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Um dia os homens olharão para o passado
e dirão que eu dei início ao Século XX.
Jack, o Estripador - 1888
Sai daqui!
Bairro de Whitechapel
Estás a levar de novo o nosso dinheiro.
Vais sentir-te melhor
quando chegares a casa.
Está ali um.
- Vai ser uma noite longa, Mary.
- Demasiado longa.
Isto está parado, não? Estás com sorte?
Nem por isso, querida.
- Dou-te um penny por um broche.
- Vai-te lixar.
- Olá. Onde está a Kate?
- Do outro lado da rua.
Menina?
- Que queres?
- Cala a boca, cabra.
Eu conheço-te.
És o Geordie, de Nichol Street.
Lembras-te de mim, Mary Kelly?
Nunca te esqueceria, McQueen.
Paras com isso?
Os botões são difíceis de arranjar.
Para que é que uma puta
precisa de botões?
Avisei-te a ti e às tuas amigas.
Deviam ter pago na segunda-feira.
Estou a trabalhar, não estou?
Estamos todas.
E eu estou a assegurar-me
que ninguém te incomoda.
Estou a fornecer um serviço.
E espero ser pago,
senão serás muito incomodada.
Diz...
às tuas cinco...
amigas que me tragam o dinheiro amanhã,
ou este meu amigo...
será o vosso próximo cliente.
- Estás mesmo suja.
- Estou a tresandar.
- Que andaste a fazer ontem à noite?
- Nem queiras saber.
Deixa cá ver.
Ainda bem que te encontrei.
Ele está a chegar.
O Albert chega hoje.
Preciso que tomes conta do bebé.
Deixa-me pegar-lhe.
- Tenho tanto orgulho nela.
- É uma menina linda.
Não é bonita?
É linda, não é?
Venho já.
Traz uma garrafa de gin, está bem?
Estás óptima, Ann.
Deve ser bom
ter um homem rico que trata de nós.
Tem os teus olhos
e as sobrancelhas do pai. Não achas?
É adorável, mas nós estamos
desesperadas por dinheiro.
- O bando Nichols...
- Querem a nossa pele.
- Sabes o que disseram que faziam?
- Não comeces.
Ela está a falar de quê?
Querem uma libra por semana
de cada uma.
És uma sortuda.
Tens a sorte de ter um homem rico
que trata de ti.
Precisamos de quatro libras
para lhes pagar, por isso não temos tempo.
Eu peço as quatro libras ao Albert.
Ele pode recusar. Não posso arriscar.
Sei que ele não vai recusar.
Ele esteve em França em negócios.
Escreveu-me,
vendeu muitos dos seus quadros.
Deve ter os bolsos cheios
e sentir-se generoso.
- Contigo talvez, mas...
- Peço para mim.
Arranjo-vos as quatro libras. Prometo.
RUA CLEVELAND
Não te vou fazer mal, Netley.
Lembras-te de mim?
Lembras-te de quem eu sou?
A tua missão está mais para breve
do que julgávamos. Muito mais.
Porta-te bem. Leva-o para casa depressa.
Depressa e discretamente.
Percebido?
Bem dito.
Muito bem dito.
Levem-no.
Que significa isto?
Kidney, que raio estás a fazer?
Quero este quarto desfeito.
Exijo uma explicação.
É o Albert.
Larguem-me.
Por favor. Não!
Quem sabe?
Eu não sabia.
Juro que não sabia.
Como é que posso contar a alguém?
Quem sabe?
Quem sabe?
Não sei quem seriam eles.
O Albert deve estar metido
em algo terrível.
Ela tem fome e frio, coitadinha.
Tenho de levá-la até eles.
Tenho de levá-la aos pais da Ann.
Vai tu. Deixa a Alice com eles.
Eu vou trabalhar
e encontramo-nos mais tarde no Ten Bells.
Reparou em algo, Inspector?
Eu paguei. Já paguei.
Não és tu que eu quero, Imperador.
Onde está ele?
Depressa!
Levante-se.
Levante-se!
Olá, querido.
Sargento.
É noite.
Bem visto, Inspector Abberline.
De facto, é de noite.
O nosso génio regressou a nós.
Obrigado, senhores.
Lembrem-se, se alguma vez quiserem
escapar aos terríveis limites da profissão,
isto nunca aconteceu.
Vão andando.
Perdi um dia?
Não. Só saiu daqui há quatro horas.
Sinceras desculpas pelo despertar abrupto.
Suspeito que gostou.
"Tenho de ser cruel para indulgente
poder ser" disse o poeta.
Embora de boa vontade o sovasse
cada vez que fuma ópio.
Mas já suspeitava
que pudesse interromper-me.
Viu alguma coisa?
O que viu?
Um saiote ensopado em sangue.
Costumavam queimar homens como você.
Esta noite mataram
uma rameira em George Yard.
Isso não parece muito invulgar.
Era o estado em que ela estava.
O estado em que a rameira estava
exige um homem com os seus talentos.
O nome dela era Martha Tabram.
Não conheço o nome Tabram.
Soa-me estrangeiro.
Não foi isto que eu vi.
Não é a mulher dos seus sonhos?
De certeza?
- Mostre-lhe.
- Mostre-lhe você.
Porque tenho de me sujeitar
a esta degradação vezes sem conta?
Já vi essa nojeira duas vezes.
Antes de lhe cortar a garganta,
tirou-lhe o ganha-pão como lembrança.
Senhores, hoje temos a sorte...
de podermos ver uma abordagem nova
ao tratamento da loucura.
Dr. Ferral,
estava a dizer aos meus colegas...
que esperávamos que nos permitisse
observar o novo tratamento.
Não esperava visitas tão ilustres.
Mas são todos bem-vindos, claro.
Estou pronto a começar.
- Quem é a paciente?
- Ann Crook.
Uma desafortunada, Sir William,
que é histérica e violenta.
E tem uma grave mania da perseguição.
Pobre rapariga. Prossiga por favor.
Senhores.
Uma pancada em cima,
outra no lobo esquerdo.
E...
outra no direito...
e a demência desta pobre paciente...
não se manifestará mais de forma violenta.
Graças a este simples procedimento,
podemos agora aliviar permanentemente
o sofrimento desta pobre rapariga.
Que podia eu fazer?
Tinha de deixar a bebé com os pais da Ann.
Um homem rico?
Julgava que ia tomar conta dela?
Sabia que era bom demais
para ser verdade.
Vão matar-nos a todas.
Mas afinal quem é este Albert?
Quem é que quer saber dos problemas
do Albert e da Ann?
Que vamos fazer?
Não podemos fugir
aos Nichols para sempre.
Eles disseram que seguraram
na pobre Martha...
e deixaram-na a sangrar até desmaiar.
Depois cortaram-lhe a garganta.
O McQueen é doido.
Gosta de magoar mulheres.
É loucura eles quererem quatro libras.
Onde as vamos arranjar?
Não é com a minha ratinha velha.
Quatro pence já era uma sorte.
Portem-se bem ou pirem-se.
Pira-te tu.
Vamos trabalhar, meninas.
Vamos bater as ruas mais do que nunca.
Certo?
Certo?
Pronto.
Podemos fazer aqui, mas despacha-te.
- A polícia hoje não nos larga.
- Está bem.
Tenho de pô-lo rijo primeiro.
Dá cá. Ponho-o dentro de mim.
- Está lá dentro?
- Claro que está. Vá.
Não está. Está entre as tuas pernas.
Não está nada. Vá.
Eu sei quando o sinto.
É meu, Polly.
Esse dinheiro é meu.
Podia tirar-te um olho.
Os clientes não se importavam.
Eles não se importam se uma puta não vê.
- O que tem aí?
- Que tenho aqui?
Que tenho aqui, senhor guarda?
Uma coisa pequena.
Pequena para si, mas grande para mim.
Ponha-se a andar!
Ou parto-lhe essa boca insolente.
És uma mulher morta.
Querida, ele não te chateia mais esta noite.
Pois é. Olha.
Uma para os Nichols e outra para mim.
Anda cá.
Vamos trabalhar juntas.
Eu tomo conta de ti.
Sua porca!
Sua porca nojenta!
Pois, sou uma porca.
O problema do mundo sou eu.
Então, fica sozinha.
Não!
Não queres a companhia de uma porca!
Para onde estás a olhar?
Tens sede?
Era aquilo que aparecia no meu sonho.
- Como é que se chama?
- O obelisco de Cleópatra.
Cleópatra. Ela era linda, não era?
Foi esculpido 1.500 anos
antes do Filho de Deus nascer.
Morreram seis homens
a trazê-lo para aqui...
desde o Egipto.
Que o Senhor tenha piedade.
Ela estava assim quando a encontrei.
Completamente morta.
Que monstro fez isto?
Os homens correram as tabernas...
e os simpáticos lares
que formam esta rua encantadora.
Surpreende-o saber
que ninguém ouviu nada?
Cortaram-lhe a garganta,
mas não espirrou sangue para a parede.
Ela foi morta noutro sítio.
Choveu ontem à noite, não choveu?
Ela está seca.
Trouxeram-na para cá numa carruagem
ou algo do género.
A garganta deve ter sido cortada
na carruagem.
Eles devem-na ter parado ali.
Eles?
Há mais do que um?
De certeza.
Isto estava tudo na sua visão?
Credo!
Então, de certeza
que é mais do que uma pessoa.
Tem de ser um aviso dos Nichols. Certo?
Mas que raio?
São uvas, não são?
Que raio faria uma rameira com uvas?
Gostava de lhes responder.
- O quê?
- Aos Nichols.
Gostava de uma oportunidade
de responder ao maldito aviso deles.
De certeza que isto é um aviso.
Quanto a isso tem razão.
E não tenho razão sobre o quê?
A Martha Tabram foi violada,
torturada e morta.
Isso é crueldade.
Mas já tinha visto esse tipo de crueldade
no leste da cidade.
Isto é metódico.
É uma chacina irracional, mas...
meticulosa e intencional.
Um assassino completamente diferente.
Logo que possível,
gostaria de saber o que ele levou.
Que quer dizer com "o que ele levou"?
- Não reparou?
- Em quê?
Ele levou pelo menos um órgão dela.
Não.
Quero todos os veterinários,
talhantes e peleiros do bairro interrogados.
Peleiros? Que é que ele fez? Esfolou-a?
Cala-te, Withers.
Quando o inspector fala,
tu ouves, percebeste?
Sim, Sargento.
Ele estripou-a.
Depois de lhe cortar a garganta,
apunhalou-lhe o peito,
abriu-lhe o estômago
e tirou-lhe os intestinos.
Pelo menos um dos seus órgãos
foi retirado.
Estou à espera do relatório do cirurgião
da polícia, para saber mais detalhes.
Estou a ver.
Uma coisa é certa,
não foi um inglês que fez isso.
Talvez um destes peles-vermelhas...
tenha ido a Whitechapel
para saciar as suas tendências naturais.
Com todo o respeito,
creio que isto foi feito por alguém
que conhece rudimentos de dissecação.
- Uma pessoa culta, como um médico...
- Uma pessoa culta? Isso é absurdo.
Nenhum homem bem formado faria isto.
Provavelmente um comerciante
ou um talhante.
Um comerciante é uma das hipóteses.
Mas tudo indica que não.
Havia um galho de uvas
debaixo do corpo dela.
Onde quer chegar?
Ninguém em Whitechapel,
em qualquer ramo, pode comprar uvas.
