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INDICADO ENTRE OS 5 MELHORES FILMES
DO TERCEIRO MUNDO PERÍODO 1968-78
REVISTA "TAKE ONE" (EUA)
INDICADO ENTRE OS 1O MELHORES FILMES DA AMÉRICA LATINA
PERÍODO 197O-8O LOS ANGELES FILM CRITICS (EUA)
INDICADO ENTRE OS 1O MELHORES FILMES POLÍTICOS DO MUNDO
PERÍODO 1967-87 REVISTA "CINEASTE" (EUA)
PRÊMIO "NOVAS TEIXEIRA"
ASSOCIAÇÃO FRANCESA DE CRÍTICOS CINEMATOGRÁFICOS (FRANÇA 1976)
GRANDE PRÊMIO
FESTIVAL INTERNACIONAL DE GRENOBLE (FRANÇA 1975)
GRANDE PRÊMIO DO JÚRI
FESTIVAL INTERNACIONAL DE LEIPZIG (ALEMANHA 1976)
GRANDE PRÊMIO
FESTIVAL INTERNACIONAL DE GRENOBLE (FRANÇA 1976)
GRANDE PRÊMIO
FESTIVAL INTERNACIONAL DE BRUXELAS (BÉLGICA 1977)
GRANDE PRÊMIO
FESTIVAL INTERNACIONAL DE BENALMÁDENA (ESPANHA 1977)
GRANDE PRÊMIO
FESTIVAL INTERNACIONAL DE HAVANA (CUBA 1979)
"A BATALHA DO CHILE A LUTA DE UM POVO SEM ARMAS"
"SEGUNDA PARTE - O GOLPE DE ESTADO"
UM FILME DE
COM A COLABORAÇÃO DE
PRODUTORES
VERSÃO ATUALIZADA
EQUIPAMENTOS TÉCNICOS DE FILMAGEM
ARQUIVO
TRUCAGENS E CRÉDITOS
NARRADOR
ENGENHEIRO DE SOM
OPERADORES DE SALA
COLABORADORES PRINCIPAIS
COLABORADORES NO ROTEIRO
PRODUTOR EXECUTIVO
CHEFE DE PRODUÇÃO
SOM AO VIVO
ASSISTENTE DE DIREÇÃO
MONTAGEM
FOTOGRAFIA E CÂMERA
ROTEIRO E DIREÇÃO
EM MEMÓRIA DE JORGE MÜLLER SILVA
Santiago do Chile, 29 de junho de 1973.
Sem poder destituir o presidente Allende,
a Casa Branca e a oposição chilena
passam à estratégia do golpe de Estado.
Após o fracasso nas urnas em março de 73,
a oposição aplica um plano de insurreição.
29 de junho: Setor do Exército precipita os fatos.
Às 9:1O, o regimento ataca La Moneda com tanques e veículos.
Pouco depois, um repórter argentino filma sua própria morte.
Com ela, filma também, 2 meses antes do golpe final,
a cara de um setor do Exército chileno.
Por uma hora, os tanques trocam tiros
com a guarda presidencial,
que está dentro do palácio de La Moneda.
Morrem 22 pessoas.
Silêncio do Parlamento, do Judiciário, da oposição.
O resto das Forças Armadas não apóia os golpistas.
Talvez sem ver condições para o êxito do levante,
os demais oficiais não aderem à ação.
As tropas leais iniciam o contra-ataque ao cerco.
Cuidado! Sai daqui!
Não atire, infeliz!
Às 1O:3O, mais soldados leais vão para o centro.
Pela estrada pan-americana Norte, 1O veículos transportam
tropas de artilharia para a capital.
A população civil deve manter a calma.
Após breve confronto, os tanques rebeldes iniciam a retirada.
O comandante-em-chefe do Exército, Gen. Carlos Prats,
dirige as operações.
Às 11 horas ainda se combate,
o presidente da República entra no palácio de governo.
Na mesma hora, chega outra coluna leal, liderada
pelo ministro de Defesa, José Tohá.
Juventudes comunistas do Chile!
Viva o presidente dos trabalhadores!
Lutar, criar, poder popular!
- Allende, Allende! - A situação começa a ser controlada,
mas há forças que ainda não se renderam.
Na retirada, os tanques atiram.
José Tohá tenta acalmar os ânimos
diante do risco de novo confronto.
O general Pickering o ajuda.
Ministro, se não controlarmos essa gente,
haverá um massacre! Ajude-me.
Vão embora!
Vão, por favor, senão pode morrer gente aqui.
Os generais Pickering, Sepúlveda e Prats
lideram os oficiais decididos a sufocar a agitação.
Outros altos-comandos ficam na expectativa.
É o caso de Augusto Pinochet, futuro chefe do governo militar,
agora com as forças leais.
11:3O: General Prats garante ao ministro de Defesa
a rendição dos rebeldes e diz onde estão suas próprias tropas.
Ao Sul de La Moneda está a Escola de Suboficiais
ao Norte, o Regimento Buin.
Mas Prats acha essencial o estado de sítio nessa situação.
É preciso decretar estado de sítio imediatamente.
Não se pode controlar esta situação de outra maneira.
Allende, Allende, o povo te defende!
Ao meio-dia, já confirmada a derrota do levante,
o Partido Democrata Cristão
declara seu apoio ao regime constitucional.
O outro setor da oposição, Partido Nacional, não dá declarações.
A direção do grupo fascista "Pátria e Liberdade"
refugia-se na embaixada do Equador,
confessando assim a autoria da quartelada.
Mão de ferro!
Ás 18 horas, a guarda baixa a bandeira.
Por duas horas, a companhia, sob o comando do tenente Pérez,
negou-se a entregar a sede do governo.
Junto com o general Prats, são os heróis do dia.
Ombro, arma!
Direita, volver!
A facilidade com que a tentativa de golpe
fora dominada suscita perguntas.
O levante indica simpatia de parte da oficialidade,
que só não adere à rebelião
por temor de enfrentar outras unidades do Exército.
Allende se apóia nos oficiais constitucionalistas
e afasta o que debilita sua legalidade.
Faremos as mudanças revolucionárias
em pluralismo, democracia e liberdade.
Mas isso não significa
tolerância com antidemocratas,
nem tolerância com os subversivos,
nem tolerância com os fascistas, camaradas!
Fechar, fechar, o Congresso Nacional!
