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Pelos últimos 14 anos,
os livros de "Harry Potter"
já venderam quase
450 milhões de cópias,
transformando-a de escritora
com problemas
na autora de mais sucesso
do mundo.
Mas Jo não pôde compartilhar
seu sucesso
com uma das pessoas
com a qual ela mais importava.
Mamãe morreu assim que tinha
começado a escrever Harry Potter.
Me arrependo, na verdade, por
nunca ter mencionado a ela,
por ela ter morrido sem saber
nada sobre algo tão grande.
Ela sabia
que tinha ambições literárias,
mas não soube que havia
tido a ideia da minha vida.
O nome de solteira
da minha mãe era Anne Volant,
ela era um quarto francesa
e tinha bastante interesse
em suas raízes francesas,
mas nunca teve oportunidade
de explorá-las.
Então, a grande motivação
em procurar
pela história da minha família
é a minha mãe.
Está muito conectado a isso,
a esta perda.
LEGENDAS POR SCARPOTTER.COM
Tradução: Renato Delgado
e Flávia Sapienza
Revisão: Renato Delgado
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QUEM VOCÊ PENSA QUE É?
Jo Rowling mora
e trabalha na Escócia
mas traça suas raízes francesas
três gerações atrás.
O pai do pai da minha mãe,
Louis Volant,
se casou com uma mulher inglesa
e sei que não deu certo.
Sei um pouco
sobre o relato na guerra.
Foi muito corajoso
na Primeira Guerra Mundial.
Não sei todos os detalhes,
mas recebeu o Legion d'honneur.
Em 2009, a própria Jo
recebeu o Legion d'honneur,
a maior honra francesa,
pelos seus serviços
à literatura mundial.
Fiz meu discurso em francês
e foi uma oportunidade
em falar sobre Louis.
Meu bisavô era francês.
Ele se chamava Louis Volant...
Foi um dos prêmios mais
significativos que já recebi,
por causa
desta ligação familiar.
Mas não sei de verdade
de onde ele veio,
Não sei de que tipo
de família ele veio
e não sei nada sobre
as gerações anteriores a ele.
Jo decidiu iniciar
sua busca sobre Louis Volant
e suas raízes francesas
na capital escocesa.
Vou a Edimburgo
ver minha Tia Marian,
que está na casa
de amigos daqui
e é a irmã mais velha
da minha mãe
e é a última ligação
com a família francesa.
Nasceu uma Volant,
é seu nome de solteira.
-Olá, querida!
-Como está?
É adorável te ver.
Marian Fox é a tia
por parte de mãe de Jo,
e é filha de Stanley Volant,
o mais jovem dos 4 filhos
do bisavô de Jo,
Louis Volant
e sua esposa, Lizzie.
Marian trouxe a coleção
de cartas e fotos da família
para mostrar a Jo.
Estou bastante ansiosa.
Este é o famoso álbum
de casamento.
-Este é seu casamento com Les.
-Meu casamento com Les.
-Esta é minha cintura de 45cm.
-45cm. Minúscula.
Aqui está a mamãe.
Tínhamos esse vestido
para ocasiões formais,
-Era azul-claro.
-Exatamente.
Esta é Lizzie, sua bisavó.
-Ela era adorável.
-Era?
Me ensinou a rezar, me abraçava,
era uma vó nata.
Era muito bela.
Lizzie se casou com Louis.
Achou Louis?
Sim, há algo aqui.
Tenho uma foto.
-Nunca havia visto antes.
-Ele é lindo, não é?
Ele é belo, não é?
Este é o certificado
de Louis de boa conduta.
Certo.
É do Serviço Nacional, não é?
Sim, e olhe isso, Jo.
-Não nasceu no seu aniversário?
-Ele nasceu em 31 de julho.
Exatamente o mesmo dia.
Meu Deus.
Que bizarro. Mesmo dia
que eu e Harry Potter.
Pois é.
E nasceu no
10º distrito de Paris.
Acho que esta é
uma foto da mãe dele.
-Meu Deus!
-E seu nome era Salomé Schuch.
Uma mulher de características
muito fortes.
O que sabe sobre ela?
Pouco. Apenas que nasceu
no interior da França.
Quando e por que Louis
veio para a Inglaterra?
Sabemos que ele veio
por volta de 1890
e que trabalhou aqui
como garçom
em lugares como o Savoy.
Botecos com classe.
Botecos com classe, sim.
E foi lá onde conheceu Lizzie,
que trabalhava como enfermeira
para uma família do Marble Arch.
Dê uma olhada aqui.
São cartas que Louis escreveu
a Lizzie, ao passar dos anos,
desde quando
eles se conheceram.
Me fizeram chorar,
são muito adoráveis.
-"Querida Lizzie."
-Tudo é "minha querida Lizzie".
Este foi escrito
por volta de 1896.
-Certo.
-E ele precisava voltar a Paris
para fazer
seu Serviço Nacional.
"Agora, querida, só tenha mais
um pouco de paciência.
"Talvez esta seja a última
das cartas que escrevo a ti,
"então, todo meu amor
e beijos à minha querida Lizzie.
"do seu eterno Louis.
"P.S.: Escrevo em breve, Liz,
o tempo vai voar agora.
"Ta-ta, meu amor."
É adorável, não é?
Muito doce.
E esta é a foto de casamento
de Lizzie e Louis.
-Percebe-se o que os atraiu.
-Sim, sim.
Ela tinha 25 e ele, 22.
Então era muito jovem, não?
Bastante.
Esta é a primeira foto
de família com bebê,
quando Marcel nasceu,
em 1901, acho.
Certo.
Na verdade é muito tocante.
Porque sabemos
que o casamento não deu certo.
Exatamente.
Quando foi que Louis
deixou a família?
Não sei. Sempre houve
um pouco de mistério.
Louis teria voltado à França
por alguma razão
e Lizzie não iria junto,
não iria empacotar
as coisas e ir à França.
-Certo.
-Então se separaram.
Depois disso,
não temos foto da família.
-Temos esta, da Primeira Guerra.
-Meu Deus!
-Sim, é...
-É sua carteira de identidade.
Não havia uma foto dele
usando sua Legion d'honneur?
Não, esta foi a única coisa
de seus feitos que encontramos.
A insígnia da Legion d'honneur,
mas não a medalha.
Não é maravilhoso?
Deus.
