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ILHA DE RAASAY ESCÓCIA
Cheguei! É aqui.
O topo fica bem ali.
É fantástico! Que vista!
Estou de volta!
A última vez que estive aqui foi há 25 anos.
Deixei meu martelo em algum lugar.
Olha só! Aqui estamos!
Olha esta vista. É assim que me lembro.
É a nossa antiga herança diante de nós.
A paisagem escocesa tem um passado épico e violento.
Escondida nestas montanhas e vales,
está a história do planeta.
Vou mostrar como esta paisagem foi usada por um grupo
de cientistas brilhantes, heterodoxos e excêntricos
para desvendar os maiores mistérios da Terra.
Vou seguir os passos desses pioneiros
que fizeram algo que ninguém fez antes.
Eles mostraram visão...
e determinação...
...para reunir provas surpreendentes
e desvendar as forças que moldam nosso mundo.
Nossa! Meu Deus! É muito quente!
Está tudo por aí, se souber o que procurar.
Escrita na paisagem escocesa
está a história de todo o planeta.
MUSKETEERS Apresentam
HOMENS DE PEDRA
MUSKETEERS Albattroz | Otoni | Kakko
MOVENDO MONTANHAS
As remotas Terras Altas ao noroeste da Escócia.
Desde que o homem foi atraído para estas montanhas,
ele imaginou como elas se formaram.
Como elas se tornaram tão altas?
Tão dramáticas?
Por milhares de anos,
acreditou-se ser obra de um criador divino.
Mas no século XIX, um novo ramo da ciência surgiu:
a Geologia.
Os cientistas começaram a fazer novas e ousadas perguntas
sobre como a Terra se formou.
Em 1855, um geólogo chamado Roderick Murchison
estava a caminho das Terras Altas.
Roderick Murchison era um homem consagrado.
Ele serviu no Exército, casou por dinheiro
e foi por sugestão da esposa que ele encarou a Geologia
como algo mais sério que seu passatempo de caça a raposas!
Murchison era o mais famoso geólogo da época.
Diretor do Serviço Geológico Britânico,
ele era uma autoridade no Império Britânico.
Ele iniciou o processo que levou no século seguinte,
a um verdadeiro entendimento de como o planeta funciona.
Murchison acreditava que podia explicar
como a magnífica paisagem escocesa tinha se formado.
Murchison construiu sua própria tese,
que alegava podia desvendar o passado geológico da Escócia,
a história de suas paisagens e montanhas,
e ela se baseia em uma ideia muito simples.
O ponto de partida da tese de Murchison era bem lógico.
Todas as montanhas e paisagens da Escócia
eram formadas de camadas de rocha,
depositadas uma sobre a outra ao longo do tempo.
Havia muito a ser dito sobre tal ideia.
Dá para entender por que ao observar uma
das geoformas mais dramáticas e inacessíveis da Grã-Bretanha,
o Velho Homem de Stoer, no litoral noroeste da Escócia.
Para começar, o pequeno problema de chegar ao topo.
Ouso dizer que o que estou prestes a fazer
não teria perturbado Murchison,
mas, para mim, é como...
...saltar no oceano. Literalmente!
O que pode dar errado?
Olha isto!
Está muito longe, não?
Caramba!
Pode parecer muito radical, mas quando eu chegar lá,
esta coluna mostrará algo muito importante
sobre como a paisagem é formada.
Último impulso.
Lá vou eu. Vou tocar.
A coluna Stoer!
Cheguei! Quase!
Esta coluna marinha onde estou foi desgastada pelo mar,
está totalmente separada do pontal.
Significa que proporciona
uma seção tridimensional incrível ao longo da paisagem.
Aqui é como se estivéssemos no topo do mundo!
Enquanto desço a coluna,
uma observação atenta revela algo crucial
sobre como ela foi criada.
Estas faixas de rocha por aqui parecem camadas de um bolo.
Murchison e os primeiros geólogos
perceberam que rochas assim começaram
como sedimentos moles depositados pela água
e depois foram solidificados,
depositados um sobre o outro ao longo de milhões de anos.
Isso quer dizer que as rochas 20 metros ali embaixo
são milhões de anos mais antigas que estas daqui
e talvez 10 milhões de anos mais antigas
que as do topo da coluna.
Esta ideia de rocha nova sobre antiga
foi a base do pensamento de Murchison.
Mas ele foi mais além.
Ao viajar pela Escócia, ele viu que as rochas expostas
estavam depositadas em camadas angulares.
Ele acreditava em um padrão simples de depósito de camadas,
com as rochas mais antigas no oeste do país
e as mais jovens no leste.