Mas vocês têm de entender
qual é a real posição deste governo.
Não vou, porque seria absurdo,
fechar o Congresso. Não o farei.
Já disse, eu respeito...
Mas, caso necessário,
enviarei um projeto de lei de
plebiscito para que o povo resolva esta questão.
Reação de merda, a rua é da esquerda!
No outro dia, Allende pede ao Congresso o estado de sítio.
Desde 29 de junho, os trabalhadores de esquerda
assumem o controle de fábricas, empresas,
minas e centros agrícolas em todo o Chile.
Criar, criar, poder popular.
Companheiros,
a conclusão dos 5OO operários da fábrica de embalagem
é a seguinte:
Fortalecer os cordões, os conselhos comunitários,
as associações de moradores, as juntas de preços,
fortalecer os organismos vivos da comunidade!
É preciso aproveitar a situação
para passar à ofensiva a fim de ganhar novos setores
e nacionalizar mais indústrias.
Nós, trabalhadores, estamos em nosso posto de combate,
que é nossa fonte de trabalho,
construindo os elementos para nos defender
de um ataque do fascismo ou qualquer outra tentativa
das Forças Armadas de derrubar o governo.
Temos que assegurar bem o nosso posto de combate,
que é nas fábricas primeiro.
Fortalecem-se todas as formas de poder popular,
em especial, os "cordões industriais".
Cada cordão é um grupo de fábricas e empresas
que coordena o trabalho de todos naquela área.
Nas principais cidades, criaram-se 31 cordões,
8 deles em Santiago.
- Quem você representa? - Cordão Macul.
- E você? - Cordão Macul.
- E você? - Cerrillos-Maipú.
- E você? - O cordão Cerrillos.
- Cordão Vicuña Mackenna. - Vicuña Mackenna.
- E você? - Cordão O'Higgins.
- A Esquerda Cristã. - O Partido Radical.
ESTA EMPRESA É ADMINISTRADA PELOS TRABALHADORES
Apoiado pelos cordões, o governo pode ter controle legal
sobre fábricas estratégicas.
Companheiros,
como todos nós sabemos, grupos fascistas
tentaram derrubar o governo
e parece que ainda têm ramificações.
Assim, persiste o perigo latente
contra um processo iniciado e controlado pelos trabalhadores.
Portanto, hoje, resolveu-se o seguinte:
Como a fábrica de embalagens e folha de alumínio Alusa
suspendeu a entrega de seus produtos,
o que constitui um entrave à distribuição,
e vistos o Decreto Supremo 338
e a Lei 16.464, resolve-se:
Primeiro, requisitar
o estabelecimento industrial, as máquinas e os elementos
necessários à produção e/ou distribuição
da fábrica Alusa...
Em 2 de julho, a lei de estado de sítio,
proposta por Allende, é votada no Parlamento.
Essa lei confere poderes extraordinários ao presidente.
Assim, o presidente poderia nomear,
transferir e destituir chefes militares.
Abro a palavra!
Debate encerrado.
Nos três governos anteriores, o estado de sítio
foi autorizado duas vezes.
Os deputados que rejeitam a proposta, levantem a mão!
O estado de sítio, maior instrumento legal
para enfrentar a emergência, não é autorizado.
Resultado da votação:
A favor, 52 votos.
Contra, 81.
É rejeitada a proposta do Executivo.
O executivo não convence o Parlamento.
A oposição acha injustificado dar poderes especiais a Allende.
Em 2 de julho -mesmo dia da rejeição do estado de sítio -,
os oficiais da Armada ordenam uma "busca"em Valparaíso.
Um ano antes, aprovara-se a Lei de Controle de Armas,
que autoriza os militares
a fazerem buscas de armas sem mandado judicial.
Apesar do aumento do terrorismo de extrema direita,
essa lei nunca fora aplicada pelos militares.
Na busca, há cerco da fábrica,
detenção temporária e interrogatório dos operários.
Sem sair da legalidade, oficiais começam a agir
contra funcionários e operários das fábricas.
Nesta primeira busca, não se encontram armas.
O Chile sofre agressão do
SECRETÁRIO-GERAL DO imperialismo americano
PARTIDO COMUNISTA de um setor da oligarquia,
que, em outubro de 7O, se uniu à ITT e à CIA
para derrubar este governo.
Pretendem repetir
uma tentativa dessa natureza.
Então, a luta, neste momento,
é de caráter patriótico e nacional.
O Chile tem pleno direito de governar-se
de acordo com a vontade de seu povo.
Ao mesmo tempo,
está em curso um processo de transformações revolucionárias
para abrir caminho para uma sociedade socialista.
Diante da ameaça de golpe,
o PC e parte da esquerda concordam com Allende.
Querem evitar um confronto armado,
em condições desfavoráveis.
Assim, querem o apoio
dos oficiais que respeitam a democracia.
No plano político, Allende e esse setor
desejam um acordo mínimo com a Democracia Cristã.
Ultimamente, eles desenvolveram
DEPUTADO COMUNISTA toda uma campanha
destinada a mostrar
que o governo popular é um governo ilegítimo.
Quero perguntar ao Sr. Víctor García Garzena
a opinião do Partido Nacional sobre os fatos de 29 de junho,
sobre o ataque dos tanques
que matou mais de 2O inocentes.
Quero saber a sua opinião,
porque o jornal "A Tribuna", no dia seguinte ao fato,
dizia que fora um "show".
E a rádio Agricultura, enquanto ocorria a tentativa facciosa,
divulgava palavras de ordem tais como:
"Por fim, chegou o dia tão esperado",
"Por fim, as Forças Armadas atacam o totalitarismo marxista"
e outros epítetos usados pelo seu partido.
Este é um delito político,
um atentado contra nosso povo.
O mais grave atentado contra a democracia
e o regime constitucional que eles dizem defender.
O Sr. Víctor García já foi preso uma vez,
em 1967, pelo governo da Democracia Cristã,
por atos sediciosos em nome do Partido Nacional.
Boa noite, telespectadores.
DEPUTADO FEDERAL Como puderam ver e ouvir,
o jovem estudante
me colocou como sedicioso.
Olhem-no bem, e olhem-me!
Olhem sua vida e a minha!
Não sei como as câmeras não caíram de vergonha!
Francamente! Dedicou a vida
à revolução, nunca fez outra coisa além de revolução.