Adoraria saber a citação
por ele ter recebido a medalha,
porque sinto que ele fez
algo muito corajoso
e infelizmente não sabemos
o que foi.
-E tenho orgulho dele.
-Eu também.
Onde ele foi enterrado?
-Não sei onde foi.
-Não sabemos?
Nada, porque não houve
funeral que algum conhecido foi.
E não há mais ninguém
para se perguntar.
-Vou colocar de volta, Jo.
-Certo.
Quero que leve com você.
-Procure Louis e Lizzie por mim.
-Vou mesmo. Muito obrigada.
-Vou procurá-los.
-Obrigada.
Sinto um interesse estranho
por Louis.
Ele deixou a França para ir
a Londres, uma cidade enorme
que também é uma estrangeira,
já que ele é imigrante.
É muita coragem.
E achei as cartas
muito comoventes,
este rapaz tão jovem escrevendo
para sua namorada inglesa.
E Marian me contou que ele
era garçom e trabalhava no Savoy
então vou a Londres.
O bisavô de Jo, Louis Volant,
chegou a Londres por volta de 1890
e trabalhou como garçom
antes e depois da 1ª Guerra.
Jo chegou ao famoso Hotel Savoy
na rua Strand
onde Louis trabalhou
na década de 20.
Ela veio se encontrar
com a historiadora social
Constance Bantman,
que tem pesquisado
a vida de Louis em Londres.
Estamos aqui,
no restaurante River, em Savoy,
que foi onde Louis trabalhou
entre os anos de 1919 e 1927
e esta foto mostra
o restaurante funcionando.
Adoro isso. É tão década
de 20, tão glamuroso.
Era um dos melhores, se não
o melhor restaurante do mundo.
-E Louis era chefe dos vinhos.
-Era chefe dos vinhos?
-Sim.
-Louis!
E ele recebeu um prêmio
por isso, francês,
chamado Chevalier
du Merite Agricole.
-Está brincando!
-Não, não mesmo.
É uma distinção
de muito prestígio.
-E foi dado a ele em 1922.
-E aqui seu título em francês.
"Chef du service des vins
au Savoy Hotel."
Muito justo para ele,
um francês da classe baixa
que veio a Londres,
ele cresceu na profissão.
Com certeza.
Tivemos muita sorte
que o Savoy mantém o arquivo
de seus empregados anteriores
e aqui está sua carteira.
Meu Deus.
A carteira do Louis.
E a carteira contém
o histórico de emprego.
A carteira de trabalho de Louis
revela que para chegar ao Savoy
ele precisou trabalhar
onde dava
desde sua chegada
em Londres em 1890.
Instabilidade política da França
e transporte mais barato
encorajaram jovens franceses
à procura de trabalho em Londres.
Na virada do século, havia muitos
franceses pobres imigrantes
espremidos em uma parte de
SoHo chamada La Petite France.
Muitos procuraram trabalho em
grandes restaurantes da cidade.
A carteira de Louis relata
que ele trabalhou de garçom júnior
no elegante restaurante Princes'
em 1899.
Este é o restaurante Princes'.
Dá para ver adjacências
muito ricas e opulentas.
Onde fica?
-Fica depois do Piccadilly.
-Sério?
Era um lugar muito legal
administrado por franceses.
Ele conseguiu mais dinheiro aqui
do que conseguiria em Paris?
Sim, aqui, um garçom francês
recebe um salário imenso.
Esse tipo de local
procurava franceses.
-Exato.
-Sim.
O Princes' atendia a demanda
da multidão do teatro,
então fechava
em horas impossíveis,
e teria sido
um trabalho exigente.
Tenho essa carta e é de...
e é encabeçada
com o restaurante Princes'.
Está escrevendo
para sua esposa, Lizzie,
ela tinha voltado para a casa
de seus pais em Norfolk
e aqui ele diz: "Me pediu
para tentar vir próximo domingo,
"mas creio
que seja um azar,
"porque haverá almoço para
60 franceses com permissão,
"então não vale a pena
pensar no momento."
Ele não pôde ver a esposa
porque teve que trabalhar tarde.
Sim. E é claro que era uma
das características notáveis,
-era uma vida difícil.
-Sim.
Louis precisava trabalhar
até 2, 3, todos os dias.
Meu Deus, é mesmo.
Sim, uma vida muito difícil
e ganhava provavelmente
uns 40 xelins por mês,
que é umas £ 80 atualmente.
E na época em que a carta
foi escrita,
estava sustentando uma esposa
e uma criança também.
Exatamente,
e podemos imaginar a tensão.
Não havia muito tempo
para a vida de casado.
Se olharmos o census de 1911.
Veja aqui.
Então teremos, Lizzie
é listada primeiro, como esposa
e foi riscado por cima para pôr
"chefe", de chefe da família.
Então o casamento
já havia acabado em 1911.
E Stanley, meu avô,
tinha apenas 1 ano.
Isto me faz ter vontade
de chorar.
E então ele foi embora.
E aqui está ele. Louis Volant.
Tem 33 anos, ainda casado,
mas tinham se separado.
Agora mora na rua Upper
James, nº 6, em um quarto.
Isso é tão triste.
Achei que o que fez, vir
da França enquanto rapaz
e aí trabalhar muito para ficar
no topo de sua profissão,
admirável,
simplesmente admirável.
Mas quando vi o census em que
eles estavam morando separados,
senti como se acontecesse
aquela hora
e acho que o momento
mais comovente de todos
foi ela escrever "Sou esposa"
e um outrem riscar em cima,
"não, agora você
é a chefe da família".
E então, pouco depois, em 1914,
Louis estava na guerra.
3 anos após o rompimento
do seu casamento,
e 20 anos depois
de sua chegada à Inglatera,
Louis Volant foi chamado
para servir ao Exército Francês
no começo
da Primeira Guerra Mundial.
Sei que ele recebeu
o Legion d'honneur
por seus feitos
na Primeira Guerra,
mas não sei ao certo
o que houve com ele.
Jo decidiu viajar a Paris
para descobrir como seu bisavô
se tornou um herói de guerra.
Em umas cartas que Marian
entregou a ela, Louis escreve
a sua família separada
durante a guerra.
"Queridas Lizzie e filhos,
espero que estejam bem.
"Sem novidades aqui,
continua uma questão de sorte.
