Tip:
Highlight text to annotate it
X
SLEEPERS
Sentimento de Revolta
Esta é a história verídica
de uma amizade que supera tudo.
É a minha história e a de três amigos
que marcaram a minha vida.
Dois deles eram criminosos
que não chegaram aos 30 anos.
O outro, é um advogado
que não advoga,
vivendo com a dor dum passado
que não abandona,
nunca se confrontando
com o seu horror.
Eu sou o único que pode falar por eles
e pelas crianças que nós éramos.
Música
Fotografia
Baseado no livro de
Produção
Argumento e Realização
HELL'S KITCHEN
VERÃO DE 1966
Eu e os meus três amigos
éramos inseparáveis,
felizes por vivermos no mundo
fechado de Hell's Kitchen.
As ruas do West Side de Manhattan
eram o nosso recreio,
um reino de cimento
onde nos sentíamos senhores absolutos.
Hell's Kitchen era habitado
por operários irlandeses, italianos,
porto-riquenhos e europeus de Leste;
homens duros com vidas duras.
Vivíamos em apartamentos
em prédios de tijolo vermelho.
Poucas mães trabalhavam e todas
tinham problemas com os maridos.
Cala-te!
Já enterrei uma mulher
e posso enterrar outra!
A violência doméstica
era o dia-a-dia em Hell's Kitchen.
Mas não havia divórcios
e as separações eram poucas.
Imperava a vontade da lgreja.
Para um casamento acabar,
alguém tinha de morrer.
Contudo, não obstante
a dureza da vida,
as ruas de Hell's Kitchen
ofereciam ãs crianças
uma segurança
que poucos bairros tinham.
Não eram tolerados crimes
contra ninguém do bairro.
Quando ocorriam, o castigo era severo
e, em alguns casos, extremo.
Um traficante doutro bairro levava
heroína para Hell's Kitchen.
Uma dose matou o filho de 12 anos
dum porto-riquenho.
Foi a última dose
que o traficante vendeu.
Hell's Kitchen era um local
de inocência, governado por corrupção.
Eu e os meus amigos passávamos
tempo na igreja. Éramos acólitos.
Todos queriam celebrar exéquias
porque o funeral rendia 3 dólares,
ou mais, se estivéssemos
bastante tristes.
Competíamos os quatro
a ver qual fazia a maior partida.
No início das aulas, achei
o triquetrique da Irmã no corredor
e fiquei apto
a enfrentar a concorrência.
Na igreja, era costume alertar
as raparigas para se levantarem,
sentarem, ajoelharem ou dobrarem
o joelho, com base nos triquetriques.
Com um no bolso,
a bagunça era total.
Serão os defensores da fé,
os soldados de Cristo,
e receberão a dádiva
do Espírito Santo.
Será um grande dia e os vossos
padrinhos ficarão muito orgulhosos.
Quando foram baptizados, os vossos
padrinhos fizeram promessas por vocês.
- Agora, vão confirmá-las.
- Dá-me o triquetrique.
- O quê?
- Já!
Levantem-se.
Oremos.
As freiras são um alvo tão fácil...
OJohn e eu passávamos mais tempo
na igreja do que os outros.
Éramos os únicos do grupo
a pensar seguir o sacerdócio
e intrigava-nos
os poderes que davam ao padre.
Um mundo secreto
de traição e velhacaria,
onde se admitiam abertamente
crimes e indiscrições.
A confissão era melhor
que qualquer livro ou filme,
porque os pecados eram reais,
cometidos por gente conhecida.
Não se podia resistir ã tentação
de entrar nesse mundo.
Se formos apanhados,
não nos poupam.
E se as nossas mães forem lá
e ouvirmos as confissões delas?
E se ouvirmos algo pior?
- O quê?
- Um crime.
E se alguém confessa um crime?
Calma. Só temos de nos sentar,
ouvir e não rir.
Segundos depois, chegou gente.
Durmo com homens casados.
Homens com família.
De manhã, digo a mim própria
que é a última vez... mas nunca é.
Sim?
É que... estou grávida.
- O pai?
- Sei lá.
Que vais fazer?
Eu sei o que quer que eu faça
e sei o que eu devia fazer.
Só não sei o que vou fazer.
Tenho de me ir embora.
Obrigada por me terem ouvido,
rapazes.
Sei que guardarão segredo.
- Ela sabia.
- Pois sabia.
Por que achas
que ela nos disse aquilo tudo?
Não sei.
Acho que tinha de desabafar.
O Padre Robert Carillo
era filho de um estivador
e sentia-se tão ã vontade ao balcão
dum bar
como no altar,
numa missa pontifical.
Cometera delitos insignificantes
antes de ser padre.
Ele era um amigo; um amigo
que, por acaso, era padre.
Sabes o mal que isso te faz?
É melhor que cigarros
e é mais barato.
Talvez.
Então, tens novidades?
- Não.
- Soube que queres ser padre.
Quem disse?
Dizem que queres sentir
o que é um confessionário.
- Não sei o que quer dizer.
- Não?
- Talvez me informassem mal.
- Sem dúvida.
Até logo ã noite.
O que há esta noite?
Vou levar livros e revistas
a idosos e inválidos.
- A tua mãe disse que ajudarias.
- Acredito.
Shakes...
- Não quero que te metas em sarilhos.
- O Padre sabe que nunca me meto.
É tudo que desejo para ti
e para os teus amigos.
- Só isso?
- Só isso, nada mais. Juro.
- Um padre não devia jurar.
- E putos não deviam ouvir confissões.
- Até logo.
- Está bem... até logo.
No grupo, quem tinha mais experiência
*** era o Michael,
ou seja, já tinha beijado
uma garota mais que uma vez.
Mas a paixão dele era Carol Martinez,
uma mestiça de Hell's Kitchen,
irlandesa e porto-riquenha criada
pelo pai. A mãe morrera de parto.
Era muito calada, mas sentia-se bem
na nossa companhia.
Podíamos contar com ela para ser
sentinela na 1ª noite do Ice Capade.
Enquanto montes de famílias ficavam
ã espera de ver os patinadores,
cada um de nós tinha um olho
num buraco vendo lindas mulheres
quase nuas
vestindo os seus fatos de patinagem.
O céu deve ser assim.
Carol, queres vir ver?
Como se nunca tivesse visto isso.
Sortuda!
Ela é tão linda.
Morria agora sem me ralar nada.
Quando nós éramos miúdos,
Hell's Kitchen era governada
por um homem chamado King Benny.
Quando eu era miúdo, King Benny
era um pistoleiro de Lucky Luciano.
Lucky Luciano fez muito por este país
durante a II Guerra Mundial
mas não lerão nada sobre isso
em nenhum livro de história.
Dizia-se que King Benny
era o pistoleiro do "Mad Dog Coll",
esse pulha da West 23rd Street.
Ele fazia contrabando
de álcool com o "Dutch" Schultz
e abriu dois clubes
com o "Tough Tony" Anastasia.
Eu tinha 14 anos quando ouvi
falar dele pela primeira vez.
Diz-se que, em miúdo,
não valia grande coisa.
Em brigas de rua,
levava sempre porrada.
E um dia, sabe-se lá porquê,
um irlandês de uns 25 anos,
atirou o King Benny
de umas escadas abaixo.
King Benny ficou sem os dentes
da frente. Sabem o que ele fez?
Esperou.
Esperou oito anos para ajustar
contas com o sacana.
Entrou num balneário público.
O tipo estava de molho na banheira.
O King Benny tirou os dentes
da frente e põ-los no lavatório.
Depois olhou para o tipo e disse:
"Quando olho para o espelho,
vejo a tua cara."
Depois, puxou dum revólver
e deu dois tiros em cada perna
do tipo. Pum, pum! Pum, pum!
Depois disse-lhe:
"Agora, quando tomares banho,
vês a minha."
A partir daí, ninguém mais
se meteu com o King Benny.
Vingança.
Vingança.
Posso falar consigo um minuto?
Gostava de trabalhar aqui.
Ajudá-lo no que for preciso.
Tu és o filho do magarefe, não és?
- Sim.
- Que espécie de trabalho procuras?
Um qualquer, não interessa.
Não interessa?
Todos dizem que aqui
se arranja trabalho.
- Todos, quem?
- As pessoas do bairro.
Que raio é que eles sabem?
Sabem que tem empregos.
Desculpe tê-lo feito perdertempo.
Espera um instante!
- Se queres trabalhar, volta amanhã.
- A que horas?
- A qualquer hora.
- Estará cá?
Eu estou sempre cá.
O primeiro trabalho para King Benny
rendia-me 25 dólares semanais
e levava apenas 45 minutos.
No clube, um tipo dava-me
um saco de papel amarrotado
e mandava-me entregá-lo
numa das duas esquadras locais.
Era uma maneira perfeita
de entregar "luvas".
Vamos embora! Por aqui.
Vamos lá ver a ***
que tens no saco.
Devem estar doidos!
Sabem quem estão a roubar?
Sabemos,
e estamos cagados de medo.
Dá-me o saco.
Dá-me a porcaria do saco!
Que fazem aí?
- Respondam! Que fazem aí?
- Eles tiraram-me o dinheiro!
- Tiraram o dinheiro ao rapaz?
- O dinheiro está no saco.
- Dêem-me o saco.
- Vá-se lixar!
- E agora?
- Está bem, calma.
Já não és esperto?
Isto torna-te estúpido?
Dá-me o saco!
- Vai-te embora.
- E eles?
Interessa-te? Então, vai! Corre!
Assaltaram-me.
E se o velho não tivesse aparecido?
- Que queres?
- Os meus amigos...
Os teus amigos?
Isto é algum campo de férias?
Pode confiar neles.
Conheço-os desde criança.
Está bem, traz os teus amigos.
O Padre sabia que trabalhávamos
para o King Benny e não gostava.
O que o preocupava não era
os cobres que ganhávamos,
era virmos a pegar numa arma.
Ele não queria que isso
nos acontecesse.
- Achas boa ideia trabalhar para ele?
- Compensa.
- Muitas coisas compensam.
- Não como esta.
Muitos padres gostavam
de falar do púlpito.
O Padre Bobby gostava de falar
entre os empurrões dum jogo.
Bom cesto!
- Arranjei-te uma aula de arte.
- Sabe que não posso pagar aulas.
Não pagas nada.
O professor é meu amigo.
Não sei...
Pode ser uma perda de tempo.
Talvez, ou pode ser o primeiro passo.
- Primeiro passo para quê?
- Para fazeres algo da tua vida.
Quem sabe,
pode ajudar-te a sair daqui.
Vamos conversar ou jogar?
- Quero contar-lhes uma história.
- Não é sobre os leprosos?
- Essa fez-me pesadelos.
- É sobre Miguel ngelo.
Ele nasceu pobre, como vocês.
Era pintor e escultor.
Trabalhava para o Papa.
Ganhava bem.
E por que é que o Papa o chamou?
Porque o Papa procurava o melhor
para pintar o tecto da igreja em Roma.
- Não parece grande emprego, Padre.
- Para o Miguel ngelo era.
Ele ia ganhar mais dinheiro
do que tivera em toda a vida
e podia pagar aos agiotas
que perseguiam o pai.
O que era o pai dele?