Para Murchison, era tudo perfeitamente simples.
Ele estava convencido que as Terras Altas do noroeste
formaram-se camada sobre camada, como esta pilha de ardósia.
Ao caminhar do oeste para o leste,
percorreria uma seção transversal
de rochas cada vez mais jovens.
Em razão de Murchison ser o nome forte da Geologia por 40 anos,
esta tese sublime, porém simplista,
tornou-se um dogma.
Era tudo muito lógico e plausível
e a evidência parecia abundar.
Murchison tinha tanta certeza que estava certo,
que usou sua influência para passar a perna nos rivais
e anular qualquer outra teoria.
Quem dera tivesse sido assim tão simples.
Aquela montanha parece, à primeira vista,
ser o exemplo perfeito da sucessão regular
de camadas de rocha de Murchison,
depositadas umas sobre as outras.
Mas uma descoberta feita nas montanhas por aqui
destruiria essa singela imagem.
Em 1882,
um ex-professor veio para uma cabana assolada pelo vento
com vista para Loch Eriboll no extremo norte da Escócia.
Charles Lapworth era um geólogo amador entusiasmado,
humilde e autodidata.
O que ele descobriu aqui demoliria a teoria de Murchison.
Quando Lapworth chegou, ficou nesta velha cabana de pastor
e por semanas enfrentou o ambiente e subiu diariamente
vagando pelas colinas para trabalhar.
E a chave para o grande sucesso que obteve nestas montanhas
foram seus métodos meticulosos.
Ele vestia um casaco especial
cheio de bolsos.
Como se fosse um armário de arquivos portátil.
E dentro deles, ele colocava pequenas amostras de rochas,
amostras de fósseis e as guardava.
Permitindo que ele cobrisse cada centímetro da área,
coletando amostras à medida em que entrava em incrível detalhe,
bem mais detalhes que os praticados pelos chamados
geólogos "especialistas" da época.
Lapworth achava que a teoria de Murchison era simplista demais,
e recusava-se a aceitar a tese estabelecida.
Ele partiu para as montanhas na tentativa
de resolver o enigma das rochas.
Com pouco mais que uma bússola e algumas ferramentas,
durante 6 semanas, ele andou por estas encostas.
Rob Butler estuda as mesmas montanhas
ao redor de Loch Eriboll há décadas.
Você acha que Lapworth fez isto?
Como consegue trabalhar nestas condições? É inacreditável!
- É uma brisa leve. - Uma brisa leve!
É o vento mais forte que já senti!
Espero que tenha tomado mingau no café.
Estou sentindo a força!
Lapworth era determinado.
Ele pesquisou a paisagem com bem mais detalhes
que os profissionais vitorianos.
E neste penhasco, no flanco de Ben Arnabol,
ele achou a prova que mudou nossa ideia
sobre a formação das montanhas.
- É aqui? - Sim, onde Lapworth veio.
- Fantástico. - Vamos dar uma olhada.
Dá para imaginar Lapworth vendo este lugar,
ele notou que estavam estratificadas,
com as rochas cada vez mais jovens acima.
Foi o que Murchison pensou,
que elas se depositavam. Mas bem ali,
ele se surpreendeu.
Aquelas não parecem rochas mais jovens!
São as rochas mais antigas da Grã-Bretanha,
então como as rochas antigas
podiam estar sobre as jovens, que estão aqui?
Pessoas como Murchison estavam satisfeitas
por ser uma sequência de rochas depositadas.
Lapworth disse que era um equívoco.
Ele teve de explicar
como as rochas mais antigas estavam sobre as mais jovens?
O que ocorria neste contato? É nele que está ação.
Quando Lapworth examinou o penhasco com cuidado,
notou algo que ninguém tinha percebido antes,
uma fina camada presa entre a rocha antiga acima
e a rocha jovem abaixo.
O que Lapworth percebeu foi que as rochas antigas
foram reprocessadas e trituradas como em um moinho industrial,
processando-a e triturando-a,
transformando-a em um material listrado e manchado.
Esta é a parte brilhante, pois ele percebeu que tal processo
envolve um movimento de cominuição
e, portanto, horizontal.
Esta fina camada listrada mostrou a Lapworth
algo quase impensável à época.
As rochas antigas foram cominuídas lentamente,
lateralmente sobre as rochas mais jovens abaixo.
O lajedo de rocha acima estaria deslizando em nossa direção,
sobre nossa cabeça, e a parte inferior estaria sendo esmagada.
Isso. A rocha antiga começou embaixo,
foi soerguida e arrastada.
Empurrada.
Murchison acreditava que a paisagem
era composta de camadas sedimentares
que ficavam paulatinamente mais jovens
quanto mais se fosse rumo a leste.
Mas Lapworth havia descoberto provas
que a formação das montanhas escocesas
tinha sido bem mais violenta.
É uma forma revolucionária de ver as rochas.
A ideia de que envolve grandes movimentos
e processos de trituração,
muda fundamentalmente a forma de vê-las.
Lapworth viu que as montanhas
podiam se formar de um jeito totalmente novo.
As camadas de rocha não seguiam uma sequência,
das rochas mais jovens em um lado do país
e as mais antigas, do outro.
Podiam também ser empurradas uma para cima da outra
por imensos movimentos laterais da Terra.
Esta caixa é uma réplica de um modelo que os vitorianos usaram
para explicar como os movimentos laterais formaram as montanhas.
Estou espalhando uma camada de areia negra na base da caixa.
Essa será nossa primeira camada geológica.
Tenho de me apressar!
Esta areia representa a montanha ali atrás.
Vou pôr a tampa.
Vou girar esta manivela que vai girar esta rosca
e empurrar os blocos de madeira rumo às camadas
como se uma grande força lateral estivesse agindo.
Mas vou fazer bem devagar. Vamos lá.
Lá vamos nós.
Lá vai ela. Veja só, funciona mesmo!
Este estrato rochoso está sendo empurrado
para cima deste outro estrato rochoso,
exatamente o que Lapworth dizia.
Veja só!
Veja! Parece uma escavadeira.
É lindo. Nunca pensei que fosse tão bom.
Está se formando uma série de ziguezagues.
O que estamos fazendo... Olhe aqui atrás...
é formar montanhas.
É exatamente o que ocorreu ali.
Vou sair daqui!
O que o amador Lapworth identificou nas Terras Altas
transformou em chacota a tese estruturada por Murchison.
Mas para Lapworth, a revelação de que grandes placas de rocha
podiam se mover tão dramaticamente
o deixou assombrado.
Seja pela emoção de sua descoberta
ou o ritmo incessante do trabalho,
tudo o fez passar por uma grande tensão.
Pesadelos atormentavam Lapworth.
Ele se revirava à noite, imaginando o peso
das enormes camadas de rocha sendo esmagadas acima dele.
Alguns dizem que ele sofreu um colapso nervoso.
Lapworth se recuperou e publicou suas descobertas em 1885,
mas ele temia como suas ideias seriam recebidas.
E com razão.
A comunidade geológica não queria ser ofuscada
por um mero amador.
Há uma reviravolta final irônica nesta história.
Sabendo do problema que estava por vir,
Murchison enviou sua melhor equipe,
Ben Peach e John Horne,
os melhores do Serviço Geológico.
Tão bons e inseparáveis que eram chamados de "Gêmeos Divinos".
Peach e Horne formavam uma perfeita parceria científica.
John Horne era ***ítico,
mas Ben Peach estava mais para um artista, como geólogo.
Suas pinturas capturam brilhantemente
a estrutura das rochas e montanhas.
Os Gêmeos Divinos partiram para as Terras Altas,
com uma missão muito especial.
Sua missão era destruir de vez a ideia de Lapworth.
Mas para surpresa, ao invés de mostrarem que ele estava errado,
provaram que Lapworth estava totalmente certo.
Peach e Horne acharam
uma cadeia de montanhas nas Terras Altas do Oeste
erguidas por grandes movimentos laterais.
Lapworth estava totalmente embasado.
Embora, infelizmente, não tenha recebido nenhum crédito em vida
que sua brilhante descoberta merecia.
As montanhas da Escócia revelaram que o mundo
era mais violento do que se pensava.
Mais que uma simples deposição de camadas rochosas,
as paisagens eram também formadas por imensas forças
que podiam erguer e arrastar toneladas de rocha.
Esta noção criou apenas novos enigmas para os homens de pedra.
De onde vinham esses imensos movimentos da Terra?
O que faria rocha sólida
mover-se lateralmente de forma tão poderosa?
Os primeiros geólogos não perceberam,
mas uma das maiores pistas estava bem debaixo dos pés.
Repousando no subterrâneo,
no mesmo canto das Terras Altas escocesas.
A apenas alguns km das montanhas que Lapworth conquistou,
está esta dramática caverna.
As misteriosas Cavernas de Smoo.
Adoro explorar cavernas.
É como se estivéssemos entrando em um mundo perdido.
Para os geólogos, elas são excelentes
pois entramos e vemos a rocha em toda a sua glória.
Esta é feita de calcário.
Rochas como esta podem nos levar a um tempo
onde a Escócia era bem diferente.