"amor e beijos para todos,
"de Papa. 1915." Quer dizer
que ele tinha 37,
que é meio velho para ser
mandado para a guerra.
Na verdade, nessa foto, acho
que parece ter mais que 37 anos.
Diz que ele era intérprete
e há vários carimbos
mas não me diz muita coisa
sobre ele ou o que fez.
Para ver se consegue encontrar
a razão por seu bisavô ganhar
o Legion d'honneur, Jo chegou
ao arquivo nacional de Paris.
O Archives foi fundado em 1808
e tem os documentos estatais
mais importantes da França,
incluindo o arquivo dos
que ganharam o Legion d'honneur,
a maior condecoração francesa.
Claire Bechu é diretora suplente
do Archives.
Isto é incrível.
Na verdade, é a Biblioteca
de Hogwarts, para mim.
Este é o dossiê
de Legion d'honneur
-Sim.
-de Louis Volant.
Dentro há alguns documentos,
esse aqui foi escrito
pelo próprio Volant.
-Louis escreveu isso?
-Sim.
Lendo essa carta,
vemos que ele foi ferido.
Ferido no Forte de...
-Fort de Vaux, perto de Verdun.
-Na noite de 5 de junho.
Ele leva granadas para o Forte.
Então ele estava levando
armamentos para eles.
Ele estava levando granadas
para o Forte.
Do outro lado,
eles mencionam os ferimentos.
Meu Deus.
Ele perdeu metade de sua visão
no seu olho direito.
-E também perdeu 7 dentes.
-Meu Deus.
"Perte du membre."
-Isso é a perda de um membro?
-Sim.
Extremamente invalidado.
Bom, na capa,
tem a data de nascimento,
16 Juillet, 1878,
o local, Ordonnaz.
Certo. OK.
Não acho que esse
seja o meu bisavô.
Por quê?
Porque...
existem várias
discrepâncias aqui.
Meu bisavô era
Louis Volant, é o mesmo nome,
mas ele nasceu...
em um dia diferente.
A data está diferente.
Veja, aqui está 31 de julho.
Isso dá uma data diferente
de nascimento. 16 de julho.
16 de julho de 1878.
Deus.
Será que pode haver outro
arquivo para um Louis Volant,
ou esse é o único
que você...?
-No nosso banco de dados...
-Esse é o único.
Esse não é o meu Louis.
Esse é um homem
muito corajoso,
mas, sabe, até quando
colocou isso na minha frente
pensei que essa não
fosse a caligrafia dele
porque tenho incontáveis
exemplos da caligrafia dele
que a família guardou e essa
é uma caligrafia diferente.
É muito diferente.
Então sim.
É realmente ispirador ouvir
o que esse homem fez,
mas não é o meu bisavô.
Esse não é o meu bisavô!
Descobri que o homem
que ganhou o Legion d'honneur
não era o mesmo homem
que o meu bisavô,
então essa história de família,
de onde veio?
Existia em algum momento
uma decepção com propósito,
ou o que existia era um erro
inocentemente cometido
em algum momento com alguém
olhando pelos registros,
e ainda não sei o que realmente
aconteceu na guerra de Louis.
Sei o que aconteceu com
outro Louis, um muito corajoso,
mas não sei o que aconteceu
com o meu Louis.
Então quero continuar
procurando, quero descobrir.
É um sentimento estranho, porque
continuo pensando na minha mãe.
Acho que ficaria fascinada por
isso, simplesmente fascinada.
Acho até que ficaria fascinada
ao saber que não era verdade,
a história que acreditou
não era verdade.
Ela iria muito querer saber.
O Chateau de Vincennes
é uma fortaleza do século XIV
no arredor de Paris,
que guarda todos
os registros históricos
das forças armadas da França,
alongando-se ao passado
por 400 anos.
Jo marcou de encontrar
o historiador militar
Capitão Ivan Cadeau
para descobrir o que de fato
aconteceu ao seu bisavô
durante a Primeira Guerra.
-Olá.
-Olá.
-Você é o Ivan?
-Sim, sou o Capitão Cadeau,
-prazer em conhecê-la.
-Olá, Capitão Cadeau.
Muito obrigada.
Obrigada.
Meu bisavô era um
homem chamado Louis Volant.
E me disseram que ele recebeu
o Legion d'honneur
e a minha tia me deu isto.
Agora, ela parece pensar
que isso confirma
a história do Legion d'honneur.
Não estava certa porque
recebi o Legion d'honneur
e não tenho nada
como isto.
Conheço esse tipo de prêmio.
É o prêmio da
Sociedade Sindical.
Então é uma insígnia
de sindicato.
Sim.
Não é um prêmio militar.
-Certo. Isso faz...
-Sinto muito.
Não, faz todo sentido,
todo sentido.
Esse é definitivamente
meu bisavô.
Certo, olhe para o número.
-782...
-782...
-E olhe para isso. 782.
-Você o encontrou.
-Esse é o seu bisavô.
-31 de julho.
-Certo.
-Meu aniversário, veja.
Louis Volant estava
no 16º Regimento Territorial
e territoriais eram soldados
de idade entre 35 e 40 anos.
O trabalho deles
não era lutar, certo?
Isso, sim, certo.
Mas resguardar as rodovias,
estradas ou pontes.
-Entendo.
-Só tinham 15 dias de treino.
-15 dias...
-Muito, muito pouco.
Sabemos que seu bisavô
estava nesta pequena vila
-chamada Courcelles-le-Comte.
-Sim.
Em outubro de 1914,
houve uma grande batalha lá.
Na explosão da Primeira Guerra,
o Exército Alemão fez um ataque
surpresa à França pela Bélgica.
O objetivo era capturar Paris
e clamar uma vitória rápida.
Foram detidos no rio Marne,
que fica a 50km da capital,
custando 250 mil mortes
do lado francês.
Os alemães foram pressionados
de volta ao nordeste,
mas em 3 de outubro de 1914,
tentaram atacar o flanco francês
através da vila
de Courcelles-le-Comte.
A vila era resguardada
pelo 16º Regimento Territorial,
que nunca deveria funcionar
como linha de frente de ação.
Entre os soldados despreparados
estava o cabo Louis Volant.
Este é o diário regimental
da 16ª Infantaria Territorial.
"4:30: O ataque da Infantaria
alemã começa e na mesma hora
"e os moradores da vila são
bombardeados com melanite."
-O que é melanite?
-É pó.
-É pó.
