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X
Sr. Dufresne, descreva a discussão
que teve com a sua mulher
na noite em que ela foi assassinada.
Foi muito acintosa.
Ela disse
que estava contente por eu saber,
que odiava ter de andar
com outros à socapa
e que queria
um divórcio rápido.
O que é que o senhor respondeu?
Que não lhe dava o divórcio.
"Mais depressa te vejo
no inferno que te dou o divórcio."
Segundo os seus vizinhos
foram as palavras que proferiu.
Se é o que eles dizem...
Não me lembro.
Estava irritado.
O que aconteceu depois da discussão
com a sua mulher?
Ela fez a mala...
... para ir para a casa do...
Sr. Quentin.
Glenn Quentin
professor de golfe
num "Country Club"
homem que, recentemente, você
soube ser amante da sua mulher.
Seguiu-a?
Fui a alguns bares primeiro.
Mais tarde fui no carro
até casa dele para os confrontar,
mas não estavam. Estacionei por perto
e fiquei à espera.
Com que intenção?
Não sei bem.
Estava confuso, bêbado.
Acho que...
sobretudo queria assustá-los.
Quando eles chegaram,
entrou na casa e matou-os.
Não. Estava a ficar sóbrio.
Voltei para o carro e fui para casa
dormir e curar a bebedeira.
No caminho, parei e atirei
a minha arma ao rio Royal.
Achei que expliquei isto
muito claramente.
Confunde-me é a parte em que,
na manhã seguinte,
a empregada encontra a sua mulher
na cama com o amante,
pejada de balas de calibre 38.
Não acha isso
uma coincidência incrível,
ou será impressão minha?
- Acho, sim.
No entanto mantém
que atirou a arma ao rio,
antes da ocorrência dos homicídios?
É muito conveniente.
É a verdade.
A Polícia dragou o rio três dias
a fio e nem sombra da arma.
Assim foi impossível comparar
a sua arma com as balas
extraídas dos cadáveres
ensanguentados das vítimas.
Isso também é muito conveniente,
não é, Sr. Dufresne?
Uma vez
que sou inocente deste crime,
é-me muito inconveniente
não se ter encontrado a arma.
Senhoras e senhores
ouviram os depoimentos
e conhecem os factos todos.
Provou-se que o réu estava
na cena do crime: havia pegadas
marcas de pneus, balas
com as impressões digitais dele
a garrafa de whisky partida
também com impressões digitais.
E, mais importante que tudo isso
havia uma linda mulher
e o amante, mortos, deitados
nos braços um do outro...
Eles tinham pecado.
Mas a gravidade desse crime
justificaria a pena de morte?
Enquanto pensam nisso,
considerem o seguinte...
... um revólver comporta
seis balas e não oito.
Eu argumento que isto não foi
um crime irracional de paixão.
Isso, pelo menos, poder-se-ia
compreender ou mesmo perdoar.
Não. Isto foi uma vingança,
de natureza muito mais brutal
e insensível.
Pensem nisto,
quatro balas por vítima.
Não foram seis os tiros disparados
mas oito.
Isso quer dizer que ele disparou
todas as balas da arma
e depois parou para a recarregar
para os alvejar de novo.
Uma bala extra por amante
directa à cabeça.
Acho-o particularmente frio
e desprovido de remorsos.
Sinto o sangue a gelar
só de olhar para si.
Pela autoridade que me foi conferida
pelo Estado do Maine,
ordeno que cumpra duas sentenças
perpétuas consecutivas.
Uma por cada uma das suas vítimas.
Tenho dito.
Realização
Sente-se.
Vejo que cumpriu 20 anos
de uma pena de prisão perpétua.
Sim, senhor.
Considera-se reabilitado?
Sim, senhor. Absolutamente.
Aprendi a minha lição.
Posso afirmar honestamente
que sou um homem mudado.
Já não sou perigoso para a sociedade.
É a pura das verdades.
"LIBERDADE CONDICIONAL
RECUSADA"
Red, que tal correu?
A mesma merda do costume,
num novo dia.
Sei como te sentes. Vão comunicar-me
a recusa para a semana.
A mim comunicaram-ma
na semana passada.
Acontece.
Red, empresta aí
um maço de cigarros.
Não me chateies, está bem?!
Já me deves cinco maços.
- Quatro!
- Cinco!
Deve haver um preso como eu
em todas as prisões da América.
Sou quem arranja tudo.
Cigarros, erva para quem gostar
um brandy para comemorar
o curso dos liceus do ***.
Praticamente tudo
o que seja razoável.
Sim, senhor. Sou um autêntico
catálogo de compras.
Por isso quando, em 1949
o Andy Dufresne me pediu
para meter um poster
da Rita Hayworth na prisão
disse-lhe... "Nas calmas".
O Andy veio para a prisão
de Shawshank em 1947
por matar a mulher
e o tipo que andava com ela.
Antes ele fora Vice-Presidente
de um grande banco.
Boa posição para alguém tão novo.
Olá, Red.
Falas inglês, maricão inútil?
Segue este guarda.
Nunca na vida vi monte mais
miserável de vermes imundos.
"Peixe", anda cá.
Aceitas apostas hoje, Red?
Cigarros ou ***?
Quem aposta, decide.
Cigarros.
Assenta que eu aposto dois.
- Certo, quem é o teu "cavalo"?
- Aquele monte de merda.
O 8º a contar da frente.
Vai ser ele o primeiro.
- Nem pensar. Aceito a aposta.
- Eu também.
- Vais perder uma data de cigarros!
- Já que és tão esperto, aposta lá tu.
Eu aposto naquele bucha,
o 5º a contar da frente.
Aposto cinco cigarros.
Hoje há "peixes" frescos!
Estamos a puxar-lhes a linha.
Admito que tive fraca opinião
do Andy quando o vi.
Parecia que uma brisa
mais forte o arrasaria.
Foi essa
a minha primeira impressão do tipo.
Que dizes, Red?
O matulão com focinho
de quem nasceu em berço de ouro.
Aquele gajo? Nem pensar.
- 10 cigarros.
- Mas que bela aposta.
E quem é que quer demonstrar
que não tenho razão? Heywood?
Jigger? Skeet? Floyd?...
Quatro almas corajosas.
Voltem às vossas celas
para a contagem da noite.
Prisioneiros
regressem aos vossos blocos.
Virar para a direita.
Olhar em frente.
Este é o Sr. Hadley,
capitão dos guardas.
Eu sou o Sr. Norton,
Director da prisão.
Vocês são criminosos
condenados.
Por isso vos mandaram para aqui.
Regra nº1 : não blasfemar.
Não admito que invoquem o nome
de Deus em vão na minha prisão.
As outras regras...
hão-de as perceber com o tempo.
- Perguntas?
- A que horas comemos?
Comem
quando nós vos mandarmos comer,
cagam e mijam
quando nós vos mandarmos fazê-lo.
Percebeste isso,
seu grandessíssimo cabrão?!
De pé!
Acredito em duas coisas:
na disciplina e na Bíblia.
Aqui
administrar-vos-emos ambas.
Confiem no Senhor.
O vosso coiro pertence-me.
Bem-vindos a Shawshank.
Tirem-lhes as correntes.
Vira-te.
Já chega.
Vem para a frente da gaiola.
Vira-te.
Desinfecta-o.
Vira-te.
Sai da gaiola, vira à esquerda,
leva a tua roupa e a Bíblia.
Seguinte!
Para a direita.
Direita. Direita.
Esquerda. Esquerda.
A primeira noite é a mais dura
sem dúvida alguma.
Eles obrigam-nos a marchar nus
como viemos ao mundo
com a pele a arder
e meios cegos do desinfectante
com que nos pulverizaram...
e quando nos põem naquela cela
e aquela porta de grades se fecha...
... então sabemos
que é mesmo verdade.
A vida toda arruinada
num piscar de olhos.
Resta-nos apenas o tempo todo
do mundo para pensar nisso.
A maioria dos peixes novos
fica quase louca na 1ª noite.
Há sempre um que desata a chorar.
Acontece sempre
de todas as vezes.
A única questão é:
Quem será?
É um motivo de aposta tão bom
como outro qualquer, acho eu.
Eu apostava no Andy Dufresne.
Apagar as luzes!!
Lembro-me
da minha primeira noite.
Parece que foi há muito
muito tempo.
Eh, peixe.
Peixe, peixe, peixinho.
Tens medo do escuro, peixe?
Gostavas que os teus papás
não te tivessem feito, não é?
Porquinho. Porco.
Quero uma costeleta de porco.
A malta vai sempre "à pesca"
dos recém-chegados
e só desistem
quando pescam um deles.
Eh, Bucha.
Bucha.
Bucha, fala comigo, rapaz.
Sei que estás aí,
oiço-te a respirar.
Não ligues
a estes idiotas, ouves?
Este sítio não é assim tão mau.
Tenho uma ideia.
Apresento-te ao pessoal.
Sentes-te logo em casa.
Conheço dois brutamontes maricas
que adorariam conhecer-te.
Especialmente
a esse teu grande cu branco e gordo.
Céus.
O meu lugar não é aqui.
- Temos um vencedor!
- Quero ir para casa!
E ganhou o Bucha
com pequena margem!
