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A CORDA
Abre.
Não faças isso.
- Temos de ver se...
- Eu sei.
Mas ainda não.
Vamos esperar um pouco.
Phillip não temos muito tempo.
A escuridão fez-te mal.
Ninguém se sente seguro no escuro.
Quem alguma vez foi criança claro.
Eu abro isto esta bem?
Assim esta melhor.
Que linda tarde.
Foi pena não ter sido feito
com a luz do sol a entrar.
Paciência...
Não se pode ter tudo.
Mas fizemo-lo de dia.
Estas bem agora Phillip?
- Sim.
- Óptimo
Guarda isto na gaveta dos cheques
atras da caixa de metal.
Agora...
Isto é uma peça de museu.
Devíamos guarda-lo
para a posteridade.
Mas o cristal é tão bom
que não vou estragar o conjunto.
Foi por ele que o David Kentley
tomou a sua última bebida.
Deveria ter sido ginger ale
ou cerveja.
Foi inadequado o David ter bebido
algo tão corrupto como uísque.
E também foi inadequado
ser assassinado.
Pois foi. Os bons americanos
morrem jovens no campo de batalha.
Os Davids deste mundo
limitam-se a ocupar espaço.
Por isso ele foi a vítima perfeita
do crime perfeito.
E claro que ele estudou em Harvard.
Isso poderia justificar o homicídio.
Esta morto e fomos nos que
o matamos. Mas continua aqui.
Em menos de 8 horas
estara no fundo do lago.
Mas até la continua aqui.
- Que estas a fazer?
- Não esta trancada.
Melhor. E mais perigoso. A fechadura
é muito velha e não funciona.
Quem me dera que funcionasse
e que ele ja estivesse fora daqui.
Quem me dera que fosse outro.
Ja é um pouco tarde para isso
não achas?
Quem preferias que fosse?
O Kenneth?
Não sei.
Suponho que tão bem...
ou tão mal servia um como o outro.
Tu talvez. Tu assustas-me.
Sempre o fizeste.
Desde o primeiro dia no colégio.
Deve fazer parte do teu encanto.
Estava so a brincar Brandon.
Não sei aceitar isto como tu
por isso tenho de brincar contigo.
- Mas é uma parvoíce não achas?
- Tens razão.
Posso tomar uma bebida agora?
Claro isto merece ser festejado.
Pede champanhe.
- Champanhe?
- Ja pus algum no frigorífico.
- Quando fizeste isso?
- Antes do David chegar.
- Tinhas a certeza que ia dar certo.
- Claro.
Sabes que so faço uma coisa
se for para ser perfeita.
Sempre desejei ter
mais talento artístico.
O homicídio também pode ser arte.
O poder de matar pode satisfazer
tanto como o poder de criar.
Ja reparaste que fizemos
exactamente o que planeamos?
E nada correu mal. Foi perfeito.
- Sim.
- Um crime imaculado!
Matamos
pelo prazer do perigo e de matar.
Estamos maravilhosamente vivos!
Nem o champanhe
é bastante bom para esta ocasião.
- Mesmo assim eu bebo.
- Ja não tens medo pois não?
O medo não é para nos. E isso
que nos distingue do homem vulgar.
Ele apenas fala
em cometer o crime perfeito.
Ninguém comete um crime...
so pela experiência.
Ninguém excepto nos.
- Ja não estas com medo?
- Não.
Nem mesmo de mim?
- Não.
- Óptimo.
Tu espantas-me como sempre.
Melhor ainda.
Ao David claro.
- O que sentiste Brandon?
- Quando?
Durante.
Não sei.
Não me lembro de sentir nada.
Até o corpo dele ficar mole...
e eu perceber que tinha acabado.
- E depois?
- Depois...
Senti-me muito alegre.
E tu que sentiste?
Ah eu...
- A festa não sera um erro?
- E o toque final.
A assinatura do artista.
Não a dar seria como...
Pintar um quadro e não o pendurar?
- Escolheste mal as palavras.
- Talvez não graças â festa.
Que disparate!
Esta festa vai ser muito emocionante.
- Com estes convidados?
- Eu sei os Kentley são monotonos.
Mas tínhamos de convida-los.
Afinal são os pais do David.
Não é isso
que facilita a conversa com eles.
Não te preocupes.
A Janet vai dar-lhes graxa.
Ela esta decidida
a casar com o David.
Mas tenho a impressão
de que não vai conseguir. E tu?
Também acho.
Esta noite
ela pode voltar para o Kenneth.
Confessa que fui muito atencioso
depois do que aconteceu...
- Phillip?
- Sim?
- Pega no outro.
- Para quê?
Deixa la. Vem comigo.
Que diabo estas a fazer?
Uma obra-prima da nossa obra de arte.
- Estas a ir longe demais!
- Que queres dizer?
Achei que seria agradavel
servir o jantar aqui.
Em cima disto.
Não achas uma boa ideia?
Pelo menos assim
ninguém tentara abri-la.
- Tu não me sabes dar o valor.
- Começo a saber.
Não temos muito tempo.
Mrs. Wilson não tarda aí.
Não lhe pediste a chave emprestada?
Tenho-a aqui.
- Óptimo.
- Como lhe vais explicar isto?
- Não vou.
- Temos de arranjar uma desculpa.
Não podíamos deixar o convidado sozinho.
- E uma desculpa para os outros?
- Esta bem. Deixa-me pensar.
Tu afliges-te demasiado
e com demasiada facilidade.
Temos uma desculpa
muito simples...
aqui.
Por que te afliges? Afinal Mr. Kentley
vem ca ver estes livros.
Vamos espalha-los na mesa de jantar
para ele os poder ver com facilidade.
Não estamos a ser atenciosos?
Sim? Com certeza.
- Trata dos livros.
- Quem é?
Mrs. Wilson.
Brandon?
Brandon!
Que diabo?
Não podias ao menos...
Que se passa?
- Arranca-a.
- Não consigo.
Mrs. Wilson era capaz de fazer isso.
Se fizeres isso diante dos outros
sera uma confissão.
Vê se te controlas. Se tens deixado
ficar a luz acesa teria visto.
- Esta bem! Tu és perfeito.
- Temos de ser.
Concordamos em não cometer
um crime: O de cometer um erro.
- Ser fraco é um erro.
- Por ser humano?
Por ser vulgar.
Não posso permitir que...
Deve-me 2 dolares e 40 do taxi.
Se não fosse o trânsito ja ca estava.
So a esperavamos agora.
Fui a cinco lojas atras do pâté.
Não queria desperdiçar dinheiro.
Por isso
fui â loja onde vai Mr. Cadell.
Na proxima festa que dermos so...
Boa noite Mrs. Wilson.
O que aconteceu â minha mesa?
Estamos a mudar as coisas para aqui.
Bem...
A minha mesa estava linda.
Estava sim.
Mas sabe...
Mr. Kentley quer ver os livros
que eu tinha na arca.
Não íamos fazer o pobre senhor
ajoelhar-se para os ver.
- Assim fica esquisito.