-Pó.
Com o que o Exército
Territorial tinha para lutar?
Os soldados territoriais
não tinham artilharia alguma.
-Só tinham rifles?
-Sim.
Contra essas forças.
Meu Deus.
"9:00: o canhão de fogo
fica mais intenso
"e não é mais possível
deixar a trincheira."
Isso é ruim, horrível.
"A infantaria inimiga avança
rapidamente a nordeste e sudeste
"e estão se aproximando
do flanco.
"Enquanto isto, o Major Denoux
é baleado no pescoço
"e Capitão Goubet se fere com um
pedaço de lasca em sua cabeça."
Aí, a maior parte dos oficiais
estão mortos ou machucados.
"O tiroteio constante do inimigo
"causa grandes prejuízos
para a linha de ataque,
"e isto teve um efeito
desmoralizante nos soldados
"que já tinham aguentado 5 dias
consecutivos de borbandeamento.
"Porém, o 16º Regimento com
coragem resiste até 10:25."
-Sim.
-Meu Deus.
Depois de 7 horas
de ataque alemão
e tendo perdido 800 soldados,
quase um terço da força,
o 16º Regimento Territorial
recuou de Courcelles,
deixando um pequeno pelotão
para cobrir a retirada.
Um desses homens
é seu bisavô, Louis Volant.
Este é o relato do serviço dele.
"Na batalha de outubro,
ele comandou uma seção
"e apoiou seus companheiros
sob bombardeio violento.
"Com a grande calma
que ele tinha..." Meu Deus!
-"Ele matou..."
-Ele matou.
"diversos soldados alemães."
Para proteger sua posição
e defender seus companheiros.
Meu Deus.
"Foi machucado seriamente no
braço e de lado por um...
-"uma bomba."
-Uma bomba.
Meu Deus do céu.
Então, seu bisavô,
Louis Volant,
que era, antes da Guerra,
um homem comum, garçom.
-Ele era garçom.
-E bom soldado quando recrutado.
Sim, mas...
-Sim.
-15 dias de treino para isso.
Sim, se tornou
um herói em Courcelles.
Mesmo com seus oficiais mortos,
ele ainda estava lá,
lutando.
Demais.
Por sua bravura,
seu bisavô ganhou
La Croix de Guerre.
O Legion d'honneur
é um prêmio para oficiais.
Então, Croix de Guerre,
é um prêmio para o batalhador.
É melhor. A Croix de Guerre é
bem melhor que Legion d'honneur.
-É a medalha do lutador.
-Na minha opinião.
É maravilhoso.
Muito incrível.
Sua família tem
a Croix de Guerre?
-Não que eu saiba.
-Não tem?
Aqui...
Está brincando.
Tenho a Croix de Guerre
com a estrela de bronze,
exatamente a mesma
que seu bisavô ganhou
e ficaria muito honrado
se aceitasse...
-Muito obrigada.
-em memória ao seu bisavô.
Muito obrigada mesmo.
Por favor, por favor.
Não há de quê.
Meu Deus.
Obrigada.
Agora entendo como aconteceu.
Existem dois homens
com o mesmo nome,
que realmente foram
heróis de guerra.
Meu bisavô voltou para defender
pontes e estradas
e aí ele se vê no meio de uma
batalha incrivelmente sangrenta.
E meu Louis,
que era garçom,
e um homem muito comum,
mas para mim nem um pouco,
ele salta dentro da ação.
Sempre fiquei impressionada
com bravura contra estranheza.
Sabe, bravura quando
aparenta estar derrotado.
Bravura quando, "certo,
vamos morrer, mas vamos lutar".
E foi o que ele fez.
A resistência heroica
do 16º Regimento Territorial
em Courcelles ajudou
a deter o Exército Alemão
de quebrar
as fronteiras francesas
e Paris permaneceu em controle
francês pelo resto da guerra.
Louis se recuperou
de seus ferimentos
e continuou servindo
como intérprete do exército.
Ele continuou a escrever
a Lizzie e a seus filhos.
É incrível olhar para
essas cartas de Louis
para sua família na Inglaterra.
Há uma carta aqui de 1918.
Deve estar chegando perto
do fim de seu serviço.
Deve estar prestes
a ser dispensado.
E então voltou
a Londres, sei disso,
e trabalhou no Savoy
por todos esses anos.
E então reaparece na França.
O endereço é uma área
chamada Maisons-Laffitte,
Não sei onde é,
mas parece que morou lá,
nesta última parte de sua vida,
então adoraria ir lá,
adoraria saber onde Louis
está enterrado.
No começo da década de 30,
Louis deixou Inglaterra
e sua família para sempre,
se aposentando na calma cidade
de Maisons-Laffitte,
fora de Paris.
Ele morreu lá em 17 de setembro
de 1949 aos 72 anos.
Jo fez contato com o cemitério
local de Maisons-Laffitte,
de onde tem registro
do enterro de seu bisavô.
O atendente do cemitério Max
concordou em mostrá-la
onde Louis está descansando.
Vamos virar à esquerda.
Jo é a primeira na família
a visitar o túmulo de Louis.
-Voilá.
-Aqui está?
Sr. Louis Volant descansa
em um túmulo público.
Por quê?
Depois de certo tempo,
se a família não aparecer,
o cadáver é desenterrado.
Bem, os restos do corpo...
Então foi enterrado de volta
em um túmulo público.
Lamento.
Louis foi posto
em um túmulo público
e isto é uma surpresa terrível.
Perguntei-o quantas pessoas
há neste túmulo,
porque na hora, pensei
"certo, vou querê-lo fora daí",
e me certificarei de que ele
será enterrado propriamente.
Mas realmente não sabem
quantas pessoas
foram colocadas neste
túmulo público, então...
Achar os restos de Louis
poderia ser muito difícil.
Louis foi enterrado inicialmente
em uma cova única,
mas como o cemitério
ficou lotado
e nenhum de seus parentes
foi localizado,
seus restos foram deslocados
em 1968.
Vou falar a verdade,
parte de mim está irritada.
Porque ele tinha família.
E até recentemente,
ele tinha família próxima
já que seu último filho
morreu há não tanto tempo.
E certamente, minha mãe,
que era tão interessada em
saber onde ele foi enterrado,
pode não ter tido ideia
do que aconteceu.
É um final inadequado para
um homem tão extraordinário.
Ontem foi traumático.