- Ganhou o Bucha! Foi o Bucha!
- Peixe fresco. Peixe fresco.
O meu lugar não é aqui.
Quero ir para casa.
Quero a minha mãe.
Eu comi a tua mãe.
Não era nada de especial.
Mas, por Deus, o que vem a ser
este escarcéu todo?!
Invocou o nome de Deus em vão.
Vou contar o Director.
Vais, com o meu cacete no cu!
- Tem de me deixar sair daqui!
- Que doença tens tu,
seu barril de nhanha de macaco?!
Por favor...
Eu não devia estar aqui. Eu não!
Não vou contar até 3.
Nem sequer até 1 .
- Cala-te ou ponho-te já a dormir!
- Cala-te, meu.
Por favor! Foi um engano.
Não entende!
- Eu não devia estar aqui.
- Abram esta cela.
Nem eu! Esta gente gere isto
como se fosse uma prisão!
Filho da puta.
Calma, Capitão!
Capitão!
Se oiço mais um traque de rato sequer
até de manhã,
juro por Deus e Jesus
que vão todos para a enfermaria.
Todos vocês, seus cabrões.
Chamem os auxiliares. Levem
o bucha imundo para a enfermaria.
Na sua 1ª noite na choça
o Dufresne custou-me dois maços
de cigarros. Nunca tugiu nem mugiu.
- Terceira fila, norte?
- Tudo bem!
- Segunda fila, norte?
- Tudo bem!
- Terceira fila, sul?
- Tudo bem!
Preparem-se para sair do bloco!!
Sair!
Vais comer isso?
Não estava a fazer tenções disso.
Importas-te?
Está bonito e bom para comer.
O Jake agradece-te.
Caiu do ninho dele
ao pé da oficina.
Vou tratar dele
até ter tamanho para voar.
Oh, não! Lá vem ele.
Bom dia, amigos.
Bela manhã, não está?
Sabem porque é que está
uma linda manhã, não sabem?
Vá, mandem-nos para cá.
Quero-os aqui todos alinhados,
como uma linda fileira de coristas.
Olhem para isto.
Olhem-me para isto.
- Não suporto este gajo.
- Sabem que mais?
- Sim, Richmond, Virginia.
- Vai cheirar o meu rabo.
- Depois de cheirares o meu.
- Fogo, Red.
Foi uma pena o teu cavalo
ter perdido,
mas eu adoro
o meu cavalo vencedor.
Devo àquele rapaz um beijo
bem badalhoco, mal o veja.
Porque não lhe dás antes
alguns cigarros? Sacana de merda.
Tyrell?
Estás a trabalhar na enfermaria
esta semana?
Afinal,
como é que está o meu cavalo?
Morreu. O Hadley deu-lhe
umas valentes mocadas na pinha.
O médico já tinha ido para casa.
O pobre sacana ficou ali deitado
até hoje de manhã.
Então já nada havia a fazer.
Como é que ele se chamava?
O que é que disseste?
Queria ver se alguém sabia
como ele se chamava.
Que te rala isso, peixe novo?
Estou-me cagando
para o nome dele. Está morto.
Já alguém se atirou a ti?
Já alguém se fez teu dono?
Todos nós precisamos
de amigos aqui.
Eu podia ser teu amigo.
Dá luta.
Gramo isso.
A princípio o Andy
manteve-se muito reservado.
Acho que estava muito preocupado...
... a tentar adaptar-se
à vida na prisão.
Só passado um mês
é que, finalmente, disse
mais de duas palavras a alguém.
E, afinal...
esse alguém fui eu.
Chamo-me Andy Dufresne.
Banqueiro e assassino da mulher.
Porque é que fizeste isso?
Já que perguntas, não fiz.
Vais-te adaptar bem a isto.
Toda a gente aqui é inocente.
Não sabias?
- Heywood, porque estás dentro?
- Não fui eu.
O advogado lixou-me.
Diz-se que és um peixe mesmo frio.
Achas-te melhor
que os outros gajos. Não é?
- O que achas tu?
- Para te dizer a verdade...
... ainda não sei bem.
Ouvi dizer que és um tipo
que sabe arranjar coisas.
Tenho conseguido obter certas
coisas... de tempos a tempos.
- Arranjas um martelo de cinzelador?
- Um quantos?
Um martelo de cinzelador.
- O que é isso e para quê?
- Que te rala?
Se fosse uma escova de dentes
não perguntava nada,
mas uma escova não é
um objecto mortal, pois não?
É justo.
Este martelo
tem uns 15 cms de comprimento.
e parece uma mini-picareta.
- Uma picareta?
- Para pedras.
- Ah, pois.
É de quartzo.
É.
Mica...
... xisto, pedra de cal.
- E então?
Sou coleccionador de pedras.
Pelo menos era. Gostava de voltar
a ser, limitadamente.
Ou talvez queiras espetar
o teu brinquedo num crânio alheio.
Não, senhor.
- Não tenho inimigos aqui.
- Não? Espera um pouco.
As pessoas falam...
As "Manas" gostam muito de ti.
Especialmente o Boggs.
Não creio que ajude explicar-lhes
que não sou homossexual.
Nem eles.
Para isso tem que se ser humano.
Eles não o são.
Os maricas violentos
possuem à força.
Só querem
e só compreendem isso.
Se eu fosse a ti
estava constantemente alerta.
- Obrigado pelo conselho.
- É de graça.
Entendes a minha preocupação?
Se houver chatice,
não uso o martelo. Está bem?
Mas deves querer fugir.
Talvez por um túnel sob o muro.
Escapou-me algo?
Qual foi a piada?
Compreenderás quando vires
o martelo de cinzelador.
Quanto custa tal artigo?
7 dólares em qualquer loja
de pedras preciosas.
A minha margem habitual é 20%,
mas isto é um artigo especializado.
Risco maior, preço superior.
Fica por 10 dólares certos.
Concordo.
Um desperdício de dinheiro,
se queres a minha opinião.
E porquê?
A malta daqui adora
inspecções de surpresa.
Se o encontrarem,
ficas sem ele.
Mas se eles o apanharem,
não me conheces.
Se mencionas o meu nome,
nunca mais te vendo nada.
Nem sequer cordões de sapatos
ou chiclete. Entendes?
Entendo.
- Obrigado, senhor...
- Red. Chamo-me Red (ruivo).
Porque lhe chamam isso?
Talvez por eu ser irlandês.
Percebo porque é que alguns
rapazes o achavam snob.
Ele era uma pessoa calma.
Andava e falava de uma maneira
que era invulgar por aqui.
Ele deambulava...
... como um homem num parque,
sem qualquer preocupação.
Como se tivesse
um casaco invisível
que o protegesse da prisão.
Sim... acho que se pode
dizer que gostei logo do Andy.
Toca a mexer. Há aqui
quem tenha de cumprir um horário.
Despachem-se, vá! Depressa!
Bob, que tal vai isso.
A mulher tem-te tratado bem?
Red.
O Andy tinha razão.
Finalmente percebi a piada.
Uma pessoa demoraria uns 600 anos
a fazer um túnel sob as muralhas
com uma coisa destas.
Um livro?
Hoje não.
- Um livro?
- Não.
Brooksie.
Entrega isto ao Dufresne.
Livro?
Dufresne,
está aqui o teu livro.
Obrigado.
Dufresne, está-se-nos
a acabar a lixívia concentrada.
Vai buscar um bidão.
Se isto vos entra nos olhos,
cega-vos.
Querido... calma.
Isso, dá luta.
Assim sabe-me melhor.
Quem me dera poder dizer-vos
que o Andy lutou bem
e as Manas o deixaram em paz.
Quem me dera poder dizer-vo-lo.
Mas a prisão não é
um mundo de conto-de-fadas.
Ele nunca disse quem fizera
aquilo, mas todos nós sabíamos.
As coisas continuaram assim
uns tempos.
A vida na prisão
é feita de rotina...
e de mais rotina.
De vez em quando o Andy aparecia
com escoriações recentes.
As Manas não o largavam.
Às vezes conseguia lutar
e evitá-las, às vezes não.
E era assim que as coisas corriam
para o Andy.
Era essa a rotina dele.
Acho que os primeiros dois anos
foram os piores para ele.
E também acho que as coisas
tivessem continuado assim,
a prisão o teria destruído.
Mas em 1949, as autoridades
vigentes decidiram que...
O telhado da oficina de matrículas
precisa de ser arranjado.
Preciso de 8 voluntários
para um trabalho de uma semana.
Como sabem, trabalho especial
implica privilégios especiais.
Era trabalho de exterior
e Maio é um mês maravilhoso
para trabalhar ao ar livre.
Mantenham-se na formatura.
Mais de 100 homens
se candidataram ao trabalho.
Wallace E. Unger.
Ellis Redding.
E, imagine-se, chamaram-me
a mim e a uns amigos meus.
Andrew Dufresne.
Só nos custou um maço de cigarros
por homem.
É claro que ganhei
os meus 20% habituais.
Então este advogado finório
telefona-me por interurbana.
Eu atendo.
Diz ele: "Lamento informá-lo,
mas o seu irmão morreu."
Que raios, Byron,
lamento saber isso.
Eu não. Ele era um parvalhão.
Há anos que fugira.
Já o julgava morto.
Mas o advogado disse-me:
"O seu irmão morreu rico".
Poços de petróleo e merdas.
- Perto de $1 milhão.
- $1 milhão?
Sim. É incrível a sorte
que alguns paspalhos têm.
Caramba! E vai tocar-te
alguma dessa ***?
35.000. Foi quanto ele me deixou.
- 35.000 dólares?
- Sim.
Raios me partam, isso é porreiro,
é como ganhar a lotaria.
Cabeça de merda, que achas tu
que o governo me vai fazer?
Vai tirar-me uma grande fatia
do que é meu!
Pobre Byron.
- Mas que porra de azar, não?
- Que pena.
Há gente que tem um azar incrível.
Andy, estás chanfrado?
Olhos no esfregão, pá! ...Andy!
Pagas os impostos,
mas ainda terás o suficiente...
Pois, pois talvez dê
para um carro novo e depois?
Tenho de pagar imposto automóvel,
reparações, manutenção,
os putos sempre a chatear-me
para irem passear.
E se erro nas contas do imposto,
tenho de lhes pagar eu.
Que se lixe o "Tio Sam" !
Mete-nos a mão na camisa
e aperta-nos as mamas até mais não.
Andy!
Vai fazer com que o matem.
Continua a alcatroar.
Que rico irmão! Merda!
Sr. Hadley...
confia na sua mulher?
Essa tem piada.
Ainda ficas com mais piada
a chuchar-me na tola sem dentes.
Pergunto é se acha
que ela o tentaria lixar à traição?
Acabou-se! Afasta-te, Mert,
este gajo vai ter um acidente.
Vai atirá-lo do telhado.
Porque se confia nela,
pode muito bem ficar com os $35.000.
- O que disseste?
- 35.000...
- 35.000?!
- Todos.
- Todos?
- Até ao último centavo.
É melhor dizeres algo
com pés e cabeça.
Se quer o dinheiro, dê-o à sua mulher.
O Fisco autoriza uma doação
única ao cônjuge até $65.000.
- Tretas! Livre de impostos?
- Sim.
O Fisco não pode tocar num cêntimo.
Tu és um banqueiro esperto
que matou a mulher, não és?
Porque hei-de acreditar
num tipo como tu?
- Para acabar aqui contigo?
- É legalíssimo. Pergunte à DGCI.
Dir-lhe-ão o mesmo. Aliás,
sinto-me estúpido por lho dizer.
Não duvido que investigaria por si.
Podes crer! Não preciso
que nenhum banqueiro homicida
me ensine a ser esperto!
- Claro que não.
Mas precisa de quem lhe prepare
uma doação não tributável.
- E advogados custam caro.
- São uns inúteis de merda!
Acho que lhe posso preparar isso.
Poupa-lhe dinheiro.
Se trouxer os impressos,
preencho-os... quase de graça.
Só pedia três cervejas por impresso,
para cada um destes meus colegas.
"Colegas". Topem-me este.
É mesmo de rico.
Acho que um homem que trabalha
ao sol, se sente mais homem
se beber uma cervejola.
É só a minha opinião... senhor.
Para onde é que estão a olhar?
Voltem ao trabalho!
Vá, ao trabalho!
E foi o que aconteceu.
Desde o 2º
ao último dia de trabalho.
os condenados que alcatroavam
o tecto da oficina de matrículas
na Primavera de 1949
sentavam-se em fila às 10:00 h
a beber cerveja gelada
do estilo da Boémia
oferecida pelo guarda mais brutal
que a prisão de Shawshank
jamais teve.
Bebam enquanto está gelada,
"meninas".
Aquela besta sem par
até conseguia parecer magnânime.
Ficávamos sentados a beber,
com o sol a dar nos ombros.
e sentíamo-nos livres.
Podíamos imaginar que alcatroávamos
o telhado da nossa casa.
Éramos os Senhores
de toda a Criação.
Quanto ao Andy...
... passava esse intervalo
acocorado à sombra,
com um estranho sorriso,
a ver-nos beber a cerveja dele.
- Queres uma cerveja gelada?
- Não, obrigado.
Deixei de beber.
Poderão dizer que o fez
para cair nas graças dos guardas,
ou para fazer alguns amigos
entre os condenados.
Eu cá acho que só o fez
para voltar a sentir-se normal,
mesmo por pouco tempo.
Faz-me um rei.
Xadrez.
Eis um jogo de reis.
- O quê?
- Civilizado, estratégico.
E um mistério total.
Detesto xadrez.
Talvez me deixes ensinar-te
um dia.
Claro.
Tenho pensado em comprarmos
um tabuleiro de xadrez.
Falas com o homem certo.
Eu é que arranjo tudo, não é?
Posso comprar-te o tabuleiro,
mas quero esculpir as figuras.
De um lado alabastro,
do outro pedra-ume. O que achas?
- Acho que demora anos.
- Os anos tenho eu,
não tenho é as pedras.
No pátio há poucas.
Na sua maioria são seixos.
Estamos a fazer
uma certa amizade, não achas?
- Acho que sim.
- Posso fazer-te uma pergunta?
Porque é que a mataste?
Estou inocente, Red...
Como toda a gente aqui...
Porque estás tu aqui?
Homicídio. Como tu.
Inocente?
Sou o único homem
culpado de Shawshank.
PETER
BENNY
- Onde está o "canário"?
- Como é que sabias
- Como sabia o quê?
- Então não sabes. Vem.
É aqui que está o "canário"
Johnny
Que grande surpresa, não?
Uma mulher a cantar em minha casa.
É mesmo uma grande...
surpresa.
Red.
Espera, espera.
Lá vem ela.
É a parte que gosto mais,
quando ela faz aquilo ao cabelo.
Eu sei, já vi o filme
três vezes este mês.
Gilda, estás decente?
Eu?
Meu Deus, adoro isto!
Ouvi dizer que tens
jeito para obter coisas.
De vez em quando, consigo
certas coisas. O que queres?
- A Rita Hayworth.
- O quê?
Consegue-la?
Então este é que é o Johnny Farrel.
Ouvi falar muito de si.
- Demora umas semanas.
- Semanas?
Sim. Não a tenho enfiada
nas calças, infelizmente.
Mas eu arranjo-a.
Descontrai.
Obrigado.
- Fora daqui.
- Tenho de mudar a bobina.
Eu disse para te pores a andar!
Não vais gritar?
Vamos despachar isto.
O meu nariz!!
Agora...
vou abrir a minha braguilha...
e tu vais engolir
o que eu te der para engolir.
E a seguir engoles a do Rooster,
como compensação
por lhe teres partido o nariz.
Tudo o que me puseres na boca,
arranco-te.
Não. Tu não entendes.
Se fazes isso, enfio-te
este aço de 20 cms no ouvido.
Aviso-te
que uma lesão cerebral súbita
faz com que a vítima
morda com força.
Aliás esse reflexo
é tão forte,
que têm de abrir os maxilares
das vítimas...
... com um pé-de-cabra.
- Quem te disse essa merda?
- Li.
Sabes ler,
seu peido ignorante?
Querido...
... não devias agir assim.
Nem o Boggs nem os amigos
puseram nada na boca do Andy
mas espancaram-no
quase até à morte.
O Andy passou
um mês na enfermaria.
O Boggs passou uma semana
na solitária.
Acabou o tempo, Boggs.
Quem manda é o senhor, patrão.
Regressem às vossas celas
para a contagem da noite.
Preparem-se todos para o recolher.
O que foi?
- Aonde é que ele vai?
- Puxa-o pelos tornozelos.
Socorro!
Depois disso houve duas coisas
que não se repetiram...
... as Manas
nunca mais tocaram no Andy
e o Boggs não voltou a andar.
Transferiram-no para um hospital
de segurança mínima.
Pelo que sei, até ao fim da vida
teve de se alimentar
por uma palhinha.
Acho que uma calorosa recepção ao sair
da enfermaria sabia bem ao Andy.
Parece-nos boa ideia.
Acho que lhe devemos isso
pela cerveja.
O tipo gosta de jogar xadrez.
Vamos arranjar-lhe umas pedras.
Red, arranjei uma. Olha.
Heywood, isso não é pedra-ume,
nem alabastro.
- És algum geólogo?
- Ele tem razão, meu.
- Então o que é afinal?
- É bosta de cavalo.
- Que treta de merda!
- Não. Merda de cavalo. Petrificada.
Céus!
Porra.
Apesar de uns percalços,
os rapazes portaram-se lindamente.
No fim-de-semana
em que ele regressaria
já tínhamos pedras suficientes
para ele se entreter até morrer.
Nessa semana também recebi
uma grande encomenda...
... cigarros, pastilhas, whisky
cartas com mulheres nuas, tudo!
E, claro
o artigo mais importante...
... a Rita Hayworth
"em pessoa".
"ISTO É GRÁTIS.
SÊ BEM-VINDO DE VOLTA."
Mexam-se. Vamos revistar
os andares todos.
Atenção. Eles andam a revistar
as celas. Atenção. É a revista!
Cela 1 19.
123.
" BÍBLIA SAGRADA"
De pé.
Vira-te para a parede.
Vira-te de frente
para o Sr. Director.
Agrada-me ver
que estás a ler isto.
Tens algumas passagens favoritas?
"Cuida do teu comportamento,
pois não sabes
quando chega o dono da casa."
São Marcos, XIII, 35.
Sempre gostei dessa.
Mas eu prefiro...
"Sou a luz do mundo.
Quem me seguir
não caminhará nas trevas,
mas terá a luz da vida."
-S. João, capítulo VIII, versículo 12.
Ouvi dizer que tens jeito
para números. Que bom.
Um homem deve ter um talento.
Queres explicar isto?
Chama-se lixa de lapidador.
É para modelar e polir pedras.
É um passatempo meu.
Não tem nada de ilegal.
Uns artigos de contrabando,
mas nada de grave.
Não posso dizer
que aprove isto.
Mas acho...
... que se podem
fazer excepções.
Fechem as celas!
Quase me ia esquecendo.
Detestaria privar-te disto.
- A salvação reside aí.
- Sim, senhor.
A revista das celas
foi só uma desculpa.
Na verdade, o Norton queria avaliar
a personalidade do Andy.
"Ele vos julgará
e mais depressa do que pensais."
A minha mulher bordou isso
no centro paroquial.
Está muito bonito,
senhor.
Gostas de trabalhar
na lavandaria?
Não, senhor.
Não especialmente.
Talvez possamos encontrar
algo mais...
... adequado para alguém
tão instruído como tu.
Olá, Jake,
onde é que está o Brooks?
Andy! Bem me pareceu ouvir-te aqui.
Destacaram-me
para trabalhar contigo.
Eu sei, eles disseram-me.
Não é uma coisa espantosa?
Vou mostrar-te o estaminé. Anda.
Cá está ela... a Biblioteca
da Prisão de Shawshank.
National Geographics.
Readers Digest,
livros resumidos e Louis L'Amour.
A revista Look,
livros do Earl Gardner.
Todas as noites
encho o carrinho e faço a ronda.
Depois registo os nomes
neste quadro aqui.
É simples e fácil.
Algumas perguntas?
Há quantos anos
és bibliotecário?
Vim para cá em 1905
e nomearam-me bibliotecário em 1912.
E nesse tempo todo
alguma vez tiveste um assistente?
Não. Também isto não dá
muito trabalho.
Então porquê eu? Porquê agora?
Não sei. Mas é bom
ter aqui companhia para variar.
Dufresne!
É ele.
Chamo-me Denkins.
Gostava de...
... criar um fundo fiduciário
para a educação dos meus filhos.
Entendo.
Porque não nos sentamos
para falar do assunto?
Brooks,
tens um papel e um lápis?
Obrigado.
Então...
Sr. Denkins...
E o Andy diz: "Sr. Denkins,
quer que os seus filhos
estudem em Harvard ou em Yale?"
- Não disse nada!
- Deus é minha testemunha.
Disse! O Denkins piscou os olhos,
depois fartou-se de rir,
e apertou mesmo a mão do Andy.
- Vai gozar com outro!
Apertou-lhe a mão.
Estou a dizer-vos.
Quase me mijei todo. O Andy
só precisava de fato, gravata.
uns "bibelots" na secretária
e era "Sr. Dufresne, por favor."
Andas a fazer novos amigos, Andy?
Amigos, não diria.
Sou um homicida condenado
que faz bom planeamento financeiro.
Sou um mascote óptimo.
Mas isso tirou-te da lavandaria,
não tirou?
E pode fazer mais que isso.
Que tal expandir a biblioteca,
arranjar uns livros novos?
Se pedires alguma coisa,
pede uma mesa de bilhar.
Como é que queres
conseguir isso?
Livros novos aqui?
Sr. Dufresne, por favor.
Vou pedir fundos ao Director.
Filho, filho. Desde que cá estou
houve seis directores aqui
e aprendi uma verdade
imutável e universal.
Nem um só deles
ouviu um pedido de fundos.
sem o rejeitar veementemente.
O orçamento já está esticado
sem isso.
Entendo.
Talvez eu pudesse pedir fundos
ao Senado Estadual por carta.
Para o Senado só há três maneiras
de gastar o dinheiro suado
dos contribuintes nas prisões:
mais muros, grades e guardas.
Mas gostava de tentar, se deixar.
Mando uma carta por semana.
- Não podem ignorar-me sempre.
- Isso é que podem.
Mas escreve as tuas cartas,
se isso te faz feliz.
Até as envio eu mesmo.
Que tal?
Então o Andy começou a escrever
uma carta por semana, como disse.
E tal como o Norton previra
ninguém lhe respondeu.
Em Abril desse ano
Andy calculou os impostos
de metade dos guardas
de Shawshank.
No ano seguinte calculou-os todos
até o do Director.
Um ano depois a taça de basebol
inter-prisões foi marcada
de modo a coincidir com o período
do pagamento dos impostos.
Todos os guardas de fora
traziam as declarações
de rendimento.
Então a Prisão de Moresby
entregou-lhe a arma,
mas você teve de a pagar.
- Pode crer. E o coldre também.
Isso é dedutível dos impostos.
Pode deduzir essa despesa.
Sim, senhor, o Andy era mesmo
uma empresa caseira de sucesso.
Ficava tão ocupado nesse período
que lhe afectavam pessoal.
Red, dás-me uma pilha
de impressos?
Tirava-me da carpintaria
um mês por ano.
E isso para mim era óptimo.
E continuava
a mandar aquelas cartas.
Red, Andy! É o Brooks.
Atenção à porta.
Por favor, Brooks,
acalma-te, sim?
- Afastem-se, porra!
- Que raio se passa?
Sei lá! Estava muito bem
e de repente saca de uma faca.
- Filhos da puta imundos.
- Podemos falar disto, sim?
Não há nada para falar!
Está tudo falado.
- Vou cortar-lhe a goela!
- Espera aí. Que te fez ele?
Os chuis é que fizeram.
Não tenho alternativa.
Não farás mal ao Heywood.
Sabemo-lo.
- Até o Heywood o sabe, não é?
- Sei, sim.
E sabes porquê? Porque é teu amigo
e tu és um homem sensato.
- É verdade, não é, malta?
- É!
Portanto larga a faca. Brooks,
olha para mim. Larga a faca!
Olha para o pescoço dele,
caramba!
Olha. Está a sangrar.
É a única maneira
de eles me deixarem ficar cá.
Vá, isto é uma loucura.
Não queres fazer isto. Larga-a.
Vá, acalma-te.
Vais ficar bem.
Ele?! Então e eu? O velho maluco
quase me cortou as goelas.
Ora! Já te cortaste mais
a fazer a barba.
- Que fizeste tu para o provocar?
- Nada. Vim cá despedir-me.
Não sabem? Concederam-lhe
a liberdade condicional.
Não entendo
o que se passou ali.
O velho está completamente
chanfrado do miolo!
Já chega, Heywood.
Cala-te!
Ouvi dizer
que te cagaste de medo dele.
- Vai-te foder!
- Param com isso?!
O Brooks não é louco.
Está só...
... está só "institucionalizado".
"Institucionalizado", uma ova!
O homem está cá há 50 anos,
Heywood. 50 anos!
Só conhece isto.
Aqui é um homem importante,
uma pessoa culta.
Lá fora não é nada.
Só um condenado inútil
com artrite nas duas mãos.
Provavelmente nem um cartão
da biblioteca conseguia.
Estás a entender?
Eu acho que não sabes
do que estás a falar.
Acha o que quiseres, Floyd...
... mas digo-te que estas muralhas
têm um estranho efeito.
Primeiro odiamo-las...
... depois, habituamo-nos a elas.
Quando passa muito tempo...
... ficamos dependentes delas.
Isso é estar "institucionalizado".
Tretas!
Eu nunca poderia ficar assim.
Não?
Diz isso quando estiveres cá
há tantos anos como o Brooks.
Podes crer!
Eles condenam-nos
para toda a vida,
e é exactamente
isso que nos levam.
Pelo menos
a parte importante.
Já não posso cuidar
mais de ti, Jake.
Agora vai-te embora.
Estás livre.
Estás livre.
- Adeus.
- Adeus, Joe.
Boa sorte, Brooksie.
Caros amigos...
... é incrível a velocidade
a que as coisas andam cá fora.
Cuidado, velhote.
Queres que te matem?
Vi um automóvel uma vez
em miúdo...
... mas agora há-os por todo o lado.
O mundo
ficou com uma pressa danada.
A comissão supervisora
colocou-me...
... num centro de assistência
chamado "O Cervejeiro",
e pôs-me a trabalhar numa mercearia,
a embalar as compras.
O trabalho é duro e tento
andar ao ritmo dos outros,
mas as mãos
doem-me quase sempre.
Veja se o seu empregado
põe as compras em dois pacotes.
Da última vez não o fez
e o fundo quase se rasgou.
Faz o que a senhora disse,
entendes?
Sim, senhor. Fá-lo-ei.
Não me parece que o gerente
da mercearia goste muito de mim.
Às vezes, depois do trabalho,
vou ao parque
dar de comer aos pássaros.
Estou sempre a pensar
que o Jake podia aparecer
para me cumprimentar, mas...
nunca aparece.