Diante de um homem que exerceu sua profissão durante 35 anos,
que foi 25 anos professor universitário,
que ganhou o sustento com seu esforço.
O jovem estudante me aponta e diz: "Olhem o sedicioso"!
Quer dizer, é simplesmente ridículo!
O regime não pode funcionar sem virtudes republicanas!
Este é o meu pensamento,
todo mundo sabe que o ponho em prática.
Não condeno os desesperados, os que, hoje,
como o caminhoneiro pisoteado, atiram uma pedra.
Não condeno quem protesta e se rebela.
Não sou, nunca fui, partidário de levante algum.
Não sou partidário de golpes, nem de aventuras.
Mas hoje compreendo e entendo
que um país inteiro não pode viver em paz
quando suas necessidades mais vitais, diz a dona de casa,
não são atendidas.
Retratou-se de corpo inteiro.
Mostrou
o rosto sedicioso,
o rosto golpista do Partido Nacional.
Sr. Ansieta, esse é o principal risco
para o regime constitucional
e a democracia que o Sr. Afirma defender.
O Sr. García Garzena disse, e os senhores ouviram,
que não condena
o levante de 29 de junho,
feito por uma unidade traidora, sem dúvida,
da tradição das nossas Forças Armadas.
Não condena o assassinato de mais de 22 pessoas.
Não condena. Mas não foi capaz de dizer que aplaude,
como sua rádio,
a rádio Sociedade Nacional de Agricultura.
Ou como seu jornal, "A Tribuna",
que, no dia seguinte, disse
que era auto golpe,
um show montado pelo governo da UP.
Repita-o aqui!
Não disse que apoiei o levante, não distorça!
- Então seja claro. - Acabo de pronunciar-me claramente!
Quero explicar-lhes, caros telespectadores,
que nosso sistema não é um sistema
de ódio ou luta de classes.
É a "integração nacional". É isso que perseguimos.
Queremos que todos se sintam membros de uma mesma pátria.
- Como no Uruguai? - Fraternos.
- Como na Bolívia... Como no Brasil... - Para que vem com esses países?
Parece boliviano!
Não se desespere, Sr. García, não fique histérico!
Permita-me continuar.
Estes são os problemas:
De onde vêm os atentados
contra a democracia e a liberdade?
Eles obstaculizam e impedem o diálogo,
e nos levam direto para a guerra civil.
É só disso que precisa o Sr. García Garzena,
a pacífica pomba da paz que vimos diante das câmeras,
que quer instaurar no Chile uma ditadura fascista
igual à de José Maria Bordaberry no Uruguai,
ou à do Brasil e da Bolívia, repito, mesmo se ele não diz.
Que quer instaurar no Chile uma ditadura fascista
igual à de José Maria Bordaberry no Uruguai,
ou à do Brasil e da Bolívia, repito, mesmo se ele não diz.
5 de julho: Allende forma um gabinete para lidar com a crise
e criar condições para o diálogo
com a Democracia Cristã.
Para tanto, inclui uma personalidade desse partido.
Sei perfeitamente que os processos revolucionários
abalam os povos.
Mas sei também que aqui quisemos
e procuramos fazer algo que outros não conseguiram:
Uma revolução por uma via diferente,
de acordo com nossa história, tradição e realidade.
Que sejamos capazes de escrever mais uma página
para mostrar que o Chile tem sua vontade criadora,
a nobre decisão de engrandecer a pátria sempre.
Agora, vamos ao juramento.
Finalmente, esclareço que chamei o reitor
da Universidade Católica, Fernando Castillo,
e pedi-lhe que fizesse parte do gabinete.
Infelizmente, ele tinha outros compromissos,
que eu respeitava.
Respeitei suas razões e, apesar de sua boa disposição,
não pude contar com sua colaboração.
Sei, com certeza, que o país contará
sempre com sua colaboração.
Quis informá-los disso
e reiterar que estou certo de que superaremos
as horas difíceis com o esforço de todos. Obrigado!
Por que esta ruptura, que, na verdade, ninguém deseja?
REITOR DA UNIVERSIDADE Porque, quando a UP lança programas,
CATÓLICA DEMOCRATA-CRISTÃ projetos para o Chile
que possam realmente permitir
a mobilização dos interesses de todos,
ela primeiro se pergunta: Quem ficará contra?
Ela procura com lupa
os inimigos possíveis e os apresenta como uma minoria.
Pessoalmente, acho que, para esses grandes projetos
de transformação da nossa sociedade,
a mensagem deve ser bem explicada,
devem-se reunir todos aqueles que possam
convergir em uma força voltada para
os objetivos do Chile.
Esta é a obrigação mais fundamental de um governo.
Mas, sob a influência de sua ala mais tradicional,
o Partido Democrata Cristão não quer dialogar com o governo.
Mas tanto Allende como parte da esquerda
e da própria Democracia Cristã
continuarão tentando o diálogo para mudar
a correlação de forças
diante de um possível golpe de Estado.
Companheiros, devemos lançar um apelo
à sensatez e ao patriotismo
dos setores da Democracia Cristã
que pensam com a própria cabeça, não seguem
as ordens do Pentágono,
SECRETÁRIO-GERAL MAPU da CIA, os capitalistas chilenos,
MOVIMENTO DE AÇÃO POPULAR para que se oponham
UNITÁRIA no povo, nos sindicatos, em todo lugar,
à ofensiva fascista e reacionária.
Pois, se os fascistas conseguissem vencer,
não perguntariam ao operário do cobre
se é comunista, do MAPU,
socialista ou DC para reprimir.
8 de julho: Fuzileiros dão busca em Valparaíso.
No mesmo dia, a Força Aérea ocupa
um cemitério de Santiago, com 3 helicópteros.
20O soldados revistam túmulos e nichos, à procura de armas.
Não se encontram armas.
Isto é do outro mundo!
Os direitistas vêm aqui todo dia perturbar os mortos.
Que idéia! Onde já se viu? Morto não tem bala, nem nada, como pode matar?
Não acha? Jogar os coitados aí! Só poderiam jogar seus ossos...
Mais dia, menos dia, vão mandar aviões contra nós!
Somos indefesos, nos matam, e fica por isso mesmo.
Teriam de armar o povo?
Claro! É o que o governo tem de fazer, e logo!
Se a gente mesmo não fizer, é impossível...
Nós somos a força do governo.
Allende é presidente porque nós o elegemos.