Eperava andar
naquele cemitério
e ter, acredito,
uma parada pura e satisfatória
e não foi nem um pouco
pura e satisfatória.
Foi bastante incômoda para mim.
Então não quero que
essa história acabe aqui.
Quero descobrir mais.
Jo sabe que Louis nasceu
no 10º distrito de Paris
em 1877, e que sua mãe
se chamava Salomé Schuch.
Para ver se consegueria
descobrir mais sobre Salomé,
ela foi aos arquivos
hospitalares de Paris,
onde os registros de nascimento
da cidade são guardados.
A genealogista Karen concordou
em ajudar Jo em sua busca.
-Olá, você é Karen?
-Sim.
Oi, como vai você?
Eu sou Jo.
-Prazer em conhecê-la.
-Prazer em conhecê-la também.
Todas as certifidões
estão organizadas por data.
Certo.
Coloque o número
do distrito.
-10º distrito.
-E a data.
31 de julho de 1877,
sim, perfeito.
-Rechercher?
-Sim.
Então estamos buscando
por Volant.
-Pode dar zoom com isso.
-Com isso.
Estamos em julho.
31 Juillet.
Sim. Mas não há Louis Volant
nessa página.
Schuch. Salomé Schuch,
é ele.
Esse é o nome de sua mãe.
-Então esse deve ser ele.
-Sim.
-"Louis, menino, nascido ontem.
-"Nascido ontem.
"Às sete horas
da manhã.
"Filho de Salomé Schuch,
23 anos, empregada doméstica."
Ela era uma empregada.
Mas não é Louis Volant,
é Louis Schuch.
Ele não nasceu
como Louis Volant?
Sim, não há nome do pai.
Não tem pai?
Meu Deus.
Temos uma empregada grávida.
Uma empregada grávida solteira.
Segundo a lei francesa
do século XIX,
mães solteiras como Salomé
tm que reconhecer legalmente
seus filhos ilegítimos se
quisessem mantê-los.
-Eu vejo um Louis.
-Louis, sim. Salomé Schuch.
Empregada de 23 anos reconhece
seu filho natural, Louis.
Tinha grande esperança
em Salomé,
não achei que ela fosse
abandonar o filho.
-E não temos o nome do pai.
-E sem nome do pai.
-Ela assinou ali.
-Ela assinou,
-essa é a assinatura dela.
-Sim, essa é a assinatura.
Karen encontrou mais informações
sobre Salomé
no registro de admissão
do hospital.
Meu Deus.
"Schuch. Salomé Schuch,
23 anos, empregada."
Ela é solteira.
Assim como todas essa mulheres
e elas são todas solteiras.
Várias e várias
entradas como essa.
Sim, era muito comum
nesse período em Paris,
30% dos bebês parisienses
serem ilegítimos.
Sério?
Então ela ficou no hospital
por 8 dias.
-8 dias.
-E como uma empregada,
provavelmente vivia com a
família para a qual trabalhava.
Provavelmente.
-Então vivia na rua Clauzel, 19.
-No 9º distrito.
9º distrito,
é próximo daqui?
Sim, não é muito distante daqui.
Estou muito intrigada sobre
Salomé Schuch.
Era uma empregada,
uma criada, presumo,
e temos um endereço
de onde
vivia e trabalhava
quando Louis nasceu,
então estou interessada
em ver aquela casa
e saber onde
estava nesse tempo.
Jo descobriu
que enquanto jovem,
sua tataravó,
Salomé Schuch,
trabalhou como criada
no norte de Paris.
Para descobrir mais,
marcou de encontrar
a historiadora e escritora
Marlowe Johnston.
Olá.
Você é a Marlowe?
-Eu sou Marlowe.
-Eu sou Jo. Como vai?
Esse é o nº 19
da rua Clauzel,
onde sua tataravó morou.
-Vamos entrar?
-Adoraria entrar.
Esse é o primeiro andar
e esse documento
mostra todos que
moravam no prédio.
Todo andar
tem vários apartamentos.
O maior seria aquele.
-De frente para a rua?
-Sim.
Pessoas que viveram ali
seriam mais prósperas.
Tinha uma dama
nesse andar
chamada Demoiselle Raymond.
Certo.
Tinha 2 apartamentos nesse
andar, o que é incomum.
Por isso,
precisaria de uma criada.
Os dos menores apartamentos
não precisariam de uma criada.
O zelador lá embaixo faria
tudo que precisassem.
Então, se Salomé era a criada,
que tipo de tarefa
se esperaria que ela
tivesse que fazer?
Se foi a única criada,
cozinharia e fazia faxina.
Teria que buscar
e carregar carvão.
Buscar e carregar água.
O trabalho pesado, físico?
Com certeza seria
o trabalho pesado.
É estranho pensar que ela
andou por essas escadas.
Sim!
Aqui é onde ela teria vivido.
Meu Deus.
Um, dois, três, quatro.
Isso é incrivelmente apertado.
Eram pequenos,
esses quartos.
Dariam uma cama, talvez
uma pequena pia, e nada mais.
Toda manhã ela deve ter descido
para fazer seu trabalho,
e subiria à noite
para a cama, deve ser assim.
Era apenas uma cama para
se dormir, não era nada mais.
Criadas domésticas
como Salomé
estavam próximas do fundo da
escala econômica e social
no fim do século XIX em Paris.
Não só ganhavam menos que
outra mulher trabalhadora,
como eram geralmente forçadas
a trabalhar por longas horas
e tinham pouca proteção
contra empregadores abusivos.
Por volta de 1880, domésticas
também eram contadas
por ter mais filhos
ilegítimos na cidade
do que em
qualquer outra profissão.
Se uma criada ficasse grávida,
presumo que não seria algo
que fosse querer
-que o patrão soubesse.
-Não, ela esconderia.
Se achasse que devesse dizer,
ou se estivesse ficando óbvio,
as chances seriam
de que ela fosse demitida.
Mas, nesse prédio,
estando grávida,
subindo e descendo escadas,
e é claro que guardou isso
o quanto pudesse.
Salomé, que vida.
Marlowe esteve pesquisando
o que aconteceu a Salome
depois de ter dado Louis
à luz em 1877.
Encontrou alguns documentos
e quer mostrar para Jo.
18 meses depois,
ela se mudou da rue Clauzel
para a rue Milton,
-e teve outro bebê.