- Esquisito?
Especialmente os castiçais.
Estão deslocados.
Pelo contrario. Sugerem um...
altar amontoado de comida
para o banquete sacrificial.
Diz bem amontoado. Não ha lugar
para pôr as coisas como deve ser.
- A senhora consegue arranjar-se.
- O senhor da cabo de mim.
- E os livros?
- Vamos pô-los em cima da mesa.
Que ideia disparatada!
Não tenho tempo para discussões.
Mas isto é muito estranho.
- O que foi?
- Tinha a certeza que ela ia ver.
- Ver o quê?
- A corda. Temos de escondê-la.
- Porquê?
- Porquê?
E um pedaço de corda um artigo
doméstico. Para quê escondê-lo?
O lugar dele é na gaveta da cozinha.
Mrs. Wilson?
Esta champanhe no frigorífico.
- Vamos dar-lhes champanhe?
- Vamos.
Se é uma festa dessas
então tenho de me arranjar melhor.
Raramente servíamos champanhe
em casa de Mr. Cadell.
Uma vez bebemos uma taça juntos.
Nos meus anos.
Esta noite vai ter a possibilidade
de retomar esse romance.
Posso?
Mr. Cadell também vem.
Ai meu Deus.
Mr. Cadell é muito simpatico.
- O Rupert vem?
- Não te disse que ele vinha?
Não disseste não.
Ha quem diga que é um pouco
estranho mas eu sempre a...
Podias deixar-me acabar.
Pensei que gostavas do Rupert.
- E gosto.
- E então?
O Rupert Cadell é a pessoa
mais capaz de desconfiar.
Ele veria as coisas
pelo lado artístico. E emocionante.
- A ti emociona-te. A mim assusta-me.
- Não fales tão alto.
Com os outros
seria demasiado facil e monotono.
Cheguei a pensar em convidar
o Rupert para nos ajudar.
- E porque não? Quantos mais melhor.
- Ele não tem coragem.
Poderia ter ajudado. Intelectualmente
é brilhante mas é fastidioso.
Poderia inventar mas nunca executar.
Nos temos coragem. O Rupert não.
Mr. Cadell levou um tiro numa
perna na guerra por ser corajoso.
- Ja chegaram. Prontos?
- O mais possível.
Não se ponha ao piano e não se
esqueça de comer. Esta muito magro.
Não os deixe comer o pâté todo.
Esperemos que seja um êxito.
- O meu tabuleiro!
- Leve-o para a cozinha. Eu abro.
Não havia estas pressas
se tem deixado a minha mesa...
Vai começar o divertimento.
- Viva.
- Como estas Brandon?
Muito bem. Põe ali o chapéu.
Ha quanto tempo!
Foi por isso
que fiquei tão surpreso ao telefone.
- Ola Kenneth. E um prazer ver-te.
- Igualmente. Que tens feito?
Nada de especial. E tu?
Ando a estudar para os exames. Tenho
de começar a empinar antes dos outros.
- Por que chego sempre cedo?
- Porque chegas sempre a horas.
Mrs. Wilson champanhe.
- E o aniversario de alguém?
- Não te preocupes.
- E quase o oposto.
- O oposto?
E a despedida do Phillip.
A seguir vou leva-lo ao Connecticut.
- Para onde vais?
- Para casa da mãe do Brandon.
- Tenho de ir para retiro.
- O quê?
Ele tem de praticar 6 horas por dia.
Arranjei-lhe uma estreia.
- No Town Hall.
- Óptimo!
- Espero que seja um êxito!
- Obrigado.
Mas que decorativo!
Acha?
- Ouve.
- O que é?
- Sinto-me honrado.
- Porquê?
Parece uma festa de despedida.
Matamos dois coelhos duma cajadada.
A festa é para Mr. Kentley também.
- O pai do David?
- Sim.
- O David também vem?
- Claro.
- E quem mais?
- Pessoas que tu conheces.
- Os Kentley a Janet Walker...
- A Janet?
Pensei que gostarias de a ver.
Não gostas?
Eu e a Janet separamo-nos.
- Não sabias?
- Desculpa. Não sabia.
Mas tu sabias Phillip.
Ouvi rumores
mas não lhes prestei atenção.
- Antes tivesses prestado.
- Porquê?
- A Janet e o David...
- Viva Mrs. Wilson.
- Posso?
- Sirva-se.
Anima-te. As tuas hipoteses com
a Janet são melhores do que pensas.
- Que queres dizer?
- Janet!
Ola bonecos! Meu anjo!
Cuidado com o cabelo. Demorou horas.
- Cheiras divinamente. O que é?
- O perfume que me ofereceste.
- Eu sabia que tinha bom gosto.
- Estas linda.
Não sei se estarei depois de pagar.
Tive graça? Quando tento ter graça
falho vergonhosamente.
- Phillip querido.
- Ola.
Que se passa contigo
e com o Town Hall?
Aposto que nos vais enganar a todos
e tornar-te... horrivelmente famoso.
Creio que ja se conhecem.
- Ola Ken.
- Ola Jan.
Foi fascinante.
Parece que fiquei sem palavras.
Que dizes a champanhe?
"Ola champanhe."
Vês o que quero dizer quanto a ter
graça? Como tens passado Ken?
- Bem. E o teu emprego?
- Que fazes?
Continuo a escrever um artigo
sobre 'Como Manter a Forma'.
- Para quem desta vez?
- Para uma revista chamada 'Allure'.
Obrigado amigo.
- Aquele quadro é novo?
- Gostas?
- O que é?
- Jovem americano primitivo.
Eu tenho uma jovem irmã de 3 anos
e os desenhos dela são primitivos.
- Patife!
- Porquê?
- E não vi outro novo â entrada?
- Não creio. Qual?
Este.
- Estou capaz de te estrangular.
- Que foi que eu fiz?
- O teu sentido de humor é vil.
- De que estas a falar?
- Porque convidaste o Kenneth?
- Porque não?
Sabes muito bem. Zangamo-nos e eu
estou quase noiva do melhor amigo dele.
- Do David?
- Sim do David.
O que torna tudo encantador!
Desculpa mas é difícil
estar a par dos teus namoros.
A seguir a mim foi o Kenneth.
E agora é o David.
Porque mudaste do Kenneth
para o David?
- Acho-o mais simpatico.
- Mais rico é de certeza.
Essa é demasiado baixa.
Mesmo para ti.
- Chumba-me em comportamento.
- Como esta a tua bebida?
Ha quantos anos disse:
'Oh faz cocegas'? Não digas.
- Soube que o Rupert vem.
- Foi convidado. Mas nunca se sabe.
- Espero que venha.
- Quem é ele?
O Rupert Cadell
foi nosso professor no colégio.
Professor destes três queridos?
Quatro. Ele também tentou
desesperadamente ensinar o David.
- O Rupert é editor agora.
- Talvez me arranje um emprego.
O Rupert edita os livros de que gosta.
Em geral filosofia.
Letras pequenas
palavras grandes e poucas vendas.
O Rupert é um radical.
Selecciona os livros
por pensar que...
as pessoas lêem e pensam.
- E estranho mas eu gosto dele.
- Sempre gostaste.
As conversas
que vocês tinham no colégio.
O Brandon sentava-se
aos pés do mestre.
O Brandon sentado aos pés
de alguém! Quem é esse Rupert?
- Ele contava as coisas mais estranhas.
- Que tipo de coisas?
O Kenneth deve referir-se
â sua impaciência com as convenções.
Ele considera o homicídio
um crime para a maioria dos homens...
Mas um privilégio apenas para alguns.
Deixe estar Mrs. Wilson
eu abro a porta.
- Mr. Kentley obrigado por ter vindo.
- Obrigado.
Mrs. Kentley esta doente.
Trouxe Mrs. Atwater a minha cunhada.
- E um prazer.
- Igualmente.
Estou em Nova lorque ha 2 semanas.
A Alice tem estado sempre doente.
E o Henry nunca mais acaba
de catalogar a biblioteca.
Não Anita.
De vez em quando também leio.
Mas esta é apenas a minha
segunda festa...
E justo que...
As constipações podem ser perigosas.
Ela deve ficar na cama e beber sumos.
Assim faz obrigado.
As constipações são perigosas
com este calor? Não entendo.
Ha dois anos apanhei uma constipação.
Estive doente durante 3 semanas.
Desculpe. Por aqui Mrs. Atwater.
- David!
- Não não.
Esta enganada.
Este é o Kenneth Lawrence.
- Peço imensa desculpa.
- Não faz mal Anita.
Mesmo quem não é míope
confunde o David com o Kenneth.
Ha muito que não temos oportunidade
de observar essa semelhança.
- Tem estado a estudar?
- Tenho tentado.
- A semelhança é apenas física.
- Creio que conhecem Miss Walker.
Minha querida Janet terminei
o seu horoscopo antes de virmos.
- Conte-me.
- Os astros estão muito propícios.
Indicam um casamento para breve.
Com um jovem alto louro
com um pai encantador.
- Eu disse-lhe isso ha uma semana.
- Suponho que sim.
- Mas os astros confirmam-no.
- Que bom!
- Apresento-lhe Mr. Phillip Morgan.
- Ola.
- Feriu-se na mão.
- E apenas um golpe.
- O que aconteceu?
- Nada. O copo partiu-se.
- Quer champanhe?
- Adorava.
O meu pai tomava
uma taça todas as manhãs.
- Mas o Henry não gosta.
- Mr. Kentley quer uma bebida?
Preferia um uísque com muita agua.
- O David ja chegou?
- Esperava que viesse convosco.
Ele telefonou a dizer que vinha ca ter.
- De onde telefonou ele?
- Foi a criada que falou com ele.
Ele estava no clube
a estudar para os exames...
de ténis.
- Ele não se sai mal.
- Obrigada.
- Como esta Mrs. Kentley?
- Esta constipada.
Espero que ele não se demore.
Ela quer que ele lhe telefone.
O David é o único filho que ela tem.
Também eu
mas eu deixo-o crescer.
Se calhar devia telefonar-lhe.
- Não vamos mima-la.
- O David pode ter ido vê-la.
- Posso usar o telefone?
- Esta no quarto de cama.
- Ainda não queres outra?
- Ja vou querer.
Ja quero. Obrigada.
Que rapaz simpatico!
O David devia andar mais com ele.
Eu vou telefonar.
- O teu copo esta muito vazio.
- Esta bem assim.
- Podes levar isto â Janet?
- Porquê?
Por nada de especial é dela.
Ela esta no quarto de cama.
- Gostavas que o David entrasse.
- O choque seria demasiado.
Eu sou apenas uma amadora.
- Mas deve ser muito boa.
- Faço o melhor que sei.
Deve querer saber
se o seu concerto vai ser um êxito.
- Sim.
- Ora deixe ver.
Nasceu a 14 de Julho.
E Caranguejo.
Influenciado pela lua.
E muito influenciado pela lua.
Mostre-me a sua mão.
Sabe a que hora nasceu?
Não.
Bons dedos. Fortes artísticos.
E o concerto?
Estas mãos
vão trazer-lhe grande fama.
Hoje considero-me um homem
de muita sorte.
- Estou aqui para a grande estreia.
- De quê?
- Da tua colecção.
- Claro.
Vai tocar? Que bom!
- O David não estava la?
- Não mas ja não deve tardar.
- O teu estilo melhorou.
- Rupert!
Começava a pensar que não vinha.
Sabes como sou.
- Mrs. Atwater Mr. Rupert Cadell.
- Encantada.
- Obrigado.
- Mr. Kentley.
- Viva Mr. Kentley.
- O professor de Sommerville?
- Ja fui.
- Foi professor do meu filho.
- Envaidece-me. Como esta?
- Ola amigo.
- Miss Walker.
- Como sabe?
- O Brandon falou-me de si.
- E foi justo?
Merece que sejam justos?
Kenneth Lawrence.
Como cresceste!
- Ola...
- Ja não estamos no colégio.
Sempre o mesmo Rupert.
Que prazer vê-lo!
- Porquê?
- Bem...
Isso tem uma curiosa parecença
com champanhe.
- E é.
- E um optimo champanhe.
- O que estamos a festejar?
- Disse-lhe ao telefone.
E uma festa para Mr. Kentley
que veio ver as primeiras edições.
E eu e o Phillip vamos para o campo...
- Também me disseste isso.
- Disse?
- Sim.
- E uma festa de despedida ao Phillip.
- Daí o champanhe?
- Sim.
- Estou a ver.
- Mas é verdade!
Sempre gaguejaste
quando estavas excitado.
- Fico excitado quando dou uma festa.
- De verdade?
- Mr. Cadell!
- Mrs. Wilson.
- Que vem a ser isto?
- Comprei o pâté de que gosta.
Ja não gosto.
Não estava a brincar.
- O senhor é terrível.
- Obrigado. Obrigado.
Pode começar a trinchar.
Eu trago o resto.
Ja encontrei Mr. Brandon!
Não sei o que ela perdeu.
A maravilhosa Mrs. Wilson.
Sou capaz de casar com ela.
- Espero que o David não se demore.
- Onde esta ele?
Não sei mas Mr. Kentley
começa a ficar aborrecido.
- E você?
- Eu? Estou a ficar com fome.
Brandon o que vem a ser isto?
- Uma arca italiana.
- Porque esta a mesa posta aqui?
- Fiz da sala de jantar biblioteca.
- E arranjaste novo uso para uma arca.
Nas historias que ele contava
no colégio havia sempre uma.
'O Ramo de Visco'.
- Era o teu conto preferido.
- Era sobre quê?
- Não me lembro como começava.
- Era sobre uma rapariga...
Uma noiva que no dia do casamento se
escondeu a brincar dentro duma arca.
Infelizmente a fechadura trancou. 50
anos depois encontraram o esqueleto.
- Eu não chego a esse ponto.
- Sirvam-se.
Por falar de esqueletos
viram o novo filme no Strand?
- Eu adorei.
- Sim? Ainda bem.
Eu não gostei muito da nova actriz.
Escorpião definitivamente.
Também não gostei muito dela
mas os fatos eram lindos.
- Simplesmente divinos.
- Uma maravilha.
- Tenho de ver isso.
- Adoro o James Mason.
- E bom?
- Perfeitamente espantoso!
Atraentemente sinistro. E Touro.
Obstinado.
Mas tenho uma confissão a fazer.
Gosto tanto do Mason
como do Errol Flynn.
- Eu prefiro o Cary Grant.
- Também eu.
Capricornio. Salta divinamente.
- Tem tanto...
- Absolutamente.
Estava optimo
no último filme com a Bergman.
Como é que se chamava?
"Qualquer Coisa de Qualquer Coisa."
Esse é outro.
Este era so "Qualquer Coisa".
- E assim sabe...
- Esta-me na ponta da língua.
Na minha também.
Era so "Qualquer Coisa". Adorei!
- E a Bergman!
- Ela é do tipo Virgem.
- Como todas estas...
- Acho-a linda!
Uma vez fui ao cinema.
Vi a Mary Pickford.
- Adorava-a. Não gostava dela?
- Do tipo Virgem como todas estas.
- Em que filme a viu?
- Não me lembro.
Era "Qualquer Coisa Qualquer Coisa".
Ou era so "Qualquer Coisa"?
Ou coisa parecida.
Não acredito.
Tenha cuidado com o pâté.
Olhe as calorias.
Importas-te de servir Mrs. Atwater?
- Eu levo-lhe a comida.
- Obrigada meu querido.
Não sei o que estara a demora-lo.
E um rapaz popular.
Eu ajudo. Branca ou escura?
- Das duas para Mrs. Atwater.
- E para si?
- Eu não como disso.
- Que estranho!
Nunca ouvi falar de ninguém que
não comesse galinha. E tu Brandon?
- Porque não come?
- Porque não.
O Freud diz que ha uma razão
para tudo. Até para mim.
Não ha razão nenhuma.
Lembro-me duma razão engraçada.
- Não é verdade Brandon?
- Sim.
- Eu sabia. Qual é ela?
- Não é nada de importante.
- E fascinante.
- Va la Brandon.
Aconteceu ha cerca
de três anos no Connecticut.
A mãe tem la uma casa.
Lamos comer galinha
e fomos até â quinta.
Era uma linda manhã de domingo
no fim da Primavera.
Pelo vale ecoavam
os sinos da igreja
e no patio o Phillip
torcia os pescoços âs galinhas.
Uma tarefa que ele desempenhava
com grande competência.
Mas naquela manhã
foi demasiado delicado.
Uma das vítimas do nosso jantar
rebelou-se. Como Lazaro levantou-se...
E mentira!
Nada disso é verdade.
Eu nunca estrangulei uma galinha!
Sabes que nunca estrangulei
uma galinha!
Desculpem mas é muito engraçado
vê-los fazer tanto barulho
por causa de uma galinha morta.
Desculpem.
Fomos ridículos e malcriados.
Peço desculpa pelos dois
e pela historia.
Imagine-se!
- Ja acabou?
- Receio bem que sim Rupert.
Mas que pena.
Mais um pouco e estrangulavam-se
um ao outro em vez das galinhas.
- Mr. Cadell francamente.
- Estava em jogo a honra dum homem.
E uma galinha é tanto motivo
para um crime...
como uma loura
um colchão cheio de dinheiro
ou outra das habituais
razões impensaveis.
Não aprova o crime pois não Rupert?
Aprovo. Imagine
os problemas que isso resolvia:
Desemprego pobreza filas
para comprar bilhetes para o teatro.
Tive muita dificuldade em arranjar
bilhetes para o novo musical.
"O Qualquer Coisa"
com a não-sei-quantas?
Uma aplicação cuidada do dedo
que pressiona o gatilho...
e consegue dois bilhetes
para a primeira fila.
Tem sido difícil em entrar
em restaurantes da moda?
- Horrível!
- E muito simples.
Um golpe com a navalha
e a mesa esta â sua espera...
Passe por cima
do cadaver do chefe de mesa.
- Obrigado. Aqui tem a sua mesa.
- Você é o fim!
Eu matava â navalhada
um empregado do hotel.
Não se podem usar navalhas
em empregados de hotel.
Eles entram na categoria
de 'morte por tortura lenta'
ao lado de amantes de passaros
crianças e dançarinos de sapateado.
Os senhorios são outra coisa.
Querem um apartamento?
Chamem Miss Contrapeso... do
departamento de armas contundentes.
Que ideia divinal!
Se servir o fim em vista...
- Mas assim matar-nos-íamos todos.
- Não.
Afinal o homicídio é
ou deveria ser uma arte.
Não é uma das sete
mas uma arte mesmo assim.
E o privilégio de o cometer
deveria ser reservado...
aos poucos
que são indivíduos superiores.
E as vítimas seres inferiores
com vidas sem importância.
Obviamente.
Mas eu não apoio os extremistas que
defendem o homicídio no ano inteiro.
Não pessoalmente preferia...
"A Semana de Degolamentos"
ou "O Dia dos Estrangulamentos."
Pode ser sintoma de senilidade
mas não aprecio este humor morbido.
- O humor foi sem intenção.
- Não fala a sério?
- Claro que sim.
- Estão ambos a brincar.
Não. Por que acha que estamos?
Considerar o homicídio uma arte
para ser praticada por alguns...
Em época propria.
- Agora sei que não fala a sério.
- Claro que sim! Falo sempre a sério.
Quem decide que um ser humano é
inferior e logo digno de ser morto?
- Os homicidas privilegiados.
- E quem são eles?
Eu
o Phillip possivelmente o Rupert.
Não contaram contigo Kenneth.
- Eu falo a sério!
- Também nos Mr. Kentley.
São homens que possuem
superioridade intelectual e cultural
que estão acima
dos conceitos morais.
O bem e o mal foram feitos para os
homens vulgares que precisam deles.
Então esta de acordo com a teoria
do super-homem de Nietzsche.
- Estou.
- Hitler também estava.
Hitler era um selvagem paranoico.
Os seus super-homens fascistas eram
assassinos. Enforca-los-ia todos.
Enforca-los-ia
primeiro por serem estúpidos.
Enforcava os incompetentes
e os loucos. Temos demasiados.
Enforque-me. Devo ser estúpido
não sei se fala a sério ou não.
Mas prefiro não continuar a ouvi-lo...
falar no desprezo pela humanidade e
pelos padrões de um mundo civilizado.
Civilizado?
Talvez 'civilização' seja hipocrisia!
Tenho a certeza que o Rupert
tem a inteligência e imaginação...
Por favor Brandon
creio que ja chega.
Phillip onde estão os livros
que separaram para Mr. Kentley?
- Gostaria de vê-los.
- Estão na sala de jantar.
Não quer ver os livros Mr. Kentley?
Peço que me desculpe.
