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Vamos falar sobre Friedrich Hayek, Ludwig von Mises, e a escola Austríaca.
Existem várias similaridades entre Hayek e Mises, mas eu gostaria de
identificar as diferenças significantes entre esses dois pensadores.
O primeiro lugar onde vemos essa diferença é em suas metodologias.
Como você decide qual deveria ser o papel do governo?
Hayek tende a enfatizar os limites do conhecimento, que há limites
na razão e entendimento sobre o que deveríamos fazer.
Ele leva mais em consideração a tradição, como as regras têm evoluido ao longo do tempo.
Por exemplo, ele está muito mais interessado na questão da ordem espontânea,
em como nós acabamos trabalhando juntos sem qualquer planejador central que nos diga como agir.
Ele está interessado na lei comum, em como a lei tradicional se desenvolveu ao longo dos anos.
Ele é cauteloso quanto a provas auto-evidentes que,
por exemplo, os fundadores da Constituição Americana examinaram.
Ele acha que boa parte da ordem que vemos na sociedade foram resultado da ação humana mas não do design humano.
Por exemplo, a língua Inglesa: nenhum grupo ou instituição decidiu como a lingua Inglesa deve ser.
É algo que evoluiu naturalmente com o passar do tempo.
Mas reconhecemos o que são essas regras e podemos viver com esse tipo de regras.
Ludwig von Mises, outro Austríaco, tem uma abordagem completamnte diferente.
Ele adota o que é chamado de raciocínio dedutivo a priori.
Ele acredita que podemos identificar certas verdades, que ele chama de axiomas,
e que podemos descobrir esses axiomas através de nossa experiência e do uso da razão.
Então nessa visão, a economia é mais parecida com matemática do
que com física como a escola de Chicago frequentemente fala.
Deixe-me dar alguns exemplos.
Ele tem vários axiomas. Deixe-me dar alguns exemplos desses axiomas que Mises identifica.
Primeiramente, ele diz que a ação humana é intencional.
Ou seja, o que os humanos fazem é tentar atingir certas metas.
Ações não são aleatórias nem predeterminadas.
Podemos identificar quais os objetivos das pessoas, o que estão tentando alcançar através de suas ações.
Um segundo axioma é que os indivíduos são os únicos agentes.
O termo técnico para isso é individualismo metodológico.
No debate político costumamos dizer "Os Franceses fazem isso."
É claro, não quer dizer que todos os Franceses fazem isso.
Na verdade é um número pequeno de ministros do governo Francês que decide se opor à política externa Americana.
Então quem são os indivíduos específicos que realmente estão realizando esta ação?
Ações são conduzidas apenas por indivíduos, não por grupos amplos.
Outro exemplo são os Muçulmanos.
Deveríamos dizer que alguns Muçulmanos realizaram atos terroristas, e não que Muçulmanos realizaram atos terroristas.
Isso implica que todos Muçulmanos o fizeram.
Quando tentamos entender qualquer escolha em particular, devemos tentar identificar
quem são os indivíduos que estão tomando essas decisões específicas.
O terceiro axioma é o de que valor está nos olhos de quem vê, a chamada teoria do valor subjetivo.
Isso é, objetos não têm valor em si mesmos, mas apenas na medida em que as pessoas os atribuem à eles.
Por exemplo, eu acho rap um lixo, mas algumas pessoas gostam de rap.
Algumas pessoas acham que é algo bom.
Você frequentemente ouve a crítica de economistas de que eles sabem o preço de tudo e o valor de nada,
mas isso pressupõe que nós podemos saber qual o valor de algo.
Mas não, o valor para o mesmo objeto é diferente para pessoas diferentes.
Mises argumenta que simplesmente usando a razão podemos identificar esses axiomas ou essas verdades.
Mises e Hayek tendem a concordar sobre por que o governo deveria ser limitado:
porque os governantes não têm o conhecimento, eles não podem entender quais os objetivos das pessoas.
Porque todos temos uma variedade de objetivos diferentes, não podemos prever que você queira isso ou aquilo.
Os objetivos são diversos.
Em segundo lugar, o governo não consegue descobrir qual o melhor meio para as pessoas atingirem esses objetivos.
Não consegue planejar isso previamente.
Se fizermos X, os resultados serão Y.
Eles são bastante céticos sobre a habilidade do governo de identificar quais os
objetivos das pessoas e de atingir esses objetivos satisfatoriamente.
É por isso que a União Soviética entrou em colapso.
Não foi capaz, sofreu do problema do conhecimento sobre o que as pessoas queriam,
e sofreu do problema do conhecimento sobre como atingir esses objetivos.
É uma visão consequencialista.
Que as consequências do governo em suas ações frequentemente são ruins.
No entanto, quando se trata da questão sobre qual o papel do estado, Hayek e Mises novamente divergem.
Hayek diz que o critério para decidir o que o governo deve fazer é o que chama de império da lei,
que significa que existem certos princípios gerais que devemos aplicar a cada ação governamental ou qualquer legislação.
Assim como é nos Estados Unidos, a Suprema Corte frequentemente
verifica as leis aprovadas pelo Congresso, assinadas pelo presidente.
Às vezes a Suprema Corte diz, "Não, isso é ilegítimo. Nós indeferimos isso de acordo com a Constituição."
Hayek argumenta que toda sociedade tem esses princípios gerais chamados
de império da lei, que deveríamos aplicar a toda ação governamental.
Ele tem uma longa lista de exemplos do império da lei, vou citar alguns.
São leis que deveriam se aplicar à todos, sem exceções.
Por exemplo, é muito comum o Congresso aprovar uma lei que se aplica à todos, menos eles mesmos.
Um exemplo clássico disso foi a lei para Americanos com deficiência.
Aprovaram uma lei dizendo que todos edifícios precisavam se ajustar para permitir acesso aos deficientes.
Mas então, durante o debate sobre o projeto de lei, perceberam que custaria
centenas de milhões de dólares para adaptar o Congresso à esses padrões.
Então eles excluíram o Congresso dessa lei.
Esse é um exemplo de algo onde não há igualdade perante a lei.
Eles criam exceções para eles mesmos.
Outro exemplo seriam gastos vinculados, que é onde eles dizem que o governo
deveria gastar dinheiro com certas empresas em particular, de certa maneira.
Ele diz que todas essas coisas deveriam ser considereadas ilegítimas porque vão contra o império da lei.
Outro exemplo seria o de que a lei deve ser sempre prospectiva, ou seja, orientada ao futuro.
Não deveriam punir algo que aconteceu no passado.
Você pode ter feito algo no passado que era legal na época, então aprovam uma lei que torna aquilo ilegal.
Você não deveria ser punido por algo que ocorreu no passado.
Esse é seu critério sobre qualquer ação governamental.
Está de acordo com o império da lei? Está de acordo com esses princípios superiores?
Sua conclusão é de certa forma similar a de Milton Friedman, em termos do que
o governo deve fazer, embora sua abordagem seja baseada em uma metodologia diferente.
Ele acredita, por exemplo, que uma forma limitada de estado
assistencialista pode ser justificada ao seguir o império da lei.
Já Ludwig von Mises diz que seguir os axiomas nos leva a concluir que deveria haver apenas um estado mínimo.
Isso é, o papel do governo é apenas e exclusivamente o de
garantir a proteção da vida, saúde, liberdade, e propriedade privada.
Não há papel para o estado assistencialista, apenas um estado mínimo.
Então temos aqui dois Austríacos amplamente de acordo em muitas questões, embora tenham uma metodologia diferente.
E eles têm uma conclusão diferente sobre qual o papel do estado.