-Salomé!
-Chamado Gabriel.
-Gabriel, outro filho.
Gabriel Jean,
em dezembro de 1878.
Certo. O nome Volant
apareceu pela primeira vez...
Porque este é filho
de Pierre Volant.
Exato.
-Eles não se casaram.
-Não.
-Mas estavam vivendo juntos.
-Sim.
Ele reconhece a criança
como sua própria porque ele...
-Porque ele disse que era o pai.
-Disse que era o pai.
Então estou gostando bastante
de Pierre nesse momento.
Salomé não é mais criada.
Ela é uma couturiere.
Ela é.
Ela é costureira.
Então ganhou um homem
e uma profissão...
-Sim.
-Em 18 meses.
-Sim, não é ruim, é?
-Bom para Salomé!
Sim.
E, em 1883...
-Ela está casada!
-Isso mesmo.
Esse é o certificado de
casamento. Se ler embaixo,
essa é a sentença crucial.
"Pelo fato de seu casamento,
"eles reconhecem e legitimam
quatro crianças...
"do sexo masculino."
Teve quatro filhos,
nesse ponto.
Sim, mas quando
você os legitima,
então eles podem herdar.
Não poderiam, de outra forma.
Nenhuma criança ilegítima
poderia herdar.
Mas também percebo que só Louis
está listado como Louis Schuch,
e os demais têm o nome Volant,
presumidamente do nascimento.
Estou só imaginando se esse
Pierre era um homem decente,
que se apaixonou por Salomé
e disse,
"Vou assumir responsabilidade
por uma criança pré-existente."
É possível e esse tipo
de coisa acontecia.
Gosto muito de Pierre Volant.
Homem decente,
fez a coisa certa,
estou me afeiçoando
a ele agora.
E então, Salomé veio de
Brumath. Onde fica Brumath?
É na Alsácia,
perto da fronteira alemã.
E Schuch não
é um típico nome francês.
Não, é um nome germânico.
Alsácia-Lorena
sempre foi uma mistura
porque mudou constantemente
entre França e Alemanha.
Então, ela nasceu
na fronteira com a Alemanha.
Exato.
Descobri que
minha tataravó
esteve, em um momento,
em situações muito ruins.
E, se existe uma coisa
que está bem clara,
era uma mulher que foi
uma sobrevivente.
Ela não decairia.
Existe, definitivamente,
um paralelo aqui.
Há 20 anos, estava ensinando
e escrevendo no meu tempo livre,
e não tinha um tostão.
E não muito depois disso,
porque minha filha tem 18 anos,
virei mãe solteira.
Então sinto a conexão aí.
Jo decidiu viajar 400km
de Paris
à região na Alsácia
onde Salomé nasceu.
É uma área de agricultura rica,
que forma parte da fronteira
francesa com a Alemanha,
e tem sido causa
de vários conflitos brutais,
que datam
de até mil anos trás.
A vila de Brumath fica
a 15km da fronteira alemã.
Para procurar informações
sobre Salomé e sua família,
Jo foi ao centro administrativo
da cidade.
Bonjour,
você é a Stephanie?
-Sim, sou eu.
-Olá.
-Oi.
-Como vai?
Bem, obrigada.
Stephanie Fisher, do escritório
do prefeito, aceitou ajudá-la.
Sabe que estou procurando
sobre minha tataravó.
-Sim.
-Salomé...
Digo Schuch,
mas é "Schoosh".
-Schuch.
-É Schuch? Certo.
Tenho aqui a certidão
de casamento dela,
e tem todos os detalhes
de seu nascimento.
"Nasceu em...
cinquante quatre."
Então é 1854.
Que livro é este?
São as certidões de nascimento.
Aqui está Salomé Schuch.
Encontramos ela.
Fantástico.
Certo, Salomé Schuch,
"nascida em 10 de março
de 1854,
"filha de Jacques Schuch,
de 28 anos,
"e ele era..."
Não consigo ler bem.
Um alfaiate?
"Tailleur de pierres."
Significa talhador de pedra.
Canteiro, certo.
"E Christine Berg..."
-"Bergtold."
-Bergtold.
São nomes bastante germânicos.
Sim, muita gente da Alsácia
tem ancestrais alemães,
talvez na Suíça.
É comum aqui.
E viveram aqui, em Brumath?
-Isso. Aqui está o census.
-Fantástico.
Aqui podemos ver
a família inteira, em 1861.
Jacques Schuch
e Christine Bergtold,
e aqui estão
todos os filhos.
Catherine, Salomé, Marguerite,
Dorothée e Christine...
Cinco meninas
e nenhum menino.
Pois é.
Salomé era
a segunda mais velha.
Tinha oito anos.
"E Jacques Schoosh..."
Schuch.
-Jacques, sim.
-"Jacques Schuch era um..."
Meu Deus, o que ele era aqui?
Não era canteiro.
Era um tipo de canteiro,
só que talhava arenito.
Não parece
uma profissão muito lucrativa.
Não, não tinham
muito dinheiro.
Um pouco pobres
e tinham 5 filhas.
Sim.
Jo descobriu
que sua tataravó, Salomé,
era a segunda mais velha
de Jacques Schuch
e Christine Bergtold.
O casal ainda teve uma 6ª filha,
Madeleine, em 1861,
mas 4 anos mais tarde,
uma tragédia abalou a família.
Este é o atestado
de óbito do pai.
Jacques Schuch morreu em 1865.
-Não! Ele só tinha 39 anos.
-Pois é.
Salomé perdeu o pai
aos 12 anos.
Deus, que triste.
Isso é terrível.
E também houve outro bebê.
Aqui.
Jacques Schuch.
Nasceu após seu pai morrer.
Depois da morte do pai?
Um mês depois. A mãe estava
grávida quando ele morreu.
Isso é terrível.
Então ficou viúva
aos 30 e com 7 filhos.
E não tinha emprego,
então deve ter sido difícil.
Não tinha emprego.
Isso é triste.
Este é o atestado de óbito
da mãe, em 1896.
-Não foi uma morte prematura.
-Não, não.
Pelo menos.
Espera, o que aconteceu
com a língua?
De repente está em alemão.
Sim, o livro todo
está em alemão
porque esta área
na França era alemã.
Quando mudou? Porque estivemos
na França o tempo todo.
Quando a Alemanha tomou posse?
Em 1870 por causa
da Guerra Franco-Prussiana.