Creio que me descontrolei.
Não tem importância meu caro.
E uma boa colecção primeiras edições.
Quero vê-las. Posso telefonar?
Quero falar com a minha mulher.
- Talvez ela saiba do David.
- Com certeza. Por aqui.
- Brandon?
- Sim.
Defendeste as tuas ideias
com demasiada energia.
Estas a tencionar matar
alguns seres inferiores?
- Sou dado a caprichos. Quem sabe?
- Compreendo.
Mrs. Atwater
não quer ver os livros?
Com muito prazer!
Quando era pequena lia muito.
Na infância todos temos
um comportamento estranho.
Porque não ligas o radio
ou pões uns discos a tocar?
Um pouco de música ambiente
ajuda muito.
Ele é muito manhoso não é?
Voltou a juntar-nos
com música suave.
Não te deixes levar.
Ele esta sempre a fazer coisas destas.
- Vou para a outra sala.
- Ver os livros?
Para o Brandon me ver.
- A opinião dele interessa-te?
- Eu sei o que ele pensa.
Pensa que te deixei
porque o David tem mais dinheiro.
- Então por que vais?
- Porque...
- Tenho vergonha de estar aqui contigo.
- Oh Janet!
- Não me julgavas capaz disso?
- Francamente? Não.
Pois tenho e não me agrada.
Esperava que te sentisses
envergonhado também.
- Porquê?
- Bem...
Tu deixaste-me. Lembras-te?
Como o nosso amigo Brandon
adoraria saber isso!
- O que se passa?
- Nada. Estava a pensar.
- Em quê?
- Na vaidade feminina.
E também me sinto envergonhada
porque...
Continua.
Tu e o David eram bons amigos
Deixaram de ser por minha culpa.
- Sou uma idiota.
- Não és nada.
Então imito muito bem.
Porque tento ser esperta
com todos menos com o David?
Não brincas com o David?
Com ele descontraio-me. Graças a ti.
- A mim?
- Sim.
Naquele...
Naquele domingo cinzento em Harvard
quando rompeste o noivado
o David levou-me a passear.
Estava muito abatida.
Não conseguia mostrar-me alegre.
Descontraí-me
e deitei tudo ca para fora.
A verdade acerca de mim.
Ouviste esta frase?
Eu digo estas coisas.
- Onde esta o David?
- Eu não sou muito esperto.
Porquê?
Nunca me apercebi disso...
O Brandon e a música ambiente.
Estas apaixonada pelo David?
Estou.
- Não compreendo.
- O quê?
O Brandon disse que eu teria mais
hipoteses com o David fora da corrida.
Antes de eu chegar o Brandon
sabia que tínhamos rompido?
- Até sabia de ti e do David.
- O quê?
Quando lhe disse
ele fingiu não saber.
- Que se esta a passar aqui?
- Não sei mas vou saber.
- Brandon?
- Sim?
Posso falar contigo?
Porque tem de se meter
com as pessoas?
- Então?
- Que andas a fazer?
- La buscar-te café se quiseres.
- Deixa-te de charme.
Porque disseste ao Kenneth
que não pensasse em mim e no David?
- Eu não disse isso.
- Foi o que deste a entender. Porquê?
Ha mulheres que ficam encantadoras
quando se zangam. Tu não.
- Para com isso!
- O cavalheirismo mostra quem é!
- Não acredito que o David venha.
- Espera e veras.
Não preciso.
Ele nunca se atrasa.
Se tivesse surgido algo
ele teria telefonado.
- Fizeste isto de modo a ele não vir.
- Que inteligência a minha.
Eu devia calcular que uma festa
para Mr. Kentley não bastava.
Tinhas de dar satisfação
ao teu sentido de humor perverso.
Espero que te tenhas divertido.
Eu não.
- Ele é impossível.
- Não deixes que ele te enerve.
- Alguma coisa correu mal?
- A Janet é aborrecida âs vezes.
Suponho que sera melhor...
Porque perguntou
se algo correu mal?
Planeias tão bem as tuas festas
que nada deve correr mal.
Ela parece sentir a falta do David.
Eu proprio começo a senti-lo.
Todos sentimos.
- Duas sobremesas Mr. Cadell?
- Uma para mim uma para si meu amor.
Os outros não querem gelado.
E no entanto fazia-lhes bem refrescar.
Esta festa é muito estranha!
- Não que me surpreenda.
- Porquê?
Levantaram-se ambos
maldispostos.
Têm andado agitados o dia todo!
Mr. Brandon diz que as festas
o deixam agitado.
E a primeira vez que acontece.
Ele costuma deixar-me preparar tudo.
Quase não tocaram na galinha.
- Que é que estava diferente hoje?
- Que é que não estava?
Mr. Brandon estava com pressa
que eu pusesse a mesa.
Estava tão bonita
mas quando saí para fazer as compras
ele disse-me
que tirasse a tarde inteira.
A tarde inteira!
Depois de tanta pressa.
- E disse porquê?
- Foi um capricho suponho.
Quando voltei
ele estava a discutir com Mr. Phillip.
Sobre quê?
Mesmo que soubesse
acha que lhe dizia?
- Espero que sim.
- Eu sou como um túmulo.
Olhe para isto!
Vou ter o dobro do trabalho.
Tenho de tirar os livros
da mesa da sala de jantar
e voltar a pô-los na arca
onde estavam.
- Por que serviu aqui?
- A ideia não foi minha.
Pus a mesa na sala de jantar
e estava linda.
Em cima disto não tem...
Ela ainda se esta a queixar
por a mesa estar posta aqui?
Da muito mais jeito. As pessoas
não têm de ir â sala de jantar
buscar a comida e voltar para aqui.
Mas foram la dentro
para a sobremesa e o café.
Mrs. Wilson sirva os convidados
e não lhes dê sermões.
Levantamo-nos maldispostos
não foi?
- Estou numa posição embaraçosa.
- Que quer dizer?
Sou o único que se esta a divertir.
Você e Mrs. Atwater.
- Que se passa Phillip?
- Importa-se de apagar isso?
Não gosto de tocar
com a luz nos olhos.
Sabes Phillip
intriga-me quando não respondem
âs perguntas. Fico curioso.
- Fez-me uma pergunta?
- Fiz sim.
Qual foi?
Perguntei o que se passa aqui.
- Uma festa.
- Mas uma festa muito estranha.
- Qual é o motivo?
- Qual é o motivo de quê?
Deixe-se de brincadeiras.
Se quer saber alguma coisa pergunte.
Calma calma!
- Não pares de tocar!
- Quero uma bebida.
- Eu vou buscar.
- Que queres? Uísque?
Quero um brande.
Pareces gostar muito
dessa melodia.
Gostava de poder ser sincero
sobre o que quero saber.
Infelizmente não sei nada.
Apenas suspeito.
- Disse que...
- Eu ouvi.
- Esta bem assim?
- Obrigado.
- Usas isto?
- As vezes.
Pensei que so os principiantes usavam.
- Devo dizer...
- Pronto eu pergunto.
De que é que suspeita?