Era um tipo medíocre,
desonesto.
Vigarizava com dinheiro, cabras,
ovelhas, galinhas, o que pudesse.
- Galinhas?
- Sabem o que aconteceu?
Ele pintou um tecto
que jamais será esquecido.
Pintou-o como que tocado
pela mão de Deus.
- E pagou as dívidas?
- Todas.
Quanto tempo é que ele levou
a pintar o tecto?
Cerca de nove anos.
- Nove anos?
- Que grande tecto!
Um porto-riquenho pintou a minha casa
toda em dois dias, e era coxo.
Não sei o que vou fazer de vocês.
Arranje-nos que pintar e nós...
Sabem o que ele pintou?
A Capela Sistina!
- A Capela "Sixteenth" (16ª)?
- Sistina.
Quem pintou as outras quinze?
INVERNO DE 1967
Os acontecimentos exteriores
pouco significavam.
Numa sociedade que mudava
radicalmente hora a hora,
víamos as imagens
todas as noites na televisão.
Jovens activistas diziam como iam
mudar a nossa vida e o mundo.
Mas enquanto gritavam
as suas palavras de ordem,
eu e os meus amigos acompanhávamos
enterros de jovens de Hell's Kitchen
que tinham morrido no Vietname.
Encarávamos com cepticismo
os rostos na televisão.
Aqueles das classes abastadas,
protegidos pelo dinheiro.
Um crescente exército de feministas
marchava pelo país
exigindo igualdade.
Contudo, as nossas mães
continuavam a cuidar de homens
que as maltratavam
física e mentalmente.
Estas coisas não deixavam marca
em mim e nos meus amigos.
Podiam ter-se passado
noutro país, noutro século.
A nossa atenção estava noutro lado.
Estávamos com o Padre Bobby
no 3º andar de um hospital,
esperando que o John recuperasse
duma perfuração num pulmão.
Uma prenda de um dos zelosos
namorados da mãe.
Espero que gostes.
Não te atrevas a dizer que não gostas.
O Padre Bobby não deixou
este caso em claro.
- Dei no Domingo. Estou com pressa.
- John Reilly.
O trastezinho! Ele pisou o risco
e eu meti-o na ordem. Foi só isso.
- Atiraste-o para o hospital.
- Ele está vivo, não está?
Se é esperto, aprendeu a lição.
- Quanto pesas? 110 quilos, 115?
- Sim.
És grandalhão. Quanto achas
que o John Reilly pesa?
40 quilos? Isso nem é um peso pluma.
Se fosse um combate, eras expulso.
Foi só um bofetão, nada mais.
Na próxima vez,
terás de te haver comigo.
Eu posso não ser da tua categoria,
mas peso mais de 40 quilos.
E quando acabar não precisarás
dum médico, mas sim dum padre
para rezar pela tua alma.
Vemo-nos na igreja.
O Padre Bobby teria dado
um bom pistoleiro.
É uma pena termo-lo perdido.
Perdíamos 7-6 no final do jogo
contra Hector Maldonado
e três amigos dele.
Força, Davy, acaba com ele.
- Ele não vale nada!
- Cala-te!
- Quem é?
- É a irmã dele.
- Que lhe aconteceu?
- Não se sabe.
Parece que tem um cancro nas pernas.
Preocupa-te com o jogo.
Força, Davy, despacha-o.
Ele não pode tocar-te.
Não tens pernas,
mas sobra-te língua!
Que é que estás a olhar,
parvalhão?
Ela é um encanto.
- Força, Davy!
- Podes vencê-lo, Michael!
- Eu disse-te que ele era bom!
- Cala-te, cabra aleijada!
Podias ajudá-la a atravessar
a rua ou dar-lhe um gelado.
Escusavas de ter perdido o jogo.
Agora somos o Exército de Salvação.
Já pensaram porque não há
uma Marinha de Salvação?
Acabou o jogo. Venha a ***.
Um dólar cada um.
- Ele não é melhor do que tu.
- Hoje foi.
Não. Deixaste-o ser.
Porque aqui o irlandês tem
um fraco por miúdas sem pernas.
Não se meta,
está bem, gordo?
Vocês são moles.
Vão ter problemas.
E quando eles surgirem,
vão sofrer e muito.
Isso é connosco,
não consigo, está bem?
Têm de ser duros.
A fraqueza cheira-se ã légua;
liquidam-vos num ápice!
Vêem essa rua? É o prato da vida
e vocês são os acepipes.
Alguém aparece, come-vos
e esquece-se de vocês na sobremesa.
Calma, gordo. Foi só um jogo.
Pois, mas a fraqueza
torna-se um hábito.
Têm de enfrentar a vida com dureza!
Não se desorientem.
Está bem, acalme-se.
Até parece o Confúcio.
Brinca, cagarola.
É um conselho que vos dou.
Aceitem-no se quiserem.
Obrigadinho, gordo.
Na verdade, a atitude
do Michael surpreendeu-nos.
Mas para ele, era mais
do que correcto perder esse jogo
para dar alegria a uma rapariga
numa cadeira de rodas.
VERÃO DE 1967
Vamos nadar.
A temperatura era de 37 graus
no dia em que as nossas vidas
se modificaram para sempre.
- Estou a arder.
Vamos buscar uns cacetes,
umas gasosas frescas
e vamos refrescar para as docas.
- Não sentes a brisa?
- Estamos rodeados por uma muralha!
Calem-se! Estou a bronzear-me!
- Estão 37 graus!
- Aqui corre uma brisa.
Há umas semanas que não vamos
ao vendedor de cachorros.
Não sei... Esse vendedor
não é como os outros.
Fica furibundo
quando se tenta intrujá-lo.
Comemos cachorros
ou comemos ar. Escolham.
- O artalvez seja mais seguro, Mike.
- Um cachorro não vale tanto.
- E é a vez de quem?
- Tua!
- Sim, tua.
- Minha? Não é nada.
- Eu fui no mês passado.
- Ele foi há 15 dias.
- Eu fui a seguir dele.
- Eu não vou!
- Porquê?
- Está muito calor.
Se desço as escadas, desmaio.
Mostarda e cebolas.
- Eu conheço-te!
- Sou parecido com muita gente.
O plano era simples.
Eu ia ter com o vendedor
e pedia um cachorro.
Ele dava-me o cachorro
e eu fugia sem pagar.
O vendedor ficava com duas
opções, nada agradáveis.
Não se mexia e perdia o dinheiro
ou ia atrás de mim.
A segunda opção forçava-o
a abandonar o carro
onde os meus amigos
Vou precisar de dois guardanapos.
Paga-me, ladrão!
Tirei-lhe o cachorro e fugi.
Passei pela Tinturaria Tommy Mug
e pela Sapataria Armond.
O vendedor perseguia-me,
com um garfo de pau na mão.
Dá-me duas.
Estes carros são mais pesados
do que parecem.
É das bilhas de gás,
para terem a comida quente.
Pesam como um burro!
Acham que os três
podemos empurrá-lo?
Empurrá-lo para onde?
Para perto daqui.
Seria uma bela surpresa
o tipo não achar
o carro quando voltasse.
Na 47th Street, o vendedor cansou-se.
Eu estava do outro lado da rua.
Ele estava estafado...
mas não vencido.
A raiva ainda o faria
correr mais 10 minutos.
Desiste.
Que foi, Mikey?
O Shakes demora-se.
Já devia ter voltado.
Não lhe acontece nada.
Vocês deviam levar os cachorros,
não o carro.
Agora é que ele nos diz!
Ele está perto?
Tenho um plano!
Vamos até ao metro!
O plano era tão simples e estúpido
como outros que já tivéramos.
Segurávamos o carro no cimo das
escadas, esperávamos pelo vendedor
e largávamo-lo
mal ele lhe deitasse as mãos.
Depois fugíamos enquanto ele
levava o carro para o passeio.
Ainda hoje não sei
porque fizemos aquilo.
Mas todos pagaríamos um preço.
Foi só um minuto, mas nesse minuto,
tudo se modificou.
- Não o aguento!
- Não o largues!
Não o aguento!
Pare! Meu Deus, não!
Porra!
Jesus!
O que é que vocês fizeram?!
- O que é que vocês fizeram?!
- Acho que matámos um homem.
Enquanto James Caldwell recuperava
lentamente no Hospital St. Claire,
nós fomos acusados
de comportamento perigoso
e detidos ã guarda
dos nossos pais.
- Desculpe, Pai.
- Pedir desculpa não te adianta!
Tenha calma. Não é altura
de perder a cabeça.
Vais para a cadeia e não sabes
o que isso significa!
Mãe! Venha ver, Mãe!
- Patife...
- Ele é um ***!
Não devia ir para a cadeia! Ninguém
da família devia cumprir penas.
Eu já cumpri penas
que cheguem para todos!
Soube que lhe falta um acólito.
Ainda sabes
o que tens que fazer?
Pouca água, carrego no vinho
e toco a sineta
quando alguém adormecer.
Prepara-te, só temos cinco minutos.
Vou ter saudades disto.
De tudo isto.
Tenho feito tudo, mas as portas
a que bato estão fechadas.
Eu podia fugir.
Podíamos fugirtodos.
Desaparecer por uns tempos.
Ninguém ia procurar-nos.
Ninguém se rala connosco
nem para onde vamos.
Se fugires agora,
vais fugir até morreres.
Esconderes-te não é solução.
As pessoas não vão esquecer.
Tens de enfrentar a situação.
Não consigo, Padre.
Não quero enfrentá-la.
Tenho muito medo
de a enfrentar.
Eu também tenho medo.
Ninguém tem mais medo do que eu.
Mas tens de o fazer.
Vai corrertudo bem.
Vais ultrapassar isto. Compreendes?
Vamos, temos gente ã espera.
Quando entrei, contei três bêbedos
e quatro viúvas.
E o Ralphie Gordo
a dormir no último banco.
É a chuva. O mau tempo
traz sempre muita gente.
Este é um dos meus preferidos.
O quê?
"O que fizeres ao menor
dos meus irmãos, fazes-me a Mim."
Anda.
Nós nunca vimos
o vendedor como um homem,
não do modo como víamos
os outros homens do bairro,
e não tínhamos por ele
o menor sentido de respeito.
Não nos ocorreu
o muito que ele trabalhava,
nem que tinha mulher
e dois filhos na Grécia
e esperava trazê-los para este país.
Não reparávamos nas longas horas
que ele trabalhava.
Não vimos nada disso.
Só vimos um almoço de borla.
EM DEUS CONFIAMOS
Thomas Marcano,
o Tribunal condena-te
a um período não superior a 18 meses
nem inferior a um ano
no Reformatório de Wilkinson.
John Reilly, o Tribunal condena-te
a um período não superior
a 18 meses nem inferior a um ano
no Reformatório de Wilkinson.
Lorenzo Carcaterra, tendo em conta
que chegaste ao local
depois do carro ter sido roubado,
o Tribunal condena-te a um período
não superior a um ano
nem inferior a 6 meses
no Reformatório de Wilkinson.
Michael Sullivan,
o Tribunal condena-te a um período
não superior a 18 meses
nem inferior a um ano
no Reformatório de Wilkinson.
E devo acrescentar
que se não fosse a intervenção
do Padre Robert Carillo,
que os defendeu acaloradamente,
a minha sentença
teria sido mais dura.
Ainda tenho dúvidas
sobre a vossa bondade.
Só o tempo dirá se estou errado.
- Padre, faz-me um favor?
- Que queres? Diz.
Nas últimas semanas os meus pais
parece que se querem matar.
- Pode olhar por eles?
- Olharei.
E ouça o que ouvir,
diga-lhes que eu estou bem.
Queres que eu minta?
É uma mentira piedosa.
Pode fazê-lo.
Vamos embora.
- Tem coragem.
- Terei.
O Reformatório de Wilkinson
albergava 780 jovens delinquentes
alojados em cinco edifícios.
Do exterior, parecia o que quem
o dirigia queria que parecesse,
um bonito colégio ou universidade.
O Michael, o Tommy, o John e eu
ficámos no 2º andar do Grupo C.
Cada um tinha um quarto
de 36 metros quadrados.
Ainda não estava no quarto há 1 hora
quando entrei em pãnico.
Depressa vemos a coragem que temos
ou até onde ela nos vai levar.
Eu sabia desde o primeiro dia
que não era corajoso nem forte.
Olá, Carcaterra.
- Atira a roupa para o chão.
- Aqui?
Querias um vestiário?
Não temos. Tira a roupa.
Diante de si?
Vá, depressa.
Que porcaria é essa
que tens ao pescoço? Tira-a.
É Santa Maria, a mãe de Deus.
Não me interessa de quem é mãe.
Tira-a.
Tudo.
- Quer que fique aqui nu?
- Já estás a perceber.
Eu sabia, os rapazes de Hell's Kitchen
não são tão parvos como dizem.
E agora?
Veste-te.
Havia quatro guardas em cada piso
e um deles - Nokes, no nosso caso -
era o chefe do grupo.
Ferguson era o único filho
de um falecido polícia de N. Iorque
e aguardava entrada na polícia
de Nova lorque ou de Suffolk.
Stylertrabalhava em Wilkinson
para pagar os estudos
da Faculdade de Direito
Addison tinha o curso do liceu
e só queria um emprego certo
e bem pago.
Os jovens que estavam em Wilkinson
não eram inocentes.
A maioria, senão todos,
estava onde devia estar.
Alguns já iam na segunda
ou terceira condenação.
Eram todos violentos. Poucos
pareciam lamentar o que tinham feito.
E quanto a reabilitação...
nem pensar nisso.
Por que raio fizeste isso?
- Passaste muito perto de mim.
- E daí?
Incomoda-me.
Eu não quero estar perto de ti
nem dos teus amigos!
O tempo passado aqui
não vos ensinou nada!
São os mesmos palhaços que eram
no dia em que entraram cá.
Acabem de almoçar.
Não há mais nada para ver.
Vá, sentem-se. Saiam daqui.
Vão.
- Isso também é comigo?
- Não, não é contigo.
Tu vais para o quarto.
Já acabaste de almoçar.
Põe-te a andar.
Muito em breve
vamos acabar este assunto.
Talvez ao jantar.
Os rapazes de Hell's Kitchen
não almoçam?
Tenho de cheirar o almoço.
Tens de o cheirar...
Essa é boa.
Onde é que vão?
Disse para ir buscar o almoço.
Vocês não precisam
de ir buscar o almoço
porque têm aí muito que comer.
Podes cheirar.
Não tenho fome.
Estou-me nas tintas
que tenhas fome ou não.
Comes, porque eu te mando comer.
Não tenho fome ã mesma.
Eu é que te digo
quando tens fome ou não tens.
Agora, come.
O que é que estão a olhar?
Ajoelhem-se
e acabem de almoçar!
Comam! Não pensem que ficam aqui
o dia todo! Comam!
Têm puré de batata...
Vá, chupem essa geleia.
Comam, cretinos!
Não pensem que têm o dia todo!
Vá, despachem-se!
Ninguém sai daqui sem esses cretinos
acabarem de almoçar! Entendido?
Tu, toma um bocado de pão.
Não se tem um bom almoço
sem um bom naco de pão! Come!
Vá lá, isso mesmo.
Mostrem aos rapazes
como cumprem as minhas regras.
Regras! Entendido?
Vêem como eles cumprem
as minhas regras?
O teu turno terminou, Nokes.
Não posso sair já.
Tenho de limpar isto antes de sair.
É o meu turno.
Eu limparei o que for preciso.
Não te metas nisto.
Não é nada contigo.
Desta vez... meto-me.
Não brinques comigo, rapaz.
Não, Nokes...
tu é que brincas comigo.
Peço-te que saias.
Estás no meu turno.
Sairei do teu caminho...
por agora.
Cá estarei para o que der e vier.
Vocês, levantem-se.
É uma tragédia.
Eu não os compreendo. Penso que
não sabem o que significa ter regras.
Têm de ter regras e disciplina.
Não sei como é que viviam em casa,
mas na minha casa, com o meu pai,
havia regras!
E se não se cumpriam as regras,
era um sarilho.
Havia regras e disciplina.
Ãs vezes, não era agradável,
mas nós aprendemos.
Virem ã direita.
É muito simples.
Vocês têm regras e disciplina.
É o princípio e o fim da história.
Compreendemo-nos?
Vira-te para a parede!
Nós fomos interrompidos
no refeitório,
mas aqui ninguém nos interrompe.
Que quer?
Um broche.
Ajoelha-te.
Vira-te para a parede!
Não se faz uma ideia
do abuso *** que sofremos.
Eu sepultei-o nas profundezas
do meu ser.
O que recordo mais claramente
dessa fria noite de Outubro,
é que fazia 14 anos
e foi o fim da minha infãncia.
Desde o princípio pedira
ao meu pai que não fosse ver-me.
Não podia olhar o meu pai
e deixá-lo ler no meu rosto
tudo que me tinha acontecido.
o mesmo com a família dele.
A mãe do Tommy não podia
fazer planos para o visitar.
A mãe do John vinha
uma vez por mês.
Mas ninguém podia impedir
o Padre Bobby de nos visitar.
Vamos levartudo numa boa,
está bem?
Nokes avisou-nos para não dizer
nada ao Padre Bobby.
Se o fizéssemos,
as represálias seriam severas.
Perdeste uns quilos.
A comida não é caseira.
Senta-te.
Hoje consigo ver os quatro.
Eu gostava do Padre Bobby,
mas não suportava olhar para ele.
Receava que visse o medo
e a vergonha e chegasse ã verdade.
Shakes,
queres dizer-me alguma coisa?
Seja o que for?
Não deve vir cá mais, Padre.
Eu agradeço-lhe muito,
mas penso que é melhor para si.
Ao vir para cá, parei em Attica,
para ver um velho amigo.
Tem amigos
que não estejam na cadeia?
Não tantos como eu gostaria.
Ele está preso porquê?
Triplo homicídio.
Matou três homens há uns 15 anos.
- E ele é um bom amigo?
- É o meu melhor amigo.
Andávamos sempre juntos.
Éramos unidos. Como tu e os rapazes.
Fomos os dois mandados para aqui.
Pois foi.
E não foi fácil, tal como não é
para ti e para os outros.
Este sítio matou-o...
tornou-o indiferente.
Não deixes que te faça o mesmo,
Shakes.
Não deixes que te faça pensar
que és mais duro do que és.
Tenho de ir, Padre.
Vejo-te lá no bairro.
Confio em ti.
Limpa as lágrimas.
Não os deixes verem-nas.
Não os deixes ver-te chorar.
Não lhes dês essa satisfação.
Não tardarás a sair daqui.
Vai corrertudo bem.
Eu não queria deixá-lo ir embora.
Nunca me senti tão perto
de alguém como naquele momento.
Parte dos detidos,
embora agissem com dureza de dia,
ã noite choravam
antes de adormecerem.
Também havia outros choros.
Eram diferentes
dos de medo e solidão.
Eram baixos e sufocados,
de angústia dolorida.
Esses choros podem mudar
o rumo duma vida.
São choros que, uma vez ouvidos,
nunca mais saem da memória.
Nessa noite, esse choro
era do meu amigo John
quando Ralph Ferguson foi visitá-lo.
Eu esperava ler 30 redacções
este fim-de-semana.
Só tenho seis.
Portanto faltam quantas?
Esta aula é de inglês.
Matemática é ao fundo do corredor.
Podem não acreditar,
mas eu quero ajudá-los.
Talvez não lhes interesse,
mas é a verdade.
- Tens um segundo?
- Fiz algum mal?
Não. Fizeste um bom trabalho.
Pareces gostar do livro
"O Conde de Monte Cristo".
É o meu preferido. Ainda gosto
mais dele desde que estou aqui.
Porquê?
O Conde não deixava
que ninguém o vencesse.
Suportou tareias, insultos, tudo
e aprendeu com isso.
Depois, quando chegou
a altura, agiu.
- Admiras isso?
- Não, respeito.
Tens um exemplar
do livro em casa?
Tenho a banda desenhada.
Não é a mesma coisa.
Tenho de ir,
senão perco a chamada da manhã.
Espera, tenho uma coisa para ti.
- Pensei que gostasses de o ter.
- Fala a sério?
Se gostas tanto do livro,
deves ter um exemplar.
- Não posso pagar-lhe.
- É uma prenda.
- Já recebeste prendas, não?
- Há muito tempo.
- É o meu jeito de te agradecer.
- O quê?
Haver alguém que ouça...
nem que seja só um aluno.
- É bom professor, Sr. Carlson.
- Discutimos o livro Sexta-feira,
se o Conde os interessar...
- É possível.
Leio alguma passagem em especial?
É fácil... aquela
em que ele foge da prisão.
Pronto, vedeta,
o teu vestiário é aqui!
Era só um jogo...
um jogo de futebol e nada mais.
Mas quisera
que nunca o tivéssemos jogado.
Guardas contra reclusos. Os guardas
treinavam quatro vezes por semana.
A nossa equipa foi formada
na Segunda-feira antes do jogo.
Tivemos um treino de duas horas.
Tanto fazia. Não íamos ganhar.
Só tínhamos de aparecer.
Qual é o tipo mais teso daqui?
Teso, como?
- Que fala e todos o ouvem.
- O Rizzo. Aquele *** ali.
O Michael viu uma hipótese
de nivelar o jogo.
Até fora do campo.
Mas precisava de ajuda.
Precisava do Rizzo,
um *** com um nome italiano.
Com ele do nosso lado,
tínhamos uma hipótese.
Ouve, eu não sei
o que vocês jogam nas ruas,
mas aqui, os guardas ditam as leis
e eles é que têm de ganhar.
- Porquê?
Os guardas deixam-me
cumprir a minha pena em paz.
Se eu jogar e lixar algum,
a minha vida pode modificar-se.
Eu não digo que temos de ganhar.
Só não quero ser sovado.
És todos os dias.
- Que tem o Sábado de especial?
- No Sábado podemos ripostar.
A sério?
Não te maltratam como a nós,
mas fazem-no dum modo diferente.
Para eles, és um animal.
- Quero lá saber!
- Queres, sim.
E arrear-lhes no sábado,
não vai alterar nada.
Então, porquê?
Para durante 2 horas,
eles sentirem o que nós sentimos.
Deixa-te de gracinhas, escarumba.
Ninguém se magoará.
- Estás a entender-me?
- Escolho cara.
Ele escolheu cara.
É cara.
Vamos a isso.
Vais morrer, sacana!
Vais morrer!
Nenhum sacana me derruba!
Temos um jogo em cheio!
- Sinto-me porreiro!
- Esta merda sabe bem.
Isso, sorri, formigota!
Durante 90 minutos,
o jogo saiu da prisão,
passou os portões trancados,
as montanhas que nos rodeavam,
e levou-nos ãs ruas
dos nossos bairros.
Durante 90 minutos,
voltámos a ser livres!
Rizzo! Rizzo!
Rizzo... Rizzo...
Bom jogo, Nokes.
Tínhamos alcançado uma vitória,
mas não durou.
Não podia durar.
E tudo que eu queria era morrer.
Eu não estava na fossa sozinho.
Os meus amigos estavam comigo.
Cada um na sua cela, com a sua dor,
com os seus próprios demónios.
O Rizzo também.
Eu perdera toda a noção do tempo.
- Nunca mais acordavas.
- Eu nunca mais queria acordar.
OJohn e o Tommy
estão daquele lado.
- Como é que eles estão?
- Estão vivos.
Quem não está?
O Rizzo.
Eles mataram-no?
Todos o sovaram
até não restar nada dele.
O Rizzo morrera por nossa causa.
Convencemo-lo que enfrentar
os guardas num simples jogo
tinha algum valor e nos daria
uma razão para seguir em frente.
Mais uma vez, estávamos errados.
PRIMAVERA DE 1968
- Já te deram a data de saída?
O Nokes recebeu uma carta do Director.
Acenou-me com ela e depois rasgou-a.
Quando calculas que é?
No fim da Primavera
ou no princípio do Verão.
Oxalá fossemos contigo.
Seria tão bom sairmos juntos.
É inútil pensar nisso. Vamos cumprir
um ano, nem uma hora menos.
Quando sair, posso levar o Padre
Bobby a fazer uns telefonemas.
- Tirar-vos um ou dois meses.
- Não há nada a dizer!
Há muito a dizer.
Talvez as pessoas agissem
se soubessem o que se passa aqui.
Eu não quero que ninguém saiba.
Nem o Padre Bobby,
o King Benny, o Mancho Gordo
ou a minha mãe... Ninguém.
Eu também não quero.
Não saberia o que dizer
a quem soubesse.
Não vejo ninguém
que precise saber disto.
Ou não acreditavam
ou estavam-se nas tintas.
Sim, acho que não devemos
dizer nada.
Só nos resta viver com isto
e falar dificulta mais as coisas.
Portanto, é melhor não falar.
A verdade fica connosco.
Quero conseguir dormir uma noite
sem pensar quem entra no meu quarto
e o que vai acontecer-me
Se eu conseguir isso,
então serei feliz.
Um dia, John... prometo.
Eu estava na minha última hora
de recluso em Wilkinson.
Tinha recebido quatro cópias
da ordem de soltura,
a última recordação
do meu tempo em Wilkinson.
Não tinha ouvido a chave
rodar na fechadura
nem o estalido do ferrolho.
Devias estar a dormir.
Só queria despedir-me.
Vimos todos despedir-nos.
Eu disse-lhe na cara dele...
"Não me interessa que me pague,
não trabalho essas horas."
Pediste-lhe o pagamento?
- Pedi, pois!
- Eu pedi e não me pagaram.
Venho três dias mais cedo,
e pagam-me? Não!
Uma parte de todos nós
ficou lá naquela noite.
Uma noite
que nunca mais esquecerei,
a noite de 1 de Junho de 1968,
o Verão do amor.
A minha última noite
no Reformatório de Wilkinson.
OUTONO DE 1981
Ãs 20:25,
dois homens entraram no bar.
O barman conhecia as suas caras
e na vizinhança sabiam os nomes.
Eram dois dos fundadores
do bando West Side Boys
e também os mais mortíferos.
O louro cumprira penas consecutivas
desde a adolescência.
Roubara e matara porque quisera
ou porque o mandaram.
Actualmente era suspeito
de quatro homicídios.
Era alcoólico e drogado,
irascível e sempre pronto a disparar.
Uma vez matara um mecãnico
por o ultrapassar numa fila.
O de cabelo escuro
era igualmente mortífero
e cometera o primeiro
homicídio aos 17 anos.
Em troca, recebera 50 dólares.
Bebia, drogava-se
e tinha uma mulher que nunca vira,
algures em Queens.
- Os republicanos...
- Bem, temos muito trabalho.
Vai levar mais de quatro anos
a conseguir.
- Conseguirão nas intercalares.
- Ele tem carisma. Vai conseguir.
É o nosso homem.
Reagan é o homem que vai conseguir.
Jerry.
De que é que eles estão a falar?
Do discurso do Reagan.
Serve-lhes bebidas
e põe na minha conta.
E diz-lhes que republicanos
não são bem-vindos a Hell's Kitchen,
nem se querem cá
conversas políticas.
Certo.
Aqueles senhores querem pagar-vos
uma bebida com uma condição.
Conhecem as regras: nada de religião
nem de política. Fiz-me entender?
Manda vir qualquer coisa para mim.
Vou ã casa de banho.
Deseja alguma coisa, chefe?
Agora não.
Saboreie o resto da sua refeição.
Pedi bifes do lombo
com batatas fritas
e dois cestos de pão de soda.
Sei que gostas.
Pode ser?
Olha bem
para o tipo que está na mesa.
Cabrão...
É ele.
Estás a gozar-me?
Bingo!
- É incrível.
- Ora viva... Há que séculos!
Quem são vocês?
Quem os convidou a sentar?
Pensei que ficasses feliz
por nos veres. Enganei-me.
Julguei-te com uma posição melhor.
Todo aquele treino, todo aquele afinco,
para acabares vigiando
o dinheiro alheio. Que desperdício.
Pergunto-lhes pela última vez,
o que raio querem?
Tem calma.
Acabarás porte recordar.
- Entendo que ele nos tenha esquecido.
- Pois.
Nós éramos uma coisa para tu
e os teus amigos brincarem.
Para nós
é um pouco mais difícil esquecer.
Tu deste-nos muito mais
para recordar.
Não consegues
localizar-nos, chefe?
Eu ajudo-te. Estás a olhar para
o John Reilly e o Tommy Marcano.
É verdade...
Já me recordo.
Foi há muito tempo.
- Então, como têm passado?
- Agora já não somos miúdos.
Então, que querem?
O que eu sempre quis
foi ver-te morrer!
Pediste bolo de carne.
Aqui, os bifes do lombo são óptimos,
só que tu nunca o saberás.
Fizeste borrada.
Vocês eram putos medrosos.
Vocês os dois. Todos vocês.
Acagaçados de todo,
- Então interpretei-te mal, Nokes.
Julguei este tempo todo que gostavas
era de foder e espancar miúdos.
Vocês dois vão arder no inferno!
- Vão arder no inferno.
- Depois de ti.
Doeu, Nokes?
Desculpa, Jerry.
Devia ter pedido os bifes no pão.
Meu Deus!
- John Reilly, como se declara?
- Inocente, Meritíssimo.
- Thomas Marcano?
- Inocente, Meritíssimo.
John Reilly e Thomas Marcano,
ficam detidos sem fiança.
Desde que saímos de Wilkinson,
nunca falámos do que lá aconteceu.
Continuámos amigos,
mas o relacionamento modificou-se.
Fomos vivendo, pensando
sempre se chegaria o momento
que nos forçaria
a enfrentar o passado.
Um já lá vai, Shakes...
Um já lá vai.
Um quê?
Um... Sean Nokes.
Nokes?
Na altura da morte de Nokes,
Michael trabalhava
como assistente do Procurador Geral
de Nova lorque.
Telefonou-me a marcar um encontro
na 45th Street e desligou.
- O que é que eles disseram?
- O quê?
- OJohn e o Tommy, que disseram?
- Este sítio é misterioso, Mike.
Eles falaram do Nokes?
- OJohn falou.
- Sim?
- O que disse?
- Disse, "Um já lá vai, Shakes."
Soube que contrataram
o advogado Danny Snyder.
Temporariamente. O King Benny
mandará um dos advogados dele.
Não o deixem fazer isso.
O Snyder é perfeito.
- Perfeito? O tipo é um bêbedo!
- Digo-te que ele é perfeito!
Perfeito para quê?
- Cobres o caso para o teu jornal?
- Eu?
Eu sou um escriturário
que trata de horários, Mikey.
É uma sorte deixarem-me
entrar no jornal.
Vamos beber um café?
Vamos passear.
Eu vou acusar o John
e o Tommy no tribunal.
- Estás doido?
- Ouve-me.
Amanhã fica em casa.
Dá parte de doente e salva a pele.
Não pego neste caso para ganhar.
- Pego nele para perder.
- Que quer isso dizer?
Que é a hora de pagar.
OJohn e o Tommy começaram.
Começou.
É complicado, não é como
eu planeei mas... aqui está.
- E tu e eu podemos acabar.
- Acabar o quê, Mikey?
Leste "O Conde de Monte Cristo"
ultimamente?
Sei lá... há uns dez anos.
Eu leio um bocadinho
todas as noites.
Leio palavras como 'vingança'.
Doce, duradoura vingança.
É a hora de pagar.
É a nossa hora.
Que estás a dizer, Mike?
Estou a dizer que agora
é a nossa vez.
Chegou a hora de põr fim a isto.
Vamos passear.
Então, pedi o caso. Disse-lhes
que era do bairro dos acusados
e conhecia a mentalidade da zona.
Eles acreditaram.
E a relação entre o John,
o Tommy e o Nokes?
Qual relação? Os cadastros juvenis
são destruídos passados sete anos.
Nós nunca estivemos
em Wilkinson.
Temos de perseguir os guardas.
Tenho de atingir Wilkinson.
Põr a nu tudo que lá se passa.
Adam Styler, polícia ã paisana,
trata de narcóticos em Queens.
Recebe droga e dinheiro
de traficantes. Consome cocaína.
Estão aí
outras informações pessoais...
Henry Addison, agora trabalha
para o Mayor. Imagina!
É Director Comunitário em Brooklyn.
Os mesmos hábitos sexuais.
Continua a gostar de miúdos.
Ralph Ferguson, trabalha
nos Serviços Sociais em Long Island...
- Há quanto tempo trabalhas nisto?
...divorciou-se, tem um filho
e nos fins-de-semana
ensina religião na igreja.
- Parece ter uma vida decente, não?
- Por isso é que eu quero o estupor.
O plano é chamar o Ferguson
como testemunha idónea,
e fazê-lo falar do seu melhor amigo,
Sean Nokes.
Quando o tiver a depor,
abro a porta de Wilkinson.
Mike, tens a certeza que queres
seguir este caminho?
Enterrámos tudo isso há muito tempo.
Ainda dormes com a luz acesa?
Queres que o John e o Tommy
saibam alguma coisa disto?
Não, tudo correrá melhor
se não souberem.
"Inocentes" tinha de ser um veredicto
que ninguém ousasse contestar.Danny Snydertinha de ser
o advogado do Tommy e do John.