Os ricos nunca vão ficar do nosso lado.
Tudo o que os trabalhadores têm, devem a este governo.
Não tínhamos nada.
Como não ser grata a este governo?
Tem gente que ainda não entendeu isso.
Tem a mente meio perdida.
Meio perdida por causa das mudanças que ocorreram.
Na vida cotidiana, vemos que o governo, de cima,
faz esforços pela periferia.
O que fazer para defender este governo?
- Unir-nos! - E se eles vierem armados?
Precisaríamos de armas para nos defender!
É a opinião de todos nós aqui.
Neste bairro operário, ninguém tem arma.
Aos socos e pauladas, não se pode fazer nada.
Se vierem com arma de fogo, não dá para fazer nada.
Há organizações de defesa graças aos trabalhadores!
Há brigadas que poderiam se mobilizar,
mas não há armas para defender as empresas,
nem organizações do povo para mobilizar trabalhadores
e prepará-los para o combate de rua
contra alguns setores militares
ou alguns setores fascistas armados.
Criar, criar, milícia popular!
Criar, criar, poder popular!
12 de julho: Partido Socialista fala da ameaça de golpe.
Soldados, marinheiros, aviadores e policiais
SECRETÁRIO-GERAL não podem prestar-se jamais,
PARTIDO SOCIALISTA em circunstância alguma,
a assassinar trabalhadores.
E, se oficiais se rebelarem,
os oficiais, suboficiais e soldados
não têm obrigação
de prestar-lhes obediência.
Mais claro ainda:
Têm apenas o dever de não acatar ordens
que signifiquem disparar contra o povo
ou participar de aventuras golpistas
contra o governo dos trabalhadores.
Devem opor-se ativamente a essas ordens.
A burguesia deve entender com clareza
que não pode agir impunemente.
A cada ação subversiva,
a cada atentado contra o Chile e seu governo,
os trabalhadores responderão invariavelmente,
utilizando todos os métodos
e recursos necessários.
Nosso partido acha
que as ocupações de empresas,
fábricas, terras são respostas legítimas
da classe operária e dos trabalhadores
à atitude sediciosa e golpista da direita.
Já dissemos: A reação deve pensar em cada passo que dá.
Gostaria de saber a posição do partido
sobre as buscas que os militares dão nas fábricas,
procurando armas.
Considero essa atitude ofensiva à classe operária.
Os trabalhadores só se armariam
para defender o seu governo.
O senhor, como advogado e jurista,
poderia nos explicar quando é legal
e quando é ilegal?
Este é o problema: Cairíamos na ilegalidade,
tentando defender o governo dos trabalhadores,
se tivéssemos a precaução de comprar armas.
O povo, para defender o seu governo,
deve recorrer a todos os meios de que dispuser.
As armas estão ligadas à ocupação de empresas.
Para o setor da UP, liderado pelos comunistas,
a expropriação indiscriminada de fábricas é um erro:
Debilita a imagem legal do governo.
Para o setor liderado pelo Partido Socialista,
é uma forma útil de mobilização que ajuda
a preparar e a organizar a luta que se aproxima.
Criar, criar, poder popular!
Afirma: O choque armado é inevitável.
Só se pode encarar um golpe
organizando as massas,
fortalecendo o poder popular,
... os "cordões industriais". - Criar, criar, poder popular!
Hoje, devemos bloquear os reacionários
e avançar formando cordões industriais
SECRETÁRIO-GERAL no país inteiro.
MOVIMENTO DE AÇÃO Nossas lideranças sindicais,
companheiros, devem considerar esta tarefa como prioritária.
Que companheiros de outras empresas falem às lideranças
sobre a necessidade de se unir
aos companheiros de outros bairros e fábricas.
Assim, companheiros, iremos construindo essa força popular
base para avançar,
muralha para deter a reação.
19 de julho: O regimento Arauco ocupa
a Central de Trabalhadores de Osorno.
No outro dia, a Marinha faz uma busca em Concepción.
Em nenhum dos casos encontram-se armas.
12 de julho: O Movimento de Esquerda Revolucionária, MIR,
fora da Unidade Popular, se posiciona.
De alto a baixo do país, ouve-se ecoar um grito único
SECRETÁRIO-GERAL nas fábricas, campos, favelas e...
MOVIMENTO DE ESQUERDA escolas e nos quartéis do povo.
REVOLUCINÁRIA - MIR O chamado para"criar",
criar, fortalecer e multiplicar o poder popular,
o poder dos comandos comunitários,
o poder dos operários e camponeses.
Os revolucionários e trabalhadores
devem desenvolver as ocupações de fábricas e fazendas,
multiplicar as ações de defesa,
promover o governo popular local,
autônomo do poder do Estado.
Os suboficiais e policiais devem desobedecer
às ordens de oficiais golpistas.
Neste caso,
e neste caso,
todas as formas de luta se tornarão legítimas!
Então não haverá dúvida de que os trabalhadores,
com soldados, marinheiros, policiais,
suboficiais e oficiais anti-golpistas,
terão o direito de construir seu próprio exército,
o exército do povo!
19 de julho: Trabalhadores do Cordão Vicuña Mackenna
ocupam a principal via da área.
Por que a rua está ocupada?
Em apoio aos companheiros expulsos da fábrica ICMETAL.
- Virá alguma autoridade? - Esperamos que uma autoridade
solucione o problema dos companheiros.
Cerrillos tentara fazer o mesmo.
Protestam contra a tentativa do governo
de devolver fábricas para facilitar
um possível acordo com a Democracia Cristã.
As contradições na estratégia da esquerda
para deter o golpe vêm à luz.
11:3O: O chefe de polícia manda liberar o caminho.
A polícia chega à 1ª barricada:
Depois, há mais 4 mil operários em sete quilômetros.
11:45: Chega o intendente de Santiago,
funcionário da UP, autoridade máxima da província.
Esperem aqui.
Missão: Dissolver o confronto.
Julio Estuardo ouve os operários, e anula as ordens da polícia.
Avise o chefe sobre minhas instruções.
Não se fará nada aqui, e recuem 2 quarteirões.
As forças policiais recuarão, se possível para além da Av. Matta.
E comunique ao chefe que foram instruções minhas.
Obrigado.
A polícia se retira.
A ocupação das fábricas ainda é debatida
com a liderança da Central Única dos Trabalhadores.
