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Nova escola - A revista de quem educa. ne.org.br - Gestão Escolar
Entrevista: Vicente Falconi - "Gerenciamento da rotina: como lidar com os imprevistos?"
A rotina de uma organização é o há de mais importante. Para mim,
não tem nada mais importante, é o dia-a-dia, é operação, é como deve acontecer as coisas.
E aí você olha para a natureza, você não precisa ir muito longe, olha para a natureza
e você vê o seguinte: Poxa, eu estou aqui falando para vocês,
eu não estou preocupado com a digestão do meu almoço,
eu não estou preocupado com a circulação do meu sangue,
eu não estou preocupado com o meu sistema nervoso. Tudo funciona no automático.
E é por isso que eu sou capaz de conversar com vocês. Ensinar, aprender,
e crescer como ser humano. Assim tem que ser as organizações,
porque uma organização, uma escola, uma secretaria de ensino, seja lá o que for,
é uma organização humana. Uma organização aprende. Ela vive no dia-a-dia.
Agora, eu não posso tocar uma escola que a cada dez minutos é um pepino diferente que ocorre.
É um problema diferente que ocorre, entendeu?
Aí, eu não consigo pensar em nada, eu não consigo pensar o que eu vou fazer para
melhorar minha nota do IDEB, eu não consigo. Porque eu não tenho tempo.
A cada hora é a torneira que vazou, é a água que faltou, é a luz que queimou. Quer dizer, não dá.
Eu tenho que fazer com que as coisas aconteçam normalmente.
Então, para isso, todos os processos da escola deveriam ser padronizados,
as pessoas bem treinadas, de tal forma que cada um fizesse a sua parte. Por exemplo,
se a cozinheira fizer a sua parte, o almoço vai sair bom, os meninos vão comer bem,
e o diretor não vai ter que se preocupar com isso, ele vai se preocupar com outra coisa.
Agora, se a cozinheira não for bem treinada. Se a pessoa que faz manutenção do fogão
não for bem treinada, o almoço não sai, atrasa, o menino reclama, não tem aula,
o diretor tem que correr atrás. Quer dizer, isso é que causa o descontrole.
Então, a rotina é muito importante. Para que a rotina seja importante, eu diria para vocês o seguinte:
Padronização e treinamento das pessoas à exaustão.
Nunca colocar ninguém para trabalhar sem que ela se sinta segura naquilo que vai fazer.
Treinar as pessoas à exaustão. Ter os manuais de treinamento prontinhos, tudo organizado.
E quando uma pessoa nova chegar: treinar, treinar e treinar, entendeu?
Isso é que vai garantir uma boa rotina.
Essa parte de como lidar com os imprevistos da rotina é realmente um problema.
E não é só para escola, nem para secretarias de ensino. Isso é geral.
É em bancos, seguradoras, fábricas, empresas em geral. Todo mundo tem dificuldade.
Porque realmente os desvios de rotina, os imprevistos, são problemas que surgem,
que caem no seu colo e você não esperava.
Estatisticamente você prova que o imprevisto é inevitável. Então, vai acontecer o imprevisto.
Agora, a gente tem que treinar as pessoas para cuidar do imprevisto.
Então tem duas ações que você toma no imprevisto. A primeira ação é a corretiva.
Está faltando água no banheiro dos meninos? Poxa, chama o bombeiro,
vamos saber porque está faltando e vamos botar água no banheiro dos meninos.
A segunda coisa, aí depois de resolvido o problema, está correndo água no banheiro,
já está resolvido o problema, aí você tem que fazer a segunda pergunta.
A segunda pergunta é a seguinte: Por que que isso ocorreu? Por que?
O que que provocou a falta de água no banheiro dos meninos?
E aí você tem que buscar a causa do que provocou, e tomar uma ação sobre essa causa
para que nunca mais volte a ocorrer. Porque senão você vai ter eventos, imprevistos, que
acabam se tornando previsto, porque começa a acontecer muito frequentemente.
Então, um evento aconteceu, você resolve ele corretivamente, mas também, por favor,
vá na causa, depois que estiver resolvido o problema, em uma primeira instância,
reúna com as pessoas e diga: "Gente, por que isso ocorreu e tal? Olha, vamos atuar na causa também"
E vai lá e conserta a causa para que nunca mais volte a ocorrer por aquele motivo.
Então, com isso, a gente vai sempre aperfeiçoando o sistema. Vamos supor,
uma diretora de escola que acostuma a pensar assim, ela vai sempre aperfeiçoando o sistema.
E cada vez vai acontecendo menos o imprevisto, e tudo corre melhor.
"Para delegar tarefas às pessoas certas"
A gente não identifica talento na base da mágica e nem da simpatia. Sabe?
Talento é o seguinte. Você pergunta assim: "O que que eu quero..."
Por exemplo, vamos supor que você quer descobrir quem são os bons professores. Pergunta:
"O que que eu quero de um professor?".
Eu quero de um professor que ele saiba conduzir os seus alunos para o bom caminho do aprendizado.
Que os seus alunos tenham boa nota no IDEB. Que seus alunos tenham boas notas no final do curso.
Que seus alunos aprendam. Então, eu vou avaliar se o professor é bom ou ruim. Se ele é
talentoso ou não, não é pela sua cor, não é por se ele tem cabelo comprido ou curto,
não é se ele é homem ou mulher. Está certo?
Eu tenho que julgar um professor é pelo resultado dos seus alunos, porque
essa é a responsabilidade que lhe foi dada na vida, entendeu? Então,
descobrir talentos, no momento em que você define o que você espera das pessoas,
Talento é aquele que entrega o que é esperado dele.
Se a pessoa é uma pessoa digna, ética, e entrega resultado,
meu querido, esse é o talento que eu quero.
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