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Bom dia a todos, e muito obrigada pela oportunidade de participar desse
simpósio, e ter ao meu lado o
Doutor Charles Nelson. é o professor de pediatria e neurociência na
Escola de Medicina de Harvard, membro da Harvard Graduate
School of Education, e professor de departamento de sociedade
de desenvolvimento humano e saúde, na Escola de Saúde pública de Harvard.
Ele é também professor de pesquisa médica em pediatria de
desenvolvimento no Hospital da Criança de Boston, e diretor de pesquisa na
divisão de medicina de desenvolvimento. Doutor Charles
Nelson participa dos comitês do Center On the Developing Child da
Universidade de Harvard, e da iniciativa Cérebro, Mentes e Comportamento.
Ele é membro da American Psychological Association e da
American Association for the Advancement of Science.
Recebeu título de doutorado honorário da Universidade de Bucareste por seu
trabalho junto aos órfãos romenos.
Reconhecido internacionalmente como líder na área de neurociência de
desenvolvimento cognitivo, Doutor Nelson realizou diversas descobertas
importantes na ciência de entendimento do cérebro e desenvolvimento
comportamental durante a infância.
Nas últimas duas décadas, Doutor Nelson tem focado sua pesquisa no
desenvolvimento e bases neurais da memória, reconhecimento
e processamento de objetos, rostos e emoções e plasticidade neural.
Ele tem particular interesse e como as experiências dos primeiros anos da vida
influenciam o desenvolvimento.
E, nesse contexto, estudou crianças e desenvolvimento normal e aquelas com
risco de transtornos neurais.
Seu trabalho mais recente trata de identificação de crianças em risco de
desenvolverem autismo, e criança que passam por privações
psicológico-sociais, através do Bucharest Early Intervention Project.
Passo agora a palavras para o Doutor Charles Nelson, para apresentação da
palestra
“Como a ciência contribui para melhores políticas públicas para primeira
infância”. Doutor Nelson.
Muito obrigado, é uma honra estar aqui, estou muito feliz por ter sido convidado,
e espero não desapontá-los.
Deixe-me iniciar meus comentários afirmando que eu não sou um
especialista em políticas públicas, então mais à frente na minha fala,
eu tentarei relacionar a ciência às políticas públicas, como nós traduzimos
a ciência em políticas públicas,
mas eu preciso confessar que não sou um especialista nessa área.
Outro ponto que preciso confessar é que, em 25 anos de ensino, em todas
as classes que dei aula, os estudantes sempre dizem que eu falo muito rápido.
Então se eu estiver falando rápido demais,
me avisem e eu diminuirei o ritmo.
Então aqui vai um resumo da minha fala.
Vou iniciar apresentando sucintamente como a experiência afeta
o desenvolvimento cerebral, focando particularmente
na experiência pós-parto.
A seguir, vou focar especificamente em um projeto que o Dr. Young acabou
de citar chamado “Os Efeitos da Privação Psicossocial Precoce
no Desenvolvimento Cerebral”.
E a razão pela qual farei isso é que esse projeto, na minha experiência,
é talvez o que mais rapidamente foi traduzido da ciência
para as políticas públicas, e até o fim da minha fala eu vou dar
alguns exemplos de como… do que são essas mudanças nas políticas públicas,
e tentarei ampliar essa discussão para além das crianças que cresceram em
instituições e crianças que experimentaram outras formas de adversidade.
Então, deixe-me começar com alguns princípios do desenvolvimento cerebral,
pressupondo que muitos de vocês estão… que seu conhecimento sobre
o tema está enferrujado, ou que vocês nunca tiveram
acesso à neurociência básica.
Então, comecemos pela genética.
Sabemos que a genética aplica um modelo básico
de desenvolvimento cerebral, mas a experiência ajusta esse
modelo e molda a arquitetura dos circuitos neurais, de acordo com
as necessidades e distintos ambientes em que os indivíduos estão inseridos.
Entendemos então da seguinte forma: os genes provêm o esboço do
desenvolvimento cerebral, mas a experiência preenche esse esboço.
E o faz baseado na criança individual, e não na infância em geral.
Embora haja fenômenos comuns entre as crianças.
Então, para aqueles que nunca viram, é assim que o cérebro se parece ao longo
dos diferentes estágios do desenvolvimento cerebral pré-natal.
Esse é o cérebro 15 semanas e meia após a concepção.
Um feto de 15 semanas e meia,
22 semanas, 23 semanas, 25 semanas.
E deixe-me fazer uma pausa aqui, porque meu entendimento
é de que o Brasil, embora fazendo um enorme progresso, ainda possui,
fora de São Paulo, um número razoável de bebês que nascem três meses
prematuros.
E é assim que se parece o cérebro de um bebê três meses pré-maturo.
Vejam então apenas alguns meses depois.
E o ponto em que quero chegar é que esses são bebês que nasceram agora e
estão tendo experiências fora do útero, quando era esperado que tivessem mais
três meses de experiências no útero.
E muitas tentativas estão sendo feitas para manter esses bebês vivos,
mas ainda assim muitos sofrem de deficiências variadas,
problemas emocionais comportamentais e cognitivos.
Então vamos agora voltar nossa atenção para o modo como a estrutura da
experiência atua na estrutura do cérebro.
Vamos começar com a premissa de que a individualidade é o produto tanto das
experiências pessoais quanto da herança biológica.
Então o que faz cada um de nós único é o que herdamos de nossos pais, e de
seus pais, e dos pais de seus pais, assim como as experiências específicas
que você terá depois de nascer.
E, em alguns casos, antes de nascer.
Então a genética especifica as propriedades dos neurônios,
células cerebrais e conexões neurais, sinapses, em graus diferentes,
por diferentes vias, e em diferentes níveis de processamento.
Mas como muitos aspectos do mundo do indivíduo não são previsíveis,
a circuitaria do cérebro depende da experiência para “customizar” as
conexões que servem às necessidades do indivíduo.
Um exemplo disso é que presumimos que quando nascemos, nós seremos
capazes de ouvir o que ocorre no mundo, e ver o que ocorre no mundo.
Mas se um bebê nasce surdo ou cego, isso torna o desenvolvimento muito, muito diferente.
Ou então um caso menos grave, um bebê nasce com catarata,
ou seus olhos não conseguem focar sobre um objeto.
Alguns de vocês já observaram isso, se trata de estrabismo e ambliopia,
em que os olhos desviam.
Se você não corrigir isso em certo ponto do desenvolvimento, nos primeiros anos,
você terá sempre um déficit visual em um olho, e em alguns casos,
em ambos os olhos.
O ponto é que é nossa herança genética, e as experiências específicas que temos,
que nos torna os indivíduos que somos.
A experiência molda essas conexões neurais e interações,
mas o faz dentro dos limites impostos pela nossa genética.
Mais uma vez, a genética provê o modelo e produz alguns limites.
Mas, dentro desses limites, é a experiência que faz
o resto do trabalho.
Outro ponto a levantar é que a experiência é o produto de uma
constante interação recíproca entre o ambiente e o cérebro.
É um equívoco comum pensar que as crianças pequenas são esponjas,
e que simplesmente absorvem o que ocorre com elas,
e até certo ponto isso é verdade.