A CUT criou uma comissão
para ver os casos das fábricas que hoje estão
nas mãos dos trabalhadores.
E essa comissão está estudando esses problemas,
através de organismos como
CORFO e o Ministério da Economia.
Temos de entender bem, companheiros,
o que acontece com as empresas ocupadas.
Muitas empresas em Santiago estão ocupadas,
e nem todas poderão ser nacionalizadas,
por diferentes razões.
Quando a CUT lançou o chamado
à ocupação de indústrias, em caso de tentativa golpista,
era para poder, em épocas críticas,
parar a ação do fascismo.
Mas isso não significa
que todo tipo de indústria, indiscriminadamente,
vai ser nacionalizado.
Porque aqui também há alguns problemas
com indústrias que estão totalmente descapitalizadas.
Se o Estado assumir essas empresas,
na prática, será um peso para ele,
e isso não pode ser.
Portanto, tudo isso foi debatido
com os companheiros operários das respectivas fábricas.
O que queremos
é uma decisão definitiva da CUT, boa ou ruim.
Uma decisão para que a CUT não vire um anticorpo
contra os trabalhadores.
O problema é que há outras questões de fundo.
Com as empresas de capital suíço, o que acontece?
Aqui há um problema...
um problema de relações internacionais.
E o que isso tem a ver com os problemas dos trabalhadores?
Muita coisa.
Porque o governo suíço
é um dos principais sócios do Clube de Paris,
que discute e renegocia a dívida externa do Chile.
Vocês sabem que, após a decisão do governo
de estatizar o cobre, por exemplo,
houve um boicote dos ianques,
e nosso país não tem as divisas
e os créditos que tinha antes.
Ou seja, isto é renegociado no Clube de Paris,
onde, então, o Chile tem de atuar
com muita cautela.
Aqui a questão não é internacional!
É nacionalizar as indústrias que nos interessam
sem negociar com ninguém, companheiro!
O que você está explicando sobre o contexto internacional,
é claro que os trabalhadores de base não vão entender.
Se não lhes der razões que tenham mais a ver com eles,
com palavras que todos os companheiros entendam,
eles podem passar por cima das lideranças da CUT.
Minha resposta é que isso também tem explicações
que são mais próximas do cotidiano, mais chilenas.
Porque vocês bem sabem, companheiros, que hoje
nós, a classe operária, através deste governo,
ganhamos uma parte do poder, não todo o poder.
A reação quer que as forças da ordem
enfrentem os trabalhadores nessa luta de que vocês falam,
caso os trabalhadores desobedeçam à liderança e decidam fazer justiça,
enfrentar a polícia ou os milicos.
A seguir, a direita poderá acusar o governo
de falta de disciplina e autoridade.
Depois acusará
o presidente da República. É o que querem.
Nós, companheiro, também sabemos disso claramente.
Pediram para que nós, operários, nos organizássemos,
que fizéssemos cordões, nos organizássemos em tudo.
Nós nos organizamos na periferia,
nas frentes operárias, nos sindicatos.
Também nos organizamos nos cordões.
Continua a mesma lengalenga: Não é hora,
pois há Poder Legislativo e Poder Judiciário.
Pediram para que nos organizássemos em todos os níveis.
Temos conseguido fazer isso, mas o nosso presidente
continua nos pedindo para manter a calma,
para continuar a nos organizar.
Mas por que temem que operários e favelados
façam uma greve geral e peçam ao presidente
que nos diga de uma vez por todas qual é o plano de luta?
Qual é o plano para o confronto com a direita?
E, se for necessário, se chegarmos
a um plebiscito, como a direita exige,
iremos da periferia até o nível mais alto.
E ganharemos daqui até Rancagua, e por muito!
Pois temos organização nos bairros operários,
nos cordões industriais e sindicatos. E a CUT continua nos pedindo
para ter calma, não fazer isto ou aquilo,
porque isso pertence à rainha Elisabeth ou à Suíça.
Eles continuam inventando.
A verdade é que o povo, os operários, está cansado,
pois isso é enrolação. Lutamos contra a burocracia.
Mas, dentro das nossas próprias organizações, sindicatos
e do nosso poder, a CUT,
ainda tem burocracia.
Até quando? Vou consultar o companheiro:
Será que não tem confiança no poder popular?
Será que a CUT não confia nos operários que foram
gritar e apoiar o companheiro Allende na sexta?
O presidente não tem confiança nas nossas organizações?
E os deputados não têm confiança, eles que não fazem nada?
E os senadores também não?
Em vez de defenderem nossa causa - e para isso os elegemos -,
assim que a direita aparece, eles se levantam e vão embora!
Chega! Nós nos organizamos com um objetivo,
e estamos aqui reunidos por isso.
Para pedir que o governo exproprie o máximo de fábricas.
As indústrias imprestáveis, deixamos para a direita!
Para os burgueses! Seriam peso morto para o governo.
Vamos deixar! Nós continuamos lutando.
Sabemos que tem de tudo para vender no mercado ***.
E nos pedem para manter a calma.
Mas até quando? A barra já está ficando bem pesada.
Sabem qual é a composição de classe
das Forças Armadas?
Sabem que a maioria dos oficiais
está a favor do golpe?
Porque aqui, companheiros,
o poder não se consegue só
com uma boa organização.
Já temos a boa organização.
Mas também precisamos ter algum peso
que contrabalance o real poder da reação neste momento.
É por isso que, na CUT, estamos falando
dos comitês de proteção.
E o que são os comitês de proteção?
Comitês de proteção da indústria, da produção.
E também são comitês de proteção na guerra!
Não se pode falar dessas questões,
nem dar detalhes, seria um erro.
Mas temos de nos preparar
para combater em todos os campos.
E a CUT, hoje, está lutando por isso.
Há deficiências? Nada é perfeito.
Mas o problema surge quando certas organizações
querem existir paralelamente
ao organismo dos trabalhadores. É aí que a coisa anda mal.
Reconheço, companheiros, que muitos de nós
colocam questões com boas intenções,
mas são coisas que exigem um debate mais aprofundado.
Não se pode acusar gratuitamente,
tachar uma ou outra organização ou liderança
de um defeito.
Porque somos nós que fazemos as organizações.
E todos temos algum grau de responsabilidade.
E é nas suas próprias organizações
que vocês devem tratar desses problemas.
Estamos de acordo com que aqui
temos de achar respostas adequadas
para os problemas hoje colocados.