O plano do Michael assentava
muito em Hell's Kitchen
para dar informações e calar.
Atributos que abundavam no bairro.
Tínhamos um método
de comunicação simples.
Se o Michael tinha informações,
no jornal diziam-me
para eu telefonar para a minha
namorada inexistente "Glória".
Se eu precisava
de comunicar com ele,
mandava alguém do bairro
comprar o New York Times,
escrever "Edmund" no canto superior
direito da secção Metro
e deixá-lo
ã porta do apartamento dele.
Para o plano ter êxito, precisávamos
do sigilo absoluto das únicas pessoas
em quem confiávamos abertamente.
O plano dependia de manter o Michael
vivo, portanto informar o "pessoal"
do John e do Tommy
que ele não era um alvo a abater.
Após essa noite, o Michael
não estaria acessível para ninguém.
A única altura em que o veríamos
seria no tribunal.
- É tudo?
- Não.
Têm 4 testemunhas que viram tudo
e estão dispostas a depor.
- Não podem sertantas.
- Falarei com o King Benny.
Óptimo.
Eu bato-me com duas, mas têm
de arranjar uma para o nosso lado.
- Uma quê?
- Uma testemunha.
Uma testemunha que ponha o John
e o Tommy noutro lado na noite do caso.
Uma testemunha intocável.
- Não há um nome para isso?
- Um juiz chamar-lhe-ia perjúrio.
- E nós chamamos-lhe o quê?
- Um favor.
Levanta-te! Anda!
- Tony.
- Sim, King?
- O Danny Snyder que venha ver-me.
- Danny Snyder, o advogado?
- Conheces algum outro?
- Não, King.
Traz-me o que conheces.
Sabe que não posso fazer isso.
Já lá vai tanto tempo.
Precisa de alguém mais novo.
Alguém como eu fui.
Mais novo não é melhor.
Não tem experiência,
não sabe mexer-se num tribunal.
Sim, eu tenho sorte,
sei dar com o tribunal.
Ano passado só tive quatro processos.
Sabe quantos ganhei?
Nenhum. Pois foi, nenhum.
Em dois deles,
o júri considerou-me o culpado.
- Eles deviam estar inocentes.
É difícil salvar inocentes
duma condenação.
Eu nem tencionava levar
este caso a tribunal.
la apelar o melhor que pudesse
e nada mais.
Não tencionava levar
este caso a tribunal.
Os teus planos foram alterados.
Receio cometer algum erro
e dizer o que não devo,
tomar uma decisão errada...
Não quer correr esse risco.
- A vida é risco.
- Desculpe?
- A vida é risco.
- A vida é um risco?
Nunca tinha estado aqui.
O que precisa que eu faça?
Ser-te-ão dadas
as respostas e as perguntas.
Só tens de ler.
Sabes ler, não sabes?
É em inglês?
Não andes ã deriva.
Não bebas e não percas.
- E se eu perder?
- Então bates a bota.
Nunca ouvi essa expressão.
Bater a bota.
Eu já não estou ã altura disso.
Um tipo é atropelado por um autocarro
e processa a companhia,
uma senhora que escorrega
no supermercado...
- Acabou a discussão.
- Sou um alcoólico.
É um caso de homicídio.
Não é para mim.
- Dantes era.
- Pois...
Antes de te deixares dominar
pelo álcool.
Amanhã quero-te sóbrio.
E não estejas tão preocupado, Snyder.
Não tens nada a perder...
tal como todos nós.
Não quero maçá-lo, mas...
...além do álcool, tenho
um pequeno problema de droga,
nada de grave...
- Vai-te embora.
Dias depois de Michael
ter aceite o processo,
King Benny visitou
os West Side Boys.
King pediu que os insultos
contra Michael continuassem.
Gritos de "traidor" e "pulha"
eram ouvidos na avenida.
Mas nunca atentariam
contra a vida dele.
Se tal actuação viesse a surgir,
partiria de King Benny.
A palavra do submundo,
a única que tinha peso,
espalhara-se pela ruas
com a velocidade duma bala.
Os "sleepers" de King Benny
cumpriam a sua missão.
"Sleepers" eram aqueles
que tinham estado num reformatório.
QUANTO É QUE ELA BEBEU?
Não vais pagar, sacaninha?
Preciso da tua ajuda, gordo.
Um grande favor. Estou lá fora.
- O King Benny veio ver-te?
- Meu Deus...
Que raio de negócio é esse?
Têm um advogado bêbedo
de um lado e um novato do outro.
Um distribuidor de jornais
armado em *** Tracy.
Há quatro pares de olhos
que viram tudo!
E os que são julgados
matam mais gente que o cancro.
Nem o General Custer os bateu.
Não há ligação entre o guarda e nós.
A polícia pensa que é um caso de droga.
- Só precisamos de uns favores teus.
- Se forem caçados, o caso é grave.
É cadeia a sério.
Eles já não são bons rapazes.
São assassinos... Frios como pedra.
Eu sei. Sei o que eles foram
e o que são, mas não se trata disso.
Não vale a pena estragares
a vida para te vingares.
Tu e o advogado
têm uma hipótese de outra vida,
de seguirem o bom caminho.
- Para nós não há hipóteses.
Eu jantava com a Carol
de vez em quando.
Ela ainda vivia no bairro e era
assistente social em South Bronx.
Nunca deixara
de se preocupar connosco.
Quando saíamos todos,
a Carol ia entre o Michael e o John,
de braço dado,
entre o advogado e o criminoso.
Assalta-me ou casa comigo. Estou
cansada demais para outra coisa.
Não te contentas
com umas cervejas, Carol?
Se é a tua melhor oferta...
Acrescentarei
um abraço e um beijo.
Combinado.
- Tens um ar cansado.
- Obrigado.
Não te dão tempo para dormir
nesse novo emprego?
Então, o que sabes?
O que o bairro diz.
E o que leio nos jornais.
O que diz o bairro?
Que o Johnny e o Tommy
vão para a cadeia
e que o melhor amigo
é que os mete lá.
- Acreditas nisso?
- É difícil não acreditar, Shakes.
A menos que estejamos todos
enganados. Ele aceitou o processo.
- Pois aceitou.
- Então que mais há a dizer?
Conheces bem o Michael.
Talvez melhor do que eu.
Julgava conhecer. Agora, não sei.
- Conheces...
- Não sei!
Ele é que pediu o processo.
Que raio de amigo é esse?
Dos melhores. Daqueles que abdica
de tudo para ajudar os amigos.
Que estás a dizer-me, Shakes?
Tu conheces este bairro, Carol.
Vive de expedientes.
Por que é que este caso
seria diferente?
Tenho fome.
Vou preparar qualquer coisa.
Há algo no Michael
que não consegues ultrapassar.
Podes tentar. Eu tentei.
Só que ele... fecha-se.
É impossível chegar até ele...
Pensei que a culpa era minha.
Tempo depois,
aceita-se melhor as coisas.
- Ainda o amas?
- Não penso nisso, Shakes.
Se pensasse, diria que sim.
- Mas agora estás com o John.
- Sim.
Tanto quanto alguém pode estar
com o John.
O homem que eu conheço
não é o rapaz que recordas.
Nenhum de nós é.
Mas há algo de especial no John.
Tens é de olhar
com mais atenção para ver.
Por que é que nunca
me convidaste para sair?
- Eu?
- Sim...
Porque eras a rapariga do Mikey.
- Ele chegou primeiro.
- E depois do Mikey?
- Acho que foi a vez do Tommy.
- Vai ã fava!
Não sei.
Porque achava que não aceitarias.
Estavas enganado, Shakes.
Estavas enganado.
O quê? Vá, diz.
Trabalhas na Assistência Social
Tens acesso aos ficheiros.
De vez em quando,
vamos precisar dumas informações.
- Seja o que for.
- Espera...
Que queres? Informações?
Queres os ficheiros?
Eu arranjo-tos.
O que é que queres?
Ainda visitas o John?
- Uma vez por semana durante uma hora.
- Sim.
Não lhe digas que me viste.
Não lhe digas nada.
Quanto mais ele pensar
que o caso é irremediável, melhor.
Shakes, o que se passa?
Queres um Rolls Royce?
Não vens aqui,
vais a Inglaterra
ou onde raio os fazem.
Se queres champanhe,
vais ter com franceses.
Se precisas de dinheiro,
procuras um judeu.
Mas se queres porcaria
enterrada algures,
ou um segredo que ninguém quer
se saiba, só há um sítio onde ir.
Aqui, a Hell's Kitchen!
É o Perdidos e Achados da merda!
Eles perdem e nós achamos!
Esquece, meu.
Agora, só têm duas testemunhas
para depor.
As outras duas
mudaram de ideias.
- Quais?
- Os cavalheiros do bar.
- Fica o casal da mesa.
- Por enquanto.
Tudo o resto corre bem?
Excepto a vossa testemunha.
Ainda não existe.
Eu sei...
Quando vocês foram presos,
lamentei sempre
não ter podido fazer mais.
Não sabia que gostava
tanto de pombos.
Gosto de tudo que não fala.
O rumo que Michael queria dar
ao caso era muito claro.
O objectivo dele era inculpar
o Reformatório de Wilkinson,
contra Sean Nokes, Adam Styler,
Henry Addison e Ralph Ferguson.
Apresentarei provas
e depoimentos que as sustentam.
Colocá-las-ei no local do crime.
Trarei testemunhas que confirmarão
que estavam presentes
nessa noite fatal.
Apresentarei provas suficientes
para entrarem numa sala de jurados
e voltarem com uma decisão
que não admite dúvidas.
Sabem o que isso significa pois devem
vertanta televisão como eu.
John Reilly e Thomas Marcano
são dois fantoches inocentes
rapidamente detidos...
...e rapidamente acusados
com as mais ténues provas.
Vê o lado positivo,
ele sabe os nomes deles.
É bom apareceres.
Traz-me outra colher.
Esta está suja.
- Tome.
- Não, ela trá-la.
Como vai o trabalho?
Continuo lá.
Sabe, pai...
...fui ao tribunal.
Vi o John e o Tommy. Vi-os lá...
...e pensei em quando éramos putos...
- Onde está o frango?
Então?
Nada. Estava só a pensar alto.
- Corre-te tudo bem, não?
Óptimo.
- Para que é que isto serve?
- É para rezar.
Olha para esta merda!
A tua mãe pensa que estás na tropa?
- Isto não está na lista aprovada.
- A tua mãe tem uma cópia dessa lista.
Ela não fala bem inglês.
Não nos culpes
por a tua mãe ser estúpida.
Quando vais rezar
para nós ouvirmos?
Talvez ele precise
dum motivo para rezar.
Põe as mãos abertas
em cima da mesa.
Afasta as pernas.
Agora começa a rezar.
- Não te ouvimos.
- É melhor que comeces,
senão o Styler
enfia-te o cacete no cu.
...bendita sois vós
entre as mulheres,
bendito é o fruto do vosso...
- Reza alto!
- Mais alto!
- Avé Maria...
Mais alto, sacana!
Mais alto!
Mais alto, cabrão!
Reza como se estivesses na igreja!
Desculpa o atraso.
Perdi a noção das horas.