Tem algum documento mostrando
o que aconteceu à família
-enquanto os alemães...
-Não aqui.
Aqui só temos atestados
de óbito e nascimento.
-Só de óbito e nascimento.
-Exato.
Estou chocada com a quantidade
de mães solteiras
das quais sou descendente
desta parte da família.
Teve Lizzie, primeiramente.
E então Salomé.
E agora Christine,
que era viúva aos 30 anos,
e teve 7 filhos.
Então, muitas mulheres
sustentando famílias sozinhas.
Outra coisa impactante
foi esta mudança súbita
do francês para o alemão,
então estou entusiasmada
em descobrir o que aconteceu
à minha família na época em que
os prussianos estaveram aqui.
Jo descobriu que Salomé
vivia em Brumath em 1870,
na explosão
da Guerra Franco-Prussiana.
Para descobrir mais,
ela marcou encontro com
o historiador militar local,
Benoit Sigrist.
-Bonjour.
-Bonjour!
-Você é o Benoit?
-Sou Benoit.
Olá, sou Jo.
-Prazer em conhecê-la.
-Igualmente.
Brumath era uma cidade normal
antes da guerra.
3 mil pessoas viviam aqui em casas
como esta, típicas da Alsácia.
-Certo.
-Ou como esta aqui.
-Essa é a casa de sua família.
-Está brincando?!
-Aquela?
-Nessa casa, Salomé morou.
Não acredito.
Sério?
Vamos ver a casa.
-Olá, como estão?
-Bem!
-Vocês moram aqui?
-Somos os proprietários.
-Posso entrar?
-Sim, entre!
Merci beaucoup!
-É meio pequena.
-Não acredito.
É incrível. Nunca sonhei
que veríamos a casa.
Absolutamente incrível.
Benoit encontrou
um acordo de residência
para a casa, que a mãe
de Salomé, Christine Bergtold,
assinou 3 anos após
a morte de seu marido.
O dono concedeu o uso da casa
para Christine Bergtold
e os filhos dela.
-Para usar, não a possuía.
-Não era a dona.
Isso é muito tocante...
"Jacques, filho póstumo.".
-Ele nasceu depois...
-Depois da morte de seu pai.
Então, Jacques
nesse momento tem...
Ele tem 3 anos.
Sim, e viveu nesta casa
até morrer.
-Em 1943.
-Em 1943, ele morreu?
Então essa era a casa de Jacques.
E aqui está Salomé.
Tinha 12 anos
quando o pai morreu.
-Sim.
-14 agora.
2 anos e meio depois, a Guerra
Franco-Prussiana estourou,
40 quilômetros distante
do norte, longe de Brumath.
Minha família parece ter
um talento verdadeiro
para estar onde
tivesse problema.
Em todo lugar que vou, alguém
largou bombas ou atirou.
Então, nesse momento,
as pessoas da área
se consideravam francesas?
-Eram muito patrióticos.
-A lealdade era da França?
Claro.
Em julho de 1870, quando Salomé
tinha apenas 16 anos,
tensões brandas
entre França e Prússia
irromperam-se em guerra.
Apesar da Alsácia ter sido
parte da França por 300 anos,
o Primeiro Ministro da Prússia,
Otto von Bismarck,
queria a província de volta,
como parte de
um novo império germânico.
Em 6 de agosto, o Exército Francês
confrontou a Prússia e aliados
na Batalha de Woerth
no nordeste da Alsácia,
somente a um dia de caminhada
de Brumath.
Havia 80 mil soldados
alemães de um lado,
e 45 mil soldados franceses.
É um das batalhas mais sangrentas
da Guerra Franco-Prussiana.
Em 10 horas,
20 mil pessoas morreram.
-Em 10 horas.
-20 mil!
O Exército Francês
foi cortado em dois,
e uma parte foi ao sul por
Brumath para ir a Estrasburgo.
Estou vendo.
O Prefeito de Brumath escreveu
exatamente o que acontecia.
Aqui tem a tradução.
"Durante a noite,
as primeiras tropas,
"que haviam escapado do Exército
Francês chegaram em Brumath,
"dizendo 'tudo está perdido'.
"Infantaria em cavalos,
cavalaria de pé,
"e soldados de todos os tipos
formaram um grupo misturado.
"Esses miseráveis eram tratados
como covardes
"por algumas das pessoas
em Brumath."
É muito possível que
Salomé e sua família
estivessem vendo essas tropas
passando por sua janela.
Mais do que possível,
com certeza.
Imagino que os prussianos
estavam na cola dessas pessoas.
-Estão vindo para Brumath agora.
-Sim.
"Em 8 de agosto,
segunda-feira,
"vários regimentos alemães
chegaram a Brumath
"e na terça-feira..."
Meu Deus!
"Na terça,
18 mil soldados chegaram
"e acamparam
nas proximidades."
18 mil soldados baixaram.
-Aqui.
-Nessa pequena cidade.
-Sim, de 3 mil habitantes.
-Isso é uma invasão para eles.
Para eles era pura invasão.
Minha tataravó.
Como acha que poderia
ter sido para ela?
Acho que tudo parou.
A vida normal que tinha parou.
Não pode-se mais ir
à escola,
não pode ir para fora de
sua casa como fazia antes.
Tem que dar tudo
que puder para os soldados.
-Não há escolha.
-Sim, claro.
Sim, sob perigo de morte,
presumivelmente.
Então, entrando
na casa e dizendo,
"Levamos ovos, leite,
tudo o que você tem."
Era muito difícil.
Ela teve trauma após trauma.
Ela perde seu pai aos 12,
eles têm um curto
período de segurança.
-Exato.
-E a cidade é invadida.
Sim, e as pessoas aqui, e Salomé
também, acho, e sua mãe,
absolutamente não sabem o que
acontecerá no final da guerra.
O destino de Salomé
e sua família
dependia da defesa da
capital da Alsácia, Estrasburgo,
onde os restos do
Exército Francês se refugiavam.
Usando Brumath como sua base,
forças alemães cercaram
a cidade por 6 semanas.
Lançaram cerca de 200 mil bombas
de artilharia em Estrasburgo,
destruindo a maior parte dela,
e matando milhares de homens,
mulheres e crianças.
Muitos dos soldados alemães
que morreram no ataque
foram enterrados em Brumath.