Mas o que elas estão fazendo de fato é interagir com o mundo.
Eu fiz alguns comentários em uma reunião ontem, nos Estados Unidos
havia uma companhia que estava produzindo uma série de vídeos
para tornar seu bebê mais esperto.
Eram chamados “baby Einstein”, e eram planejados para estimular
o desenvolvimento cerebral do bebê.
Muitos pais pensaram que se eles simplesmente sentassem
seu bebê na frente da televisão e exibissem esse DVD,
seus bebês começariam a falar em três idiomas diferentes
e se tornar mais espertos.
Mas o que os bebês precisam é de interação.
Um exemplo disso são os pássaros.
Os pássaros aprendem sua melodia de seu pai.
Eles precisam aprendê-la do pai, que efetivamente canta para o bebê pássaro.
Se eles assistirem a um vídeo e ouvirem a uma gravação do pássaro cantando,
sua melodia é anormal, e assim é com os humanos.
Nós aprendemos a linguagem interagindo com pessoas
falando conosco, não apenas ouvindo a televisão.
É a isso que eu chamo de contínua interação entre ambiente e cérebro.
As experiências específicas variam enormemente sob condições ambientais
idênticas, dependendo da história, da maturação, e do estado do cérebro
do indivíduo.
A maturidade cerebral tem impacto na experiência,
e áreas diferentes do cérebro, áreas diferentes do sistema nervoso,
maturam em ritmos diferentes, com áreas de processamento inferior
amadurecendo mais precocemente que áreas de processamento superior.
Quero dizer, por exemplo, nossas habilidades de ver, ouvir,
tocar e cheirar, e sentir o gosto, se desenvolvem antes de nossa
habilidade para falar, para lembrar, e planejar nosso futuro.
É uma espécie de abordagem “de baixo para cima” do desenvolvimento.
Então, um cérebro menos amadurecido é amplamente afetado por aspectos mais
fundamentais do ambiente.
Por exemplo, certos padrões de luz ou de discurso.
Ou como um cérebro mais maduro vai ser afetado por elementos superiores,
como interagir com seu melhor amigo, ou interagir com um professor.
À medida que o cérebro matura e se transforma com a experiência,
aspectos mais detalhados do ambiente começam a influenciá-lo.
Então nos movemos, por exemplo, de sermos capazes de diferenciar
entre diferentes sons do discurso, a começar a sermos capazes de
reproduzir estes sons, a sermos capazes de proferir palavras,
e então de unir palavras para produzirmos sentenças.
Então à medida que o cérebro de um indivíduo muda, particularmente durante
esses primeiros períodos do desenvolvimento,
o mesmo ambiente físico pode resultarem experiências
completamente distintas.
O impacto destas experiências no cérebro não é constante ao longo
de toda a vida, no entanto.
A experiência inicial com frequência exerce uma influência
particularmente forte em moldar as propriedades funcionais
do cérebro imaturo.
E muitas conexões neurais, que chamamos anteriormente
de sinapses, passam por um período de desenvolvimento em que a capacidade
de modificações resultantes da experiência são maiores
do que na idade adulta.
O que eu quero dizer com isso é que as experiências iniciais de
desenvolvimento podem ter um impacto muito maior em alguns sistemas do que
terão no futuro.
E, claro, um exemplo é nossa habilidade de ver. Se nós estamos expostos a um
mundo visual normal, vamos começar a desenvolver habilidade visual normal.
Mas isso não significa que aos 30 anos você terá uma visão melhor.
Você pode fazer uma cirurgia a laser para corrigir a visão, mas a questão é que
você não começa simplesmente a enxergar melhor por causa
da experiência.
Então, essas experiências que ocorrem cedo no desenvolvimento são
usualmente chamadas de períodos críticos ou sensíveis.
Eu uso ambos os termos, mas gostaria de ilustrar rapidamente
a diferença entre os dois.
Por muitos anos, utilizamos o termo “período crítico”.
Mas período crítico traz a suposição de que ao final desse período de tempo,
a experiência não pode mais ter nenhum impacto. Então, nos últimos anos,
o professor, que esteve aqui no ano passado,
e ele e eu demos uma disciplina de graduação, e um estudante apresentou
uma maneira muito inteligente de distinguir entre período
crítico sensível, algo que muitos de vocês acharão familiar.
Você está correndo para pegar um voo, e se depara com um engarrafamento.
Estou certo de que isso nunca ocorre em São Paulo.
E assim que você chega ao portão de entrada, eles fecham a porta para
o avião e o agente na entrada informa “sinto muito, você perdeu o voo”.
Um período crítico seria isso, você não vai entrar nesse avião,
você não vai chegar ao seu destino, não há outros voos, implorar
ou subornar não vai colocar você naquele avião.
Você perdeu completamente aquela janela de oportunidade.
Mas um período sensível, do qual eu tenho muita experiência em
viagens aéreas, é aquele em que eu entro pelo portão,
as portas se fecham, e eu irrompo em lágrimas e digo,
por favor, me deixe entrar!
Meu cão está morrendo!”.
Eu invento algo, e eles me deixam entrar, ou dizem “você está atrasado,
mas há outro voo que sai em uma hora..
Então, com um esforço extra, eu consigo chegar lá, e essa é uma maneira de
compreender o período sensível.
Então, no desenvolvimento humano, muitos aspectos do desenvolvimento,
eu acho, são regulados por períodos sensíveis,
e não por períodos críticos.
Nos animais, o desenvolvimento é muito mais regulado por períodos críticos.
Então, o que acontece quando as experiências críticas não ocorrem
durante períodos críticos do desenvolvimento?
A maneira clássica pela qual os neurocientistas têm estudado o papel da
experiência no desenvolvimento cerebral é observando o que ocorre quando o
organismo é privado de certas experiências.
Agora, com modelos animais, que é o que de fato domina o campo, o modo de
fazer isso é produzindo privação seletiva.
Os estudos clássicos feitos em Harvard, no desenvolvimento visual,
eles pegavam gatos, ou macacos, ou ratos, e eles… bem,
eles suturavam seus olhos, basicamente.
Costuravam os olhos.
Então eles não tinham nenhuma experiência visual.
E esse era um modo de observar.
Com seres humanos, você pode tirar vantagem dos chamados acidentes
da natureza. Crianças que nasceram com catarata e que tiveram a catarata
removida, crianças que nasceram com problemas de audição, mas fizeram um
implante coclear que as permitiu escutar.
No estudo sobre o qual falarei hoje, estou focando em um… bem,
de certa forma, um tipo particular de privação,
a privação psicossocial precoce.
Esse é, penso eu, um bom modelo para milhões de crianças ao redor do mundo
que experimentam uma profunda negligência.
Então, para colocar em contexto antes de ir ao slide, há, segundo estimativas,
70 a 100 milhões de crianças órfãs ao redor do mundo.
As informações que eu consegui ontem sobre o Brasil é que há 3.7 milhões de
órfãos apenas no Brasil.