Espero que, onde quer que esteja,
esteja bem
e tenha novos amigos.
À noite durmo mal.
Tenho pesadelos. Parece
que estou a cair. Acordo assustado.
Às vezes demoro um bocado
até me lembrar onde estou.
Talvez devesse arranjar
uma arma e roubar a mercearia.
para me mandarem para casa.
Podia aproveitar e dar um tiro
no gerente.
Como uma espécie de bónus.
Acho que já sou velho demais
para essas tolices.
Não gosto de estar aqui.
Estou cansado
de estar sempre com medo.
Decidi não ficar.
Duvido que as autoridades
se incomodem...
... por causa
de um velho criminoso como eu.
"O Brooks esteve aqui"
"Duvido que as autoridades
se incomodem
"por causa
de um velho criminoso como eu.
"P.S.- Peçam desculpa ao Heywood
por eu o ter atacado.
Nada de ressentimentos.
Brooks."
Ele devia ter morrido aqui.
Que raio fizeste aqui?
Isto está um caos, digo-te eu.
- O que é tudo isto?
- Diz-me tu, idiota,
estão todas endereçadas a ti.
Toma.
"Caro Sr. Dufresne, em resposta
aos seus constantes pedidos,
o Estado afectou os fundos
inclusos para o seu projecto."
São 200 dólares.
"E a Administração das Bibliotecas
respondeu generosamente,
"doando livros e artigos usados.
"Cremos ter satisfeito
as suas necessidades.
"Consideramos o assunto encerrado.
- Por favor não nos escreva mais".
- Quero isto tudo arrumado
antes de o Director voltar.
- Sim, senhor.
Parabéns, Andy.
Só demorou 6 anos.
Doravante escrevo duas cartas
por semana em vez de uma.
Acredito que és maluco
para isso. Agora tira isto daqui,
como disse o Capitão.
Vou à casa-de-banho.
Quando eu voltar,
isto desapareceu tudo, certo?
Andy, estás a ouvir isto?
Dufresne?
Andy, abre-me esta porta.
Andy?
Até hoje não faço ideia
do que cantavam
aquelas senhoras italianas.
A verdade
é que não quero saber.
Há coisas que é melhor
não desvendar.
Agrada-me pensar que cantavam
acerca de algo tão lindo,
que não pode ser exprimido
por palavras
e por isso mesmo
nos toca o coração.
Eu digo-vos que aquelas vozes
voaram mais alto e mais longe
que alguém num lugar cinzento
ousa sonhar.
Foi como se um lindo pássaro
entrasse na nossa jaula
e fizesse desaparecer
aquelas muralhas.
E por um brevíssimo momento
todos os homens de Shawshank
se sentiram livres.
O Director ficou furioso.
Abre a porta.
Abre!
Dufresne, abre esta porta!
Desliga isso!
Estou a avisar-te.
Desliga isso!
Dufresne...
Agora és meu.
O Andy apanhou 15 dias
na solitária por aquela proeza.
De pé!
- Olhem quem chegou.
- Maestro!
Não podias ter posto uma coisa boa,
tipo Hank Williams?
Eles arrombaram a porta
antes dos "discos pedidos".
- E valeu 15 dias no buraco?
- Os melhores dias que cá passei.
Tretas!
Ninguém passa bem no buraco.
- Uma semana lá parece um ano.
- Podes crer.
O Sr. Mozart fez-me companhia.
Então deixaram-me levar
o gira-discos lá para baixo?
Estava aqui.
E aqui.
Essa é a beleza da música.
Não no-la podem tirar.
Nunca sentiram isso
em relação à música?
Eu tocava lindamente
harmónica em novo.
Mas desinteressei-me.
Aqui não fazia muito sentido.
Aqui é o sítio
onde faz mais sentido.
Precisamos da música
para não nos esquecermos.
Esquecermos?
Que há sítios no mundo...
... que não são de pedra...
... que há algo dentro de nós,
onde eles não chegam,
em que não podem tocar.
É nosso.
Estás a falar de quê?
Da esperança.
Esperança.
Deixa que te diga uma coisa,
meu amigo.
A esperança é perigosa.
Pode levar um homem à loucura.
De nada serve aqui. É melhor
habituares-te a essa ideia.
Como o Brooks?
Sente-se.
Aqui diz que cumpriu 30 anos
de uma pena perpétua.
Sente-se reabilitado?
Sim, senhor.
Sem dúvida alguma.
E posso dizer honestamente
que sou um homem mudado.
Já não sou um perigo
para a sociedade.
É a pura das verdades.
Absolutamente reabilitado.
LIBERDADE CONDICIONAL
RECUSADA
30 anos...
Céus,
quando eles dizem isto assim...
Interrogas-te onde foram parar.
Onde foram parar os meus dez anos?...
Toma. É uma prenda pela recusa
da liberdade condicional.
Vá, abre.
Tive de ir a um concorrente teu.
Espero que não te importes.
Queria fazer-te uma surpresa.
É muito bonita, Andy.
Obrigado.
Vais tocá-la?
Não.
De momento não.
Entrem para as celas!
Em silêncio!
"Uma miúda nova para comemorar
os teus 10 anos cá - Red"
Apaguem as luzes!
O Andy cumpria o que prometia.
Passou a escrever duas cartas
por semana em vez de uma.
Em 1959, o Senado Estadual
percebeu finalmente
que não o podiam contentar
apenas com um cheque de $200.
A Comissão de Projectos aprovou
um pagamento anual de $500
só para o calar. Nem imaginam
como o Andy os esticava.
Fazia acordos com clubes de livros,
grupos de caridade
comprava os livros devolvidos
ao quilo...
"Ilha do tesouro",
Robert Louis.
Stevenson.
Ficção, Aventura.
O que se segue?
Tenho aqui Reparações
de Automóveis e Esculturas de Sabão.
Profissões e Passatempos.
Vai para a secção de Educação.
- É atrás de ti.
- Conde de Monte "Crisco".
É Cristo, seu idiota!
Por "Alexandry Dumb-***" (idiota).
"Dumb-***"?
"Dumb-***"?
Dumas.
Sabes qual é o tema?
Vais gostar.
É sobre uma fuga da prisão.
Devíamos arquivá-lo
na secção de Educação, não?
O resto de nós tentava ajudar
o Andy quando e onde podíamos.
Chegado o ano em que mataram
o Kennedy,
já Andy transformara a arrecadação
que fedia a *** de rato
e terebentina, na melhor biblioteca
de prisão da N. Inglaterra
aprimorada por uma bela selecção
de discos do Hank Williams.
Foi nesse ano que o Director
criou o seu famoso programa
"De Dentro para Fora".
Talvez se recordem
de ter lido acerca disso.
Saiu em todos os jornais
e a foto dele apareceu na "Look".
Não é um benefício grátis,
mas sim um progresso genuíno
para a reabilitação dos reclusos.
Os nossos reclusos,
com supervisão adequada,
irão trabalhar
para fora destas muralhas,
executando todo o tipo
de serviço público.
Eles podem aprender o valor
de um dia de trabalho honesto,
prestando ao mesmo tempo
um valioso serviço à comunidade,
e com uma despesa mínima
para os contribuintes.
Claro que Norton se esqueceu
de dizer aos jornalistas
que o termo "despesa mínima"
tem várias interpretações.
Há montes de formas de se ficar
com "comissões" indevidas.
Homens, materiais.
Tanta coisa.
E, meu Deus,
como o dinheiro entrava!
Se isto continua,
leva-me à falência.
Com tanta mão-de-obra escrava,
pode fazer orçamentos inferiores
aos de qualquer empreiteiro da cidade.
Ned, estamos a fornecer
um serviço valioso à comunidade.
Lindo para os jornais, mas tenho
uma família a sustentar.
Sam...
... já nos conhecemos
há muito tempo.
Preciso do contrato
da auto-estrada nova.
Se não mo derem,
vou à falência. É um facto.
Coma esta bela tarte
que a minha "patroa" fez para si.
E pense nisso.
Eu não me preocuparia demais
em perder esse contrato.
Creio que já aceitei
uma outra obra para os meus moços.
Não te esqueças de agradecer
esta bela tarte à Maisie.
E atrás de cada negócio sujo,
de cada dólar ganho,
lá estava o Andy,
encarregue da contabilidade.
Dois depósitos, para o Banco
de Maine e de N. Inglaterra.
Depósitos nocturnos,
como sempre, senhor.
Leva a minha roupa
à lavandaria.
Dois fatos para limpar a seco
e um saco de roupa.
Diz que se põem goma demais
nas camisas hão-de me ouvir.
- Sim, senhor.
- Que tal estou?
Muito bem, senhor.
Há um grande evento de caridade.
O Governador vai lá estar.
Queres o resto disto?
A mulher dele
cozinha mal que se farta.
Obrigado, senhor.
Ele tem as patas em montes
de "tartes", pelo que oiço.
Nem sabes da missa a metade!
Tem esquemas inacreditáveis.
Recebe luvas por luvas
que proporcionou a outros.
Um rio de dinheiro sujo
passa por aqui.
O problema é que um dia terá
de explicar donde veio a ***.
É aí que entro eu.
Canalizo-a, filtro-a, branqueio-a.
Acções, títulos,
obrigações isentas de impostos.
Mando esse dinheiro para o mundo
real e quando ele volta...
Está tão limpo
como passarinha de virgem.
Mais limpo.
E quando o Norton se reformar,
já fiz dele um milionário.
Mas se descobrem, ele acaba
aqui com farda de prisioneiro.
Ora, Red, pensei que tinhas
mais fé em mim que isso.
Não. Sei que és bom. Mas tantas
transacções deixam rasto.
Se alguém ficar curioso...
o FBI, o Fisco...
... a pista conduz a uma pessoa.
- Sem dúvida, mas não a mim.
E de certeza que ao Director
também não.
- Então a quem?
- Ao Randall Stevens.
- Quem?
- O parceiro silencioso.
Ele é o culpado, Dr. Juiz.
O titular das contas bancárias.
Aí começa o branqueamento.
Se eles descobrirem algo
só os levará até ao Randall.
- Mas quem é ele?
- Um fantasma. Uma aparição.
Primo em 2º grau
do "Coelho Harvey".
Foi
completamente inventado por mim.
Não existe...
só no papel.
Não se pode inventar
uma pessoa sem mais nem menos.
Claro que sim, conhecendo
o sistema e as suas falhas.
É incrível
o que se pode fazer por carta.
O Sr. Stevens tem certidão
de nascimento, carta de condução,
nº da Segurança Social.
- Estás a gozar comigo!
Se descobrirem
uma dessas contas,
acabam à caça
de um produto da minha imaginação.
Macacos me mordam!
Eu disse que eras bom?
És um Rembrandt.
O mais curioso é que lá fora
eu era honestíssimo.
Tive de vir para a prisão
para ser um vigarista.
Isso não te incomoda?
Eu não efectuo os negócios sujos,
só processo os lucros.
Uma linda ténue, talvez, mas...
... também fiz a biblioteca
e lá ajudei vários tipos
a tirarem o curso dos liceus.
Porque achas que o Director
me deixou fazer tudo aquilo?
Para continuares
a fazer as "barrelas".
- De dinheiro em vez de lençóis.
- Trabalho barato.
É essa a vantagem dele.
Tommy Williams veio
para Shawshank em 1965
condenado a 2 anos por "A e A".
Ou seja
por arrombamento e assalto.
Os chuis apanharam-no a roubar
televisores nuns armazéns.
Um vadiozito novo.
Adorava rock & roll.
Era um convencido de primeira.
Vá lá, velhotes.
São uns moles do caraças.
- Assim faço má figura.
- Gostámos logo dele.
Então, estou eu a sair
pela porta, com a TV assim.
Era um mono enorme.
Eu não via porra nenhuma.
De repente oiço uma voz:
"Quieto, miúdo, mãos ao alto."
Eu para ali especado, agarrado
à TV. Finalmente a voz diz:
"Ouviste o que eu disse, rapaz?"
Respondi: "Ouvi, sim senhor,
mas se largo esta porra,
acusam-me por destruição
de propriedade alheia também."
Também estiveste preso
em Cashman, não foi?
Estive,
mas passei muito bem lá.
Licenças de fim-de-semana,
programas de trabalho.
Não era como aqui.
Parece que estiveste
em todas as prisões de N. Inglaterra.
Ando dentro e fora desde
os 13 anos. Digam uma prisão
e provavelmente estive lá.
Talvez fosse altura de tentares
uma profissão nova.
Quero dizer que não pareces
ter jeito para roubar.
Devias tentar outra coisa.
E que raio sabes tu disso,
"Capone"?
Porque é que foste condenado?
Eu?
Um advogado lixou-me.
Todos são inocentes aqui.
Não sabes?
Afinal o Tommy tinha uma mulher,
jovem ainda, e uma bebé.
Talvez fosse
por as imaginar nas ruas,
ou a filha a crescer
sem conhecer o pai.
Fosse o que fosse,
algo espevitou aquele rapaz.
Pensava em tentar obter
a equivalência do curso dos liceus.
Ouvi dizer que ajudaste
uns tipos a fazer isso.
Não perco tempo com falhados,
Tommy.
Não sou nenhum falhado.
- Falas a sério?
- Falo.
Mesmo a sério?
- Sim, senhor.
- Ainda bem.
Porque se fizermos isto,
vamos dar tudo por tudo.
100%.
Nada de coisas a meio fogo.
O problema é que...
não leio lá muito "bom".
" Bem" !
Não lês muito bem.
Trataremos disso.
"R."
"S."
Assim o Andy tomou o Tommy
sob a sua tutela.
Começou por lhe ensinar
o abecedário.
O Tommy também estava
a corresponder bem.
O rapaz era mais esperto
que jamais pensara.
Em breve, o Andy começou a
ensinar-lhe a matéria para o exame.
Ele gostava mesmo do ***.
Emocionava-o ajudar um miúdo
a sair da merda.
Mas não era só por isso.
O tempo na prisão passa devagar.
Portanto faz-se o que se pode
para afastar o tédio.
Uns tipos coleccionam selos
outros fazem casas de fósforos.
O Andy fizera uma biblioteca.
Agora precisava
de um projecto novo.
Esse projecto era o Tommy.
A mesma razão que o levara a passar
anos a esculpir e a polir as pedras,
e pela qual punha as namoradas
imaginárias na parede.
Na prisão, faz-se quase tudo
para manter o espírito ocupado.
Em 1966
na altura em que o Tommy
se preparava para fazer os exames
era a encantadora Raquel.
Acabou o tempo.
Então?
Correu-me pessimamente.
Perdi um ano inteiro
com esta porcaria.
- Não deve estar tão mau assim.
- Não. Está pior.
Não fiz porra nenhuma bem.
Até podia ser em chinês.
- Espera pela pontuação.
- Já te digo quanto terei!
Dois pontos ao cesto. Essa é que é
a maldita pontuação!
Porra dos "gatos a treparem
às árvores". 5 X 5 = 25.
Que se foda este sítio!
Foda-se!
Sinto-me mal. Decepcionei-o.
Estás a dizer parvoíces.
Ele está orgulhoso de ti.
Somos amigos há muito tempo.
Conheço-o melhor que ninguém.
É um tipo esperto, não é?
Do mais esperto que há.
Lá fora era banqueiro.
Porque está ele aqui,
afinal?
Homicídio.
Não acredito!
Olhando para ele,
não se imagina.
Apanhou a mulher na cama
com um professor de golfe.
Limpou o sebo aos dois.
O que foi?
Há uns 4 anos,
estava eu na prisão de Thomaston,
com uma pena de 2 a 3 anos.
Tinha roubado um carro.
Foi uma idiotice.
Só me faltavam 6 meses
e entrou outro para a minha cela,
o Elmo Blatch,
um matulão sacana e nervoso.
O tipo de companheiro de quarto
que ninguém quer, entendem?
Apanhara de 6 a 12 anos
por assalto à mão armada.
Disse que fizera
centenas de assaltos.
Custava a crer,
nervoso como era.
Dava-se um peido forte
e ele dava um pulo de um metro.
E estava sempre a falar.
Nunca se calava...
sítios onde estivera, esquemas
que fizera, gajas que comera.
Até as pessoas que matara,
gente que "lhe tinha chateado
a cabeça", como ele dizia.
Uma noite, a gozar,
perguntei-lhe "Então
e quem mataste tu, meu?!"
Ele responde...
Uma vez empreguei-me
como criado num "country club",
para poder estudar como roubar
os idiotas ricos que lá iam.
Então escolho um certo tipo,
vou a casa dele
uma noite e limpo-lhe a casa.
Ele acorda...
..."chateia-me a cabeça".
Então matei-o...
e também à cabra boazona
que estava com ele.
Essa foi a melhor parte.
Ela estava a foder aquele gajo,
um professor de golfe,
mas era casada com outro...
... um banqueiro importante.
E foi a ele que condenaram.
Tenho de dizer que é a história
mais espantosa que ouvi.
O que mais me espanta
é tu teres acreditado.
Como, senhor?
É óbvio que esse Williams
está impressionado contigo.
Ouve o rosário das tuas desgraças
e, claro, quer animar-te.
Ele é novo,
não é nenhum génio...
Não admira não ter imaginado
o quanto te perturbaria.
Ele está a dizer a verdade.
Admitamos por ora que esse...
Blatch existe mesmo.
Achas que ia ajoelhar-se a chorar,
dizendo "Sim, fui eu. Confesso."
"E já agora acrescentem
'perpétua' à minha pena."
Mas com o depoimento do Tommy,
posso ser julgado de novo.
Isso supondo que o Blatch
ainda lá está.
O mais provável
é que já tenha sido libertado.
Eles hão-de ter a morada dele,
nomes de parentes.
É uma possibilidade, não é?
Como pode ser tão obtuso?
O quê?
O que me chamaste?!
Obtuso. É deliberado?
Filho, estás a exceder-te.
O "country club" deve ter
os cartões antigos dele, registos,
declarações de rendimentos
com o nome dele.
Se queres acreditar nessa fantasia,
é contigo.
Não me metas nisso.
Este encontro acabou.
Se eu saísse nunca falaria
do que se passa aqui.
Seria tão arguível como o senhor
por lhe branquear o dinheiro.
