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Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo:
"À noite está estrelada, e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a amei,
e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela me amou,
por vezes eu também a amava.
Como não ter amado seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar
que não a tenho.
Sentir que já a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Que importa que meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada, e ela não está comigo.
Isso é tudo.
Ao longe alguém canta.
Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar a busca.
O meu coração a busca, e ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós,
... o tempo,
... já não somos os mesmos.
Já não a amo,
é verdade,
mas como eu a amei.
Minha voz procurou o vento para tocar seu ouvido.
De outro.
Será de outro.
Como antes de meus beijos.
Sua voz,
... seu corpo claro. Os seus olhos infinitos. Já não a amo, é verdade, mas talves a ame ainda.
É tão curto o amor, e tão longo o esquecimento.
Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
Minha alma está perdida sem ela.
Embora esta seja a última dor que ela me causa,
e estes, os últimos versos que lhe escrevo.
Extraído da Obra de 1924: "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada"