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O SÉTIMO SELO
Em meados do século XIV, Antonius Block e o seu escudeiro...
... após longos anos como cruzados na Terra Santa...
... retornam finalmente à Suécia Natal,
uma terra dizimada pela peste negra.
"E quando o Cordeiro abriu
o sétimo selo..."
"... houve um silêncio no céu
durante cerca de meia hora."
"E os sete anjos
que tinham as sete trompetas..."
"... prepararam-se para tocar."
Quem és tu?
Eu sou a Morte.
Vieste por minha causa?
Estive ao teu lado
durante muito tempo.
Eu sei.
Estás preparado?
A minha carne está com medo,
mas eu não.
Espera um momento.
Todos dizem isso.
Mas eu não ligo nenhuma.
Tu jogas xadrez, não jogas?
Como sabes isso?
Vi-o em pinturas.
Sim, até sou um jogador muito hábil
Mas não mais do que eu.
Porque queres jogar xadrez comigo?
- Isso é da minha conta.
- Tens razão.
Enquanto eu resistir, eu vivo.
Se eu ganhar, tu libertas-me.
Pretas para ti!
Ficam-me bem...
Entre as pernas de uma prostituta...
... esse é o local para aqueles como eu.
O Senhor está no alto, tu sabes...
... mas Satã encontra-nos aqui em baixo.
Existem conversa de presságios
e outros horrores.
Dois cavalos devoraram-se um ao outro...
... sepulturas abertas com os
ossos à mostra.
Estavam quatro sóis no céu.
Onde é a estalagem?
38+
Ele mostrou-te o caminho?
Não propriamente.
- O que é que ele te disse?
- Nada.
- Era mudo?
- Não, meu Sr...
Até era muito expressivo.
Verdadeiramente.
Mas muito obscuro.
Já tomaste o pequeno almoço?
Pena não poder comer relva.
Tens de me ensinar.
Estamos a sentir o apertar.
As pessoas aqui não estão
interessadas em arte.
Mary! Eu vi qualquer coisa!
O que aconteceu?
Uma visão. Foi muito real.
Tu e as tuas visões!
Eu vi-a na mesma.
Ela? Ela quem?
A Virgem Maria.
Tu viste-a realmente?
Eu podia-lhe ter tocado.
Com a sua coroa de ouro
e o manto azul.
Ela estava a segurar a Criança
e a ensina-lo a andar.
Quando ela me viu, ela sorriu.
Eu tinha lágrimas nos olhos.
E quando as limpei,
ela tinha desaparecido.
E houve um grande silêncio...
senhor no céu e na terra.
As coisas que tu inventas!
Tu não acreditas, mas foi verdade.
Não é a realidade que tu vês,
mas outro tipo.
Como o Diabo
pintando as rodas de vermelho...
... usando a cauda como pincel.
Porque é que tu me relembras?
E tu tinhas tinta vermelha
debaixo das unhas.
Bem, eu inventei isso...
... para que tu acreditasses
nas minhas outras visões.
Cuidado para não te confundirem com um tolo.
Porque tu não o és. Pelo menos por enquanto.
Não tenho culpa de ouvir vozes...
... e ver a Virgem, e se anjos
e demónios gostam da minha companhia.
Já te disse de uma vez por todas...
... eu tenho de dormir de manhã!
Eu já te pedi, mas nada ajuda.
Agora vê se te calas!
Eu quero uma vida melhor para o Michael.
Ele vai ser um grande acrobata.
Ou o malabarista que faz
o truque impossível.
Que truque é esse?
Fazer uma bola ficar parada no ar.
- Mas isso é impossível.
- Sim, para nós, mas não para ele.
Sempre a sonhar acordado!
Eu escrevi uma canção.
Queres ouvi-la?
Sim. Estou muito curiosa.
Uma pomba num ramo...
... em pleno Verão...
...canta docemente acerca
de Jesus Cristo...
... e no céu há muita alegria.
Estás a dormir?
- Foi uma canção muito bonita.
- Não está acabada.
Eu ouvi, mas vou dormir um pouco mais.
Cantas-me o resto mais tarde.
Tu só dormes.
Isto é alguma mascara para um actor?
Os padres pagam bem,
por isso eu represento.
Vais fazer de Morte?
Assustando as pessoas comuns
com a sua esperteza.
Quando vamos actuar?
Na festa dos santos em Elsinore.
Vamos actuar nos degraus da igreja.
Porque não algo rude?
As pessoas preferem-no.
Eles dizem que a peste persegue a terra.
Os padres especulam em morte súbita
e berros morais.
Que papéis vamos desempenhar?
Um idiota como tu pode ser a Alma Humana.
Não é um papel muito bom.
Quem decide? Eu sou o director
da companhia.
"A tua vida, ó idiota..."
"... está presa por um fio..."
"... o teu dia é curto."
Será que as mulheres vão gostar
de mim nesta peça?
Bem, o que é?
Não te mexas. Não fales.
Estou calado como uma túmulo.
Eu amo-te.
O que é que é suposto ser isso?
A Dança da Morte.
- E isso é a Morte.
- Sim, ela dança com eles.
E porquê tão horrenda?
Para lembrar as pessoas da Morte.
Isso não as fará mais contentes.
Porquê as fazer feliz?
Porque não assustá-las?
Porque assim não prestarão
atenção ao resto da pintura.
Sim, eles vão.
Uma caveira é mais interessante
do que uma mulher nua.
Se tu os assustares...
- Ele vão pensar...
- Então eles que pensem
- E ainda ficarão com mais medo.
- E cairão nos braços dos padres.
- Isso não é da minha conta.
- Tu estás apenas a pintar a tua imagem.
Eu pinto a vida como ela é.
Então as pessoas podem fazer como quiserem.
Isso deixa as pessoas nervosas.
Nessa altura pinto algo com piada.
Um homem tem de viver.
Pelo menos até a peste o levar.
A peste!
Devias ver o abcesso...
... os membros emaranhados num frenesim.
Desagradável.
Eles tentam rasgar o furúnculo...
... eles mordem as próprias mãos...
... coçam-se até sangrarem...
... gritam em agonia.
Assustei-te?
Assustado? Tu não me conheces.
O que é aquela porcaria?
As pessoas pensam que a peste...
... é um castigo de Deus.
As multidões andam pela terra
chicoteando-se uns aos outros...
... para agradar ao Senhor.
Chicoteando-se uns aos outros?
Sim, é uma visão horrível.
Apetece-te esconder quando eles passam.
Dá-me qualquer coisa para beber.
Não tenho tido nada senão água.
Tenho tanta sede como um camelo no deserto.
Assustado afinal de tudo?
Eu quero-me confessar o melhor que possa...
... mas o meu coração é vazio.
O vazio é um espelho.
Eu vejo a minha cara...
... e sinto desprezo e horror.
A minha indiferença para com os homens
deixou-me de fora.
Eu agora vivo num mundo de fantasmas...
... um prisioneiro nos meus sonhos.
- Contudo, tu não queres morrer.
- Sim, eu quero.
Estás a espera de quê?
Conhecimento.
Queres uma garantia.
Chama-lhe o que quiseres.
É assim tão complicado imaginar Deus
com os sentidos de uma pessoa?
Porque terá Ele de esconder numa
névoa de promessas vagas...
... e milagres invisíveis?
Como podemos acreditar nos que acreditam
quando não acreditamos em nós mesmos?
O que será de nós
que queremos acreditar, mas não podemos?
E quanto àqueles
que não podem nem vão acreditar?
Porque não posso matar Deus dentro de mim?
Porque é que Ele vai vivendo
numa maneira dolorosa e humilhante?
Eu quero arrancá-lo do meu coração...
... mas Ele continua uma
realidade ridícula...
... da qual não me posso livrar.
- Estás-me a ouvir?
- Eu oiço-te.
Eu quero conhecimento. Não fé.
Não suposição. Mas conhecimento.
Eu quero que Deus estenda a Sua mão...
... mostre a Sua cara, fale comigo.
Mas Ele é silêncio.
Eu choro para Ele no escuro,
mas parece não estar ninguém lá.
Talvez não esteja ninguém lá.
Então a vida é um terror sem sentido.
Nenhum homem pode viver com a Morte
e saber que tudo é nada.
A maior parte das pessoas nem
pensa na Morte nem em nada.
Até a sua vida estar por um fio
e virem a Escuridão.
Ah, esse dia.
Eu percebo.
Devemos tornar o nosso medo num ídolo...
... e chamá-lo de Deus.
Tu estás preocupado.
A Morte visitou-me hoje de manhã.
Estamos a jogar xadrez.
Esta pausa permite-me
fazer uma tarefa vital.
Que tarefa?
A minha vida inteira tem sido
uma busca sem significado.
Eu digo-o sem amargura
ou remorsos.
Eu sei que é o mesmo para todos.
Mas eu quero usar a minha pausa
para um acção muito importante.
Com que então, tu jogas xadrez com a Morte?
Ele é um hábil estratega...
... mas ainda não perdi uma peça.
E como vais superar a Morte?
Com uma combinação de
bispo e cavalo...
Vou partir o seu flanco.
Vou-me lembrar disso.
Traidor! Tu aldrabaste-me!