Há pelo menos 8 milhões de crianças que cresceram em instituições e, claro,
há centenas de milhares nesses milhões de crianças que experimentaram uma
profunda adversidade muito cedo na vida. Elas foram maltratadas, abusadas,
negligenciadas, e daí em diante.
Então o trabalho sobre o qual eu vou falar é um modelo para compreende
uma forma dramática de adversidade, ou uma forma dramática de privação,
que ocorre cedo na vida.
Esse projeto é conhecido como “Bucharest Early Intervention Project”.
Antes de continuar, eu estou falando devagar o bastante?
Porque, para mim, é realmente difícil falar tão devagar.
Estamos indo bem?
Posso falar um pouco mais rápido?
Tudo bem, não falarei mais rápido.
Não falarei mais rápido até o fim, e então ficarei sem tempo,
e terei que pular para os últimos slides.
Então, o cérebro requer um input muito amplo durante esses anos sensíveis.
Inputs linguísticos ou de linguagem, input cognitivo, input social,
e coisas do tipo.
E a experiência ocorre em um continuum.
Algumas crianças são criadas em ambientes que provêm
todas as suas necessidades,
e outras são criadas em ambientes que não provêm quase nenhuma
de suas necessidades.
Então, o estudo de crianças institucionalizadas representa um
modelo para entender o papel da experiência
no desenvolvimento cerebral,
já que estas crianças são em geral profundamente privadas
da maioria das experiências.
Então, o que sabemos sobre crianças criadas em instituições?
Sabemos que elas correm um risco muito maior de apresentarem uma
variedade de problemas sociais e comportamentais.
Isso inclui distúrbios em relacionamentos e apegos sociais.
Quantos de vocês têm algum conhecimento em psicologia?
Oh, certo. Não tanto quanto… vocês sabem o que é apego?
Certo, em geral vocês sabem o que é apego. Transtorno de déficit de atenção
e hiperatividade.
Déficit em QI e no que são chamadas funções executivas,
funções cognitivas superiores.
Uma síndrome que mimetiza o autismo, e eu digo “mimetiza o autismo”,
me referindo a um “quase autismo”, porque se assemelha ao autismo regular,
mas pode desaparecer quando a criança é colocada em uma família, então não é
o mesmo que o autismo.
E um profundo retardo no crescimento
Então eu darei um exemplo disso.
Qual o seu palpite sobre a idade dessas crianças, e se são meninos ou meninas?
Por favor, em inglês! (risos). 5?
Meninos ou meninas?
Certo. Então, essa é uma menina de 17 anos, e essa é uma menina de 14.
Essas crianças não fazem parte de nossos estudos, mas o ponto é que crianças que
crescem em instituições, mesmo que tenham um ambiente nutricional
adequado, possuem um profundo retardo no crescimento.
Em geral elas perdem um mês de crescimento linear para cada mês que
passam em uma instituição.
Então essas crianças estão assim não porque estão desnutridas, mas porque…
elas não crescem por causa de privação.
É… nanismo psicológico é um termo utilizado para descrever essa situação.
Jason, você está…
Alguém está controlando o tempo?
Bem, vocês não têm que controlar o tempo. Eu poderia ficar aqui toda…
Certo, só queria me certificar de que não vou alongar demais minha introdução.
Então, por que a institucionalização seria ruim para o cérebro?
Os cuidadores, em geral, são indiferentes. São indivíduos… eu tenho
um trabalho, eles têm 15 a 20 crianças para cuidar, os cuidadores,
e eles realmente não são muito sensíveis às necessidades da criança individual.
A agenda diária é muito regulamentada, as crianças tiram cochilos na mesma
hora, vão ao banheiro na mesma hora, comem na mesma hora.
Um exemplo de cuidado não-individualizado e indiferente é o
modo como as crianças são alimentadas, é com frequência… a criança é escorada
no braço, e o cuidador apenas despeja a comida na boca. Eles não olham para o
bebê, não olham para a criança, apenas despejam a comida na boca.
Há muito isolamento.
Então, não há resposta para o sofrimento.
Uma das coisas estranhas quando você entra em uma instituição é o quão silenciosa ela é.
E um dos motivos é que as crianças foram ensinadas a não chorar,
porque se elas choram, ninguém presta atenção nelas.
Há muita agressão não controlada.
Você pode ver um grupo de crianças de 4 ou 5 anos brincando,
mas… elas geralmente estão brincando consigo mesmas.
E se alguma criança entra no meio, elas vão pegar algum objeto e bater na
cabeça da criança.
Então, há muita… e não é controlada porque não há ninguém ali para dizer à
criança que o que ela fez é errado.
Uma questão importante, eu acho, é a falta de investimento psicológico
dos cuidadores.
Então, diferente de crescer em um ambiente familiar, onde os pais
investem muito em seus filhos, os cuidadores não investem nada
nas crianças individualmente.
O trabalho é em turnos, de forma que uma equipe de cuidadores está lá,
digamos, de 8 da manhã até 4 da tarde, e depois há outra equipe,
e depois outra equipe.
Então as crianças, em geral, podem ver… ter dúzias e dúzias
de cuidadores nos primeiros anos de vida.
E há uma proporção desfavorável de crianças, em relação aos cuidadores.
O que isso significa é que, para crianças abaixo dos dois anos, deve haver uma
media de 15 crianças para cada cuidador.
Conforme ficam mais velhas, o quadro piora, o número é de 20 crianças para cada cuidador.
Então, aqui estão alguns exemplos.
Essas crianças vão ao banheiro ao mesmo tempo.
E, se você prestar muita atenção,
vai notar que muitas delas têm olhos cruzados.
E essa observação que fizemos, e que ainda não entendemos de todo,
é que a prevalência de estrabismo é relativamente alta quando essas crianças
são pequenas, mas você observa isso com menos frequência à medida que elas envelhecem.
Pode ser porque quando elas são pequenas, passam a maior parte do
tempo deitadas de costas, olhando para um teto branco,
sem nada para ajudá-las a praticar o movimento dos olhos.
Então, o músculo dos olhos se torna um pouco fraco.
Aqui vocês podem ver um grupo de crianças juntas.
Quero ressaltar que essas três crianças estão todas chegando à última fase da
adolescência, com 15 a 18 anos, embora não pareçam nada com isso.
Essas crianças estão em um Instituto Neuropsiquiátrico.
Elas foram abandonadas lá, porque eram consideradas deficientes.
Então, aqui está um exemplo de crianças alinhadas em berços,
apenas sentadas uma ao lado da outra, e elas vão permanecer assim pelo
primeiro ano e meio de suas vidas.
Então, nesse projeto do qual estou falando, nós conduzimos um controle
aleatório de abrigo familiar, como uma intervenção sobre a
institucionalização precoce.
E aqui está como isso funcionou.
Esse trabalho tem sido feito com dois colegas nos Estados Unidos,
da Tulane University, que é um psiquiatra infantil, e Nathan Fox,
da University of Maryland, que é um psicólogo desenvolvimentista.
Nós fomos a Bucareste, construímos um laboratório, fizemos um estudo da
viabilidade para saber se poderíamos executar o projeto, e então tentamos
localizar uma grande amostra de crianças abaixo de dois anos que
considerássemos saudáveis.