Ja me esqueci.
Onde esta o David?
Não sei.
- Porquê?
- O Brandon sabe.
- Sabe?
- Não sabe?
- Que eu saiba não.
- Ora ora.
- Porque não pergunta ao Brandon?
- Ja perguntei.
Mas ele esta muito ocupado com
os outros dois vértices do triângulo.
Porquê Phillip?
Que é que o Brandon quer fazer
com a Janet e o Kenneth?
- Porque te ris?
- Por nada.
Que se passa?
Estou assim tão longe de acertar?
Não se esta a passar nada Rupert.
Hoje mais do que nunca
estas alérgico â verdade.
E a segunda vez que não a dizes.
Obrigado. Quando foi a primeira?
Quando disseste
que nunca mataste uma galinha.
Esta confuso. O Brandon inventou isso.
E uma piada sem graça.
Não inventou não.
Não inventou não Phillip.
E se pensares chegas
â conclusão que eu sei que não.
Ha cerca de um ano
eu estive na quinta. Lembras-te?
Uma manhã
vi-te exibir as tuas habilidades.
Eras muito bom
a apertar o pescoço âs galinhas.
A historia é que é falsa
e não eu nunca ter matado galinhas.
Foi o que disseste.
Não era coisa para se falar ao jantar.
- Podias ter dito isso.
- Mas não disse.
Não estamos a comer. Porquê mentir?
- Detesto falar de...
- Estrangular?
O senhor aprecia as primeiras edições
mais do que eu.
- E muito amavel Brandon.
- Que se passa Phillip?
Não queres que Mr. Kentley
leve os livros?
- Não não me importo mas acho...
- O quê?
Que estão mal amarrados assim.
- O David sabe olhar por ele.
- Bem sei mas não entendo.
Ele telefona sempre
que se atrasa não é Janet?
- Quer que eu seja pontual.
- E com razão.
Mudei muito.
Sou pontual como um relogio.
- E tão pouco feminino.
- Prefiro bons modos â feminidade.
Henry pareces o Papa.
Lembro-me de uma vez
em que o David estava em casa.
- Devagar Phillip.
- O Rupert desconfia.
- Não desconfia nada.
- Preciso de beber.
- Ja chega.
- Larga-me o braço!
Não me voltes a dizer
o que devo ou não fazer.
- Não gosto e não...
- Baixa a voz.
Espero não ter perturbado o Phillip.
Não o mais certo
é ele estar a misturar bebidas.
- Tu também estas perturbado.
- Eu?
Ha qualquer coisa
que vos perturba e muito.
- Algo que...
- Desculpe.
Uma chamada
para Mr. Kentley ou Mrs. Atwater.
Deve ser a Alice
eu falo com ela.
- Ao fundo do corredor â esquerda.
- Obrigada.
Sera possível
que o David esteja em casa?
Não sei. Espero que sim.
Se estivesse seria de esperar
que fosse ele a telefonar.
- Não achas Brandon?
- Não sei.
O David sempre foi bem-educado
e pontual.
E não mudou.
- Se não esta em casa onde estara?
- Não sei.
Pode estar em muitos lugares:
No clube ou na festa dos Bradley.
- Talvez tenha ido a casa da Janet.
- Porquê?
Para a ir buscar.
Telefonei para la
depois de falar com Mrs. Kentley.
- Ele não estava la?
- Não. Deixei recado.
Seria mais facil se soubéssemos
onde esteve de tarde.
- Que é que acha?
- Não sei onde ele esteve.
- E não ajudaria se soubéssemos?
- Suponho que sim.
Sei que ele foi ao clube jogar ténis
e esteve la mesmo.
Porquê?
Telefonaram de la a dizer
que o David viria ter aqui.
- Sabe quem telefonou?
- Não.
Então encontrou alguém no clube
que o fez mudar de ideias.
- Estiveste la hoje Kenneth?
- Quem me dera.
- Tu ou o Brandon estiveram la?
- Não.
- Estivemos a preparar a festa.
- Havia muito que fazer.
- Sabe como é.
- Estou a ver.
Não falaste hoje com o David?
Não. Por que pergunta?
Podia ter telefonado
a dizer que se ia atrasar.
Não falamos com ele
desde que o convidamos.
- Estranho.
- Porquê?
Parecia-me que o David
tinha telefonado ao Phillip ontem.
- Pois foi. Tinha-me esquecido.
- Foi por causa da festa?
Queria certificar-se da hora.
Eu ajudo.
Obrigada Mr. Cadell.
Guarde os livros amanhã
quando vier fazer a limpeza.
- Não estava a pensar vir.
- Vai ter de vir.
- Deixe os livros sossegados.
- Sim senhor.
A Alice não soube do David.
Esta nervosíssima.
- E melhor ir falar com ela.
- Ela desligou.
Começou a chorar tanto.
- Estou tão preocupada.
- Que foi que ela disse?
Telefonou para todos os sítios
onde ele poderia estar.
Pensa que ele é capaz
de ter tido um desastre.
Acho que não é necessario Anita.
O David ja não é uma criança.
Tenho a certeza que ele esta bem...
E melhor ir-me embora.
A minha mulher precisa de mim.
- O David nunca fez isto.
- Claro. Eu compreendo.
- Posso ir consigo?
- Obrigado Janet.
- Os seus livros Mr. Kentley.
- Ah sim!
Não sabe como lamento.
Telefona-me
quando souber do David?
Estou certa que ele vai aparecer.
- Janet?
- Sim?
Não é a altura adequada mas ainda
bem que tivemos aquela conversa.
Também acho.
E o David também vai achar.
Óptimo.
- Bom...
- Porque não vens connosco?
- Não quero...
- Por favor?
- Obrigado.
- Isto é teu?
E. Eu levo-a no braço. Obrigada.
- Vou buscar o chapéu.
- Vais com a Janet?
- Vamos todos juntos.
- Que foi que eu previ?
Boa noite Mr. Kentley. Espero
que Mrs. Kentley melhore depressa.
Obrigado.
Telefona-me
assim que souber do David?
- Despeça-se do Phillip por nos.
- Mrs. Atwater obrigado por ter vindo.
Obrigada por me receberem.
Lamento termos de nos ir embora.
Boa noite.
Esse não é o seu.
- Desculpe estragar a festa.
- Não a estragaram.
Por nos irmos embora tão cedo.
Boa noite.
Cuidado com as escadas Anita.
- Obrigado Mrs. Wilson.
- Boa noite Mr. Cadell.
- Também vai?
- Tenho de ir. Boa noite.
Boa noite.
Quer ajuda com os livros Mr. Kentley?
Obrigada por uma noite
encantadora.
Boa noite. Foi um prazer.
Phillip esta festa merece
entrar para a historia.
Acabou-se
e não podia ter corrido melhor.
Podia. Sem o Rupert.
Ele ajudou-me a dizer
o que eu queria dizer âqueles idiotas.
Ele deu â festa o toque que eu previra.
Um toque de quê? De sondar?
Bisbilhotar ou de interrogar?