Mas vou descobrir outra maneira.
Vamos continuar o nosso jogo na estalagem.
Esta é a minha mão. Eu posso mexê-la.
O sangue pulsa nas minhas veias...
... o sol ainda está no seu zénite...
... e eu, Antonius Block...
... estou a jogar xadrez com a Morte!
O meu mestre e eu estivemos no estrangeiro.
As Cruzadas?
Dez anos na Terra Santa...
... mordidos por cobras e mosquitos...
... massacrados por selvagens,
envenenados por mau vinho...
... inferiorizados pelas mulheres,
a apodrecer com febre...
... tudo para a glória de Deus.
A glória de Deus.
A nossa cruzada foi tão estúpida...
... que apenas um idealista
a podia ter pensado.
Tantas coisas horríveis por causa da peste.
Não é nada.
Para onde quer que nos voltemos,
o nosso traseiro está atrás de nós.
O traseiro atrás,
é verdade, é verdade. Bem dito...
Aqui está o escudeiro Jöns.
Ele rosna à Morte...
... dá gargalhadas ao Senhor,
risse de si mesmo...
... e ri para as raparigas.
O seu mundo existe apenas para ele.
Absurdo para todos, até para si mesmo.
Sem significado no céu,
indiferente no inferno.
Para que é que serve
essa mistela malcheirosa?
Ela teve contacto carnal
com o do Mal.
E agora está presa.
Ela será queimada amanhã.
Mas nós temos de manter o Diabo afastado.
Com a ajuda desse pivete?
Sangue e bílis de um cão preto.
O do Mal não suporta o cheiro.
Nem eu.
Já viste o Diabo?
- Não deve falar com ela.
- É assim tão perigoso?
Pensa-se que ela é a causa da peste.
O destino é um vilão...
... e tu és um pobre infeliz.
Agora limitados de alegria...
... agora cheios de minhocas.
Tens de cantar?
O quê?
Surpreso que eu roube dos mortos?
Um ofício rentável hoje em dia.
Não vale a pena contar histórias.
É cada um por si.
Não grites.
Ninguém te vai ouvir.
Não é surpreendente?
Eu conheço-te.
Tu és Raval, o seminarista.
Tu és o Doutor Mirabilis,
Coelestis et Diabilis.
Não tenho razão?
Há 10 anos atrás
persuadiste o meu mestre...
... a partir para a Terra Sagrada.
Assustei-te?
Tens uma dor de barriga?
Agora eu compreendo
estes 10 anos desperdiçados.
Estávamos ricos, muito satisfeitos.
O Senhor queria punir o nosso orgulho.
Então Ele mandou-te envenenar
a mente do meu mestre.
Eu estava de boa fé.
Agora já sabes...
Tornaste-te num ladrão.
Uma ocupação mais apropriada
para um patife.
Oh, eu não sou sanguinário.
Mas da próxima vez que nos encontrarmos,
Vou marcar a tua cara como mereces.
Vou encher o meu cantil de água.
Jöns é o nome.
Um jovem amável...
... cheio de pensamentos e feitos nobres.
Vai em paz, meu amor.
Eu podia-te ter violado...
Mas eu não acredito nesse
tipo de amor.
É um pouco secante no fim.
Pensando bem,
preciso de uma dona de casa.
Sabes cozinhar?
Penso que a minha mulher já esteja morta.
Por isso preciso de uma dona de casa.
Bem, não fiques aí de boca aberta!
Acabei de salvar a tua vida, sabes isso!
Malditos actores.
Estão a fazer figuras tristes
de vocês próprios.
Eu não entro na primeira parte
por isso vou para trás das cortinas.
Não fiques aí boquiaberto, feio!
O cavalo está em cima da árvore,
cacarejando...
A estrada é larga mas o portão é estreito...
A Negra dança na margem...
A galinha mia no lago escuro...
O dia é vermelho mas o peixe está morto...
A Negra agacha-se na margem...
A cobra voa alto nos céus...
A Virgem está pálida
mas o rato está contente...
A Negra corre na margem...
A cabra assobia...
com os seus dois dentes...
A rajada é forte...
As ondas quebram...
A Negra caga na costa...
A porca põe ovos e o gato rosna...
A noite é fuligem e a escuridão permanece
A Negra fica, fica na costa...
Deus está-nos a castigar.
Vamos todos morrer
pela Morte Negra.
Vocês aí, espantados como gado...
... e tu, inchado de tranquilidade...
... esta pode ser a tua última hora.
A Morte está atrás das tuas costas.
A sua foice brilha sobre as vossas cabeças.
Qual de vocês irá ela atingir primeiro?
Tu aí, com o olhar de um bode...
... veremos hoje à noite
o teu último sorriso deformado?
Tu, mulher,
cheia da luxúria da vida...
... irás murchar antes do amanhecer?
Tu, com o nariz inchado...
... irás poluir a terra
durante outro ano?
Vocês, idiotas,
sabem que estão para morrer?
Estão todos condenados,
estão-me a ouvir?
Condenados! Condenados! Condenados!
Senhor, tem piedade de nós pecadores.
Não vires a Tua cara.
Pelo bem do Teu filho, Jesus Cristo!
Será que eles esperam mesmo
que as pessoas modernas...
... levem aquela baboseira mesmo a sério?
Risse de mim, meu Senhor?
Eu já li e ouvi
todos os contos de fada.
Até as histórias de fantasma
acerca de Deus Pai...
Jesus Cristo e o Espírito Santo.
Porque estás a gritar?
Eu sou Plog, o ferreiro,
e tu és Jöns, o escudeiro.
- É possível.
- Viste a minha mulher?
Não. Mas se eu a tivesse visto,
e ela fosse como você...
Ia-me despachar a esquece-la.
Então não a viste?
- Talvez ela tenha fugido.
- Sabes de alguma coisa?
Bastante.
Mas nada acerca da tua mulher.
Vai para dentro, eles vão-te dizer.
A peste está a aparecer em todo o lado
As pessoas estão a morrer que nem moscas.
Não consigo vender nada.
É o Dia do Julgamento Final.
Existem presságios horríveis...
... uma mulher deu à luz
uma cabeça de bezerro.
As pessoas estão louca. Elas fogem
e levam a peste consigo.
Come, bebe e sê feliz!
... Esta é a minha opinião.
Muitos purificaram-se com
fogo e morreram.
Mas é melhor que o inferno,
dizem os padres.
Ninguém ousa dizer em voz alta,
mas isto é o fim.
As pessoas estão loucas com o medo.
Tu próprio estás com medo!
Pois digo-te que estou.
Dia do Julgamento Final.
Os anjos descerão
e os túmulos abrir-se-ão.
Será horrível.
Queres isto? Podes tê-lo barato.
É prata verdadeira.
É demais para mim.
Desculpa-me, viste a minha mulher?
- Ela está desaparecida?
- Eles dizem que ela fugiu.
- Fugiu?
- Com um actor.
Se ela tem tão mau gosto,
deixa-a ir.
Tens razão.
Eu pensei em matá-la.
Oh. Assassinato? Isso é diferente!
E o actor com ela.
O actor?
Aquele com quem ela fugiu
A minha mulher, lembras-te?
Oh, o actor!
Sim, existem demasiados deles...
... então podias matá-lo também.
Estás a mentir ao ferreiro.
Eu! A mentir?
Tu também és um actor, e é o
teu amigo quem levou a mulher dele.
És um actor também?
Dificilmente.
É lógico matar-te também.
És engraçado, não és?
Estás pálido, não estás?
Tens uma consciência pesada?
És engraçado.
Não achas que ele é engraçado?
Oh, não achas?
Supõe que te marcamos.
Que fizeste com a minha mulher?
Não me vais magoar?
Se eu ofendi alguém,
eu vou-me embora.
Levanta-te e fala mais alto.
Aguenta-te na tua cabeça, actor!
Que fizeste com a minha mulher?
Levanta-te e dança!
Não vou. Não consigo.
- Imita um urso.
- Não consigo imitar um urso.
Vamos ver se consegues.
Levanta-te de novo. Lindo urso.
Não consigo continuar.
Lembras-te do que eu de disse?
Eu cumpro sempre a minha palavra.
Qual é o nome dele?
Michael.
Que idade tem?
Pouco mais de um ano.
- Esta grande para a idade dele.
- Achas que sim?
- Vi a tua actuação hoje.
- Foi má?
És mais bonita sem a maquilhagem...
... e esse vestido fica-te melhor.
O Skat traiu-nos. Foi-se embora.
O teu marido?
Não. O meu marido é o Joseph.
Portanto agora só restamos nós os dois...
... e vamos ter de fazer truques outra vez.
Também fazes truques?
Com certeza.
O Joseph é um malabarista habilidoso.
O Michael vai ser um acrobata?
O Joseph quer que sim.
Mas tu não?
Talvez ele seja um cavaleiro!
Isso também não é muito divertido
- Não, tu não pareces feliz.
- Não.
Estás cansado?
- Porquê?
- Estou com uma companhia chata.
- O teu escudeiro?
- Não, ele não.
- Então quem?
- Eu mesmo.
Oh, estou a ver.
Estás mesmo?
Sim, até bastante bem.
Porque é que as pessoas
se atormentam sempre?
Joseph! O que é isso? Onde estives-te?
Anda sentar-te aqui. Por onde andaste?
Deixa-me ver-te.
Estiveste a beber na taberna.
Nem uma gota!
Sentaste-te a gabar os teus anjos.
Nunca disse uma palavra acerca de anjos.
Então estavas a fazer de bobo outra vez.
Isso faz as pessoas ficarem zangadas.
Vê o que eu te trouxe.
Oh, não devias!
Trouxe de qualquer maneira.
Oh, como eles me bateram.
Porque não bateste também?
Fiquei irritado...
... mas nunca cheguei a isso.
Estava tão irritado,
rugi como um leão.
Eles ficaram com medo?
Não, apenas riram.
Ele não cheira bem?
E ele é tão grande. Não és?
Ele tem o corpo de um verdadeiro acrobata.
Este é o meu marido, Joseph.
Boa noite.
Eu estava a dizer
que vocês têm um filho excelente.
Sim, ele é muito bom.
- Há algo para oferecer ao nosso convidado?
- Não, obrigado.
Morangos selvagens e leite fresco.
Nós ficaremos honrados se comer
da nossa humilde refeição.
Senta-te que eu vou busca-la.
Faça favor.
- Para onde estás a ir agora?
- Para Elsinore.
- Aconselho-te a não ires nessa direcção.
- Porquê?
A peste está pior no sul.
Milhares estão a morrer.
Não há maneira de isso acabar.
Vem comigo pela floresta
Estarás mais seguro no meu castelo.
Os morangos são da colina.
Nunca vi nenhuns tão grandes.
Cheira-os.
Bom apetite, Sr.
O meu humilde obrigado.
Tenho de pensar na tua proposta.
Seria bom ter alguma companhia.
A floresta está cheia de espíritos
diabólicos e ladrões.
Sim, mas tenho de pensar sobre isso.
Sou o responsável pela companhia agora.
Afinal de contas, eu sou o director.
"Afinal de contas, eu sou o director."
- Queres alguns morangos?
- Aquele homem salvou-me a vida.
Senta-te.
O escudeiro do cavaleiro sente-se honrado.
Oh, que lindo.
Por algum tempo.
Não, sempre. Um dia é como outro.
Isso não é estranho, pois não?
O verão é melhor do que o inverno
porque não tens frio.
Mas a primavera é a melhor de todas.
Eu escrevi uma música acerca da primavera.
Gostavam de ouvi-la?
Os nossos convidados podem não se
interessar pelas tuas músicas.
- Oh, sim. Eu próprio componho músicas.
- Viste!
Existe uma acerca de um peixe enorme
que ainda não ouviram.
E vão continuar a não ouvi-la
de qualquer forma.
Algumas pessoas não apreciam arte,
por isso não vos incomodo. Sou sensível.
Nós preocupamo-nos com tanta coisa.
É melhor ser dois.
Não tens ninguém?
- Já tive em tempos.
- E agora?
Eu não sei.
Tão solene! Era tua amada?
Tínhamos acabado de casar.
Brincávamos e ríamos.
Escrevi canções aos seus olhos.
Nós caçávamos, dançávamos,
a casa estava cheia de vida.
Queres alguns morangos?
Acreditar é sofrer.
É como amar alguém
na escuridão...
que nunca responde.
O quão irreal isso é na tua companhia.
Não significa nada para mim agora.
Não estás tão solene agora.
Vou-me lembrar desta hora de paz...
... os morangos,
a taça de leite...
... as vossas caras ao pôr do sol.
Michael a dormir,
Joseph com o seu alaúde.
Vou-me lembrar das nossas palavras...
... e carregarei esta memória
entre as minhas mãos...
... com tanto cuidado como se
fosse uma taça de leite.
E isto será um sinal...
... e uma grande satisfação.
Estive à espera.
Perdoa-me. Fiquei retido.
Como revelei a minha estratégica,
bato em retirada.
Pronto, é a tua vez.
Porque estás tão contente?
Isso é o meu segredo.
Com certeza.
Como o teu cavalo.
Como eras suposto.
Enganaste-me?
Caíste na armadilha.
Check!
Porque ris?
Esquece. Salva o teu rei.
Estás muito confiante.
O nosso jogo diverte-me.
És tu a jogar. Estou com pressa.
Sei que tens muito que fazer...
... mas o nosso jogo tem de continuar.
Vais escoltar o Joseph
e a sua família hoje à noite?
Porque perguntas?
Nenhuma razão em especial.
Viste o Jöns?
Temos de ir.
Acho que está lá dentro.
Olha, se não é o ferreiro!
Sentado sozinho e a chorar?