Então observamos cerca de 180, 190 crianças, fizemos exames
pediátricos, e excluímos crianças que tinham óbvios traços de síndrome
alcoólica fetal, e evidentes transtornos cromossômicos, genéticos ou
neurológicos, e restamos com 136 crianças que, em sua maioria, pareciam
relativamente saudáveis.
Depois descobrimos que… que isso não era uma solução perfeita, mas a questão
é que nós queríamos começar com um grupo de crianças que, em sua maioria,
parecessem relativamente normais para nós.
Então, fizemos uma extensa avaliação inicial quando elas tinham, em média
20 meses de idade.
As crianças variavam entre 6 e 30 meses de idade em média.
Fizemos uma avaliação muito extensa, irei falar apenas sobre algumas
descobertas, e imediatamente após a avaliação inicial,
nós escolhemos aleatoriamente metade dessas crianças para uma intervenção de
abrigo familiar que nós mesmos tivemos que construir, e a outra metade foi
aleatoriamente escolhida para permanecer na instituição,
no que chamamos “cuidado como de costume”.
Agora, uma questão que surge é, como você pode privar de cuidados,
da intervenção, metade da amostra?
Não havia política de abrigo familiar em
Bucareste quando começamos, tivemos que inventar um modo de iniciar.
Uma razão para que não houvesse abrigo familiar é que havia uma grande
resistência cultural contra… a suposição era de que as únicas pessoas que
poderiam aceitar uma criança em suas casas, sem ter nenhuma relação
biológica com elas, seriam pedófilos.
Então, havia um sentimento forte de… havia um forte sentimento de que o
Estado fazia um trabalho melhor em criar essas crianças do que famílias.
Essa é uma das razões… pela qual havia tão pouco abrigo familiar.
Então fizemos uma extensa propaganda, e nós eventualmente conseguimos uma
amostra de pais que concordaram, que demonstraram interesse em receber essas crianças.
Nós os avaliamos para determinar se eles poderiam ser bons pais adotivos,
e depois de tudo ser acertado, identificamos apenas 58 famílias em
toda a cidade, que pensamos que poderiam ser bons pais adotivos.
Então alocamos 68 crianças em 58 famílias, porque mantivemos os irmãos
juntos. Então, por isso não podíamos prover cuidados a todos, porque havia
apenas 58 famílias disponíveis.
Nós temos uma política de não-interferência, o que significa que ao
longo do curso do estudo nós esperávamos que as crianças os grupos
nos quais foram inseridas.
Em outras palavras, das 68 crianças que iniciaram suas vidas nas instituições,
aos 8 anos, apenas 14 ainda viviam em uma instituição.
As autoridades começaram a retirar as crianças, colocá-las novamente junto às
suas famílias biológicas, colocarem-nas em programas de abrigo familiar do
governo, que foi iniciado posteriormente. Voltarei a isso depois.
As crianças em nosso programa de abrigo familiar também foram devolvidas às suas famílias biológicas.
Agora, a razão pela qual estou contando isso a vocês é, para aqueles que
trabalham com saúde pública ou epidemiologia, todos os dados que
apresento hoje utilizam o que é chamado de um projeto com intenção de
tratar, e por isso eu quero dizer que nós analisamos os dados baseados em
nossos grupos iniciais, e não em suas circunstâncias de vida atuais.
Então, se você está no grupo institucional, e você está no grupo da
adoção, e você tem 8 anos agora, ainda que apenas 14 de vocês vivam em uma
instituição, eu analiso os dados a partir das 68 crianças originalmente
selecionadas para isso.
E a razão para isso é evitar distorções de amostragem.
Nós não sabemos porque algumas crianças deixaram a instituição,
ou coisas do tipo.
Então, nossos resultados são *** conservativos do papel das primeiras
experiências.
Se nós falhássemos em encontrar diferenças, poderia ser porque é onde as
crianças estão vivendo no momento que é o mais importante.
Mas, como verão, quase todos os nossos resultados podem ser atribuídos ao que
ocorre nos primeiros anos de vida.
Aquela pequena palestra sobre saúde pública e epidemiologia foi clara?
Certo. Então, para os resultados iniciais, eu irei apresentar apenas alguns.
Vamos começar com o QI… cérebro.
Então, para o QI, o QI médio das crianças no grupo institucionalizado,
em média, é de cerca de 74.
A média é de 100 em um grupo de crianças… nós tínhamos um terceiro
grupo de crianças que nunca viveram em uma instituição, elas apenas viviam
com suas famílias na cidade, em uma grande comunidade
de Bucareste.
Então, o que isso nos mostra é que nossas medidas de QI funcionaram na
Romênia como elas funcionam nos Estados Unidos.
Nós tínhamos uma média de 100 na população, mas as crianças no grupo
institucionalizado apresentavam uma média de 74, o que as coloca no…
em um tipo de leve, moderado retardo mental.
Agora, vamos nos voltar para o cérebro.
Uma das primeiras medidas cerebrais que usamos foi o EEG,
e EEG é simplesmente colocar sensores na cabeça e registrar a atividade
elétrica do cérebro.
Deixe-me guiá-los por aqui.
Mais uma vez, são estudos preliminares.
No topo, estão as crianças institucionalizadas, abaixo, as que nunca
foram institucionalizadas.
Isso é o nariz, a parte de trás da cabeça, a orelha esquerda e a orelha direita.
Isso é uma vista de cima, de frente, de trás, esquerda e direita.
Agora, o que esses mapas coloridos refletem é que à medida que você se
move pelo espectro vermelho, você apresenta mais e mais
atividade cerebral.
Vocês notarão que no grupo dos nunca institucionalizados, há muita atividade
em vermelho na parte frontal da cabeça.
E notarão a quase completa falta de atividade no grupo institucionalizado.
Então, as crianças institucionalizadas demonstram uma profunda redução na
atividade elétrica do cérebro, em comparação às crianças que nunca
foram institucionalizadas.
Agora, deixe eu me voltar para os efeitos da intervenção.
Agora, o que queremos… agora as crianças foram aleatoriamente
designadas para abrigo familiar, e nós iremos começar a rastrear seu
desenvolvimento após a intervenção para abrigo familiar.
Então, QI e cérebro de novo.
Então vamos nos voltar para a primeira questão: o que ocorre…
DQ significa Quociente Desenvolvimental.
É um substituto para o QI.
O que acontece com isso aos 42 meses de idade, para os três grupos?
Isso aborda a questão de se a intervenção produz algum efeito.
Agora, o QI para o grupo institucionalizado é 77,
não muito diferente do que era com 74.
O QI do grupo nunca institucionalizado é 103. Mas notem que o QI do grupo
adotado é 86.
Nós aumentamos o QI do grupo como um todo em 9 pontos.
E isso é uma grande diferença, em um nível populacional.
Eu darei a vocês um exemplo.
Esses dados foram publicados no jornal Science.
Alguns meses depois, outro artigo foi publicado sobre QI.
Quantos dentre vocês são primogênitos, ou filhos únicos?
Certo, alguns de vocês.
Sem nenhuma surpresa, se eu fizer essa pergunta em Harvard,
75% dos estudantes levantam suas mãos.