Há uma faixa inteira deste tipo de rocha
percorrendo as Terras Altas do Oeste.
O que as torna especiais é algo que elas contêm.
Ao investigar a teoria de Lapworth,
Peach e Horne fizeram uma extraordinária descoberta.
Sei que parece um tatuzinho de jardim gigante,
mas na verdade é um fóssil muito especial, um trilobita.
Há cerca de 500 milhões de anos,
eram encontrados nadando pelas águas rasas quentes.
Milhares são encontrados por toda a Escócia,
mas os desta área foram desenhados por Ben Peach.
Aqui estão seus desenhos. Olha só! Que artista incrível.
Ele tinha uma grande atenção aos detalhes,
mas ainda mais incrível é a história que eles contam.
Esses fósseis aparentemente insignificantes
remontam a 500 milhões de anos.
Mas eles são bem mais que apenas seres antigos.
Eles fazem parte de um quebra-cabeças de evidências
que ajudaria a explicar o movimento das montanhas.
Estou desenhando um mapa
para mostrar algo intrigante sobre os trilobitas.
Algo que confundiu Peach e Horne
e os outros geólogos pioneiros.
Os trilobitas em si não eram importantes,
mas os seus tipos e onde eles eram achados.
Os trilobitas achados na Inglaterra e em Gales
eram do mesmo tipo...
encontrado em toda a Europa continental.
Mas eram totalmente diferentes
dos trilobitas encontrados na Escócia.
Os escoceses eram idênticos aos achados
em lugares como Groenlândia,
e em Terra Nova.
Enfim, iguais aos da América do Norte.
A grande pergunta era "por quê".
Era um completo mistério.
Os vitorianos criaram todo tipo de explicação.
Os trilobitas teriam cruzado uma ponte de terra
entre a Escócia e a América do Norte,
que foi destruída durante o dilúvio bíblico.
Hoje parece estranho, mas para os geólogos vitorianos,
era a explicação mais plausível que puderam criar.
Então, outra estranha peça do quebra-cabeças
começou a emergir.
Em 23 de dezembro de 1872,
um navio zarpou para uma viagem épica.
Uma jornada de 3 anos, percorrendo 112.650 km.
O HMS Challenger foi o primeiro
a fazer um levantamento do leito oceânico.
A bordo estava o cientista escocês
Charles Wyville Thomson,
um pioneiro da exploração do leito oceânico.
Marinheiros e cientistas sabiam muito pouco
sobre as profundezas sob as ondas.
A pesquisa de Thomson possibilitou
a primeira rede de cabos telegráficos submarinos
e uma nova era nas comunicações.
Para pesquisar o leito do mar,
o navio de Wyville Thomson tinha
quilômetros de corda de cânhamo
no final da qual havia um peso de chumbo.
Eles o suspendiam ao longo da borda
e lançavam ao mar.
O peso de chumbo mergulharia até o fundo.
Essa era a parte fácil.
O trabalho duro começa quando içamos o peso.
Devia ser um inferno.
Dá para imaginar fazer isto quando o barco está balançando.
A corda retalhando seus dedos.
Faz frio, está molhado, você está desanimado, exausto
e o tempo todo tentando contar
o número de braças que está içando.
E no fim de tudo, obtém apenas uma medida da profundidade
e tem de fazer isso milhares de vezes.
Após anos de medições meticulosas,
Wyville Thomson localizou algo estranho no fundo do Atlântico.
Próximo à metade do caminho para a América,
o fundo do oceano subia acentuadamente.
Ao invés de 8 km para o fundo do mar,
descobriram que de repente eram menos de 3 km.
Wyville Thomson ficou intrigado.
Ele achou que tinha se deparado com uma montanha submersa,
mas com o avanço do levantamento,
ficou claro que era bem maior.
Uma cordilheira colossal de um polo ao outro,
bem no meio do oceano Atlântico.
Wyville Thomson descobriu não uma antiga ponte de terra
entre a Grã-Bretanha e a América,
mas algo ainda mais curioso.
Uma cadeia de montanhas submersas
que se ergue do fundo do mar,
estendendo-se por 16 mil km do oceano Ártico, ao norte,
cortando ao meio Atlântico, até quase chegar à Antártida.
A origem desta Dorsal Meso-Atlântica
era um total mistério.
Somente no séc. XX os geólogos criaram uma possível explicação
para os movimentos laterais da Terra, de Lapworth,
para os trilobitas isolados de Peach e Horne
e para a Dorsal Meso-Atlântica de Wyville Thomson.
A explicação baseava-se em uma ideia
que remonta ao século XVI,
quando os primeiros atlas mundiais foram desenhados.
Pegue um mapa do mundo e corte as massas de terra.