Mas não esqueçamos, companheiros:
Temos um governo presidido pelo companheiro Allende
e temos de seguir essa direção.
Temos um governo dos trabalhadores
e organismos que defendem nossos interesses
e que também dão orientação, companheiros.
19 de julho: A Escola de Infantaria
revista uma fábrica em San Bernardo.
Toda a esquerda reconhece
que é preciso preparar a defesa armada do governo.
Mas, sem direção única,
não se formula um plano conjunto.
20 de julho: Diante da violência crescente,
a Igreja Católica lança um apelo ao entendimento pacífico.
Liderada pelo cardeal Silva Enríquez,
a campanha culmina com "Missas pela Paz"no país todo.
Pelos representantes do povo
que exercem os poderes do Estado.
Que sua competência,
acentuada pela sabedoria e a prudência que vêm de Deus,
faça-os estar sempre a serviço da pátria,
para o autêntico bem das comunidades.
Rezemos ao Senhor.
Senhor, escutai a nossa prece.
Pelos cidadãos da nossa pátria,
para que, na diversidade de opiniões e preferências,
Deus ilumine as consciências,
apazigúe as paixões,
domine o rancor sectário,
para que prevaleça o bem comum dos chilenos.
Rezemos ao Senhor.
Senhor, escutai a nossa prece.
O apelo da Igreja à pacificação
deixa chefes da Democracia Cristã em posição difícil.
Por 20 dias, recusaram o diálogo com Allende.
Se persistirem,
entrarão em contradição
com a posição pública da Igreja.
Cordeiro de Deus,
que tirais o pecado do mundo,
tende piedade de nós!
Dias depois, Patrício Alwin, futuro presidente do Chile,
e Osvaldo Olguín, líderes da Democracia Cristã,
vão ao palácio conversar com o presidente.
Consciente das divergências mas seguro de sua estratégia,
Allende quer chegar a um acordo mínimo
que evite a ruptura constitucional.
Essa possibilidade de acordo gera inquietação
entre os adversários mais ferrenhos do governo.
27 de julho, 1:3O da manhã:
A extrema direita assassina o comandante Arturo Araya Peters,
ajudante-de-ordem naval de Allende.
A violência atinge um oficial diretamente ligado a Allende
justamente quando a Democracia Cristã aceita dialogar.
Homem de confiança de Allende, Araya tornara-se o laço
entre governo e oficiais constitucionalistas da Marinha.
No mesmo dia 27,
o corpo do oficial
é levado para La Moneda.
Transladado para Valparaíso, é sepultado com honras militares.
Por 4O anos, as Forças Armadas chilenas
não intervieram, para assegurar a continuidade do sistema.
Mas, em meados de 1973,
com risco de o regime ser superado pelo processo revolucionário,
a maioria dos oficiais está disposta a intervir.
Meses depois, exilado em Buenos Aires,
onde será assassinado, o Gen. Carlos Prats diz
que a eliminação de Araya
visa a impedir Allende de saber
o que ocorria nos círculos militares de Valparaíso.
Ali, oficiais começam a planejar o golpe,
ajudados pelo governo americano.
Raúl Montero, chefe da Armada, defensor da Constituição,
perdia com Arturo Araya um de seus melhores oficiais.
Allende vive um dos piores momentos do mandato.
José Toribio Merino,
futuro membro do governo militar,
não muda de planos por essa morte.
Os restos mortais do comandante Arturo Araya Peters
são saudados pelo comandante-em-chefe da Marinha,
almirante Raúl Montero Cornejo,
e por seu colega de turma,
capitão-de-mar-e-guerra Guillermo Aldonei Hansen.
Aqui, no cemitério, prestam-lhe honras
CEMITÉRIO Nº 2 a Escola de Submarinistas e a banda
da Escola de Armamento.
Brilhante foi a trajetória na Armada do
comandante-de-mar-e-guerra Arturo Araya Peters.
O presidente da República, Salvador Allende,
ministros de Estado, os chefes das Forças Armadas...
Intensificam-se as buscas de armas.
3 de agosto: Militares cercam
uma das principais fábricas do Cordão Cerrillos, Santiago.
Nas operações, os oficiais reconhecem o terreno
e estudam a reação dos trabalhadores.
A tropa se habitua a enfrentar a população civil,
e vigia-se o comportamento dos soldados.
No outro dia, a 5ª Divisão do Exército
ocupa a área industrial de Punta Arenas.
Até então, os militares fizeram 27 buscas pelo país,
sem achar armas.
Pela primeira vez, utilizam-se tanques.
Nesta semana, os patrões do transporte declaram greve.
Assim, a extrema direita quer impor o caos econômico
e sabotar o diálogo de Allende com a Democracia Cristã.
Os empresários reúnem veículos em pontos estratégicos,
para dar a impressão de força e manter a coesão.
O "New York Times", mais tarde revela,
que os grevistas receberam 5 milhões de dólares da CIA.
Cada um dos empresários recebe
4 dólares por dia ao câmbio paralelo.
Nos jardins do Congresso, como ocorrera na greve do cobre,
mulheres de caminhoneiros coletam dinheiro e víveres.
31 de julho: O governo decreta a volta ao trabalho
e manda tratores rebocarem os veículos até Santiago,
mas os empresários resistem e acusam o governo
de atentar contra a propriedade privada.
Os fatos são filmados pelo Canal 13, simpatizante com a greve.
Dias depois, Parlamento e jornalistas de oposição
armam um escândalo.
O Congresso pede ao Canal 13 que retransmita
sua versão filmada, para a avaliação dos parlamentares.
Com o aval dos parlamentares, as imagens são retransmitidas
várias vezes e apresentadas como documento oficial.
Isso evidencia o poder da oposição na mídia
e a liberdade de expressão tolerada.
O bloco opositor controla o Canal 13,
líder de audiência em Santiago,
75% das rádios e 7O% da mídia escrita.
A apreensão dos caminhões alimenta uma campanha
contra o governo.
E os contatos entre Allende e a Democracia Cristã
estão em ponto morto.
A direção da DC impõe três condições a Allende:
Submeter-se à autoridade do Congresso,
renunciando, assim, a poderes
presidenciais que outros mandatários tiveram;
recuar nas nacionalizações
e nomear para cargos-chave do governo
militares de confiança da Democracia Cristã.
Allende opõe-se à capitulação.