Nesse artigo, em uma imensa amostra de 20 mil, eles descobriram que os
primogênitos têm 1 ponto de QI a mais que os segundos e terceiros filhos.
Então, vocês que levantaram as mãos, podem dizer aos seus irmãos que vocês
são mais espertos por 1 ponto de QI
Mas 1 ponto de QI não é… não faz uma grande diferença funcional.
Mas 9 pontos fazem.
Mas a questão mais interessante é a seguinte.
Agora que demonstramos um efeito da intervenção, agora queremos saber: a
influência do abrigo familiar varia em função do quão velho você era quando
foi alocado?
Essa é a ideia de um período sensível.
E agora, se vocês olharem aqui,
vocês irão ver que a resposta é sim.
As crianças que foram alocadas nos primeiros 18 meses de vida têm QI por
volta de 90.
E as crianças alocadas entre 18 e 24 meses têm QI acima de 80.
Na verdade, esses números não são diferentes.
Mas note a diferença no QI de crianças alocadas depois dos 2 anos de idade,
eles estão de volta a cerca de 70, o mesmo que o grupo que nunca foi
institucionalizado.
Então, o que isso nos diz é que se você é alocado antes dos dois anos,
você tem um salto muito mais alto no QI do que se você é alocado após os
dois anos. Bem, e a atividade cerebral?
Deixe-me guiá-los por esse slide.
Lembrem-se, CAUG se refere a “Care As Usual” (cuidado como de costume),
são as crianças no grupo institucionalizado.
Mais uma vez, topo… desculpem.
Esquerda, direita, frente e costas. Lembrem-se, nós estamos procurando
por mais vermelho que o resto.
Ah, mas como eu poderia me sentar?
Desculpe-me, eu não queria revelar essa mensagem pessoal,
confidencial que você me entregou
Posso me sentar aqui?
Funcionou?
Certo. Então, é isso que eu quero que notem. O EEG no grupo
institucionalizado é idêntico ao EEG das crianças em abrigo familiar após os dois
anos de idade.
De maneira semelhante, o EEG das crianças adotadas antes dos 2 anos de
idade é igual ao das crianças no grupo das que nunca foram institucionalizadas.
Então, como vimos no QI, podemos observar um período crítico.
Crianças... e isso é aos 8 anos de idade, quando apenas 14 das crianças ainda
vivem em uma instituição.
Mas nós analisamos isso com intenção de tratar.
Então, o que isso nos diz é que até os 8 anos ainda vemos um período sensível.
Que crianças colocadas em abrigo familiar antes dos 2 parecem ter uma
atividade cerebral normal.
Crianças colocadas em abrigo familiar após os 2 anos apresentam atividade
cerebral como as crianças que nunca deixaram a instituição.
Portanto, a institucionalização tem um efeito muito prejudicial no
desenvolvimento cognitivo e cerebral.
O abrigo familiar parece ser efetivo e melhorar a função cognitiva das crianças
adotadas antes dos 2 anos.
A duração do abrigo familiar não influencia os efeitos de timing do abrigo familiar.
O que eu quero dizer com isso é que, quando eu disse crianças alocadas antes
dos 2 anos apresentam maior efeito, nós também observamos quanto tempo
elas ficaram em abrigo familiar, e isso não teve importância,
o importante era a idade em que foram alocadas.
Então, o timing é tudo.
Agora queremos explicar essa produção em EEG.
Eu quero fazer duas observações.
Primeiro, nós vimos menos EEG.
A outra coisa que não mencionei é que nós vimos que suas cabeças não
estavam crescendo muito rápido.
Na verdade, as crianças em abrigo familiar, se eram colocadas
em um lar antes de um ano de idade, apresentavam uma dramática
recuperação no tamanho de suas cabeças.
Mas depois de um ano de idade, suas cabeças cresciam,
mas a uma velocidade muito menor, e a circunferência de suas
cabeças era menor.
Então, agora temos crianças com a circunferência da cabeça menor,
menos atividade cerebral, e o que queríamos saber é o que
acontece no cérebro.
Então, fizemos imageamento por ressonância magnética.
É assim que se parece.
E a questão é que talvez crianças tenham menos células cerebrais ou
conexões entre células cerebrais.
Então, para observar isso, nós fizemos isso.
E aqui estão os dados.
Eu vou tentar passar por isso bem devagar.
Isso é *** cinzenta.
*** cinzenta corresponde basicamente a corpos celulares de neurônios.
Não as conexões ou algo assim, apenas o corpo do neurônio
. E estamos olhando para os hemisférios esquerdo e direito.
Hemisférios esquerdo e direito.
Então, o grupo institucional.
Aqui está o volume de *** cinzenta.
Não há diferença entre os hemisférios esquerdo e direito.
Notem que é igual ao das crianças em abrigo familiar.
Eu não sei ao certo o que aconteceu com o meu slide,
aqui devia estar escrito “grupo de abrigo familiar”.
E quanta *** cinzenta a mais há no grupo dos nunca institucionalizados.
Agora, o que estamos observando é não apenas uma dramática redução da ***
cinzenta no grupo institucionalizado, mas também não podemos observar um
efeito da intervenção.
As crianças colocadas em abrigo familiar não apresentam mais ***
cinzenta. Mas é diferente se olharmos para a *** branca.
Aqui está o volume de *** branca no grupo nunca institucionalizado,
que é muito maior.
Mas notem, o grupo em abrigo familiar está entre ambos.
Então, estamos mostrando um efeito da intervenção na *** branca.
A *** branca é a bainha de mielina que recobre alguns axônios,
e é importante para a transmissão da informação,
e podemos também explicar os resultados do EEG com esses resultados
da *** branca.
Então, a exposição à institucionalização precoce leva à redução no tamanho do
cérebro, tem um efeito diferencial nas massas cinzenta e branca,
com a *** cinzenta sendo mais afetada pela intervenção para alocação
em abrigo familiar.
Desculpe, menos afetada pela intervenção para abrigo familiar
que a *** branca.
Então, uma profunda negligência precoce leva a mudanças dramáticas na
estrutura cerebral.
A *** branca, mas não a cinzenta, apresenta melhora após a alocação
em uma família.
Então, deixe-me começar a esboçar algumas conclusões…
falando sobre domínios mais comportamentais,
que pode ser interessante para alguns de vocês do que as descobertas cerebrais.
Está bom o ritmo da fala? Certo. Não?
Devo ir mais rápido, é isso que você está dizendo?
Vou tentar avançar um pouco mais devagar.
Então, vamos nos voltar para o apego.
Acredito que muitos de vocês, mesmo que não saibam o que isso
significa cientificamente, sabem pessoalmente o que isso significa.
É aquela relação que as crianças pequenas estabelecem com o cuidador.
Uma maneira de entender isso é, você pode classificar a criança como tendo
um apego seguro ou um apego inseguro, vou mostrar-lhes um vídeo sobre isso
em um minuto.
Então, o que vocês estão olhando aqui, no início, é o seguinte: essa é a
porcentagem de crianças nunca institucionalizadas que têm um
apego seguro.
E essa é a porcentagem de crianças no grupo institucionalizado que têm um apego seguro.