Uivando como um gato a afogar-se.
- Ainda é por causa da tua mulher?
- Sim, ainda não a encontrei.
É um inferno com uma mulher
e um inferno sem.
É melhor matá-las enquanto
a diversão ainda dura.
Irritando e comendo coisas desagradáveis.
Os bebés urinando-se.
Arranhões e abusos.
Uma bruxa como sogra.
E quando chegas à cama...
Uma nova canção.
Lágrimas e choraminguelas.
- "Porque não me beijas?"
- "Porque não cantas?"
"Já não me amas mais!"
"Não viste o meu vestido novo!"
- "Tudo o que tu fazes é ressonar!"
- Oh, raios.
Oh, raios. E agora ela foi-se.
E ainda bem!
Vou torcer os seus narizes com alicates.
Vou partir as suas cabeças numa bigorna.
Está a dizes disparates outra vez.
Talvez eu a ame.
Talvez! Ouve,
seu cornudo gorduroso.
O amor não é mais nada senão luxúria,
traições e mentiras atrás de mentiras.
Magoa na mesma.
O amor é a mais escura
de todas as pestes.
Mas não morres dele,
e geralmente passa.
Não, o meu não passa.
Mas é claro que irá passar.
Apenas os idiotas morrem de amor.
Se tudo é imperfeito neste mundo...
... o amor é perfeito na sua imperfeição.
Tu tens sorte.
Tu acreditas nos teus
próprios disparates.
Quem diz que eu acredito?
Mas eu gosto de dar conselhos.
Sou um homem de aprendizagem.
Posso ir contigo?
Eles só se riem de mim em casa.
Desde que não choramingues.
Se o fizeres, nós fugiremos.
Irmãozinho!
Cuidado, Jöns!
Ele quer lutar.
- Bom, agora ele está a chorar.
- Desculpa se te magoei.
Tenho um temperamento confuso.
Vem aos meus braços!
Talvez mais tarde.
Nós estamos com pressa.
Quem é aquela ali,
senão a minha mulher...
... juntamente com o actor!
Cuidado agora!
És um ferreiro nojento,
que insultou...
... a bela Kunigunda.
O que é que a chamaste?
Kunigunda! Estás surdo?
Ela chama-se Lisa. Lisa-Prostituta.
Lisa-Ancas, Lisa-Mamas, Lisa-rabo.
Ele é mesmo grosseiro.
Ou então encontra algo melhor,
seu chulo dourado!
Mas que bruto!
Seu bastardo nojento,
se eu estivesse nas tuas roupas sujas...
... eu estaria tão envergonhado...
... que punha o rabo entre as pernas
e rastejava para um buraco e morria.
Tem cuidado, seu...
Monte de estrume.
Monte de estrume, ai vou-te...
... vou-te matar e vou-te mandar para o
inferno, onde poderás...
Fazer malabarismo.
Fazer malabarismo com as tripas
de um pobre qualquer.
Bravo, Plog!
Tem cuidado para que não abra
a tua barriga.
Tem cuidado para que não te dê
um soco na cara...
... de modo que não possas actuar
para turcos e canibais!
Porque te ris? Isto é sério.
Nas terras do sul existem coisas
chamadas macacos.
- E o que é que isso tem?
- Nada.
Plog, meu queridinho Plog.
Querido Plog, perdoa-me.
Ela vai começar a chorar.
É tudo tão terrível.
Ele enganou-me.
Olha aqui, Kunigunda.
Agora vem a comida favorita dele!
Quando chegarmos a casa,
vou-te fazer almôndegas de porco.
Tenho de o matar primeiro.
Sim, mata-o bem morto.
Já não gosto dele.
Senhor, porque criaste as mulheres?
Ele não é nada, senão barba
falsa, dentes falsos...
... falsidade em tudo.
Mata-o.
Se pensavas que eu me ia defender
estavas enganado.
Mata-me. Agradeço-te depois!
O que disseste?
O actor brinca com as emoções.
Isso é metade da batalha.
Não fiques aí espantado!
Ele tem de lutar comigo,
senão não posso matá-lo.
Tem de me irritar pelo menos.
Vou enterrar este punhal
no meu coração...
... e a minha realidade vai-se
tornar naquela de um cadáver.
Espera! Eu não te tencionava magoar.
Eu perdoo-te, Kunigunda.
Adeus, meu amigo.
Reza por mim.
Ai meu Deus, não queria
que fosse dessa maneira.
Ai meu Deus, eu estava a
começar a gostar dele.
Ele está morto. É o actor mais morto
que eu já vi.
Olha... ele bem queria morrer.
E é com isto que eu estou casado!
Agora tens a tua pequena Lisa de volta.
