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Bom dia.
Difícil, né? Falar depois da D. Adozinda.
Ainda mais sobre educação.
Mas, eu quero começar a apresentação para vocês
pedindo licença a um grande poeta brasileiro.
"Meu corpo, de 1,63m, é o meu tamanho no mundo.
Meu corpo, de água e cinza,
que me faz olhar Proust, Almodovar, Guti Fraga, e me sentir misturada.
Meu corpo, que tem um nariz assim, uma boca, dois olhos,
e um certo jeito de sorrir, de falar;
que a minha mãe identifica como sendo da sua filha;
e que os meus três filhos identificam como sendo de sua mãe.
Corpo, que se pára de funcionar, vai causar um grave acontecimento na família;
sem ele não há Samara de Sá e Benevides Werner;
sem ele não há Samara Werner.
E algumas pequenas coisas acontecidas no planeta
estarão esquecidas para sempre.
Eu escolhi começar a minha apresentação
parafraseando "Poema Sujo" de Ferreira Goulart,
porque ele fala da singularidade humana, do nosso "estar no mundo".
Somos todos diferentes.
"Eu sou um cara organizado".
"Eu sou o máximo!"
"Eu moro em Bom Sucesso".
"Eu moro em Vargem Grande".
"Eu sou bastante focada".
"Eu me considero uma pessoa única, bem original".
"Eu moro na favela da Rocinha".
"Eu gosto de estudar".
"Eu sou 'otaku', gosto de rock e gosto de ir à igreja.
Sou uma mistura de tudo".
"Eu gosto de viajar para lugares diferentes".
"Eu queria perguntar para mim mesma:
por quê, as vezes, eu sou assim?
"Eu moro no Morro do Turano".
"Eu sou um adjetivo: Rayane Moura".
Bom, nós somos seres singulares, cada um diferente.
Esses são jovens de uma escola pública, no Rio de Janeiro,
do Programa Nave, Núcleo Avançado de Educação,
que eu coordeno, e que está tentando fazer a diferença na área de educação.
Então por quê, se somos seres singulares,
a escola trata a todas as nossas crianças e jovens como se fossem iguais?
Matando a sua potencialidade, a sua criatividade?
É uma pergunta que todos nós devemos fazer.
As apresentações anteriores, todas elas, de alguma forma, falavam de educação.
Todos eles, o Eduardo Moreira,
o Ronaldo Lemos, quando falou da lan house,
enfim, todo mundo falando um pouco de como esse mundo está se transformando.
E se olharmos ao longo da história,
veremos que não é muito diferente, muita coisa não mudou.
Por exemplo: Einstein.
Será que no tempo dele era diferente? A escola era diferente?
Ele não foi identificado, logo de início, como um gênio.
O diretor da escola secundária, onde ele estudava, disse ao pai dele:
"Ele nunca terá sucesso em nada".
E estamos falando do maior físico teórico de todos os tempos.
Vamos imaginar que Einstein viajou no tempo,
em uma velocidade maior que a velocidade da luz,
quais perguntas faríamos a ele?
"Cara, qual é a pílula da mente brilhante?"
"Ah, se ele praticava esportes também".
"O quê ele pensaria do futuro".
"Para Einstein? Seria difícil ele me estudar".
"Se tinha tempo para se divertir".
"Por quê ele usava aquele cabelo,
aquele troço para cima, meio estranho".
Pois é, eu também quero fazer uma pergunta para Einstein, é a minha vez.
"Olá, Albert," eu falo assim porque
eu tenho intimidade com ele
desde que eu tinha 11 anos de idade.
"Dê uma olhada na escola de seu tempo".
"E agora, dê uma olhada na escola do nosso tempo".
Qualquer semelhança não é mera coincidência.
Pouca coisa mudou.
E é por isso que estamos numa crise na área de educação.
Vamos andar mais um pouquinho no tempo.
Não sei se vocês conhecem a Mafalda, já na década de 60, 70,
do cartunista argentino Quino.
É o quê a Mafalda fala da escola.