Deixe-me dar um exemplo de apego seguro e inseguro.
Isso é geralmente feito usando um procedimento chamado
“situação estranha”.
A maneira que isso funciona é… se eu estiver andando você não pode me
ouvir, se eu andar por aí.
Então, a mãe entra em um cômodo com seu bebê.
A mãe senta em uma cadeira.
Há alguns brinquedos no chão.
Ela coloca o bebê no chão.
E nós observamos se o bebê está brincando com os brinquedos,
se ele se afasta um pouco da mãe.
Então um estranho entra na sala, e você observa o que o bebê faz quando
o estranho entra.
O que muitas crianças fazem é continuar brincando.
Elas olham o estranho… digamos que eles têm 18 meses de idade,
e 12 meses de idade.
Mas eles podem se aproximar da mãe.
Então, a mãe sai do cômodo e o estranho se senta, e você observa o que
a criança faz agora, quando deixada a sós com o estranho.
Então, o estranho sai do cômodo e o bebê é deixado sozinho,
e você observa o que o bebê faz.
Então a mãe volta para o cômodo, e você observa como o bebê reage à mãe.
Um apego seguro, um cenário padrão: o estranho entra, a mãe ainda está lá,
o bebê se aproxima da mãe.
Digamos que ele tenha 18 meses de idade.
A mãe sai do cômodo, o estranho se senta, e o bebê se dirige para a porta,
bate na porta, chora, quer a mãe de volta.
Nós não deixamos isso se alongar muito porque é horrível de se ver.
Então o estranho vai embora, e a mãe volta, o bebê agarra a mãe, sabe,
abraça a mãe, e é como “onde você esteve durante toda a minha vida,
eu senti sua falta”.
Um apego inseguro… há diferentes tipos de apego inseguro.
Um deles se manifesta assim, a mãe deixa a sala e o bebê nem mesmo nota.
Mas quando ela volta, ele fica feliz em vê-la.
Ou, ele fica muito chateado quando a mãe sai, mas quando ela volta ele reage
com indiferença, ou não dá atenção a ela.
Então, esses são tipos diferentes de…
E é um tipo perfeitamente normal de comportamento, é apenas considerado
um apego inseguro.
Eu vou falar sobre a forma patológica disso daqui a alguns minutos.
Agora, vamos olhar o efeito da intervenção.
Observem o painel do meio, aqui.
Esse é o… esses são os dados das crianças em abrigo familiar.
Essa é a porcentagem das crianças, 70% das crianças colocadas em abrigo
familiar antes dos 2 anos apresentam um apego seguro, enquanto as colocadas em
abrigo familiar após os 2 anos, 70% apresentam um apego inseguro.
Elas são imagens espelhadas umas da outras.
Em outras palavras, como discutimos a respeito do EEG e do QI,
crianças em abrigo familiar antes dos 2 anos apresentam…
muito provavelmente apresentam um comportamento de apego normal.
Após os 2 anos, é menos provável.
Então fizemos uma medida funcional disso.
Algo que não fosse tão terrível quando a “situação estranha”.
Na verdade, é muito pior, e é chamado “estranho na porta”, e fizemos isso
quando as crianças estavam com 4 anos e meio de idade.
E foi assim que funcionou: o cuidador e a criança atendem a porta quando um
estranho bate.
E é premeditado que o estranho vai bater na porta e o cuidador deixará
a criança atender.
E o estranho diz “venha comigo, tenho algo para ate mostrar”.
É mais ou menos o pesadelo de todos os pais, certo?
E tudo que estamos observando é se a criança sai porta afora com o completo
estranho ou se ela permanece dentro.
Vamos começar com 54 meses.
Se você observar as crianças da comunidade, no grupo nunca
institucionalizado, uma criança saiu.
Ainda estamos preocupados com essa criança .
S e você olhar as crianças do grupo institucionalizado,
eu não posso ver as figuras. Mesmo aqui, eu não posso ver as figuras.
Mas essa é a porcentagem de crianças que partiram com um completo estranho,
vocês conseguem ver o número?
Creio que é cerca de 60%, mas não tenho certeza.
Se você observar as crianças em abrigo familiar, notem a diferença.
Muito, muito poucas saem.
Mas ainda assim, se você observar a tendência, no grupo institucionalizado
essa porcentagem sai, nos em abrigo familiar essa porcentagem,
na comunidade… há uma dramática diferença.
Muito menos crianças no grupo institucionalizado… no grupo em abrigo
familiar saem, se comparados ao grupo de institucionalizadas.
Aos 8 anos, nós ainda observamos isso.
Agora, aos 8 anos, certo, não é incomum sair com um estranho.
Você está indo à escola, você convive muito com estranhos.
Mas, ainda assim, essa é a porcentagem de crianças no grupo institucionalizado
que não sairia com um estranho.
Essa é a de abrigo familiar.
Aqui é o institucionalizado.
Ou, revertendo, uma vez que você sai com um… então, mais crianças do
grupo institucionalizado saem com o estranho.
Lembrem-se, aos 8 anos apenas 14 crianças ainda viviam em uma
instituição.
Mas observamos os dados das 68 crianças originalmente escolhidas
para a adoção.
Então isso é, novamente, um exemplo dramático do efeito da adoção no apego.
Deixe-me agora abordar uma forma patológica de transtorno de apego,
que é chamada de “transtorno do apego reativo”.
Isso é familiar a algum de vocês? Certo.
Então, há dois tipos desse transtorno.
Existe a criança emocionalmente retraída e inibida, e estas são crianças
que, quando perto dos cuidadores, ou de qualquer pessoa, irão paralisar e se
tornar completamente inibidas e não vão se mover.
Em contraste com a criança indiscriminadamente sociável,
ou desinibida, que irá em direção de qualquer um na primeira vez,
de alguém que nunca viu;
Então, se você puder iniciar esse vídeo, quero lhes mostrar como nós
observamos isso.
Esse menino tem 18 meses de idade.
Isso é muito emocionante. É um grande episódio de reunião.
Exceto que é a primeira vez que ele a vê.
E é isso que eu chamo de comportamento indiscriminado.
Ele nunca a viu antes, e simplesmente pula em seus braços e irá fazer isso com
qualquer um.
Esse é o tipo desinibido.
Os dados aparecem assim.
Se você olhar para… essa linha aqui embaixo é a prevalência desse tipo,
o tipo reservado de transtorno do apego reativo, para as crianças que nunca
estiveram em uma instituição.
Não há quase nenhum caso.
Você simplesmente não observa isso em crianças que se desenvolve tipicamente.
Se você olhar para a linha negra, aqui, essas são as crianças em abrigo familiar,
e você irá notar que quando essas crianças têm 30 meses, e um pouco após
isso, a proporção desse tipo de transtorno desaparece.
Não é diferente das que nunca foram institucionalizadas.
Mas observe as crianças no grupo institucionalizado.
Até os 8 anos, elas ainda apresentam um risco elevado.
Então, entre as crianças em abrigo familiar rapidamente,
a partir dos 30 meses, isso desaparece.
Mas demora muito mais para desaparecer, e não desaparece
completamente, nas crianças do grupo institucionalizado.