Aqui vamos nós.
Eis a América do Sul.
Não vou recortar todas estas ilhas. Farei só isto.
Peço desculpas às ilhas do norte do Canadá.
Serão eliminadas.
Quando recortar todas as massas de terra,
pode tentar encaixá-las.
Eis a América do Sul e a África
e podemos juntá-las. Veja só esta junção.
...é perfeita.
Eis a pequena Madagascar,
basta encaixá-la aqui. Eis a Índia.
Mova-a para cima e encaixe-a aqui.
Pegue a América do Norte,
traga-a para baixo, e encaixe-a aqui.
Este truque com mapas levou alguns geólogos a pensar
que todas as massas de terra do mundo outrora foram uma só,
que elas se separaram aos poucos
e se reorganizaram com o tempo.
Ideia que começaram a chamar de "deriva continental".
Talvez a Dorsal Meso-Atlântica de Wyville Thomson
fosse uma cicatriz gigante,
a fenda onde este antigo supercontinente se separou.
A deriva continental era uma teoria muito inteligente,
mas o que a teria provocado?
Forças poderosas estavam claramente em ação.
Mas os homens de pedra lutavam para dar sentido às descobertas.
Então, no início do século XX, um dedicado geólogo,
mais uma vez trabalhando na Escócia,
achou outra peça do quebra-cabeças.
As Terras Altas perto de Glencoe.
Para muitos uma experiência úmida e, às vezes, infeliz.
De volta ao início do século XX,
um intrépido jovem geólogo, Edward Bailey,
tinha uma estimulante rotina diária aqui.
A gente pensa: "Deve estar gelada!"
Mas, nossa, está gelada!
Eu sabia que estava gelada!
Bailey passou anos formando-se para ser durão.
Quando garoto, ele convidava os colegas
a estapeá-lo no rosto para testar sua resistência.
Ele se tornou um campeão de boxe
e dormia com as janelas escancaradas no inverno.
Como está gelada!
E nada dava mais prazer a ele que seu mergulho diário nu.
Quando penso em Bailey,
fico na dúvida se ele era um completo herói,
ou um louco varrido.
Ele fazia isto todos os dias.
Mergulhava em algum lago ou rio.
Depois, ele vestia as roupas ainda molhado
e ia para as montanhas.
Aqui estou eu todo equipado.
Este não era o estilo de Bailey. Veja só.
Ele usava bermudas em qualquer clima. Veja ele, na neve!
Quando o Serviço Geológico disse que isso não era profissional,
ele mandou o emprego às favas e pediu demissão.
Ninguém podia discutir com Bailey.
As bermudas continuaram.
Em 1905, Bailey veio para os picos de Glencoe
para juntar-se ao Serviço Geológico Britânico
que mapeava as Terras Altas.
Eles descobriram evidência de uma era explosiva
na história antiga da Escócia.
Quando os geólogos começaram a investigar Glencoe,
descobriram que havia muitas rochas vulcânicas.
O local inteiro está repleto delas.
Mas eles não sabiam por quê.
O que elas faziam aqui, no centro das Terras Altas?
Bailey e sua equipe partiram para descobrir.
Centímetro por centímetro,
eles partiram para mapear com cautela e pesquisar a paisagem.
Bailey recebia olhares de desaprovação
quando pegava os mapas oficiais
e os redesenhava totalmente como lhe convinha.
Ele era dedicado ao seu campo de trabalho nas montanhas.
Ele era famoso por comer o almoço
logo após o café da manhã, para não ter de carregá-lo.
Se ele molhasse os pés ao cruzar rios ou vaus, ele não ligava.
Os buracos nas botas drenavam a água.
Que sujeito!
Conforme Bailey escalava por Glencoe,
começou a seguir uma imensa fenda ao lado da montanha.
Ele e sua equipe traçaram uma linha pela paisagem.
E quando desenharam seu mapa,
revelou-se um círculo gigante.
Bailey percebeu que isso não era
uma característica geológica comum.
Ele se perguntou se não era a boca de um enorme vulcão.
Então, ele olhou as rochas mais de perto.
Quando Bailey e sua equipe percorriam rios como este,
só achavam dois tipos de rocha
que se originavam do magma derretido.
Uma delas era esta, granito.
Apresenta cristais muito grandes.
A outra foi esta.
Cristais bem finos. Não dá nem para vê-los.
Rocha derretida nas profundezas resfria muito lentamente
e cristais grandes têm tempo para se desenvolver.
Mas rocha derretida expelida no ar livre resfria rapidamente,
assim os cristais não têm tempo de se formar.