Bom, é um pouco disso que eu vim falar para vocês.
O mundo está se transformando profundamente.
As relações conosco mesmo
e com os outros estão mudando numa velocidade infinita.
A tecnologia está em todos os lugares,
o Ronaldo mostrou que está na periferia, 90 mil lan houses.
Ou seja, o tempo todo o mundo se reinventando e se transformando.
E a escola? Onde essa escola está?
Roda na rede, desculpe não citar o autor, um texto que diz:
"Um médico e um professor dormiram 100 anos,"
não sei se vocês conhecem.
"Eles acordaram, e quando o médico entrou no hospital
e entrou numa sala de cirurgia,
ele começou a olhar para aqueles aparelhos todos,
aquela tecnologia toda, já tem robô fazendo cirurgia.
Caramba! Saiu do hospital e foi para casa, voltou.
O professor entrou numa escola, entrou numa sala de aula
e saiu dando aula com quadro ***".
É assim que está a nossa escola hoje.
E essa escola não está formando os nossos jovens e crianças
para fazerem o Brasil dar certo, para terem ideias
para que a gente possa ter mais coisas a mostrar para o mundo.
Então, eu busquei uma outra referência na história
que nos mostre muito bem isso,
que foi um tempo de muita luz, de muitas descobertas.
Vamos lá...
Conhecem?
É "Davi" de Michelangelo.
Michelangelo quando terminou de esculpir Davi, ele falou:
"Por quê não falas?"
Era um gênio, um gênio da escultura e da pintura.
A questão que eu trago é por quê Michelangelo usava o mármore
para esculpir as suas obras?
Alguém sabe?
Não é porque o mármore é uma pedra nobre.
Não é porque o mármore é branco.
Mas porque o mármore era abundante em Florença, na época do Renascimento.
Era matéria prima daquela época,
Então, a matéria prima que nós temos hoje,
cada vez mais presente no dia a dia de cada um de nós,
quando nos deparamos com as lan houses,
quando o Élder vem aqui e diz o seguinte:
"olha gente, não usa o iPod, não usa o celular,
não usa o computador, porque atrapalha",
ele está falando de tecnologia, está todo mundo aqui conectado.
Então, essa é a nossa matéria prima,
e por quê nós não a estamos utilizando de forma adequada
essa matéria prima para formar as futuras gerações?
Essa é uma questão grave,
por quê, quando a gente fala hoje de tecnologia na escola,
nós estamos falando de laboratório de informática, como apêndice.
O laboratório para você imprimir um texto,
até acessar a internet, e buscar conhecimento.
Mas nós não estamos falando das novas tecnologias
entrando no processo de ensino e aprendizagem.
Eu sei que a educação tem muitas questões,
mas essas questões não podem abafar o grande "gap",
a grande distância que hoje nós temos
da escola que temos para a escola que queremos.
Então, eu vou apresentar rapidamente,
meu tempo está se esgotando,
e o meu objetivo aqui é chamar a atenção para essa questão.
Porque quando eu vou falar de tecnologia na educação,
principalmente no meio educacional,
as pessoas perguntam:
"Não, mas nós temos problemas com professores,
com salários, com infraestrutura, tecnologia não é prioridade".
Não é isso gente, as coisas não concorrem.
Os professores são importantíssimos,
continuarão a ser, com papel cada vez diferente.
Tudo é importante,
na realidade, na educação, não é uma questão de prioridade,
educação é prioridade.
Então eu vou mostrar para vocês uma experiência
que é respondendo a pergunta do TED,
é o quê o Brasil tem a mostrar ao mundo.
Nós construímos lá no Rio de Janeiro,
vou mostrar algumas imagens aqui para vocês,
o Nave, o Núcleo Avançado em Educação,
que é uma escola totalmente diferente.
Esse é um projeto do Oi Futuro,
com parceria com o governo do estado do Rio de Janeiro,
portanto é uma escola pública,
que está levando para dentro da sala de aula,
para o dia a dia desses jovens,
tudo o que é proibido nas outras escolas.