Não estás contente?
Jöns, entre nós os dois,
a vida não deveria ser assim...
Sim. Mas não penses nisso agora.
Está uma grande confusão.
Representei muito bem esta cena.
Agora encontrar uma árvore
onde fique seguro...
... de ursos, lobos e fantasmas.
Amanhã encontrarei Joseph
e Mary...
... e partiremos
para o festival dos Santos.
Vou cantar como um passarinho.
Trabalhadores na floresta!
É a minha árvore!
Ei, seu patife ordinário,
o que é que estás a tramar?
Podias ao menos responder.
Quem és tu?
Estou a cortar a tua árvore.
O teu tempo acabou.
Não podes. Não tenho tempo.
Não tens tempo?
Não, tenho a minha actuação.
Cancelada, devido à morte.
- E o meu contrato?
- Anulado.
A minha família, os meus filhos...
Devias ter vergonha, Skat.
Sim, estou envergonhado.
Não existem excepções para actores?
Não no teu caso.
Nem escapatórias?
Ali está a lua.
Agora podemos ver o nosso caminho.
Não gosto da lua hoje.
As árvores estão tão paradas.
Isso é porque não existe vento.
Ele queria dizer que estão
extraordinariamente paradas.
Não se houve um barulho que seja.
- Se ao menos ouvíssemos uma raposa.
- Ou uma coruja.
Ou uma voz humana...
... além das nossas.
Onde é que estão a ir?
- Para a fogueira.
- Ah, sim, a bruxa.
Porquê queimá-la à noite
quando as pessoas precisam de diversão?
Cala-te, por amor de Deus.
O Diabo está com ela.
Então vocês são homens
muito valentes.
Nós fomos pagos.
Isto é um trabalho voluntário.
Estás-me a ouvir?
Eles dizem que estiveste com o Diabo.
Porque perguntas?
Por razões muito pessoais.
Eu, também, quero encontrá-lo.
Porquê?
Tenho de lhe perguntar acerca de Deus.
Com certeza que ele sabe.
Podes vê-lo a qualquer altura.
Como?
Se fizeres como eu digo.
Olha para os meus olhos.
Então, vê-lo?
Vejo terror.
Nada mais.
Nada? Ninguém?
Não.
Ele não está por detrás de ti?
Não existe ninguém.
Ele está comigo em todo o lado.
Se esticar a minha mão, sinto-o.
Até mesmo agora.
O fogo não me vai magoar.
- Ele disse-te isso?
- Eu sei.
- Ele disse-te isso?
- Eu sei. Eu sei.
Também tens de o ver.
Os padres conseguiam-no ver,
e os soldados...
... nem me ousam tocar.
Porque lhe partiram as mãos?
- Não fomos nós.
- Quem?
Pergunta ao monge ali.
O que fizeste à criança?
Nunca vais parar de fazer perguntas?
Não. Nunca.
Mas não terás nenhuma resposta.
Eu bem pensei em matar os soldados...
... mas ela já está quase morta.
Eu disse-te para teres cuidado.
Não te aproximes dela.
Isto vai aliviar a dor.
O que é que ela vê?
- Ela não terá dores agora.
- Tu não respondes.
Quem irá cuidar daquela criança?
Os anjos? Deus? Satanás?
O vazio?
- O vazio não, meu senhor!
- Não pode ser.
Olha os olhos dela.
A sua pobre mente está fazendo
uma descoberta.
O vazio!
Não.
Estamos impotentes.
Nós vemos o que ela vê
e o seu terror é o nosso.
Pobre criança!
Não o consigo suportar!
Ele canta tão docemente
acerca de Jesus Cristo.
No céu existe muita alegria.
Será madrugada em breve...
Mas o calor está sufocante.
Estou cheia de medo.
Sentimos que algo nos irá acontecer...
...mas não sabemos o quê...
O Dia do Juízo Final talvez...
Dia do Juízo Final.
Dêem-me água!
Eu tenho a peste.
Mantém-te do outro lado da árvore.
Tenho medo de morrer.
Não quero morrer!
Tenham piedade de mim.
Falem comigo!
É inútil.
Eu sei que é!
Estou a morrer.
O que me irá acontecer?
Tenham piedade de mim.
Não existe ajuda?
É inútil.
Completamente inútil!
Ajudem-me!
Ouves-me? Estou-te a consolar.
Vamos acabar o nosso jogo?
És tu a jogar!
Como a tua rainha.
Eu não vi isso.
Eu vejo algo terrível.
- Algo que dificilmente te consigo dizer.
- O que é que vês?
O cavaleiro está a jogar xadrez acolá.
Estou a ver. O que é que tem?
Não vês quem é o outro?