Lembrei-me duma testemunha,
mas estou hesitante.
Quero que venhas.
Mas se não quiseres...
- Onde vamos?
- A casa dele.
- Onde é?
- Na residência paroquial.
Não, Shakes!
- Confia em mim.
- Não posso.
Como foi no tribunal?
Como o 1º assalto dum combate...
Estudavam-se mutuamente.
Como é que eles estavam?
Como quem deseja estar noutro lado.
As ovelhas extraviadas
são as mais desejadas.
Não é tarde demais, Padre.
Ainda temos mais uma hipótese
de trazer duas ovelhas extraviadas
Essa hipótese é legal?
- As últimas hipóteses nunca são.
- O King Benny está portrás disso?
- Está envolvido. Mas não manda nada.
- Quem manda?
O Michael.
Eu devia ter calculado.
Quando ele quis o processo,
devia ter desconfiado.
- É um bom plano.
O Michael tem tudo previsto.
Seja qual for a perspectiva.
Não tem tudo.
Falta algo, senão não estarias aqui.
- Ninguém o intruja, certo?
- Certo.
De que se trata?
O que é que vos falta?
Uma testemunha.
Alguém que diga ter estado com o John
e o Tommy na noite do crime.
E acharam que um padre,
seria perfeito?
Não é um padre qualquer.
Estás a pedir-me...
...estás a pedir-me que minta?
Estás a pedir-me
que jure por Deus e minta?
Estou a pedir-lhe que salve
dois dos seus rapazes.
- Eles mataram esse guarda?
- Mataram.
Então o que disseram é verdade?
Eles entraram e mataram-no.
Sim.
Mataram-no exactamente assim.
Preciso duma bebida.
Alguém quer beber?
Pedem-me um favor muito grande.
Nós sabemos.
Não, creio que não sabem.
Disse que se eu tivesse algo
importante a pedir-lhe, podia fazê-lo.
Eu estava a pensar
em bilhetes para o basebol.
Eu não preciso de bilhetes,
Padre. Preciso duma testemunha.
E a vida que foi ceifada, Shakes?
O que é que ela vale?
Para mim? Nada.
Porquê? Diz-me.
Ele...
...ele era um guarda de Wilkinson.
Se o Padre Bobby ia ser envolvido,
merecia saber no que se metia.
Se não fosse, eu sabia que a verdade
não sairia daquela sala
Também achei
que a Carol devia saber.
Meu Deus, nós éramos miúdos.
Não éramos fortes.
Eles atormentavam-nos.
Contei-lhes das torturas,
dos espancamentos e das violações.
Contei-lhes dos quatro rapazes
aterrados que rezavam
ao Deus do Padre Bobby
por uma ajuda que nunca chegou.
Contei-lhes tudo.
Não podíamos lutar mais...
tiraram-nos tudo.
OJohn costumava chorar de noite,
ouvia-se no corredor.
Sabe que o John queria ser padre.
Então ele baixou-lhe as calças.
Eu nem sabia o que era um broche.
Perdi a noção das coisas.
Parecia que nem conseguia respirar.
Depois, comecei a sufocar.
Ele puxava-me os cabelos da nuca.
Depois perdi os sentidos.
Mas lembro-me
de quando nos levavam para a cave,
amarravam dois ou três
e obrigavam o outro a ver puxar-nos
as calças e violarem-nos.
Tenho de tomar uma decisão.
Só peço a Deus que seja certa.
Será, Padre...
seja ela qual for.
Então, estava sentada a jantar
e dois homens entraram
no McHales, certo?
Viu os dois homens aproximarem-se
da mesa onde Sr. Nokes estava?
Vi, sim.
- Ouviu o que eles disseram?
- Não.
- Viu-os puxarem das armas?
- Não.
- Ouviu os tiros?
- Sim, ouvi os tiros.
O que é que eles fizeram
depois dos tiros?
Saíram do McHales
como se nada tivesse acontecido.
E nessa altura, viu claramente
as caras deles, Sra. Salinas?
Sim. Olhei para cima
quando eles saíam.
- Tem a certeza?
- A certeza absoluta.
Os dois homens que viu
no McHales estão nesta sala?
Sim, estão.
Pode fazer o favor
de os indicar ao júri?
Estão sentados ali.
Que conste do processo que a
Sra. Salinas identificou os acusados,
John Reilly e Thomas Marcano
como os dois homens em causa.
Obrigado.
Não tenho mais perguntas.
Sr. Dr, está preparado
para prosseguir?
Sim, Meritíssimo.
Farei poucas perguntas.
Não lhe tirarei muito tempo.
Declarou que só bebeu
vinho ao jantar. Certo?
Tem a certeza que só bebeu
uma garrafa de vinho?
Sim, uma garrafa de Chianti tinto.
Não bebeu nada antes?
"Antes" como?
Ao almoço...
bebeu alguma coisa ao almoço?
- Bebi, sim.
- O que é que bebeu?
Fui ãs compras e parei
em Madison Avenue para almoçar.
Não lhe perguntei onde foi.
Perguntei-lhe o que bebeu ao almoço.
- Um martini.
- E que mais?
Talvez vinho.
E quantos copos de vinho bebeu?
Um copo... talvez dois.
- Mais perto dos dois?
- Sim, provavelmente dois.
E...
É como arrancar dentes.
Devia ter-lhe prendido
as perguntas ã camisa.
E depois, ao jantar...
A QUE HORAS
ALMOÇOU?
A que horas almoçou,
Sra. Salinas?
Protesto!
O que Sra. Salinas fez
no dia do crime
não tem relação com o que ela viu
na noite do crime.
Quanto é que ela bebeu tem,
Meritíssimo.
Protesto negado.
A que horas almoçou,
Sra. Salinas?
- Cerca da uma e meia.
- Almoçou o quê?
Foi há bastante tempo.
Provavelmente uma salada.
Gosto de comidas leves
durante o dia.
Um martini, dois copos de vinho
e uma salada. Certo?
Sim, exacto.
E bebeu vinho ao jantar,
umas seis horas depois. Certo?
Sim, exacto.
Quanto vinho tinha bebido
quando os meus constituintes,
alegadamente, entraram no McHales?
- Dois copos.
Diria que quatro copos de vinho
e um martini num período de 6 horas
é beber muito, para si?
É, sim.
Já tinha ouvido disparos
antes da noite em causa?
Não.
Como descreveria o ruído?
Era alto.
Como fogo de artifício.
- O ruído assustou-a?
- Muito.
Fechou os olhos?
Ao princípio... até os disparos
cessarem. Depois abri-os.
Pensou que os homens que tinham
disparado iam matartoda a gente?
Não sabia o que pensar. Só sabia
que o homem tinha sido morto.
Pensou que podia ser morta
pelos dois assassinos?
- Pensei, sim.
- E apesar desse medo
e do risco que corria,
olhou para
as caras deles quando eles saíram?
- Olhei.
- Olhou?
Olhei, sim.
Olhou para as caras deles?
Olhou mesmo, Sra. Salinas?
Dei uma olhadela
quando passaram, mas vi-os!
Deu... uma olhadela?
Não olhou?
Eu vi-os!
Deu uma olhadela, Sra. Salinas.
Olhou de relance com os olhos
duma mulher muito assustada que...
talvez tivesse bebido demais.
Protesto.
Não é preciso, Meritíssimo.
Eu não faço mais perguntas.
Obrigado, Sra. Salinas.
Pode retirar-se.
Eram 06:15
duma manhã de Domingo.
Frank Magcicco actuava numa brigada
de homicídios em Brooklyn.
Era um detective de 1ª classe,
de nome limpo e reputação sólida.
Era também sobrinho de King Benny.
*** Davenport estava
nos Assuntos Internos.
Era ambicioso e queria ser capitão
antes dos 40 anos.
Sabia que a maneira mais rápida
de lá chegar
era desmascarar o máximo de agentes
corruptos no mínimo de tempo.
Que merda é esta, Frank?
Se fosse a ti,
fazia o que o rapaz diz.
Sais-te bem e tomas o pequeno-almoço
uma vez por mês com o Comissário.
Tu tens um pó danado ao Styler.
Que tens contra ele?
- Mais uma coisa.
- Estou ansioso.
É simples. Ninguém sabe
quem o informou. Ninguém.
- Como conseguiste isto?
- Caiu no meu colo.
Tal como vai cair no seu.
Santo Deus!
- Aqui só falta uma confissão.
- Deixo isso por sua conta.
- De preferência, arranque-lha.
- Até há fotografias.
Este pulha arrecada mil por mês
de traficantes há três anos.
- Há quatro.
- Não chega aos cinco.
Então, tem que chegue
é com um júri.
Mostre isto ao júri.
Que tens aí, Ness?
Há três semanas,
encontraram o corpo dum traficante
chamado Indian Red Lopez
num beco de Jackson Heights.
- Três balas na cabeça, bolsos vazios.
- Continua.
Esta é a arma que o matou
e as capsúlas.
E qual é a outra surpresa?
As impressões digitais
na arma são de Adam Styler.
- Fazes-me um favor?
- Que favor?
Se eu vier a fazer parte
da tua lista negra, telefona-me.
Dá-me a possibilidade de me desculpar.
Se precisar de algo mais,
telefone ao Frank. Ele contacta-me.
Acautela-te, rapaz.
Podes vir a ter sarilhos.
Farei o possível.
Ouve, Ness...
já pensaste ser polícia?
E abandonava os bons?
- O corpo de Cristo.
- Ámen.
- O corpo de Cristo.
- Ámen.
O corpo de Cristo.
Michael fizera tudo
o que era de esperar
de um assistente do Procurador
Geral em busca duma condenação.
Um perito dissera qual o calibre
da arma que matara Nokes.
Mas nunca teve a arma
para apresentar como prova
e nunca deu ao júri
o motivo do crime.
A tensão do lugar que ocupava,
as horas de trabalho
e a incerteza do desfecho,
tiveram um enorme peso sobre ele.
Viu as caras deles?
Sim, olhei para eles
e eles olharam para mim.
Eles disseram-lhe
alguma coisa?
Não, olharam para mim
e saíram do McHales.
Tem a certeza que os dois acusados
mataram Sean Nokes?
Eu sei que o mataram.
Se o plano resultasse,
o sucesso seria de todos.
Se falhasse,
a culpa cairía sobre o Michael.
O Padre Bobby Carillo, o melhor
"encestador" de West Side,
era a chave dum plano que exigia
de todos os envolvidos
a negação de um crime.
Voltou-se e olhou quando ouviu
os tiros, Sr. Carson?
Porque não se voltou,
Sr. Carson?
Receei pela minha companheira.
Sr. Carson, os dois indivíduos
ameaçaram-no de alguma forma?
Ameaçaram alguém no McHales,
tanto quanto sabe?
Eu não vi, mas sei!
Se não viu o acusado
alvejar o guarda,
como sabe que foi ele
que o matou?
Então, qual é a urgência?
O Shakes não devia ter-te mandado.
É demasiado arriscado.
Ninguém me mandou.
Eu queria ver-te.
Porquê?
O Shakes foi ver
o Padre Bobby há duas semanas.
- Ainda não teve notícias.
- A decisão dele não é fácil.
- E se ele não testemunha?