- Sabes como ele me interrogou?
- A que respeito?
Deixa la. Tu estiveste ocupado
com o teu outro toque.
- Que toque?
- Amarrar os livros assim!
- Foi fantastico. Não gostaste?
- Nem um bocadinho!
- Estragas tudo com os teus toques.
- Cala-te! Mrs. Wilson ainda ca esta.
- Estas decidido a embebedar-te?
- Ja estou bêbedo.
E tão infantil como quando
me chamaste mentiroso.
- Porque contaste aquela historia?
- Porque mentiste?
Tinha de ser. Alguma vez te
preocupaste com as outras pessoas?
- Não sou sentimental é isso?
- Não interessa. Nada interessa.
Excepto que Mr. Brandon gostou
da festa. Mr. Brandon deu a festa.
Mr. Brandon teve uma noite encantadora.
Eu tive uma noite horrível.
Continua a beber
e vais ter uma manhã ainda pior.
Se tiver uma ressaca
é so minha.
Estive a pensar Phillip.
Merecemos umas férias quando
isto acabar. Para onde gostavas de ir?
Voltamos aqui primeiro
para não se tornar...
So peço para acordar
e descobrir que ainda não o fizemos.
Mas porquê?
Estou morto de medo.
Acho que vamos ser apanhados.
Não ha hipotese disso.
Houve mas ja não ha.
Estamos prati...
E a senhora Mrs. Wilson?
Preciso de uma chave
para entrar amanhã...
Se vão para a quinta esta noite.
- Claro que vamos.
- Ainda bem.
Nenhum dos dois esta com boa cara.
Também me sabia bem descansar.
Quero ver os dois de volta
em excelente forma.
- Assim sera.
- Vou-me embora. Divirtam-se.
Não se esqueçam de escrever.
E não se metam em sarilhos.
Para onde estas a telefonar?
Para a garagem.
Fala Mr. Brandon Shaw.
Podem trazer-me o carro?
Imediatamente. Obrigado.
E melhor corrermos as cortinas.
Quem sera?
- Quem sera?
- Deve ser o homem da garagem.
- Não teve tempo de chegar aqui.
- Talvez seja Mrs. Wilson.
Não podíamos fingir que saímos?
Com as luzes acesas? Atende.
Quem é?
Brandon é o Rupert!
Ele quer subir.
Diz que se esqueceu da cigarreira aqui.
- Deixa-o subir.
- Esta a mentir! Ele descobriu...
- Cala-te e volta para o telefone.
- Não vou!
- Vai para o telefone.
- Não posso.
- Tens de ir.
- Não! Ele sabe...
Cala-te!
Rupert? Suba.
Não...
Claro que não. Esta um pouco tenso.
Vamos ja encontra-la.
Claro.
Phillip... Escuta.
O Rupert vai subir.
Vê se te controlas.
Ouviste Phillip?
Bebe se quiseres.
Mas controla-te e esta calado.
Despachamo-lo em cinco minutos.
Não sei o que o Rupert sabe
mas ele sai daqui em 5 minutos
de uma maneira ou de outra.
Durante esses 5 minutos
vê se te controlas. Ouviste?
- Brandon Brandon!
- Ouve...
Não vou ser apanhado...
por tua causa nem de mais ninguém.
Ninguém me vai atrapalhar agora.
Não esta carregada pois não?
- Desculpa incomodar.
- Não incomoda nada.
Sabia que se iam embora hoje
e queria a minha cigarreira.
- Ola Phillip.
- Ola.
Não te quis assustar.
Não o assustou.
O Phillip esta anti-social hoje.
- Ah pensei que...
- Sabe onde a deixou?
Não faço ideia.
Não me costumo esquecer das coisas.
Um psicanalista diria
que não me esqueci dela.
Deixei-a atras inconscientemente
porque queria ca voltar.
Mas...
- Por que havia de querer voltar?
- Sim porquê?
Pela nossa companhia.
Ou para tomar outra bebida.
- Posso tomar outra bebida?
- Uma bebida pequena?
- Preferia uma grande.
- Arranjas uma bebida ao Rupert?
Deixa ver. A última vez
que me lembro de ter a cigarreira...
estava aqui.
La abrir a arca a Mrs. Wilson
quando tu apareceste.
E depois?
Acho que...
Onde estara?
Ca esta onde a deixei.
Desculpem-me.
Lamento imenso.
Eu...
- Posso tomar a bebida na mesma?
- Com certeza.
- Não te importas mesmo?
- Porquê?
- Podiam estar...
- O quê?
- Cansados. Não faz mesmo mal?
- Ele disse que sim!
- Obrigado.
- Ele bebeu demais.
Porque não?
Afinal era uma festa.
E agradavel estar aqui
a beber em boa companhia.
Ainda bem.
- Não deixem que os atrapalhe.
- Em quê?
- Eu sei que têm que fazer.
- Que quer dizer?
Têm de fazer as malas.
Não vão para o Connecticut esta noite?
- Vamos mas ja fizemos as malas.
- Esta tudo pronto.
Tudo excepto um convidado
de quem têm de se livrar.
Eu vou-me embora...
assim que acabar a minha bebida.
Não precisa ter pressa.
Obrigado.
Gostaria de ficar mais um pouco.
Podia até ficar para vos ver sair.
Detesto deixar uma festa.
Em especial quando a noite
foi tão estimulante.
Ou estranha como esta.
Estranha porquê?
Eu disse estranha?
As vezes escolhem-se as palavras
pelo som e não pelo significado.
Não sei bem o que queria dizer...
a não ser que pensasse no David.
- Que tinha de estranho o David?
- O não ter aparecido.
Achas que lhe aconteceu
alguma coisa?
- Que lhe pode ter acontecido?
- Ser atropelado terem-no roubado...
- A luz do dia?
- Tinha-me esquecido.
Devia ser de dia quando aconteceu.
Quando aconteceu o quê?
Aquilo que aconteceu ao David.
Nada possivelmente.
Mesmo assim... onde estara ele?
- Qual é a sua teoria?
- Estava a pensar na da Janet.
- Não sabia que ela tinha uma.
- Sabias sim.
Não pude deixar de ouvir a Janet.
Ela pensa que o raptaste
ou impediste de vir.
A Janet não me interessa
mas o Rupert sim.
Pensa que eu 'raptei' o David?
E o tipo de maldade
que te atraía no colégio
pela experiência
pela emoção pelo perigo.
Seria mais difícil fazê-lo agora
não acha?
- Arranjarias maneira.
- Qual?
Imagine que era eu.
Como se livrava do David?
- Tens mais jeito para isto que eu.
- O que faria no meu lugar?
Se me quisesse livrar do David
convidava-o para um copo
no clube ou num bar tranquilo.
Melhor ainda convidava-o a vir aqui.
- Ninguém nos veria juntos.
- Muito bem. Sem testemunhas?
E depois?
Bom...
Bom deixa-me ver.
O David chegava.
Eu ia devagar até ao hall recebê-lo.
Diria como ele estava
de bom parecer etc...
