te tornares mais sábio a longo prazo.
O meu primeiro diapositivo mostra a minha carriera como aluno de doutoramento
em Harvard no período de 1961-65
e como eu descrevo aqui, eu tinha
o objectivo muito ambicioso de tentar replicar
a dupla hélice do ADN num tubo.
No entanto, eu só tinha uma enzima disponível
a polimerase do ADN. Hoje sabemos
que o processo de replicação do ADN requere muitas mais enzimas.
Na altura, eu desenvolvi uma teoria
de como esta enzima poderia replicar a dupla-hélice.
Fiz imensas experiências
Algumas delas demoraram
5 anos,
e todas as experiências falharam.
No entanto, foi me comunicado que eu estava pronto para obter o grau de Doutor.
Eu tinha feito experiências em paralelo sobre as quais poderia escrever a minha tese
e fui para a prova oral em Harvard
sabendo de exemplos semelhantes no passado
Até então, nao havia memória de alguém ter falhado a prova oral.
Portanto, fiquei chocado
e tudo isso está descrito numa pubilcação
na revista Nature. Publiquei um breve ensaio
sobre como ter falhado no exame de doutoramento
foi um importante passo para tornar a minha carreira um sucesso.
O título é: " Uma chamada de atenção" ("A wake-up call")
Como falhar um Ph.D. levou ao desenvolvimento
de uma estratégia para uma carreira científica de sucesso.
Nao vou poder abordar
todos os pontos aqui, mas esta falha ensinou-me importantes lições sobre ciência.
Antes deste acontecimento, eu pensava que sabia como fazer ciência
Tinha sido, até então, extremamente bem sucedido
pela sorte, durante a licenciatura
fiz uma tese de licenciatura e publiquei alguns artigos científicos.
O sucesso não nos ensina muito.
Pelo contrário, o insucesso ensina-nos muito.
Aprendi várias lições fundamentais sobre ciência
Em primeiro lugar, nós tinhamos sido enganados
aqueles que se lembram destes anos científicos
em que Watson e Crick foram extremamente bem sucedidos
na biologia teórica. E em 1963
conseguiram prever a dupla hélice do ADN
e todos nós pensamos que podíamos ser o Watson e Crick
Assim, a minha tese era baseada
na idea de que eu podia resolver o previsto por Watson e Crick
de que existiria uma maquinaria responsável
pela passagem replicação do ADN e passagem de genes de geração para geração
De facto, hoje em dia sabemos que a evolução
criou um incrível complexo químico
para o qual foi necessário fazer experiências
para entender na totalidade este mecanismo
A coisa mais importante que eu aprendi,
e que é critico para toda as pessoas que fazem ciencia,
é que ter uma boa estratégia em investigação científica
é a chave para o sucesso, é definitivamente a coisa mais importante
em ciência. Há um milhão de outras experiências possiveis
que poderíamos estar a fazer,
o importante é perceber como usar os nossos recursos limitados
para fazermos as experiências que eficientemente nos ajudarão a progredir.
Eu passo muito tempo antes de
dar o meu próximo passo científico, a pensar e escrever acerca
do que vou fazer e porquê, e o que não irei fazer.
E uma das conclusões a que cheguei, e já várias vezes
demonstrou ser muito útil na minha carreira científica,
é que só fazia uma experiência
quando soubesse que qualquer que fosse o resultado teria a garantia de ser um avanço no nosso conhecimento,
nem que fosse um pequenco passo.
Ao contrário da minha tese, onde eu estava a tentar ver se a minha
teoria estava correcta ou não
e depois de obter uma série de não-respostas e a minha teoria nao estava certa
ninguém ficou surpreendido e os resultados nao adicionaram nada
ao nosso conhecimento científico, o que acabou por ser a razão
pela qual eu tive tantos problemas no exame da minha tese.
Agora, vou contar-vos um segundo insucesso
que acabou por se tornar num grande sucesso
e que foi escrever o livro de texto "The Molecular Biology of the Cell" (Biologia molecular da célula).
Em retrospectiva, tudo o que fazemos que acaba por correr bem
parece simples, e as pessoas podem ser enganadas
acerca de quão difícil é fazer com que as coisas funcionem.
Este foi, na verdade, um quase-insucesso,
Em 1978, eu era um jovem investigador na Universidade da California, San Francisco (UCSF)
e estava sentado no meu gabinete quando recebi um telefonema
do Jim Watson - o famoso Jim Watson da dupla hélice do ADN
Ele teve a visão certa, no momento certo, aliás, ele é um visionário
Ele disse-me que era a altura certa the juntarmos o nosso conhecimento sobre moléculas e biologia molecular
com um outro campo sobre o qual, na altura, eu nada sabia.