No final do ataque,
27 de setembro,
todos na área querem saber
o que vai acontecer.
Em 8 de outubro,
um verdadeiro anúncio veio
"Strassburg ist
und bleibt Deutsch."
-Estrasburgo é e continuará alemã.
-Alemã, exato.
Seria verdade dizer, então,
que em 8 de outubro,
minha família se tornou
efetivamente alemã?
Não é certeza.
Porque, meses depois
no Tratado de Frankfurt,
entre França e Alemanha,
existe um artigo, em que diz
que as pessoas podem escolher
se querem permanecer francesas
ou se querem se tornar alemãs.
Certo.
Mas, Bismarck disse,
"Você pode escolher,
"mas se permanecer francês,
tchau. Deixe sua casa e vá."
-Ir à França?
-À França.
-Que escolha!
-Exato. Essa era a escolha!
É ótimo, não é?
-Eles eram chamados de Optants.
-Os Optants.
E tinham
que assinar um papel.
Se quiser saber se sua família
tornou-se alemã
ou permaneceu francesa...
Preciso encontrar
o papel de opção.
Exato.
Sob os termos grosseiros
da escolha de Bismarck,
125 mil pessoas, quase 10%
da população da Alsácia,
e a próxima
província de Lorena,
desistiram de suas casas
e vilarejos
para permanecerem
francesas, e partiram.
O restante,
a maioria, pobres camponeses
dependentes de sua terra,
se tornaram cidadãos
da nova Alemanha.
Comecei pensando que procuraria
minhas raízes francesas
e agora descubro que é possível
que essas raízes francesas
terem se tornado
alemãs em algum momento.
Adoraria pensar que fizeram
a decisão de permanecer francês.
Acho que teria sido
muito corajoso,
mas isso pode ser
um passo muito longo,
para uma família
que estava vivendo
na margem
da extrema pobreza.
Então, talvez sejamos mais
alemães do que pensava.
Para descobrir o que aconteceu a
Salomé e família depois da guerra,
Jo foi à igreja Protestante
em Brumath
para se encontrar
com um genealogista.
Bonjour.
-Você é Guy?
-Sim, sou.
-Sou Jo. Como vai?
-Como vai?
-Entre, por favor.
-Obrigada.
Nesta igreja, sua família
se casou, foi batizada.
-Aqui?
-Nesta igreja, sim.
Guy esteve olhando os nomes
dos residentes de Brumath
que optaram
por deixar a Alsácia.
Procuramos pelo documento
de opção de Christine Bergtold.
-Mas não encontramos nada.
-Percebo.
Mostrando que ela optou.
Entendo porque Chrstine não
optou por permanecer francesa.
Acho que na situação dela
isso seria algo muito...
Quase besteira de se fazer.
Mas me interesso por Salomé,
pois sei que decidiu ir a Paris,
então estou imaginando
porque ela decidiu partir.
Ela não poderia optar
porque ainda não tinha 21 anos.
-Era muito nova.
-Era menor de idade.
-Tinha 17.
-Sim.
Mas temos um documento aqui.
Alguém da sua família
optou por Paris.
Bergtold, Catherine.
-Sim! Sim!
-Que era uma tia-avó de Salomé.
E Catherine Bergtold optou,
veja aqui,
em 9 de setembro de 1872.
Então, acho que Salomé foi
a Paris com sua tia-avó.
Então ela continua...
é tecnicamente alemã.
Exato, é tecnicamente alemã,
mas vivendo em Paris.
Está dizendo que minha tataravó,
era na verdade alemã?
Depende.
Ela se casou?
Casou, sim. Se casou com
Pierre Volant, que era francês.
Então, de acordo
com a lei francesa,
ela se tornou francesa
quando se casou.
Então, nasceu francesa,
tornou-se alemã,
e então se tornou
francesa novamente.
Isso, exatamente. Ela foi alemã
por, digamos, 10 anos.
Com a faca no pescoço,
entretanto, não acho que conte.
Enquanto Salomé começava
uma nova vida em Paris,
sua mãe, Christine, continuava
em Brumath como cidadã alemã
até sua morte em 1886.
O irmão mais novo de Salomé,
Jacques,
ficou com sua mãe e foi forçado
a servir o exército alemão.
Ele e descententes foram
enterrados no cemitério da igreja
e Guy trouxe Jo para ver
os túmulos da família Schuch.
-Bonjour.
-Bonjour.
-Bonjour. Ça va?
-Ça va bien.
-Merci.
-Très bien.
C'est le fils...
É o filho de Guillaume Schuch.
Guillaume Schuch
era filho de Jacques.
Jacques Schuch,
irmão de Salomé.
Somos primos!
Sim, absolutamente.
São primos.
Estou contente em conhecê-lo.
Muito feliz.
Igualmente!
Ele diz que Brumath
sempre traz todos de volta.
Ça c'est le grand-père
et la grand-mère.
Este é Jacques,
meu tatara-tatara-tio-avô.
Tenho o irmão caçula
de Salomé sentado
assim como um senhor
fora da casa que visitamos.
Isto é incrível.
Pode ficar com esta foto.
-Tem certeza?
-É um grande presente.
É linda, vou guardar
com carinho. Obrigada.
Merci beaucoup.
Merci. C'est très bon.
C'est très gentile.
-Oui.
-Ganhei uma foto.
Sr. Schuch sabe
sobre Harry Potter.
Ele viu o filme na televisão.
-Sim, foi você que escreveu?
-Sim, fui eu.
-São bons!
-Muito obrigada!
E Harry Potter
está crescido agora.
Vi o último e...
Ele é um homem agora.
Salomé Schuch passou
o resto de sua vida em Paris,
e viveu para ver Alsácia
e sua cidade natal de Brumath
voltarem ao poderio francês
ao fim da Primeira Guerra,
guerra no qual seu filho Louis
recebeu a Croix de Guerre
pelos seus feitos
na Batalha de Courcelles.
Como contadora de história,
a pessoa que, para mim,
se destaca
em toda a história da família
é Salomé.
Ela passou
por momentos muito difíceis,
e sinto que somos quem somos
por sua bravura.
Ela manteve a família unida
e construiu, na verdade,
uma família forte e estável.
Então fizemos o que planejei.
Quis descobrir a verdade
sobre minhas raízes francesas,
e consegui.
E minha mãe teria adorado
cada momento disto.
Teria adorado tudo.
Foi demais.