Pegava no chapéu dele.
Depois trazia-o para aqui
começava a conversar
para o pôr â vontade.
Possivelmente
oferecia-lhe uma bebida.
- Depois ele sentava-se.
- Sim?
Tentaria tornar tudo
muito agradavel.
O Phillip tocaria piano.
Se bem me lembro
o David era muito forte.
Por isso tinha de o pôr inconsciente.
La por detras da cadeira
e batia-lhe com força na cabeça.
O corpo cairia no chão para a frente.
E depois onde o poria?
Bem...
Deixa ver.
Pedia ao Phillip para me ajudar
a leva-lo pelas escadas traseiras
e punha-o no carro.
- Seria visto.
- Como?
O Rupert disse
que se algo aconteceu foi de dia.
E verdade. Então tinha de arranjar onde
esconder o corpo até escurecer.
Sim mas onde?
Sim.
Sim onde?
Como o gato e o rato!
- Quem é o gato e quem é o rato?
- Basta!
- Mete-te na tua vida!
- Basta!
Ja te disse
para te meteres na tua vida.
Realmente
não tenho nada a ver com ele.
Não vale a pena ficar
com ele neste estado.
A não ser que tenha voltado
para procurar mais do que a cigarreira.
Para descobrir por exemplo
se te livraste do David?
- Exactamente.
- Es tão romântico como a Janet.
Não creio que tenhas raptado o David.
A Janet deu-me a ideia
mas eu não teria falado nisso
se não andasses com o receio
de ser descoberto no bolso.
- O quê?
- Isso é um revolver não é?
Foi isso que aumentou
as minhas suspeitas.
E para ser franco
assusta-me um pouco.
Lamento muito Rupert.
Não o culpo mas...
Pode estar tranquilo.
La leva-la para o campo.
Tem havido varios roubos.
A minha mãe esta nervosa.
- Acabaste Phillip?
- Sim.
Ouviste o que ele disse?
O Rupert pensou que o revolver...
E estranho como se transformam
factos simples em fantasias.
- Todos nos o fazemos.
- Sim.
Em especial depois de umas bebidas.
A sua esta boa?
- Acho melhor ir-me embora agora.
- Phillip vais sentir-te melhor na rua.
Não deve haver muito trânsito
e não devemos demorar.
Esta uma noite boa.
Vão ter bom tempo para a viagem.
Quase gostava de ir convosco.
Pode vir a ser emocionante.
Guiar de noite é sempre emocionante.
Mas contigo e com o Phillip
poderia ter um elemento de...
...'suspense'.
Tinhas razão Phillip.
Os livros estavam mal amarrados.
- Ele ja descobriu!
- Phillip...
Ele sabe! Ele sabe!
- Pronto. Eu trato disto.
- Nem pensar.
Tanto me faz matar um como outro.
Era isto que querias.
Mais alguém que soubesse.
Para ver como és inteligente.
Como no colégio.
Eu disse que ele descobria
mas tu tinhas de convida-lo.
- Estamos perdidos!
- Cala a boca!
Tu obrigaste-me.
Tenho odio de mim e de ti...
Bêbedo estúpido!
Desculpe Rupert.
Quando se quer matar
não se falha a esta distância.
Ele não o queria matar.
Ele não sabia o que fazia
nem sabia o que estava a dizer.
Não queria que se soubesse.
Ele esta a tornar-se alcoolico...
Brandon vai para ali por favor.
Ele esta bêbedo. Não leva a sério
as ideias dele pois não?
Brandon.
Brandon estou cansado.
E também estou assustado.
- Não vou estar com mais rodeios.
- Que vai fazer?
Não quero mas vou ver
o que esta dentro da arca.
- Esta louco?!
- Espero que sim.
- Sinceramente espero estar louco!
- Não tem nada a ver consigo.
- Tenho de ver o que esta na arca.
- Esta bem!
Veja â vontade!
Espero que goste do que vai ver.
Oh não! Não.
- Rupert!
- Não queria crer que fosse verdade.
- Rupert por favor...
- Por favor o quê?
Oiça-me. Deixe-me explicar.
Explicar? Consegues explicar isto?
- A si posso. Você compreende.
- Compreendo?
Lembra-se da conversa
que tivemos com Mr. Kentley?
Dissemos que a vida dos seres
inferiores não tem importância.
Eu e o Rupert sempre dissemos
que os conceitos morais
de bem e de mal
não se aplicam aos seres
intelectualmente superiores. Lembra-se?
- Lembro-me sim.
- Foi isso que eu e o Phillip fizemos.
Eu e ele vivemos
aquilo que eu e o Rupert discutimos.
Eu sabia que compreendia
porque tem de compreender.
Brandon...
Brandon...
Até este momento...
o mundo e as pessoas
sempre foram obscuros
e incompreensíveis para mim.
Tentei abrir caminho
com a logica
e um intelecto superior.
Tu fizeste-me engolir
as minhas proprias palavras.
E tinhas razão. Um homem
deve ser leal âs suas palavras.
Mas tu deste âs minhas palavras
um significado que eu nunca sonhara.
Transformaste-as
numa desculpa fria para o teu crime!
Elas nunca quiseram dizer isso.
E não as vais transformar nisso.
Deve ter havido algo dentro de ti
desde o início
que te deixou fazer isso.
Mas sempre houve algo dentro de mim
que nunca mo deixaria fazer.
- E nunca seria cúmplice disso.
- Que quer dizer?
Fizeste-me ter vergonha
de todos os meus conceitos
de seres superiores e inferiores.
Mas agradeço-te por essa vergonha
porque fiquei a saber que somos
seres humanos separados
com o direito de viver
trabalhar e pensar como indivíduos
mas com um dever
para com a sociedade em que vivemos.
Com que direito
te atreves a dizer
que pertences a esses poucos
seres superiores?
Que direito tinhas de considerar
aquele rapaz inferior
e logo passível de ser morto?
Pensaste que eras Deus Brandon?
Foi isso que pensaste
quando o sufocaste?
E quando serviste comida
em cima do seu túmulo?
Não sei o que pensaste
mas sei o que fizeste.
Mataste!
Estrangulaste um ser humano...
que sabia viver e amar
como tu nunca soubeste.
- Nem voltaras a saber.
- Que vai fazer?
Interessa o que fara a sociedade.
Não sei o que sera mas imagino.
E posso ajuda-la!
Vão morrer Brandon! Os dois!
Vão ambos morrer!
- Isto foi o som de um tiro?
- Sim alguém disparou.
- Veio daquela rua.
- Esta alguém a brigar?
- Veio da rua.
- Foi perto dali.
- Ouviu um disparo?
- Sim ali em cima.
- Houve disparos.
- Sim ali em cima.
- Devem estar a vigiar a zona.
- Alguém devia ir ver.
Acho que se devia chamar a polícia.
Ouviram disparar tiros?
E melhor chamar uma patrulha.
Posso usar o telefone?
Eu não vou la acima ver.
Pode estar um louco la em cima.
Aí vem o carro da polícia.
Vêm aí!
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