Agora, olhem o comportamento desinibido.
De novo, aqui está no grupo nunca institucionalizado.
É muito alto no início porque algumas crianças de 18 a 20 meses não
apresentam esse comportamento.
Eles irão apresentar… irão sair com um estranho,
mas vocês irão notar que posteriormente isso desaparece completamente.
Mas aqui está a diferença.
O que está em preto corresponde às crianças em abrigo familiar,
e vocês podem notar o quanto isso demora para diminuir.
Até os 8 anos, ainda é elevado, mas não é tão alto quanto entre as
crianças no grupo institucionalizado.
Então, isso significa que a intervenção para abrigo familiar que fizemos foi
muito efetiva em fazer desaparecer o tipo inibido de transtorno do apego
reativo, mas o tipo desinibido é muito mais resistente, e é isso que a literatura
científica em geral afirma.
Em muitas crianças em que se observa esse comportamento quando têm 1 ou 2
anos de idade, você ainda vai observar na adolescência.
O que é aterrorizante, porque isso significa que você tem meninas de
15 anos saindo com completos estranhos, porque não conhecem nada
melhor que isso.
E finalmente, se você olhar o efeito de timing ou apenas o comportamento
indiscriminado, essas são as crianças adotadas antes dos 24 meses,
e essas são as crianças colocadas em abrigo familiar após os 24 meses.
Então, a maior parte dos efeitos se deve ao timing da adoção.
É possível mesmo de livrar do comportamento indiscriminado se as
crianças são alocadas em uma família antes dos 2 anos de idade
Mais uma vez, a ideia do período sensível.
Então, se o apego é profundamente comprometido, o abrigo familiar
ameniza alguns distúrbios do apego,
a adoção precoce é desproporcionalmente mais efetiva.
Como está o meu tempo?
Eu tenho mais uma hora?
Então não tenho que me preocupar agora?
Mas se eu não fizer contato visual, não poderei saber quanto tempo eu ainda tenho, certo?
Certo, eu vou simplesmente ignorar você
Então, vamos tratar de morbidez psiquiátrica.
O que é a prevalência de problemas mentais no nosso estudo?
Nós esperamos para tratar disso até que as crianças tivessem 54 meses de idade,
porque é quando acreditamos que poderíamos fazer uma entrevista psiquiátrica estruturada.
Então, o que fizemos foi administrar o que chamamos de avaliação psiquiátrica
em idade pré-escolar ou PAPA.
Essa avaliação foi desenvolvida na Duke University.
Nós traduzimos para romeno, treinamos nossa equipe para aplicar.
É uma entrevista estruturada que você faz… geralmente um de nossos
psicólogos faz junto dos cuidadores.
O que queremos saber é se, aos 54 meses, a intervenção de adoção
diminui a proporção de transtornos psiquiátricos em crianças já
institucionalizadas?
Vamos começar com as más notícias, que é o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade).
O cinza aqui são as crianças institucionalizadas.
Lembrem-se, elas têm 54 meses, e aos 54 meses apenas 20 crianças ainda
viviam em uma instituição.
Mas ainda assim, nós analisamos usando a abordagem com “intenção de tratar”.
23 por cento dessas crianças apresentaram Transtorno do Déficit
de Atenção com Hiperatividade.
E eu não me refiro apenas a sintomas, elas foram diagnosticadas formalmente,
baseado no manual diagnóstico e estatístico.
As crianças em abrigo familiar são um pouco diferentes, mas isso não é
verdadeiramente estatisticamente diferente, o que significa que há uma
alta proporção de TDAH em crianças que já estiveram em uma instituição,
e o abrigo familiar não teve nenhum efeito em diminuir a proporção de
TDAH. Vocês podem notar que apenas 3 a 4% do grupo nunca institucionalizado têm TDAH.
Acho que nos Estados Unidos é… a média da população é de cerca de 7%
das crianças que – em sua maioria meninos. Têm TDAH.
Então, a média é menor na Romênia.
E o Transtorno do Comportamento Disruptivo?
Bem, essas são as crianças difíceis de controlar… certo, 20 minutos.
Não, ele disse 10 minutos.
Então vou ter que falar bem rápido.
Então, alguns de vocês sabem o que é Transtorno do Comportamento Disruptivo.
Essas são crianças realmente fora de Controle.
Elas são difíceis de manejar.
Mais uma vez, não há diferença entre esses grupos, dentro do escopo de 12%
de nossa amostra.
Então, coletivamente nós pensamos nisso como sintomas externalizantes.
TDAH, Transtorno de Conduta, transtorno opositivo-desafiador.
A intervenção não apresentou Nenhum efeito.
Mas produziu um efeito em problemas internalizantes, como depressão e
ansiedade.
A primeira coisa a se descobrir é como... que 4% das crianças
institucionalizadas preencheram os critérios de um forte transtorno de
depressão, o que é impressionante, se você parar para pensar.
Isso é muito alto.
Mas nós cortamos esse número em mais da metade para as crianças
em abrigo familiar.
Se você observar a ansiedade, a má notícia, de novo, é que quase 45% de nossa amostra sofria...
crianças institucionalizadas preencheram os critérios de um forte
transtorno de ansiedade, e isso foi reduzido em mais da metade
em crianças em abrigo familiar.
A última coisa que eu gostaria de saber são as diferenças de gênero,
que nós quase não observamos em nenhum outro domínio.
Se você observar as crianças em “cuidado como de costume”,
você notará que há mais meninos com sintomas psiquiátricos que meninas.
E se você observar os adotados,
as meninas têm muito menos prevalência de um sintoma que os meninos.
O que eu quero dizer com isso é que em geral, mesmo em crianças
institucionalizadas, as meninas não sofrem tanto quanto os meninos.
E para as crianças em abrigo familiar, as meninas obtêm mais benefícios que os
meninos.
O que nos desconcerta é que nós sabemos que meninos são mais
vulneráveis a coisas como transtornos neurodesenvolvimentais,
mas ficamos surpresos com essa diferença em transtornos psiquiátricos,
porque não é comum observar isso em
crianças de 4 ou 5 anos.
Eu apertei o botão errado por acidente, alguém pode… obrigado.
Então, vemos altas taxas de transtornos psiquiátricos e deficiências em crianças
que foram institucionalizadas, se comparadas com as crianças da
comunidade.
Nenhuma diferença significante nas taxas de TDAH e transtorno de
comportamento em crianças nas instituições versus crianças em abrigo
familiar.
Crianças no grupo do abrigo familiar apresentaram taxas significantemente
mais baixas de transtornos emocionais, transtornos de ansiedade,
transtorno do apego reativo, e coisas do tipo, do que as crianças que
permaneceram na instituição.
Ser uma menina pode ser um fator protetivo, e não há evidência do efeito de
timing em patologia.
Então, diferentemente de outras esferas das quais eu falei, aqui não importa se
você foi colocado em uma instituição… desculpe, colocado em abrigo familiar,
em qualquer idade, você se torna menos ansioso e menos deprimido.
Mas, por outro lado, independente do quão velho você é quando é colocado
em abrigo familiar, você mantém seus problemas externalizantes,
como TDAH.