Eu estou falando de games, estou falando de iPod, estou falando de celular,
eles não estão utilizando isso só como meio,
eles estão se transformando a partir dessa nova rede
porque essa é a realidade deles no dia a dia fora da escola.
A escola tem um muro que está separando esse ambiente da sociedade.
Vou mostrar mais algumas imagens do Nave para vocês conhecerem.
Isso aí está lá dentro.
Eles jogando aqui, um totó eletrônico.
Essas pessoas todas que estão aqui,
a exemplo do que está acontecendo aqui,
foram lá falar, mas eles foram lá falar com os alunos,
com alunos de escola pública, foram trocar.
Tem o Mark Warshaw, que é um dos criadores do Heroes.
A gente recebeu lá também o Glenn Entis,
um dos grandes criadores da Dreamworks.
E essa turma virou para mim, quando eles terminaram as apresentações,
tiveram o diálogo deles com os alunos:
"Samara, eu nunca tive perguntas tão inteligentes
em todas as palestras que eu já fiz pelo mundo!"
Então, é isso, nós temos um potencial,
o Brasil é criativo, nós temos uma juventude criativa,
só que a gente não está dando oportunidade
para que essa turma se desenvolva,
porque nós não estamos prestando atenção na nossa escola,
e educação é fundamental.
Eu vou passar aqui um pouco do que eles acham,
como eles vivem hoje, para vocês sentirem essa diferença.
"Eu jogo todo o tipo de game".
"The King of Fighters, Tekken, Tekken I, Tekken II, Tekken III".
"Counter Strike".
"Pitfall, Street Fighter, era jogo de luta, Mortal Kombat, Captain Commando".
"A gente aproveita do jeito que dá".
"Eu adoro o Orkut e MSN".
"Prefiro Orkut".
"MSN".
"Facebook".
"Internet como um todo".
"Tem um cara que se chama André LaMothe
que inventou o conceito de 'sprite', essas coisas".
"Eu prefiro games".
"Queria perguntar para ele de onde surgiu a ideia para criar os 'sprites',
sendo que é uma coisa pioneira, que ninguém nunca tinha pensado".
"Inovadora".
"Você lida com isso o tempo todo,
essa coisa tecnológica, você lida com isso o tempo todo,
faz parte do cotidiano do homem já".
"O que faz hoje no mundo, uma criança, um jovem, um garoto, um menino,
quer seja do interior, ou de um grande centro,
ficar parado 6 horas em frente?"
"É horrível ficar parado".
"Imagine competir uma escola onde o professor fala,
que pede que todo mundo fique quieto em sala
para ouvir alguma coisa que você não pediu
que não se encaixa na sua realidade,
mas que você tem que aprender agora porque um dia vai ser útil".
"Vamos jogar?"
O professor Antônio Carlos Gomes da Costa, um grande educador brasileiro,
ele me disse uma vez e eu nunca esqueci,
espero que vocês guardem.
"Samara, se cada brasileiro cuidasse da educação
como cuida da escalação da seleção brasileira,
e da posição do seu time no campeonato,
nós teríamos muito mais a mostrar ao mundo".
Então, eu acho que isso deve ser lembrado,
estou aqui convocando todos a pensar a educação de forma diferente
e para terminar, eu queria mostrar um trabalho
que esses meninos fizeram no Nave,
pensando de forma diferente, ousando um pouquinho mais na educação.
Eles pegaram e fizeram um Twitter
estudando ao mesmo tempo vários tempos,
Cleópatra, Júlio César, Ricardo Coração de Leão,
e como eles se comunicariam em 140 caracteres e com a linguagem atual.
Eu deixo isso para vocês.
Preciso ler?!
Então, vai lá!
Bom, é isso, e fica aí uma ideia, já que aqui é um polo de ideias.
"O que você faria para resolver o problema do Brasil,
que para mim o maior problema seria a educação?"
E agora fica aí essa frase em meio a tantas ideias surgindo aqui.
Obrigada!