- Então o problema é muito sério.
Diz ao Shakes que fale outra vez
com o Padre Bobby.
Ele que lhe conte tudo.
Ele sabe o que eu quero dizer.
Ele já lhe contou.
O quê?!
Eu estava presente quando
ele falou com o Padre Bobby.
Eu ouvi tudo, Michael.
Então, sabes.
Sim...
Se tu me tivesses dito...
Penso que tudo
podia ter sido diferente.
Se tu tivesses falado...
Talvez... talvez...
Como vai isso?
A dieta resulta, Carmen.
Não me rala o que os outros dizem
- Ainda tem um fraco pela Doris Day.
- Era uma grande mulher.
Conheces a Strega?
É difícil não conhecer uma mulher
com quatro verrugas e só um olho.
Ela precisa das cabeças. Salvatore.
Leva isto ã bruxa.
- Para que quer ela as cabeças?
- Tira-lhes os olhos.
- Maravilha!
- Põe-os numa taça com água e azeite.
E depois?
Quem tem uma dor de cabeça,
vai ter com ela.
Ela olha os olhos e diz
quem causa a dor de cabeça.
Pronuncia umas palavras,
e a dor desaparece.
De vez em quando, o causador
da dortambém desaparece.
O Addison, que trabalha para o Mayor,
deixa o cargo daqui a duas semanas.
Não quer que ninguém saiba
o tipo que ele é.
Não quer que se vejam fotos dele
que não se devem ver.
- Ele sabe disso?
- Virá a saber.
Os rapazes que ele compra
para as festas são caros.
O Addison ganha bom dinheiro,
mas não é nenhum balúrdio.
- Quanto é que ele deve?
- Oito mil, com juros elevados.
- Paguei tudo.
- Pagou?
As dívidas do Addison são minhas.
- Odeia dívidas.
- Odeio o Addison!
Agora, estamos no lado sujo
do campo. É onde eu jogo.
E eu gosto de jogar sozinho.
Tu és bom rapaz. Sempre foste.
Não deixes que isto te modifique.
A mãe deu-lhe o nome
de Edward Goldenberg Robinson,
o seu actor preferido.
Para continuar
a ligação com Hollywood,
Eddie Robinson adoptou
o nome de "Little Caesar"
na sua escalada
no lucrativo tráfico de droga.
Tinha um filho de 12 anos
num colégio particular em N. Iorque.
Chamou-lhe Rizzo,
o nome do seu irmão mais novo
que morrera
no Reformatório de Wilkinson.
- Quero que me dê algum dinheiro.
- Está bem. Eu entro no jogo.
- Paga-me daqui a quanto tempo?
- Não lhe pago. Será outro a pagar.
- É alguém que eu conheço?
- O seu irmão mais novo conhecia-o.
O Rizzo?
Como é que ele conhecia o Rizzo?
Henry Addison foi guarda
num reformatório.
Estava lá no tempo do Rizzo,
antes e depois de ele morrer.
Conta oito mil dólares
e mete-os num envelope.
Recua muito no tempo, velhote.
Os velhotes fazem sempre isso.
Acompanhou a Máfia
quando eles ditavam leis.
Acompanhei-a quando pude.
E com sucesso.
Deu um certo estilo e classe
ao negócio.
O modo como vestia e falava
incutia respeito.
Sempre o apreciei por isso.
Não posso ajudá-lo.
O meu alfaiate morreu.
Vou procurar o nosso amigo
e cobrar o que ele me deve.
Ele deve-lhe mais do que dinheiro.
Não há nada que valha mais
do que o dinheiro.
- Há, sim.
- O quê, velhote?
O que é que esse tipo me deve
que valha mais do que dólares?
Deve-lhe o Rizzo.
Foi ele que matou o seu irmão.
Eles disseram que ele morreu
de pneumonia.
"Disseram".
Que importa isso? Qual é o mal
de Ralph Ferguson ensinar religião?
Não sei, Doutor.
O que pede é muito invulgar.
Eu compreendo, Meritíssimo,
mas preciso de dar um rosto ã vítima.
Senão, é apenas mais um nome
na necrologia.
Alguma objecção, Sr. Snyder?
Não vejo qualquer problema.
Meritíssimo, a acusação
chama a depor Ralph Ferguson.
- Bom dia, Sr. Ferguson.
- Bom dia.
Agradeço a sua vinda.
Sei que veio de muito longe.
Só lamento o motivo
da minha vinda.
O senhor e a vítima, Sean Nokes,
eram muito amigos.
Penso que o seu testemunho
do carácter dele será muito valioso.
Éramos muito amigos.
Seria difícil encontrar melhor amigo.
Diria que era o melhor amigo dele?
O mais íntimo era com certeza.
- Há quanto tempo se conheciam?
- Há uns 17, 18 anos.
E viam-se com frequência?
Tanto quanto podíamos.
Fins-de-semana, feriados, férias...
- Que tipo de homem era Sean Nokes?
- Era um bom homem.
Era bom demais
para ser morto por dois rufias.
Protesto, Meritíssimo.
É uma opinião, não um facto.
- Foi pedida a opinião dele.
- Protesto negado. Continue.
Sr. Ferguson...
sabe se ele tinha inimigos?
Sean Nokes não tinha inimigos.
Obrigado, Sr. Ferguson.
Não faço mais perguntas.
- O que é isso? Uma prisão?
- É uma casa de correcção para rapazes.
E quais eram as suas funções lá?
O normal. Manter os rapazes na linha,
fazê-los chegar ãs aulas a horas,
evitar sarilhos, recolhê-los ã noite,
nada demais.
Como guardas, o senhor e o Sr. Nokes
podiam usar a força
para, como diz,
"manter os rapazes na linha"?
Como?
- O que entende por força?
- Podiam bater-lhes?
Não. Claro que não.
Algum guarda bateu em algum rapaz
enquanto esteve em Wilkinson?
Estou certo que isso pode ter
acontecido, era um sítio grande,
mas não era prática comum.
- Claro. Então "encolhamos" o sítio.
O Sr. Ou o Sr. Nokes bateram
em algum rapaz ao vosso cuidado
no Reformatório de Wilkinson?
Quer que eu repita a pergunta,
Sr. Ferguson?
Então responda. E lembre-se
que está sob juramento.
Batíamos ocasionalmente nalguns
rapazes com problemas disciplinares.
- E batiam-lhes como?
- Não estou a entendê-lo.
Um murro, um estalo, um pontapé...
ou com o cacete?
- Dependia da situação.
- Quem avaliava a situação?
O guarda de serviço.
É ter muito poder
sobre um rapaz, não é?
- Fazia parte do cargo.
- A tortura também fazia parte?
Os rapazes eram torturados,
não eram, Sr. Ferguson?
Defina tortura.
Vamos lá definirtortura.
Queimaduras de cigarros,
espancamentos,
prisão em solitária
sem comida nem luz.
- Isso ocorria?
- Ocasionalmente.
- Quem os torturava?
- Os guardas.
Quais guardas?
Não me recordo. Todos.
Recorde-se de um.
Sr. Ferguson, recorde-se de um.
Recorda-se de algum?
Doutor, espero que este questionário
tenha a ver com este caso.
- Vai ter, Meritíssimo.
- Para seu bem.
Sr. Ferguson, alguma vez houve
abusos sexuais em Wilkinson?
Alguma vez houve abusos
sexuais em Wilkinson?
Sim, ouvi dizer que houve.
Não estou a perguntar-lhe
o que ouviu,
estou a perguntar-lhe o que viu.
- Não faça isso, Ferguson.
- Julgava que vocês gostavam.
Vi, sim.
E o senhor e Sean Nokes alguma
vez abusaram de algum rapaz?
O senhor e Sean Nokes alguma vez
violaram um rapaz em Wilkinson?
Senhores advogados.
Aproximem-se.
Vamos foder o teu amigo Johnny.
O que é que se passa, Doutor?
Creio que convoquei
testemunha não é o que pretendia.
Não faça isso, Ferguson.
Sr. Ferguson,
por favor responda ã pergunta.
Por favor, Ferguson.
- Diga-me, Sr. Ferguson...
- Vou entrar devagarinho.
Sean Nokes foi a sua casa
muitas vezes, não é verdade?
Alguma vez deixou Sean Nokes
sozinho com o seu filho?
Filho?
Por outras palavras, a sua ex-mulher
deixaria Sean Nokes
sozinho com o vosso filho?
- Não haveria motivo para isso.
Não haveria motivo para ele ficar
sozinho com o nosso filho.
Nunca aconteceu?
Temos um depoimento explicando
porque é que ela nunca deixaria
Sean Nokes sozinho com o vosso filho.
- Protesto!
- Aceite.
- Sean Nokes...
- Gosto de ir devagarinho...
Nunca mais me toca!
Sim...
"Sim"?
"Sim", o quê?
Sim, Sean Nokes teve relações
com alguns rapazes.
- Estava presente?
- Sim.
- Testemunhou essas relações?
- Sim.
- Fez mais do que... testemunhar?
- Nessa altura eu bebia...
Havia outros guardas
por perto nessas alturas?
Sim.
- Consigo e com o Sr. Nokes?
- Sim.
- Em mais do que uma ocasião?
- Sim.
Ainda pensa que Sean Nokes
era um bom homem?
Ele era meu amigo.
Um amigo que violava e abusava de
rapazes que lhe pagavam para cuidar?
Não faço mais perguntas.
Quero que isto acabe.
Quero que isto acabe.
A testemunha pode retirar-se.
Sr. Ferguson.
Sr. Ferguson, se fosse a si,
não me afastava muito de casa.
Quererão falar consigo. Compreende?
Michael continuou a trabalhar
nas duas faces do processo.
Ao fazer de acusação e de defesa
mostrou o que Ferguson era
e continuou a ocultar ao Tribunal
o motivo que levara John e Tommy
a matar Nokes.
Little Caesar, que sempre andara
com a foto do irmão no bolso,
exigiu o dinheiro a Henry Addison.
Addison não podia pagar
o empréstimo,
e deu a Little Ceasar a única razão
de que ele precisava
para vingar a morte de Rizzo.
Davenport não teve dificuldade
em caçar Adam Styler.
Ele foi rapidamente preso
e acusado da morte
do traficante de Queens e de oito
acusações de corrupção e suborno.
Ganho-te por 6-4.
Quase toda a gente
joga este jogo no Verão.
É mais fácil ver a bola
sem lágrimas nos olhos.
Estou-me nas tintas
para os outros!
Vais ter um ataque cardíaco
e eu não te faço boca-a-boca.
Eu também não caso contigo.
OJohn e o Tommy estão desconfiados,
mas não sabem o que é.
É mais fácil ver um italiano na Casa
Branca do que eles descobrirem.
O Snyder saiu-se lindamente.
Ele não é nada mau.
Eu pensava que ele
mal se aguentava de pé.
Ele é bêbedo, mas não é parvo.
Só vencemos quando o John
e o Tommy forem ilibados.
Para isso terão de os tirar
do local de crime,
põ-los noutro sítio. E só
o conseguem com uma testemunha.
Ele virou o Homem Invisível.
Ninguém o viu.
E se ele não aparece e ficamos
entregues a nós próprios?
A rua é o que importa.