Temos uma rocha nas profundezas e outra perto da superfície,
mas aqui,
elas são encontradas lado a lado.
Bailey queria saber por quê.
Então, Bailey fez uma conexão.
As duas rochas e a grande fenda circular na paisagem
inferiam que ele estava sobre os restos
de um tipo muito especial de vulcão.
Um que revelaria a grandiosidade das forças
que moldaram os continentes.
Vou construir um modelo de como ele via isso em ação.
Sei que parece loucura,
mas estou criando minha versão em miniatura de Glencoe.
Sei que esta tina só tem lama e água
mas, para mim, isto é um poço subterrâneo
de rocha derretida, magma.
Era muito quente.
O lance é que este magma está em erupção,
sendo expelido na superfície de um vulcão.
Vou construir o topo do vulcão.
Quando os vulcões entram em erupção,
lava e cinza se depositam cada vez mais alto,
formando um enorme e pesado cone no topo.
Bailey percebeu que, com o tempo,
o topo do vulcão ficaria tão pesado
que o peso dele
afundaria no magma abaixo.
Estou coberto de magma.
Estou coberto! O que aconteceria,
é que o magma seria expelido. E vou...
Bailey notou que O vulcão rompera-se
ao longo da linha circular da falha
desabando violentamente sobre si,
criando uma explosão muito poderosa.
Isso explica por que esses dois tipos de rocha,
uma no topo do vulcão e outra em suas profundezas,
estão hoje dispostas lado a lado.
Bailey descobriu um novo tipo colossal de vulcão.
Uma caldeira.
As caldeiras produzem as erupções
mais explosivas da Terra.
São uma mega erupção
causada quando um vulcão desaba sobre si.
Quando o vulcão de Glencoe entrou em erupção,
a câmara magmática abaixo começou a esvaziar.
A base não mais suportava o topo.
O pesado cone superior desabou para o seu interior,
provocando uma explosão catastrófica.
Bailey tinha identificado
um dos maiores supervulcões da história da Terra.
Durante 45 anos, ele mapeou monumentos
do passado vulcânico violento da Escócia.
Ele descobriu que o país fora coberto por vulcões.
Bailey e seus colegas geólogos identificaram uma série deles,
estendendo-se ao longo das ilhas da costa oeste escocesa.
Ardnamurchan, com sua perfeita estrutura em anel.
Os penhascos em Eigg,
camadas de rocha derretida solidificada.
E a poderosa Cordilheira Cuillin, de Skye.
Mas as descobertas de Bailey tinham algo a ver
com os trilobitas e a Dorsal Meso-Atlântica?
Será que suas descobertas ajudariam a explicar
a teoria da deriva continental?
Os homens de pedra agora tinham muitas peças do quebra-cabeças.
Lapworth descobriu que rocha sólida
tinha sido empurrada lateralmente
para formar cadeias de montanhas.
Peach e Horne encontraram fósseis na Escócia
que pareciam combinar com os do outro lado do globo.
Bailey revelou o imensurável poder interior da Terra.
E Wyville Thomson revelou uma cadeia gigante no fundo do mar.
Mas ninguém conseguia entender a ligação entre elas.
Eles tinham observações, mas nada que as conectasse.
Seria preciso um gênio geológico para resolver o enigma.
Estou no maior festival de balões da Grã-Bretanha,
pois a teoria que uniu as observações dos homens de pedra
não veio do estudo das montanhas,
mas de algo muito familiar a todos nós.
O calor.
Adoro ver isto, o esforço para tirar estas coisas do chão,
o barulho, a ação e o calor quando nos aproximamos.
É uma verdadeira batalha.
Lutam com os balões como se eles não quisessem subir,
mas o ar quente se acumula até que finalmente
ocorre o inevitável e ele simplesmente sobe.
E é isto que o move, o ar quente.
É pura Física em ação.
Todos sabem que o ar quente sobe.
Isso é o que faz estes balões decolarem.
É um princípio simples, mas fundamental da Física.
Chama-se convecção.
O calor dos maçaricos aquece
a grande bolha de ar presa dentro do balão.
Ele se torna menos denso que o ar frio exterior...
...e então sobe.
Esse princípio transformaria outro homem de pedra
em herói não celebrado da geologia.
Arthur Holmes foi uma das mentes mais brilhantes do século XX.
Ele era professor na Universidade de Edimburgo,
geólogo e físico.
Ele era fascinado pelo calor nas profundezas da Terra.
Em 1928, ele apresentou a ideia extraordinária e polêmica
de que a rocha derretida podia agir como o ar quente
e talvez o calor, a convecção,
podia estar guiando o movimento de toda a superfície do planeta
ao longo de milhões de anos.