Ele está sozinho.
Não me podes assustar dessa forma.
- Não, ele não está sozinho.
- Quem é então?
Ele está a jogar xadrez com a Morte.
Não deves dizer isso.
- Temos de fugir.
- Não sem ele.
Eles estão tão concentrados no jogo
que nem se irão perceber.
A tua jogada, Antonius Block.
Perdes-te o interesse?
Pelo contrário!
Pareces preocupado.
Estás a esconder alguma coisa?
Nada te escapa.
Nada me escapa.
Ninguém me escapa.
Estou preocupado, é verdade.
Estás com medo.
Esqueci-me de como estavam as peças.
Mas eu não.
Não te safas assim tão facilmente!
- Ah, que interessante.
- O que é que tu vês?
Xeque mate na próxima jogada.
Verdade.
Ganhaste alguma coisa com a demora?
Sim.
Estou contente.
Da próxima vez que nos encontrarmos...
... será a tua hora,
bem como a dos teus amigos.
E revelarás os teus segredos.
Eu não tenho segredos.
Então não sabes nada?
Eu sou ignorante.
Que luz esquisita!
É a trovoada.
Não. É algo terrível.
Ouves o rugido?
É apenas a chuva.
Não. Ele viu-nos.
Ele está-nos a perseguir.
Para dentro, Mary! Depressa!
O Anjo da Morte
está passando a correr...
... e ele é muito grande.
Está mesmo frio!
Ouvi dizer que vinhas para casa...
... então esperei por ti.
Os outros fugiram da peste.
Já não me conheces?
Tu também mudaste.
Agora consigo ver que és tu.
Existe um abismo imenso nos teus olhos e
escondido bem lá no fundo...
... está o rapazinho que se foi embora
à tanto tempo atrás.
Está tudo terminado e eu estou cansado.
Estás arrependido de ter ido?
Não. Mas estou cansado.
Estou a ver.
Estes são os meus amigos.
Pede-os para entrar.
Vou preparar uma refeição.
"E quando o Cordeiro abriu
o sétimo selo..."
"... houve um silêncio no céu...
"... durante cerca de meia hora."
"E os sete anjos..."
"... que tinham as sete trompetas..."
"... prepararam-se para tocar."
"O primeiro anjo tocou,
e então seguiu-se..."
"...granizo e fogo
misturando-se com sangue..."
"... e foram lançados sobre a terra."
"E um terço das árvore foi queimado..."
"E toda a relva verde foi queimada."
"E o segundo anjo tocou..."
"e como se fosse uma grande montanha
ardendo com fogo..."
"... foi lançado ao mar."
"E um terço do mar
transformou-se em sangue."
Estava lá alguém?
Não, meu senhor. Não vi ninguém.
"E o terceiro anjo tocou..."
"e ali caiu uma grande
estrela vinda do céu..."
"... ardendo como se fosse uma tocha."
"E o nome da estrela é Amargura."
Bom dia, nobre senhor.
Eu sou a Karin, a mulher do cavaleiro...
... e dou-vos as boas vindas à minha casa.
Sou ferreiro de profissão...
... e um bom por sinal.
A minha mulher Lisa.
Faz uma vénia ao nobre senhor, Lisa.
Requer um pouco de habilidade...
... mas não discutimos mais
do que os outros.
Da nossa escuridão,
nós chamamo-te, ó Senhor!
Oh, Deus, tem piedade de nós!
Nós somos pequenos e medrosos
e incultos.
Na escuridão
onde dizes estar...
... não existe ninguém para ouvir
as tuas lamentações.
Estás reflectido na
tua própria indiferença.
Deus, Tu que estás num lugar qualquer,
que Tens de estar num lugar qualquer...
Tem piedade de nós!
Podia ter retirado as tuas
preocupações acerca da eternidade...
... mas agora é tarde de mais.
Mas sente, até ao final,
o triunfo de estar vivo!
Silêncio, silêncio!
Sim, mas sobre protesto.
Está acabado.
Eu vejo-os, Mary!
Acolá contra o céu tempestuoso.
Eles estão todos lá.
O ferreiro e Lisa,
o cavaleiro...
Raval, Jöns, e Skat.
E o rígido mestre Morte convida-os a dançar.
Ele quer que segurem as mãos...
...e que marquem passo
numa longa linha recta.
Á frente vai o rígido mestre...
... com a foice e a ampulheta.
Mas o bobo fica na retaguarda
com o seu alaúde.
Eles afastam-se da madrugada...
... numa dança solene...
... para longe, em direcção às
terras da escuridão...
...enquanto a chuva limpa
as suas bochechas...
... do sal das suas lágrimas amargas.
Tu e as tuas visões!