No mesmo dia, a Democracia Cristã suspende o diálogo.
Interrompido o diálogo,
toda a oposição adere à escalada anti-governamental.
Julho e agosto: Os terroristas, treinados pelos americanos,
cometem 250 atentados, com dinamite e outros.
Diante do vazio de autoridade,
Allende obtém o apoio do comando das Forças Armadas
e consegue que os militares assumam responsabilidades.
Um país não pode viver
submetido à ameaça de desalmados.
Ontem, as ruas de Santiago estavam cobertas
de publicações como esta.
Devemos nos perguntar quem as paga?
Onde são impressas?
Quais são as empresas que se prestam a isso
parar atentar contra a vida nacional,
contra o governo e contra o país?
"8 medidas para derrubar o governo."
Agem com essa desfaçatez!
Este gabinete
tem de acabar
com a greve fascista dos transportadores,
graças à decisão
de quem aplicará implacavelmente a lei.
E, sabendo que conta com a imensa maioria dos chilenos,
que quer evitar a todo custo a guerra civil na nossa pátria.
9 de agosto: Os altos-comandos são incluídos no governo.
O general Prats, chefe natural dos oficiais,
ocupa o Ministério da Defesa.
O comandante interino do Exército é o general Pinochet,
considerado constitucionalista.
O novo gabinete é recebido com desaprovação pela maioria.
A direita rejeita. A DC está dividida.
A esquerda duvida.
Só 2 dias depois, comunistas e socialistas apóiam
a decisão de Allende.
Muito obrigado.
Está encerrado.
11 de agosto: O gabinete decide requisitar caminhões.
Essa iniciativa colide com a maioria dos oficiais,
simpatizante com a greve e hostil à sanção contra os grevistas.
Parte do aparelho militar está envolvida
na ofensiva contra o governo.
Mais tarde, a mídia americana revelou que William Colby,
ex-diretor da CIA, interrogado pelo Congresso, em Washington, em outubro
de 1973,não desmentiu o apoio da agência à preparação ao sustento
econômico da greve.
12 de agosto: DC declara apoio oficial à greve.
Nas fábricas, diminui a matéria-prima.
No campo, as sementes escasseiam,
prova de que o gabinete cívico-militar fracassou.
Mas a resposta popular à greve continua.
O governo e seus aliados enviam brigadas com produtos
aos centros de distribuição.
Com o comércio fechado, parte da população apóia as
Juntas de Abastecimento e as chamadas "lojas populares".
Essas lojas são formadas por moradores, que compram os alimentos
do Estado e os vendem a preço de custo.
Logo meia Santiago tem abastecimento direto.
- Abastecimento! - Direto!
Trabalhadores no poder!
Os Cordões Industriais enviam operários
para vigiar a distribuição e abrir lojas fechadas.
Pela 1ªvez, o poder popular se adianta à polícia:
Mantém a ordem e vigia os comerciantes.
Espere aqui.
Por favor, tirem as crianças pequenas.
Não é greve de operários, mas de empresários de caminhões.
Os operários donos de um caminhão não estão parados.
Os grevistas são os donos de frotas de caminhões.
Eles é que mantêm esta greve inútil.
Esta greve é claramente política.
É uma greve política
que prejudica moradores da periferia.
Estamos pagando com todas essas filas enormes.
Se os caminhões trabalhassem,
terminariam as filas.
Nós, trabalhadores conscientes, saímos e lutamos na rua,
cumprimos nossa missão de trabalhadores,
defendendo as fontes de trabalho e mantendo a produção.
E carregando mercadoria de lá para cá, no braço,
para que não falte alimento nos bairros populares.
Todos nós mostramos isso ao presidente e às autoridades.
Um setor de transportadores, apoiando o governo,
organiza comboios e distribui alimentos às províncias.
A população cria um sistema de abastecimento
por família:"cesta popular".
Defendemos, sem transigir, a cesta popular.
O que acha da ação do governo em relação à crise?
CHEFE DO COMANDO NACIONAL O governo tem de ter jogo de cintura,
DE ABASTECIMENTO DIRETO companheiro. Se você fosse governo,
faria a mesma coisa,
porque, muitas vezes, o governo dança na corda bamba.
Acho que o governo não tem culpa disso.
Sou socialista marxista desde 1932.
Estive na briga da República Socialista
do líder Grove, que se perdeu no caminho.
Quando o povo lhe pediu armas e ele não entregou.
Claro, teria sido uma matança desenfreada.
Talvez tivesse sido assim.
Hoje, estamos longe de ter uma boa frente
para resistir. Mas temos o necessário:
Organizações antifascistas, comitês de defesa.
Mas nos falta coordenação nacional e provincial
para atuarmos como frente.
Que não aconteça, em caso de confronto, como na Espanha.
Por causa da divisão dos partidos, como os anarco-sindicalistas
e os socialistas, o fascismo de Franco tomou o poder.
Em Valparaíso, um grupo de marinheiros detecta
a conspiração naval e a informa a vários líderes da esquerda.
O alto-comando acusa de motim os marinheiros,
que são presos e torturados.
Mediante um acordo na Câmara de Deputados, a oposição rompe,
em 22 de agosto, com o regime constitucional.
O acordo diz que o governo "estaria violando
a Constituição", claro convite à intervenção militar.
Com maioria simples, a declaração justifica
o levante castrense e dá legitimidade ao golpe.
Então os fatos se precipitam. Mulheres se reúnem diante
da casa do comandante-em-chefe do Exército, Gen. Carlos Prats,
chefe natural dos oficiais que respeitam a democracia.
A manifestação, com esposas de 6 generais, mostra
a Carlos Prats que ele não tem mais o apoio da cúpula militar.
No outro dia, os generais lhe negam apoio
... e Carlos Prats renuncia. - Bichas nojentas!
Mais 2 generais leais renunciam.
Augusto Pinochet, tido como profissional
e constitucionalista, é o novo comandante-em-chefe.
A conspiração avança, a oposição civil lança sua ofensiva.
14 de agosto, na Universidade Católica:
Mulheres do Poder Feminino se reúnem
para apoiar a greve do transporte.
É por isso
que a luta dos transportadores, depois da de outubro,
tem de ser para valer,
até as últimas conseqüências.
Assim, entendemos nós que estamos apoiando
a justa luta dos transportadores.