Vim me encontrar com o geólogo John Underhill.
Ele vai mostrar como a ideia de Holmes funciona em laboratório.
Primeiro, o gelo é posto em uma extremidade do aquário.
Ponha mais um pouco. Ótimo. Obrigado.
Na outra extremidade, John cria uma temperatura maior.
Vou pôr o aquecedor, esta placa quente, sob esta ponta.
E vai usar corantes para acompanhar o movimento da água.
Agora vou arregaçar as mangas
e pôr o corante no aquário.
Primeiro, ele põe corante azul no lado frio.
É fantástico.
No lado quente, coloca corante vermelho.
Isso mostrará como o calor cria diferentes tipos de movimento.
Ficar vendo isso é muito hipnótico.
Agora começa a espalhar-se.
Dá para ver começando a subir.
- Isto é convecção. - Não é lindo?
A placa quente faz a água vermelha aquecida subir,
como os balões de ar quente.
Do outro lado, a água fria fica mais densa,
por isso, ele desce.
Essa ascensão e queda faz algo crucial ocorrer.
É aqui que as coisas ficam interessantes,
pois ele atinge a superfície superior,
não tem para onde ir, então desloca-se horizontalmente.
É lindo.
Podemos vê-lo movendo-se lateralmente,
e, depois, começando a descer.
Este é o fator crucial.
Temos o movimento horizontal da coluna de água,
uma esteira transportadora se forma,
a convecção se forma.
Esta foi a grande descoberta de Holmes.
A ascensão e queda do calor provoca movimentos laterais.
Ele notou que, se isto fosse rocha derretida, e não água,
teríamos uma esteira que fomentava
os movimentos da crosta terrestre.
Estamos reproduzindo isso em um líquido, a água,
mas Holmes concluiu que a terra sólida age como líquido.
Com certeza. A principal ideia que ele trouxe a tudo isto
foi imaginar que o que vemos aqui acontece dentro da terra
e, assim, ele pôde identificar o mecanismo
que conduz a deriva continental.
Isso foi revolucionário. Era diferente e dissonante.
Ele foi considerado heterodoxo por afirmar
que a deriva continental era possível.
Holmes propôs que o calor do núcleo da Terra
impulsionaria a rocha semifundida à superfície.
Separando a crosta na Dorsal Meso-Atlântica.
Onde ela resfria, seria forçada a voltar ao interior da Terra,
criando-se um ciclo de convecção.
Essa foi a grande ideia de Holmes.
Holmes viu isso claramente.
O calor do interior da Terra produzindo
um enorme ciclo de convecção.
E é tal ciclo que move os continentes
lateralmente na superfície do globo.
Agora, ao menos, o quebra-cabeças estava completo.
As montanhas de Lapworth mostraram
como tais movimentos laterais
impeliram rochas antigas sobre as jovens.
A caldeira de Glencoe mostrou onde esses movimentos
forçaram a crosta terrestre para o interior da Terra.
Uma parte da crosta era forçada sob a outra,
fundindo-se para formar um bolsão de rocha derretida,
que ascende violentamente de volta à superfície.
E a Dorsal Meso-Atlântica de Wyville Thomson
mostrou onde a convecção separava a crosta terrestre
e a rocha nova era forçada a ascender.
Na II Guerra Mundial,
Holmes passou muitas horas montando guarda.
Ele tinha tempo para escrever tudo o que sabia sobre Geologia,
e, também, suas ideias mais radicais.
Em 1944, ele publicou seu trabalho.
Os Princípios da Geologia Física.
Ele se tornou o livro mais importante
de Geologia no século XX.
Isto é muito emocionante para mim,
pois é a versão original do livro de Holmes.
É fantástico folheá-lo.
Excelente livro. Quando foi publicado,
entrou quase que imediatamente
para a lista dos mais vendidos dos geólogos.
Tornou-se a nossa Bíblia.
Eu tinha, creio, a 5ª edição, na universidade.
Por isso, é especial para mim.
Eis o seguinte: Holmes lutou com a ideia
de pôr ou não sua teoria de convecção neste livro.
Parece que ele a incluiu de última hora,
no último diagrama do livro. Aqui está.
Esta foi a primeira vez que a convecção
como mecanismo de movimento dos continentes foi mostrada.
Dá para ver o magma quente ascendendo em fluxos,
movimentando-se lateralmente e descendo outra vez.
Que interessante, acabo de notar, ele diz:
"Isto é para ilustrar o mecanismo puramente hipotético
"para engendrar a deriva continental."
Ele está se protegendo, resguardando-se.
Ele sabia que era polêmico, então sai pela tangente:
"Se isso aconteceu, esta é uma possibilidade."
