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Os românticos viveram numa era de decrescente crença religiosa.
Ao invés de irem para a igreja para se elevarem espiritualmente, eles iam para a natureza.
E eu acredito que dá para sentir isso no trabalho deles, que Deus e Homem são partes de uma coisa só.
Nós vivemos em um mundo muito diferente. Não há muito Deus nele, e menos natureza ainda.
Há apenas fragmentos de verde ao longo da margem de concreto.
A ideia de capturar Deus numa flor selvagem parece ser remotamente fantasiosa.
Um artista cujos desenhos capturam brilhantemente esse senso de desencantamento é George Shaw.
Eu vejo ele como o Constable do Counsellor State.
Quando eu entrei numa galeria de arte quando tinha 14 anos,
eu não vi o meu mundo na galeria de arte.
Se você fosse até lá...
Havia muitas imagens na parede. Imagens de reis e rainhas, campos angelicais...
Não era a minha vida que estava ali. Isso faz parecer que minha vida não vale a pena.
O que você via na galeria não era o seu mundo. Então você sai do seu mundo e entra na galeria.
Então eu pensei: "O que há de errado em abrir a janela e desenhar aquilo que está lá?"
E se você não acha isso bonito...
a culpa é sua!
Eu acho que o trabalho de Shaw é bonito.
E, inclusive, agora está nas paredes do museu.
As imagens dele possuem raízes nas ruas de Tile Hill, um subúrbio a oeste de Coventry, onde ele cresceu.
Elas não são apenas imagens perfeitamente precisas deste lugar.
Elas são a descrição de um estado de espírito. O Homem moderno, alienado,
em um grande cenário construído por ele mesmo.
E do mesmo jeito que o mundo físico mudou profundamente desde a época de Turner e Constable,
também mudou a maneira do artista capturar o lugar dele no mundo.
Você não vai achar George Shaw desenhando no meio da rua em Tile Hill. Ele nem sequer vive mais lá.
Agora ele faz tudo no estúdio dele de frente pro mar em North Devon,
a partir de humildes fotografias que ele tirou a muitos anos atrás.
Algumas pessoas já se referiram a mim como sendo um artista fora de moda.
Sentar com um lápis e caderno, fazer anotações concisas.
O fato de ter tido pessoas que fizeram isso no passado faz eles relacionarem com essa noção romântica da coisa.
?
Eu quero fazer o trabalho rapidamente, e eu quero pra agora.
Eu não sou um andarilho solitário que fica por aí procurando por inspiração.
Não é por aí, não é pela inspiração, é pelo trabalho.
Eu me sinto muito mais como sendo um caçador.
Eu começo com uma ideia que eu tinha do lugar de onde eu vim.
É uma coisa que vai em frente, tem menos a ver com memória de uma coisa que já se foi.
Tem muito mais a ver comigo no presente, olhando para alguma coisa no passado, que provavelmente não está mais lá.
O mundo natural, que é o meu mundo, é sempre uma terceira pessoa.
Ele tem uma outra vida, está em processo. Ele é ligeiramente irreal.
O Sol não ilumina nada. As paredes de tijolo não protegem nada. A grama não cresce.
Foi tudo planejado, a função foi completamente removida.
É apenas uma representação de um mundo dos sonhos que não existe.
Quando eu pego cadernos de desenhos que eu fiz a alguns anos atrás,
o que eu vejo ao olhar para eles é que cada um é como uma gravação, cada um é como uma leve marca no tempo.
As paisagens de Shaw são preenchidas com uma beleza melancólica.
Uma sensação de desejo, congelado, como um sentimento irreal.
Até os mais tranquilos como essa aquarela que é preenchida com a brilhante luz do entardecer,
tem uma intenção meio assustadora, como se a vida acontecesse, de alguma maneira, em um outro lugar.
Para mim, a coisa mais certa que vem do conhecimento do Shaw é que você não pode, de fato, congelar o tempo.
Assim como Constable, ele reconhece que o mundo está sempre mudando.
E ele não comemora isso. Ele lamenta isso, afirmando que toda mudança representa uma perda.
Eu acredito a arte dele é sobre o fim da inocência. Sobre nunca mais ser capaz de voltar para casa.
Mas também são uma maneira de dar vida aos fantasmas do passado com linha e papel.
Tile Hill permaneceu igual durante anos.
E tudo começou a mudar pra melhor, em muitas áreas.
Mas isso não era comum na cidade. Eu vivi lá e ela era destruída.
E não havia sequer uma imagem dela. Exceto pelos desenhos.
Isso não é muito de se orgulhar. Não é o que desejo para a Inglaterra.
Eu documento o lugar que seria completamente invisível.
Mas eu também documento uma vida que seria, de certa forma, invisível: a minha vida.
Se é para o meu bem, eu dedico muito tempo e atenção a isso.
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