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Stubblebine, que comandou 16 mil soldados,
estava frustrado pelo seu fracasso em caminhar através da parede.
Ele não tem dúvida que um dia essa será uma ferramenta usual
no arsenal militar. Quem se meteria com um exército
capaz disso? A história é de um artigo da Playboy
que eu estava lendo outro dia. (Risos)
Eu tenho motivos para acreditar. Estava lendo a Playboy
porque a revista tinha um artigo meu. (Risos)
A intuição humana, treinada no Mundo Médio,
acha difícil acreditar em Galileu quando ele diz
que um objeto pesado e outro leve, desconsiderando o atrito do ar,
atingem o chão ao mesmo tempo.
Isso acontece porque no Mundo Médio, o atrito está sempre presente.
Se tivéssemos evoluído no vácuo, esperaríamos
que chegassem ao mesmo tempo. Se fôssemos bactérias,
constantemente atormentadas por movimentos moleculares,
seria diferente,
mas somos grandes demais para notar o movimento browniano.
Do mesmo jeito, nossa vida é dominada pela gravidade
mas é quase indiferente à tensão superficial.
Um inseto teria prioridades invertidas.
Steve Grand -- ele é o da esquerda,
Douglas Adams é o da direita -- Steve Grand, em seu livro,
"Criação: Como Fazer Uma Vida", é contundente
ao falar da nossa preocupação com a própria matéria.
Temos a tendência de pensar que somente coisas sólidas
são coisas de verdade. Ondas eletromagnéticas
no vácuo parecem irreais.
No Séc. XIX pensava-se que as ondas viajavam em um meio --
o éter. Nós achamos a matéria reconfortante somente porque
evoluímos para sobreviver no Mundo Médio,
onde matéria é uma invenção útil.
Um redemoinho, para Steve Grand, é uma coisa tão real
quanto uma pedra.
Num deserto da Tanzânia, ao pé do vulcão
Ol Donyo Lengai, há uma duna feita de cinzas vulcânicas.
A beleza está no seu movimento em conjunto.
Ela é tecnicamente chamada de barcana, e a duna inteira
se move pelo deserto na direção oeste
a uma velocidade de 17 metros por ano.
Ela retém sua forma de meia-lua e se move na direção das pontas.
O vento sopra a areia
declive acima até o outro lado,
e quando os grãos de areia chegam ao cume,
eles caem do outro lado da meia-lua,
fazendo toda duna se mover.
Steve Grand comenta que nós mesmos parecemos
mais com uma onda do que com algo duradouro.
Ele convida o leitor a "pensar numa experiência
da infância -- alguma coisa clara na memória,
que você possa ver, sentir, talvez até cheirar,
como se estivesse lá de verdade.
Afinal, você realmente esteve lá, não esteve?
Como mais se lembraria?
Agora vem a bomba: você não esteve lá.
Nem um único átomo do seu corpo atual esteve lá
quando o fato aconteceu. Matéria flui de lugar para lugar
e momentaneamente se junta para ser você.
Seja o que for, portanto, você não é material
do qual você é feito.
Se isso não faz você se arrepiar,
leia novamente até que faça. É importante."
"Realmente" não é uma palavra a ser usada com convicção.
Se um neutrino tivesse um cérebro,
que evoluiu de ancestrais do tamanho de um neutrino,
ele diria que as pedras são sim compostas de espaço vazio.
Nosso cérebro evoluiu de ancestrais de médio porte
que não podiam atravessar as pedras.
"Realmente", para um animal, é o que o cérebro necessita
para auxiliar a sobrevivência,
e como diferentes espécies vivem em mundos diferentes,
haverá uma inquietante variedade de "realmentes".
O que enxergamos não é o mundo natural,
mas um modelo do mundo, orientado por dados sensoriais
usados de modo a nos ajudar a lidar com o mundo real.
A natureza do modelo depende do tipo de animal que somos.
Um animal voador precisa um modelo diferente
de um animal terrestre, escalador ou aquático.
O cérebro de um macaco deve estar programado para simular
o mundo tridimensional de galhos e troncos.
O software de uma toupeira constrói modelos
personalizados para o uso subterrâneo.
Um inseto d´água não precisa de software 3D
porque ele vive na superfície do lago,
em uma Planolândia de Edwin Abbot.
Eu especulei que os morcegos vêm cores com os ouvidos.
O modelo de mundo necessário para navegar
em 3D e caçar insetos
deve ser similar ao modelo de uma ave.
Uma ave diurna como a andorinha, precisa realizar
os mesmos tipos de tarefas.
O fato do morcego usar ecos na escuridão
para lidar com as variáveis do modelo,
enquanto a andorinha usa luz, é acidental.
Morcegos, eu sugeri, utilizam cores, como vermelho e azul,
como rótulos internos para algum aspecto útil dos ecos --
talvez a textura acústica das superfícies, peluda ou lisa,
da mesma maneira que as andorinhas, ou, de fato, nós, usamos
as cores -- vermelho, azul, etc. --
para rotular os comprimentos de onda.
"Vermelho" não é inerentemente uma onda longa.
A natureza do modelo é governada por como
ele é usado, não pelo estímulo sensorial envolvido.
O próprio J.B.S. Haldane teceu comentários sobre os animais
cujo mundo é dominado pelo olfato.
Cães conseguem distinguir dois ácidos graxos bem similares:
ácido caprílico e ácido capróico.
A única diferença é que um deles tem um par a mais
de átomos de carbono na cadeia.
Haldane supõe que um cachorro seria capaz de colocar os ácidos
em ordem de peso molecular usando o cheiro,
assim como um homem colocaria as cordas de um piano
em ordem de comprimento baseado nas notas musicais.
Existe outro ácido graxo, o ácido cáprico,
que é parecido com os outros dois,
exceto por dois átomos de carbono a mais.
Um cachorro que nunca viu o ácido cáprico talvez
não teria mais dificuldade em imaginar seu cheiro do que nós teríamos
em imaginar um trompete tocando uma nota acima
da nota que ouvimos antes.
Talvez cães, rinocerontes e outros animais com olfato apurado
cheirem em cores. O raciocínio seria
exatamente o mesmo para os morcegos.