Mas dá a impressão, pelo fato de ter posto aqui,
que ele sabia e acreditava nisso.
Parecia a teoria perfeita.
Agora, só precisava da prova.
Ela veio de uma fonte terrível.
A Guerra Fria trouxe uma revelação inesperada.
Quando um acordo baniu os *** nucleares na atmosfera,
as bombas começaram a ser detonadas no subsolo.
Os EUA precisavam de um método de fiscalização
para monitorar os *** ao redor do mundo.
Eles instalaram uma rede mundial de sismógrafos
para detectar os tremores no solo.
Então quando procuravam vibrações indicativas
de *** nucleares inimigos,
descobriram algo totalmente inesperado
sobre a estrutura da Terra.
Os sismógrafos detectavam não apenas os *** nucleares,
mas eventos geológicos pelo mundo.
Erupções vulcânicas e terremotos.
Cada tremor, um ponto no mapa...
...até que surgiu um padrão.
Isso parece meio psicodélico,
mas é a descoberta recente mais importante
da história da Geologia.
O mapa mundial das placas tectônicas.
Ele explica como os eventos mais devastadores do planeta,
terremotos e vulcões,
estão ao longo dos limites das placas.
O que isso de fato mostra é onde está a ação geológica.
Como bem aqui, no meio do Atlântico,
onde duas imensas placas da crosta estão se afastando.
Ou aqui, ao longo da orla do Pacífico,
onde duas placas estão colidindo.
Dá para ver ao redor do Pacífico,
o chamado Anel de Fogo.
Todos os movimentos destas superfícies
são impulsionados pela convecção abaixo.
Exatamente como Holmes previra.
O calor nas profundezas da Terra
tem impulsionado toda a nossa história geológica.
Durante milhões de anos,
as placas tectônicas moveram-se pela superfície do planeta
para criar o mundo que conhecemos hoje.
O movimento dos continentes explica o mistério
de o porquê os fósseis da Escócia
são tão parecidos aos achados a milhares de km,
do outro lado do oceano.
Os fósseis da Escócia combinam com os da América do Norte
porque elas já estiveram muito próximas.
A Escócia fora parte de um segmento de ilhas
espalhadas ao longo da orla de um imenso continente,
Laurentia, com a América no seu centro.
Há 500 milhões de anos,
a Escócia estava na Linha do Equador
como parte de um antigo continente norte-americano.
A milhares de km de distância,
separada por um vasto oceano,
a Inglaterra também fazia parte de um continente diferente.
Há milhões de anos,
esses dois antigos continentes colidiram.
e a Escócia finalmente juntou-se à Inglaterra
em um ato de união incrivelmente lento,
mas imensamente poderoso.
Hoje, ainda dá para ver os resultados
deste grande choque geológico.
Estes penhascos enrugaram-se
quando os dois continentes colidiram.
Eles ficam na fronteira
entre a Inglaterra e Escócia, em St. Abbs.
Camadas de rocha que foram depositadas no leito do oceano
soerguidas verticalmente do solo.
Para os geólogos,
é um dos lugares mais extraordinários
nas Ilhas Britânicas.
Estas rochas são...
... tão quebradiças! Tudo por aqui...
parece muito perigoso!
Estas rochas comprimidas parecem ter sofrido uma imensa colisão.
Estas aqui estão anguladas nesta direção,
mas lá embaixo, estão anguladas na direção oposta.
Isso porque toda esta costa é o cenário de uma colisão gigante,
ainda que muito lenta, entre a Inglaterra e a Escócia.
Este choque entre os antigos continentes
impôs formas e ângulos impressionantes
às camadas de rocha.
Foi a colisão com a Inglaterra
que soergueu as montanhas da Escócia,
provocou erupções vulcânicas
e deu forma à paisagem.
Finalmente, volto à montanha escocesa
onde me inspirei a me tornar geólogo,
um homem de pedra.
Dun Caan, na Ilha de Raasay, perto de Skye.
O topo desta montanha é muito importante para mim,
pois aqui aprendi a interpretar as rochas, a paisagem.
O fato de podermos fazer isso hoje se deve
a incontáveis pioneiros, amadores e profissionais.
Gente como Lapworth, como Bailey.
Por causa deles compreendemos a Escócia,
e, por meio dela, o mundo.
No próximo episódio, falarei do cientista audacioso
que revelou que nossa terra fora tomada
por uma grande e antiga era glacial.
Estou sendo esmagado!
E o humilde faxineiro
que imaginou se a causa da era glacial estava no céu.
O som da era glacial.
MUSKETEERS Legendas Para a Vida Toda!