AS ASSOCIAÇÕES CHILENAS EXIGEM QUE RENUNCIE
Dias depois, os adversários do governo
pedem a renúncia do chefe de Estado.
PRESIDENTE... POR FAVOR RENUNCIE Em 3 anos de guerra econômica,
a Casa Branca e a oposição interna
ganharam grande parte da classe média.
Aqui, os oficiais rebeldes têm a base social
para seguir com seus planos.
4 de setembro: 3º aniversário
do triunfo eleitoral de Salvador Allende.
Apesar da crise, os simpatizantes com o governo
organizam uma gigantesca manifestação.
Às 5 da tarde, mais de 8OO mil pessoas
UNIDADE E COMBATE CONTRA desfilam diante do presidente.
O GOLPISMO - A PÁTRIA VENCERÁ! 3 dias depois, Allende
decide convocar o plebiscito
e resolver, por via democrática, o futuro do governo.
Data marcada para anunciá-lo: 11 de setembro.
O desfile continua.
Especulador é mau, fica sem bilau.
E, se isso for pouco, perde os dois cocos.
Operários em ação param sedição.
Juventudes Comunistas do Chile!
Allende, Allende, o povo te defende!
Força, presidente, muita força!
Vamos, presidente!
Avante, Unidade Popular!
Lutando, criar, poder popular!
Partido Socialista do Chile!
Juventude Socialista!
A fábrica expropriada jamais será entregue!
Chega de conciliar, é hora de lutar!
Povo, consciência, fuzil, MIR, MIR!
Mais alto!
- MAPU! - Com toda a alma!
MAPU!
Allende, Allende, o povo te defende!
Allende, tranqüilo, o povo está contigo!
Diante do povo mobilizado, mas desarmado,
a oposição interna e os EUA decidem dar sua última cartada.
MANHÃ DE 11 SETEMBRO DE 1973 O presidente da República
PRIMEIRO COMUNICADO lhes fala de La Moneda.
DO PRESIDENTE ALLENDE Segundo informações confirmadas,
parte da Marinha teria isolado Valparaíso
e a cidade estaria ocupada.
Seja como for, estou aqui
no palácio do governo,
e aqui ficarei defendendo
o governo que represento pela vontade do povo.
11 de setembro: Começa o golpe em Valparaíso.
4 destróieres americanos se aproximam do litoral chileno
para participar da Operação Unitas
e mantêm contato com os golpistas.
7:3O: Allende chega ao palácio e dá instruções.
A situação é crítica, sem plano de conjunto
para a defesa armada do governo.
A maioria dos oficiais constitucionalistas
já foi neutralizada.
8 horas: Aparelhos da Força Aérea sobrevoam a capital.
8:20:os chefes da rebelião exigem a renúncia do presidente
e lhe oferecem um avião para que saia do país.
9:15: Presidente constitucional
se prepara para lutar e fala novamente pelo rádio.
A Força Aérea bombardeou
as torres da Rádio Portales e da Rádio Corporación.
Diante disso,
só me cabe dizer aos trabalhadores:
Não vou renunciar!
Colocado pela história nesta situação,
pagarei com a vida a lealdade do povo.
A história é nossa, é feita pelos povos.
Viva o Chile! Viva o povo!
Viva os trabalhadores!
Após algumas horas de resistência,
os militares enviam um ultimato a Allende.
Se não se render, a aviação bombardeará.
Diante disso, o primeiro mandatário
dá liberdade de ação à guarda do palácio,
que abandona o edifício.
Com Allende, que não se rende,
ficam 4O combatentes civis.
Apesar do bombardeio, os defensores do palácio
resistem por três horas. Ao mesmo tempo,
há pequenos combates em Santiago e nas províncias.
14:15:o presidente Allende morre, em La Moneda.
21 horas: Os chefes do levante se apresentam.
As Forças Armadas e da ordem
GENERAL atuaram no dia de hoje
só com a inspiração patriótica
de tirar o país do caos agudo
em que o precipitava
o governo marxista.
A junta manterá o Poder Judiciário
e a assessoria da Controladoria-Geral.
As Câmaras
ficarão em recesso
até segunda ordem!
Isto é tudo.
ALMIRANTE Talvez seja triste ter quebrado
uma tradição democrática
que era longa neste continente.
Mas, quando o Estado perde seu poder,
outros precisam,
por procuração,
preservá-las e assumir o fardo.
É o que hoje fazemos.
Temos certeza de que todo o país
compreenderá que é um sacrifício.
GENERAL Não se trata de esmagar tendências
ou correntes,
nem de exercer vinganças pessoais.
Como disse, vamos restabelecer a ordem pública
e devolver o país,
por via do respeito, à Constituição
e às leis da República.
GENERAL Durante 3 anos,
suportamos o câncer marxista
que nos levou ao descalabro econômico,
moral e social.
Não era mais tolerável.
No sagrado interesse da pátria,
nos vimos obrigados
a assumir a triste e dolorosa missão
que empreendemos.
Não temos medo.
Recairá uma responsabilidade enorme sobre os nossos ombros.
Mas temos a certeza,
a convicção,
de que a imensa maioria dos chilenos
está conosco.
Está disposta a lutar contra o marxismo
e a extirpá-lo até as últimas conseqüências!
A partir de 11 de setembro, o Exército chileno
usa seus recursos para reprimir o movimento popular,
com a benção do governo americano.
A resistência armada inicial de alguns cordões industriais,
periferia, minas e fazendas é logo esmagada em luta desigual.
Centenas de pessoas morrem, e os estádios
se tornam campos de concentração.
A democracia mais longa da América Latina não existe mais.
Já a partir de 11 de setembro,
as forças democráticas reorganizam-se aos poucos
na clandestinidade e resistência.
A Batalha do Chile não terminou.
ELES TÊM A FORÇA
PODERÃO NOS AVASSALAR PORÉM NÃO SE DETÊM
OS PROGRESSOS SOCIAIS NEM COM O CRIME
NEM COM A FORÇA A HISTÓRIA É NOSSA
E A FAZEM OS POVOS SIGAM SABENDO VOCÊS
QUE MUITO MAIS CEDO DO QUE TARDE
DE NOVO SE ABRIRÃO AS GRANDES ALAMEDAS
POR ONDE PASSE O HOMEM LIVRE
PARA CONSTRUIR UMA SOCIEDADE MELHOR
SALVADOR ALLENDE 11/O9/1973