Então, agora eu vou voltar e me levantar.
O desenvolvimento cerebral começa algumas semanas depois da concepção,
a maior parte da arquitetura cerebral está colocada no final do período
pré-natal, nos primeiros anos pós-parto, mas o cérebro adulto não é evidente até
o início da idade adulta.
As experiências iniciais exercem um poderoso efeito no desenvolvimento
cerebral e comportamental durante o chamado período sensível.
O que acontece nos primeiros anos pode ter um impacto duradouro nos anos
futuros, incluindo a saúde mental e física do adulto.
Por exemplo, 30% dos transtornos psiquiátricos adultos podem ser
atribuídos à exposição a adversidade precoce nos primeiros anos de vida,
e é a isso que nos referimos quando dizemos que os efeitos que estamos
observando não são apenas a curto prazo, mas podem causar danos às
crianças por 10, 20, 30, 40 anos.
Agora, deixe-me encerrar voltando minha atenção para as políticas públicas.
Havia uma questão ética nesse estudo, assim como há em todo estudo
controlado, que advém se você está fazendo uma intervenção e começa a se
dar conta de que a intervenção está funcionando bem.
Digamos que é uma droga que você está usando para a diabetes,
ou um dispositivo, você se depara com uma questão ética, e o padrão seria você
oferecer a intervenção para todos.
Então, no nosso caso, um ano ou dois depois de iniciarmos o estudo,
nos damos conta do quanto as crianças em abrigo familiar estavam se
beneficiando disso, mas não podíamos oferecer a intervenção a todas porque
não havia mais famílias adotivas.
Então, a outra opção é, você poderia eticamente encerrar o estudo.
Mas se fizéssemos isso, as crianças em abrigo familiar voltariam à instituição.
Então o que fizemos foi trabalhar com embaixador dos Estados Unidos na
Romênia e chamar uma conferência com a imprensa nacional, onde chamamos
não apenas a imprensa, mas o governo, e anunciamos nossas descobertas ao
governo, e basicamente dissemos que criar as crianças em instituições as
machucava muito, e que colocá-las em famílias, particularmente antes que
completassem 2 anos, realmente as ajudava.
Isso aconteceu mais ou menos no mesmo momento em que a Romênia tentava
entrar na União Europeia.
Então, em um curto espaço de tempo, baseado parcialmente em nosso estudo,
ou talvez mais que parcialmente, algumas mudanças começaram a ocorrer.
Eles aprovaram uma lei proibindo a institucionalização de crianças com
menos de 2 anos, a não ser que ela fosse muito deficiente.
Eles começaram a fechar as instituições.
Quando começamos, no ano 2000, havia mais de 100 mil crianças em
instituições, e quando eu estive lá a alguns meses atrás, o quadro agora é de
22 mil crianças vivendo em instituições.
Eles iniciaram uma rede de abrigo familiar, então agora há um programa
governamental de abrigo familiar.
Baseado nessas descobertas, nosso programa de abrigo familiar foi
exportado para outros países.
Uganda é um, Bulgária outro.
Então, muitas pessoas começam a se beneficiar.
Nós prestamos extensivamente consultorias à UNICEF e outras
organizações visando o fechamento de instituições e na verdade, em junho,
junho passado, a União Europeia promoveu um encontro onde eles
consideraram uma legislação que levasse ao abandono da prática de
institucionalizar crianças órfãs por toda a Europa. , mais uma vez, quando você
entrava nessa reunião, havia um cartaz com o “Bucharest Early Intervention
Project” estampado, porque ele oferecia as evidências científicas que servem de
apoio a essas mudanças nas políticas públicas.
Mas houve algumas consequências indesejadas… estou quase acabando.
Uma delas é que, na Romênia, essa pressa em desinstitucionalizar as
crianças significou que o governo não considerou de fato as mudanças no
bem-estar e na proteção infantil.
Então, muitas crianças foram alocadas com famílias biológicas que não as
desejavam, e praticamente não havia monitoramento destas famílias.
Algumas crianças foram simplesmente colocadas na soleira da porta de suas
famílias.
Eles não criaram um bom sistema de proteção à criança, e não consultaram as
famílias biológicas se elas queriam seus filhos de volta.
O governo começou a estabelecer o abrigo familiar, mas não criou os
recursos necessários para um bom programa de abrigo familiar.
Nós analisamos as crianças em nosso programa de abrigo familiar, comparadas
com as crianças no programa de abrigo familiar do governo, e as crianças no
programa do governo não chegam perto de ir tão bem quanto as crianças em
nosso programa, que foi de muito, muito elevada qualidade.
E notoriamente mais caro.
Mas eu penso que se um economista observasse, ele iria descobrir que,
primeiro, nós sabemos que criar crianças em uma instituição é mais caro
que colocá-las em abrigo familiar, mas também descobrimos que o ganho
que as crianças têm com o abrigo familiar irá favorecê-las nos anos
futuros, ao invés de permanecerem em uma instituição.
E o governo falhou em fazer um esforço para prevenir o abandono infantil, que é
uma grande questão.
O que faz com que os pais abandonem
seus filhos, para começar?
A cinco anos atrás, houve uma queda no número de crianças institucionalizadas,
mas a UNICEF me contou que a taxa de abandono infantil não havia diminuído.
Eu pensei, como pode ser?
O número de crianças abandonadas é o mesmo em 2005 que era em 1985,
para onde foram essas crianças?
Eles não chamam mais de instituições, chamam de lares de pequenos grupos,
ou coisas assim.
|Então, a Romênia falhou em colocar esforços para prevenir pais de
desistirem de seus filhos, para começar
Isso é o que eu considero uma consequência indesejável.
A última coisa que é perturbadora para muitos é que, sob pressão política, em
2002, o governo baniu toda adoção internacional.
Então, como há pouca adoção doméstica, isso faz com que muitas crianças sejam
alocadas em abrigo familiar, que é evidentemente uma alocação temporária.
Nós gostaríamos que as crianças fossem colocadas em um lar permanente.
Isso era um assunto inteiramente politico, e não de políticas públicas.
E como resultado, significava que as crianças não poderiam mais ser
adotadas em lares permanentes se estivessem fora do país.
E a única exceção agora é se os adotantes são romenos nativos vivendo
fora do país, então podem adotar.
Então, o ponto de partida é,
vamos aprender com a ciência,
vamos informar os legisladores, políticos, e médicos, sobre as
desvantagens de se criar uma criança em uma instituição e os benefícios de
criá-las em famílias.
E vamos informar a esses grupos que há lições a serem aprendidas nesse projeto
que se estendem a todas as crianças expostas a cuidados parentais precários.
Nós sabemos que a duração de tempo e a adversidade precoce influenciam
fortemente o desenvolvimento futuro, e a idade da criança quando retirada
desse ambiente adverso e colocada em um bom lar também influencia
criticamente o resultado final.
E a adversidade precoce pode ter consequências ao longo de toda a vida.
Os primeiros anos de vida são importantes.
Se eu puder, esse… eu não tenho tempo para mostrar esse vídeo de um minute.
Vocês vão perder um ótimo filme porque ela me disse para parar de falar.
Fim! Muito obrigado.