Nunca mais me fales em dinheiro,
filho da puta desgraçado!
Nem neste gabinete,
nem em lado nenhum.
- Vem cá imediatamente.
- Tentava só tranquilizá-lo.
- Eu não queria...
- Solitária. Um mês.
Sim, senhor! Anda.
- Mas qual é o seu problema?!
- Levem-no daqui.
É a minha oportunidade
de ser libertado! É a minha vida.
- Não entende?! A minha vida!
- Levem-no daqui! Levem-no!
Um mês no buraco.
Não sei de ninguém
que lá passasse tanto tempo.
- A culpa é toda minha.
- Uma ova!
Não disparaste o tiro
e não o condenaste de certeza!
Red, dizes que o Andy
está inocente? Mesmo inocente?
Parece que sim.
Santo Jesus.
Há quanto tempo está cá?
Desde 1947.
Dá quanto? 19 anos.
- Thomas Williams.
- Estou aqui.
Quem te escreveu?
Ministério da Educação?!
- O sacana mandou-lhes o exame.
- Assim parece.
Abres ou ficas aí especado?
Acho melhor ideia não abrir.
Skeet, dá cá isso, cabrão!
Floyd, vá lá.
Red! Atiras isso fora,
por favor?
Caramba!
O *** passou
com C+ (mais de 60%).
Achei que gostavas de saber.
O Director quer falar contigo.
- Aqui fora?
- Foi o que ele disse.
- Sr. Director?
- Tommy...
Tommy, peço-te que esta conversa
fique só entre nós.
Já assim me sinto pouco à vontade.
Estamos
perante um problema grave.
Acho que compreendes isso.
Sim, senhor, sem dúvida.
Digo-te, filho, esta situação
apareceu e pôs-me de rastos.
Não me deixa dormir de noite,
é a verdade.
Fazer a coisa certa...
Às vezes é difícil
sabermos qual é ela. Entendes?
Preciso da tua ajuda, filho.
Se eu me meter neste assunto,
não pode haver
a mais pequena réstia de dúvida.
Tenho de saber se o que contaste
ao Dufresne era verdade.
Sim, senhor. Absolutamente.
Dispões-te a jurar
perante um juiz e um júri,
com a mão sobre a Bíblia,
e tendo jurado perante
o próprio Deus Todo-Poderoso?
Basta dar-me
essa possibilidade.
Era o que eu pensava.
Tenho a certeza
que já te contaram...
Que coisa terrível...
Um rapaz tão novo,
com menos de um ano
para cumprir, a tentar fugir.
Destroçou o coração
do Cap. Hadley matá-lo. A sério.
Mas temos de pôr isso
para trás das costas,
seguir em frente.
Acabou-se.
Pára tudo.
Arranje outro
para as suas vigarices.
Nada pára.
Nada...
Ou a tua vida aqui
será um autêntico inferno.
Acaba-se
a protecção dos guardas.
Tiro-te
daquela tua cela de luxo
e enfio-te ao pé dos sodomitas.
Vais pensar
que um comboio te fodeu.
E a biblioteca?
Acaba-se! Desmantelada,
tijolo por tijolo.
Vamos fazer um churrascozinho
de livros no pátio.
As chamas ver-se-ão a milhas daqui.
Dançaremos à volta delas,
como índios selvagens. Entendes?
Percebes o que eu digo?
Ou estarei a ser obtuso?
Dá-lhe mais um mês
para pensar no assunto.
A minha mulher dizia
que é difícil conhecer-me bem.
Como um livro fechado.
Queixava-se disso constantemente.
Ela era linda.
Céus, como a amava.
Só não sabia era demonstrá-lo.
Eu matei-a, Red.
Não premi o gatilho...
mas fi-la sentir-se rechaçada.
Por isso é que ela morreu,
por causa de mim, de eu ser assim.
Isso não faz de ti um homicida.
Mau marido, talvez.
Sente os remorsos que quiseres,
mas não disparaste o tiro.
Não, foi outra pessoa.
E eu é que vim parar aqui.
Acho que foi azar.
O azar anda por aí no ar.
Tem de aterrar em alguém.
Foi a minha vez,
só isso.
Eu estava na via do tornado.
Não esperava era que a tempestade
durasse tanto tempo assim.
Achas que algum dia
sairás daqui?
Eu?
Acho.
Um dia, quando tiver
uma longa barba branca,
e estiver bem tantã,
libertam-me.
Digo-te
para onde é que eu iria.
Zihuatanejo.
- Zi... quantos?
- Zihuatanejo.
É no México.
Uma aldeola no Oceano Pacífico.
Sabes o que os mexicanos
dizem do Pacífico?
Dizem que não tem memória.
É lá que quero viver
o resto dos meus dias...
Num sitio quente, sem memória.
Quero abrir um hotelzinho...
mesmo na praia...
comprar um barquito velho,
renová-lo...
passear nele
com os meus clientes,
alugá-lo à hora para a pesca.
Zihuatanejo.
Num sitio desses, dava-me jeito
alguém que sabe obter coisas.
Acho que não conseguia sobreviver
lá fora.
Passei a maior parte
da minha vida aqui.
Agora sou um "institucionalizado".
Tal como o Brooks.
Não te subestimes.
Acho que não.
Aqui sou o tipo que arranja
coisas, é verdade, mas...
... lá fora bastam
as Páginas Amarelas.
Nem saberia por onde começar.
Oceano Pacífico?
Merda. Morria de medo
perante uma coisa tão grande.
Eu não.
Não matei a minha mulher
nem o amante dela.
E paguei mais que largamente
por todos os meus erros.
Esse hotel, esse barco...
Acho que não é pedir demasiado.
Acho que não devias
torturar-te assim, Andy.
São sonhos impossíveis.
O México fica lá em baixo,
longíssimo, e tu estás aqui
e é assim.
Sim, é verdade. É assim.
É lá em baixo
e eu estou aqui.
Acho que tudo se resume
a uma opção simples.
Pegarmos a vida de caras...
... ou decidirmo-nos a morrer.
Andy!
Red...
... se saíres daqui, faz-me um favor.
Claro, Andy.
Tudo o que quiseres.
Há um grande campo de feno
perto de Buxton. Sabes onde é?
Há imensos campos de feno aí.
É um especial.
Tem um grande paredão,
com um grande carvalho
na extremidade Norte.
Parece tirado
de um poema do Robert Frost.
Foi lá que pedi
a minha mulher em casamento.
Fomos lá fazer um piquenique
e fizemos amor sob o carvalho.
Eu pedi-lhe
e ela disse que sim.
Promete-me, Red...
... se saíres daqui,
descobre esse paredão.
Na sua base há uma rocha, que destoa
num campo de feno do Maine.
É feita
de vidro vulcânico preto.
Está uma coisa enterrada
debaixo dela que te quero dar.
O que é que está lá enterrado?
Terás de deslocar a rocha
para ver.
Não, digo-vos. O tipo...
... anda a dizer
coisas estranhas.
Estou mesmo preocupado com ele.
É melhor
não o perdermos de vista.
Durante o dia é possível,
mas à noite está sozinho na cela.
Meu Deus.
O que foi?
O Andy foi hoje
à plataforma de carregamento
e pediu-me uma corda.
- Uma corda?
- De um metro de oitenta.
- E tu deste-lha?
Claro.
Porque não havia de dar?
- Céus, Heywood!
- E como havia eu de saber?
- Lembras-te do Brooks Hatlen?
- Não! O Andy nunca faria isso.
Nunca.
Não sei.
Todas as pessoas
têm o seu limite de resistência.
Despacha-te.
Quero ir para casa.
Estou quase a acabar,
senhor.
Três depósitos,
hoje à noite.
Leva a minha roupa
para a lavandaria.
E engraxa-me os sapatos.
Quero-os brilhantes como espelhos.
É bom ter-te de volta, Andy.
Isto não era a mesma coisa sem ti.
Apaguem as luzes!
Já tive algumas noites
compridas na choça.
Quando estamos no escuro
a sós com os nossos pensamentos
o tempo pode arrastar-se
até causar dor física.
Aquela foi a noite
mais longa da minha vida.
Contem os prisioneiros.
- 3ªa fila, Sul.
- Tudo bem.
- 4ª fila, Norte.
- Tudo bem.
Falta um homem
na 2ª fila, cela 245.
Dufresne!
Sai da cela, rapaz.
Estás a atrasar o espectáculo.
Não me obrigues a ir aí abaixo
ou racho-te a cabeça!
Porra, Dufresne,
estás a atrasar-me.
Tenho um horário a cumprir.
É melhor que estejas doente
ou morto. A sério!
Estás a ouvir?
Meu santo Deus!
Quero que interroguem
todos os homens deste bloco.
Podem começar
com aquele amigo dele.
- Quem?
- Este!
Abram a 237.
Que queres dizer
"Não estava cá"?!
Não me digas isso, Haig.
Não voltes a dizer-me isso.
- Mas não estava, senhor.
- Isso vejo eu.
Achas que sou cego?
É isso que estás a dizer?
- Eu sou cego?
- Não, senhor!
E tu? És cego?
- Diz-me o que é isto.
- A contagem de ontem à noite.
Vês aí o nome do Dufresne?
Eu vejo. Vês? Aqui está.