O tribunal é para gente importante,
com fatos, dinheiro,
advogados com três nomes.
Com dinheiro, podes comprar justiça.
Na rua, a justiça não tem preço.
É cega onde o juiz está, mas não aqui.
Aqui, ela tem olhos.
Nós precisamos de ambas.
Então, precisam duma testemunha.
Senhores membros do júri,
não devem ter em conta o testemunho
de Ralph Ferguson.
O testemunho dele
é retirado do processo.
O Ministério Público terminou,
Meritíssimo.
- Terminou?
A defesa quer continuar?
Não sei, Meritíssimo...
Não sabe?
- Não sei se... Aguardamos...
- Muito bem.
A sua testemunha terá de depor
amanhã ãs horas.
Tudo bem?
Ainda bem.
Gostei muito de assistir ã missa.
Meritíssimo, a defesa
chama o Padre Robert Carillo.
Padre, conhece muitos
dos seus paroquianos?
Conheço todos
os meus paroquianos.
Conhece os dois acusados,
John Reilly e Thomas Marcano?
Sim.
- Há quanto tempo os conhece?
- Desde garotos.
- Ambos foram meus alunos.
- Há quanto tempo está lá?
- Ponha a mão esquerda na Bíblia.
- Faz 20 anos esta Primavera.
- Levante a mão direita.
- Sou um padre.
No processo contra John Reilly
e Thomas Marcano,
jura dizer a verdade e só a verdade
assim Deus o ajude?
Juro.
Digo a missa diariamente,
ouço confissões...
Padre, lembra-se onde estava
na noite de 1 de Novembro deste ano?
- Sim, lembro-me.
- Onde estava?
No Garden, no jogo de básquete
do Knicks contra o Celtics.
E a que horas começou
o jogo do Knicks?
- Pelas 19:30.
- A que horas acabou?
- Entre as 21:30 e as 22:00.
- Lembra-se quem ganhou o jogo?
Infelizmente foi o Celtics.
Kevin McHale e Robert Parish
foram demais para os nossos rapazes,
embora fosse
o Dia de Todos os Santos...
Na próxima telefone-me,
verei o que posso fazer.
Tentarei.
Foi ao jogo sozinho,
Padre Carillo?
Não, fui com dois amigos.
E quem são esses amigos?
John Reilly e Thomas Marcano.
- Os dois acusados?
- Sim, os dois acusados.
Padre Carillo, ãs 20:25,
a hora a que a polícia diz
que a vítima, Sean Nokes,
foi assassinada,
ainda estava com os Srs. Reilly
e Marcano no jogo?
Estava, sim.
E a que horas é que o Sr. Reilly
e o Sr. Marcano o deixaram?
Pelas 22:30... ou pouco mais.
Deixaram-me ã porta de casa,
onde tinham ido buscar-me.
Os acusados disseram-lhe
para onde iam?
Não, mas imagino que após passar
a noite com um padre,
foram ã procura do primeiro bar
que encontrassem.
Então, se os dois acusados estavam
consigo ãs 20:25 na noite do crime
não podiam ter morto Sean Nokes
como o Ministério Público sustenta.
Só se o tivessem morto do pavilhão.
Ele não foi morto de lá.
E não foi morto por esses rapazes.
Não faço mais perguntas.
Obrigado, Padre.
A testemunha é sua,
Dr. Sullivan.
Obrigado, Meritíssimo.
Comprou os bilhetes
ou ofereceram-lhos?
- Não, comprei-os.
- No dia do jogo?
Fui ã bilheteira uma semana antes.
Além dos acusados,
alguém sabia que ia ao jogo?
Penso que não.
Estava alguém consigo
quando comprou os bilhetes?
- Ninguém o viu comprá-los?
- Exacto.
- Pediu um recibo?
- Não, não pedi.
Pagou com cheque?
Mastercard, Visa?
Não, paguei com dinheiro.
Normalmente pago com dinheiro.
Gosta muito dos rapazes
da sua paróquia, não gosta?
Muito.
E não há nada que não fizesse
por eles, não é verdade?
Não hesitaria fazertudo
o que estivesse ao meu alcance.
Como um pai
olhando por um dos seus filhos.
- Mais ou menos isso, sim.
- Então, como um bom pai,
quereria protegê-los de algo
que não deviam ter feito.
Tanto como quereria fazê-lo de algo
de que alguém os acusasse.
- Como um crime?
- Sim, como um crime.
Deixe-me ver se entendo...
Ninguém sabia que ia ao jogo,
ninguém o viu no jogo,
ninguém o viu comprar os bilhetes.
Nada prova que os comprou,
nem tem um recibo.
Não é assim?
- Sim, exactamente.
- Então como é que nós sabemos
que o senhor e os dois acusados
estavam no jogo na noite do crime?
Eu digo-lho como testemunha
e como padre. Estávamos no jogo.
Como padre. E um padre
não mentiria, pois não?
Um padre com os canhotos
dos bilhetes não precisaria mentir.
Eu guardo sempre os canhotos.
Quer vê-los?
Por que é que guarda
sempre os canhotos, Padre?
Porque nunca se sabe quando alguém
quer mais do que a nossa palavra.
Já alguém tinha duvidado
da sua palavra antes?
Não. Nunca.
Mas há uma primeira vez para tudo.
Não faço mais perguntas.
Obrigado, Padre.
Obrigado, Padre. Pode retirar-se.
Nunca me refiz de ver o Padre
Bobby mentir por nossa causa,
para ajustar as contas
do John e do Tommy.
Ele testemunhou a favor deles
e contra Wilkinson,
contra o mal que lá existira
durante demasiado tempo.
Contudo, eu lamentava
que ele tivesse de o fazer.
Quanto ã acusação de homicídio
de 2º grau, consideram o réu J. Reilly
culpado ou inocente?
- Inocente.
Quanto ã acusação
de homicídio de 2º grau
consideram o réu
Thomas Marcano
culpado ou inocente?
- Inocente.
Muito obrigado.
O júri pode retirar-se.
Olá, está bom?
Quero um cachorro.
Mostarda e tempero...
muito tempero.
Dê-lhe dois guardanapos.
Fizeste um bom trabalho, Doutor.
Que te acontece agora?
Que me acontece?
Vou-me embora.
Espero umas semanas
e apresento a demissão.
Depois deste processo,
estão desejosos que isso aconteça.
Passas para o outro lado,
para a defesa. Ganha-se mais.
Haverá sempre mais maus
do que bons, Mikey.
Imaginas o trabalho que a malta
do John e do Tommy te darão?
É uma casa com piscina.
Não para mim.
Já vi toda a justiça que quero ver.
- É altura de fazer outra coisa.
- O quê?
Dir-te-ei quando souber.
És velho demais para jogar pelos
Yankees e novo demais para o golfe.
Por que sabotas os meus planos?
Fazes-me entrar em pãnico.
Vais-te sair bem, como sempre.
É tempo de sossegar, Shakes.
Quero fechar os olhos
e não ver os sítios onde estive.
Estou exausto.
Não sei...
Talvez venha a ter a sorte
de esquecer que estive lá.
Não desapareças, Doutor.
Um dia posso precisar
dum bom advogado.
Não tens dinheiro
para um bom advogado.
Mas posso precisar
dum bom amigo.
Quando precisares, eu encontro-te.
Fica descansado.
Sempre encontraste.
Passara um mês desde a absolvição
e não nos contactáramos.
Nessas semanas, as nossas vidas
tinham voltado ao que eram
antes do homicídio de Sean Nokes.
Carol voltara aos seus ficheiros
dos Serviços Sociais,
ajudando adolescentes perturbadas
e mães solteiras.
John e Tommy voltaram ãs ruas,
chefiando os West Side Boys.
Eu fui promovido a repórter estagiário
na coluna de espectáculos.
Michael demitiu-se, como prometeu,
depois de ter perdido
um processo "imbatível".
Não sei como te agradecer!
É incrível o que fizeste.
Não sei como nos safámos!
Não fui eu, foi o Mikey.
Ele é que planeou tudo.
Quando soube da participação
dele, ia mandar liquidá-lo.
Depois pensei que era um amigo,
e antes ser condenado por ele...
Da maneira como conduzia o caso
até comecei a ter pena dele.
- Nunca tenhas pena dum advogado.
- Vem cá, Doutor!
Tu é que és o Conde!
Vivinho da costa,
vivendo em Nova lorque!
Tarado duma figa!
Isto é um bar "gay"?
Era, até tu chegares!
Além do "olá"
não me dás um beijo?
Sai da frente.
Vamos beber um copo.
Os Quatro Gladiadores!
"Os Quatro Gladiadores",
o pior quarteto de Hell's Kitchen.
Como é que o Shakes
queria chamar-lhe?
O génio queria chamar-lhe
"O Conde e os Seus Cristos".
- Bonito!
- É doce, não é?
Os álbuns até voavam da loja.
Não éramos assim tão maus.
Alguns queriam ouvir-nos.
O miúdo da escola de surdos
não contam!
Uma canção para a Carol.
- Eu retirei-me há muito tempo.
- Canta lá!
Esperem! Vocês não têm
de ir matar alguém?
Temos sempre tempo
para uma canção!
Eu estava a brincar.
Escolhe tu, Mikey.
Nada muito lento.
Começa.
- Quantas canções sabem?
- Uma.
Anda como um homem
Anda como um homem
O mais depressa que puderes
Anda como um homem, meu filho
Vai dizer ao mundo
Que esqueceste a pequena
A 16 de Março de 1984,
o corpo inchado de John Reilly
foi encontrado num prédio,
ao lado da garrafa de gin
que o matou.
Na altura da morte, era suspeito
de cinco homicídios por resolver.
Tinha completado 29 anos
duas semanas antes.
Thomas Marcano
morreu a 26 de Julho de 1985.
Deram-lhe cinco tiros
ã queima-roupa.
O corpo esteve por descobrir
mais duma semana.
Tinha um crucifixo e uma imagem
de S. Judas no bolso. Tinha 29 anos.
Michael Sullivan vive numa pequena
cidade inglesa do interior
onde trabalha
em "part-time" como carpinteiro.
Deixou de exercer advocacia
e nunca casou.
Vive tranquilamente e sozinho.
Carol ainda trabalha nos Serviços
Sociais e vive em Hell's Kitchen
Nunca casou, mas é mãe solteira
de um filho de 12 anos.
O rapaz, John Thomas
Michael Martinez, adora ler
e a mãe trata-o por Shakes.
Era a nossa noite especial,
e fizemo-la durar o mais que pudemos.
Era o nosso final feliz e a última vez
que estaríamos juntos.
O futuro brilhava ã nossa frente
e pensavámos
que nos conheceríamos sempre.
A Divisão de Correção Juvenil
de N. Iorque afirma que as condições
descritas do reformatório nunca
existiram em qualquer centro juvenil
e nada nos seus relatórios
apoia tais acusações.
O Promotor Público declara que nenhum
julgamento parecido ocorreu.
É também negado o conhecimento
dos incidentes retratados neste filme.
Lorenzo Carcaterra declara que os
nomes, datas e locais foram alterados.
Ele mantém a sua história.
Adaptação e Legendagem:
Alexandre Bettencourt / CRISTBET Lda.