Ele chamou-lhe biologia celular, mas não era a biologia celular a que hoje em dias nos referimos.
Era microscopia molecular descritiva, microscopia
que nessa altura estava a fazer imensos avanços ao nível descritivo. De facto,
enquanto escrevia o livro, ouvi falar pela primeira vez
sobre a existência do retículo endoplasmático, organelo que hoje em dia
é descrito e ensinado a qualquer jovem do 7 ano (um grande erro
que ficará para outra altura).
A todos os níveis, o Jim sempre teve a visão certa,
mas ele é tão optimista, que para ele as coisas são sempre simples
de modo que nos convenceu a escrever o livro dizendo que não
demoraria, penso eu, se a memória não me trai, 1 mês, no verão de 1978
e outro mês no verão seguinte.
Quando começamos este projecto, apercebemo-nos
que não sabíamos escrever um livro de texto,
Escrevemos muita coisa no verão. Em 1979 passamos 2 meses
em Cold Spring Harbor, onde está muito calor, trabalhavamos 16 horas por dia incluindo fim-de-semanas
todos os 5 autores. E na verdade o que
produzimos, fomo-nos paercebendo, não era útil, pelo menos a maior parte.
De modo que estivemos perto de desistir depois desses 2 verões de trabalho
Felizmente, não desistimos!
Finalmente, no veão de 1981, enquanto trabalhavamos todo o verão
apercebemos, por fim, que tínhamos aprendido imenso
e a partir daí, tem sido muitíssimo mais fácil.
Mais um vez, e tal como a minha experiênciade aprendizagem a fazer ciência,
foi preciso um quase-insucesso, ou um "insucesso", para podermos fazer um verdadeiro progresso.
No fim, nós sucedemos.
Produzimos até agora, 5 edições deste volumoso livro de texto de biologia celular
chamado "Biologia Molecular da Célula".
A primeira edição é a preta. Um dos autores anotou o tempo que passamos a escrever,
passamos bastante mais de 365 dias, no total,
dias de 12-16 horas e fins-de-semanas incluidos.
As edições subsquentes têm sido mais fáceis pois nós aprendemos a fazer isto.
Finalmente, na quinta edição divertimo-nos.
Aqui estou na Base Aérea Chileno, na Antártida
a apresentar, lançar o nosso livro de texto, com os restantes autores.
aos generais presentes na base. Penso que os generais estavam um pouco surpreendidos
com a razão da nossa ida lá, mas de qualquer forma foi divertido.
A partir do momento em que falo, daqui a um mês começaremos a sexta edição deste livro.
Será a última edição em que participo. Mas tem sido com grande prazer q faço isto.
Não só gostamos de estar na companhia uns dos outros
como também aprendemos imenso. Aprendemos tanto sobre biologia celular
e afectou a nossa forma de fazer investigação.
Acredito que tanto escrever um livro como ensinar são extremamente importantes para produzir ciência criativa.
Isto demonstra o que é
a alegria de escrever um livro,e porque demora tanto tempo.
Cada capítulo é lido e re-escrito por múltiplos autores
O primeiro autor começa, penso que esta letra não é minha,
mas esta tinta é da caneta que uso. O que está escrito é já de outro autor
Esta é a forma como se cria um livro que, na verdade,
é melhor do que o que cada um dos autores faria sózinho.
Para terminar, os meus insucessos ensinaram-me
uma lição de vida importante.
E primeiro de tudo não fiques desapontado quando falhas.
A melhor coisa da sociedade americana é que
bons insucessos são encorajados e não são vistos como uma desgraça.
Porque isto significa que estás a tentar algo novo e a sério.
No entanto, deves estudar os teus insucessos cuidadosamente. Todos cometemos erros
mas algumas pessoas cometem o mesmo erro repetidamente.
Mas aqueles de nós que têm tido sucesso, nunca cometem o mesmo tipo de erro duas vezes.
Isto significa que pensamos cuidadosamente aquilo que aprendemos, escrevemos sobre isso,
e um ponto geral importante,
é também por isto que as pessoas mais velhas são valiosos conselheiros para os mais novos.
Nós já cometemos tantos erros, temos uma certa sabedoria
que adquirimos com os erros que fomos comentendo.
Penso que aconselhar os mais novos é também uma experiência enriquecedora,
o que me leva ao meu último ponto:
e passo a citar Eleanor Roosevel, a famosa esposa do
presidente americano Franklin Delano Roosevelt.
Ela disse: "Aprende com os erros dos outros
Vives o suficiente para tu mesmo os cometeres todos"
Obrigado.