"Dufresne".
Ele estava na cela
quando se apagou a luz.
Era lógico
que lá estivesse de manhã.
Quero que o encontrem.
Não amanhã, nem depois
do pequeno-almoço. Já!
Sim, senhor.
Toca a andar.
Mexam esses cus!
Fica aí.
Então?
Então, o quê?
Via-vos sempre juntos.
Unha com carne.
Ele deve ter-te
dito alguma coisa.
Não, Sr. Director...
nem uma palavra.
Céus, é um milagre!
O homem sumiu-se
como um peido ao vento.
Só restaram umas pedras
no parapeito da janela,
e a boazona na parede.
Vamos perguntar-lhe.
Talvez ela saiba.
Que achas, "Truce Felpuda"?
Apetece-te falar?
Acho que não.
Porque havia ela
de ser diferente?
Isto é uma conspiração.
É o que isto é.
Uma grandessíssima conspiração!
E estão todos metidos nela!
Até ela!
Em 1966, Andy Dufresne
fugiu da Prisão de Shawshank.
Dele só encontraram
uma farda da prisão enlameada
um sabonete
e um velho martelo de cinzelador
quase todo desgastado
de tanto uso.
Lembro-me de pensar que demoraria
600 anos
a fazer um túnel com este martelo.
O velho Andy fê-lo em menos de 20.
O Andy adorava geologia.
Imagino que atraía
a sua natureza meticulosa.
Uma era glaciar aqui,
um milhão de anos
para crescer uma montanha ali.
A geologia é o estudo
da pressão e do tempo.
É tudo quanto basta.
Pressão... e tempo.
E também um enorme poster.
Como eu disse,
na prisão faz-se qualquer coisa
para manter o espírito ocupado.
Afinal o passatempo favorito
do Andy
era levar pedaços
da sua parede para o pátio
um punhado de cada vez.
Acho que depois
de matarem o Tommy
o Andy decidiu que estava cá
havia tempo suficiente.
Despacha-te.
Quero ir para casa.
Estou quase a acabar,
senhor.
Três depósitos
para hoje à noite.
O Andy fez o que lhe mandaram.
Engraxou os sapatos
até ficarem resplandecentes.
Os guardas não repararam.
Nem eu.
Sinceramente...
... quantas vezes olhamos
para os sapatos de um homem?
O Andy rastejou para a liberdade
através de uns 500 metros
de uma imundice tão repelente
que nem consigo imaginar,
ou talvez não queira.
500 metros...
É o comprimento
de cinco campos de futebol...
pouco menos de meio quilómetro.
Na manhã seguinte
aí pela altura em que a Raquel
"contava" o seu segredo,
um homem
nunca antes visto por ninguém
entrou displicentemente
no Banco Nacional do Maine.
Até esse momento
ele só existia no papel.
Posso ajudá-lo?
Tinha toda a identificação
adequada: carta de condução,
certidão de nascimento
cartão da Segurança Social...
e a assinatura era igualzinha
à que estava no banco.
Devo dizer-lhe que lamento
perder a sua conta.
Espero que goste
de viver no estrangeiro.
Obrigado.
De certeza que vou gostar.
Está aqui o seu cheque do banco.
Deseja mais alguma coisa?
Por favor, envia-me isto
com o vosso correio?
Com todo o prazer.
Bom dia, senhor.
O Sr. Stevens foi a uns 12 bancos
na área de Portland nessa manhã.
Saiu da cidade
com mais de $ 370.000
do dinheiro do Director Norton.
Indemnização
de 20 anos de trabalho.
Bom dia,
Jornal Diário de Portland.
CORRUPÇÃO
E HOMICÍDIO EM SHAWSHANK
O Julgamento d'Ele Virá
Mais Depressa que Pensas...
"Caro Director, tinha razão,
a salvação está aqui. Andy Dufresne"
Byron Hadley?
Tem direito ao silêncio;
se abdicar dele,
tudo o que disser pode ser, e será,
usado contra si em tribunal.
Eu não vi, mas contaram-me
que o Hadley desatou a soluçar
como uma menina quando o levaram.
O Norton não tencionava
ir assim tão tranquilamente.
Samuel Norton...
... temos um mandado de prisão
para si. Abra.
- Abra a porta.
- Não sei bem qual é a chave.
Não complique mais
a sua situação, Norton.
Agrada-me pensar que a última
coisa que lhe passou pela cabeça
além daquela bala
foi uma interrogação:
como conseguira
o Dufresne enganá-lo?
James Carter...
Pouco depois de o Director
nos privar da sua companhia,
recebi um postal.
Não tinha nada escrito
mas o carimbo era do Forte Hancock
no Texas.
Forte Hancock
mesmo na fronteira.
Foi aí que o Andy
saiu do país.
Quando o imagino
a caminho do Sul no seu carro,
capota aberta,
desato sempre a rir.
Andy Dufresne...
que rastejou por um rio de merda
e saiu limpo do outro lado.
Andy Dufresne...
rumo ao Pacífico.
O Hadley tem-no pelo pescoço e diz,
"Acho que este rapaz
vai ter um acidente..."
Os de nós que o conheceram melhor
falam muito nele.
Incrível, os esquemas
que ele engendrava!...
"Os meus amigos queriam
umas cervejas."
- E conseguiu-as.
- Pois!
Mas às vezes fico triste...
por o Andy se ter ido embora.
Tenho de me lembrar que certos
pássaros não podem estar em gaiolas.
Têm as penas
brilhantes demais.
E quando partem...
a parte de nós que sabe ter sido
um pecado engaiolá-los
regozija-se.
Mas mesmo assim...
... o sítio onde vivemos fica
mais monótono e vazio sem eles.
Acho que tenho apenas
saudades do meu amigo.
Por favor, sente-se.
Ellis Boyd Redding.
A sua ficha diz que cumpriu
40 anos de uma pena perpétua.
Sente-se reabilitado?
Reabilitado?
Deixe-me pensar...
Não faço ideia
do que isso significa.
Significa estar-se preparado
para voltar à sociedade.
Eu sei o que tu achas
que quer dizer, filho.
Para mim é apenas
uma palavra inventada...
Uma palavra
de um político para que...
... jovens como tu possam usar
fato e gravata e ter um emprego.
O que queres saber na realidade?
Se lamento o que fiz?
Lamenta?
Não passa um só dia
em que não sinta remorsos.
Não por estar aqui ou por achares
que eu devia estar aqui.
Lembro-me de como eu era
nessa altura...
... um miúdo estúpido
que cometeu aquele crime terrível.
Quero falar com ele...
... quero tentar meter-lhe
algum juízo na cabeça,
explicar-lhe como são as coisas...
... mas não posso.
Esse miúdo
desapareceu há muito...
... e dele só restou
este velho.
Tenho de aceitar
esse facto.
Reabilitado?
É uma palavra desprovida
de significado.
Por isso carimba lá
os teus impressos, filho,
não me faças perder mais tempo.
Para te dizer a verdade...
... estou-me nas tintas.
APROVADO
O BROOKS ESTEVE AQUI
Tome, menina.
Posso ir à casa-de-banho,
patrão?
Não precisas de pedir licença
sempre que queres mijar.
- Vai e pronto. Entendes?
- Sim, senhor.
Há 40 anos que peço licença
para mijar.
Não me sai um pingo
sem permissão.
É uma verdade dura de encarar.
Sou incapaz
de sobreviver fora da prisão.
Não faço mais que pensar
como violar a liberdade condicional
para eles me mandarem de volta.
Viver com medo
é uma coisa terrível.
O Brooks Hatlen sabia-o.
Sabia-o bem demais.
Tudo o que quero é voltar
para onde as coisas fazem sentido
para onde não terei de estar
sempre com medo.
Só uma coisa
me impede de o fazer
uma promessa que fiz ao Andy.
É aqui.
Fico-lhe muito agradecido.
Querido Red
se estás a ler isto
é porque saíste
e se vieste até aqui, talvez
queiras ir um pouco mais longe.
Lembras-te do nome da vila
não te lembras?
Zihuatanejo.
Dava-me jeito um bom homem
para me ajudar no meu projecto.
Fico à tua espera,
com o tabuleiro de xadrez pronto.
Lembra-te, Red:
a esperança é uma coisa boa
talvez a melhor do mundo
e as coisas boas nunca morrem.
Espero que esta carta
te encontre e que estejas bem.
O teu amigo, Andy.
Ou pegamos a vida de caras
ou nos decidimos a morrer.
É mesmo verdade.
O BROOKS ESTEVE
AQUI E O RED TAMBÉM
Pela segunda vez na minha vida
sou culpado de um crime.
Violação
da liberdade condicional.
Claro que duvido que bloqueiem
as estradas à minha procura.
Por causa de um velho criminoso
como eu, não.
Forte Hancok,
Texas, por favor.
Estou tão excitado que mal
paro quieto ou me concentro.
Acho que é a excitação
que só um homem livre pode sentir.
Um homem livre
no início de uma grande jornada
cuja conclusão é incerta.
Espero conseguir atravessar
a fronteira.
Espero ver o meu amigo
e apertar-lhe a mão.
Espero que o Pacífico esteja
tão azul como nos meus sonhos.
Espero...