Obviamente foram-lhe dadas
pelo assassino.
Logicamente,
ele terá de ser alguém com dinheiro.
Então e os judeus? Um talhante judeu?
Um alfaiate judeu pode ter dinheiro.
Há muitos em Whitechapel.
A bem da segurança pública em geral,
tenho reservas em espalhar o rumor
de que o culpado é judeu.
Conheço a sua reputação de fazer
suposições que se revelam acertadas.
Disseram-me que você afirma
sonhar com as respostas.
Francamente, não me interessa
quais são os seus métodos.
Mas certifique-se de não avançar
sem provas. Está entendido?
Claro.
Pessoalmente, não me preocupa.
Quanto menos pegas na rua, melhor.
Mas quanto mais cedo
encontrar este talhante ou alfaiate,
mais cedo poderemos festejar
a sua promoção.
Mantenha-me informado.
garganta cortada
sendo os diversos cortes
medula espinal
cortada da esquerda para a direita.
Em cada cave, cada estábulo.
Vamos encontrá-lo.
São os malditos judeus. Vamos matá-los!
ABERTO - FECHADO
ABSINTO
LÁUDANO - VENENO
Tenho óptimas notícias.
Diz-me.
De certo que tu consegues adivinhar.
Contigo, não quero adivinhar.
O Dr. Marbury diz...
O Dr. Marbury diz?
O Dr. Marbury diz que vou ter um filho teu.
"Mas morrer
"e ir quem sabe lá para onde
"Ficar rígido e frio e decompor-se"
Bastava um simples: "Descanse em paz."
Sim.
"No meio da vida conhecemos a morte...
"onde havemos de buscar socorro
senão em Ti, Senhor...
"quem pois os nossos pecados
ofendem justificadamente?
"Contudo, Senhor santo Deus...
"Senhor todo poderoso..."
Boa tarde, senhoras.
Sou o Inspector Abberline.
Este é o Sargento Godley.
Estamos a investigar os homicídios
de Polly Nichols e Martha Tabram.
Sabemos que ambas eram amigas
das senhoras.
Amigas íntimas.
Esperamos que nos possam ajudar.
Não sei de nada.
Eu também não.
Porque nos incomodam?
Deviam incomodar o McQueen.
- É ele o patrão de Nichol Street?
- É o cérebro do bando.
O vosso trabalho
não é conhecer esses detalhes?
Porque acha que o McQueen fez isto?
Com a minha ajuda não provam nada.
- É a Mary Kelly, certo?
- Sim.
Se nenhuma de vocês testemunhar
contra o McQueen,
não posso fazer nada.
Certamente, Inspector,
que um homem forte
e bonito como o senhor,
conseguiria fazer qualquer coisa
em que se aplicasse.
Sou uma cobarde e uma fraca.
Nem a mim própria ajudo.
Qual é a sua desculpa? Porque é tão inútil?
Vamos. Eles não nos vão ajudar.
És tu?
Antes da minha mãe morrer, na Irlanda.
- Foi quando vieste para cá?
- Sim.
- Tinha oito anos.
- Quando as coisas eram boas.
Tínhamos fome,
mas passávamos fome ao ar livre.
Estava a pensar,
nunca ganharemos o bastante
para satisfazer os Nichols...
e para nos alimentarmos.
Disseste que aqueles homens...
que levaram o artista rico e a ela...
Disseste que eram bem cuidados
e com boas roupas.
- Sim.
- Então, não eram criminosos.
Não eram iguais aos Nichols.
Eram invulgares.
Talvez até fossem do estado.
Onde queres chegar?
Talvez pudéssemos contar aos jornais
e receber dinheiro pela história.
"Onde está Ann Crook?"
Os jornais andam sempre desesperados
por notícias más sobre o governo.
Ainda por cima é um mistério.
Não é um mau plano. Que achas?
Devíamos falar com o inspector
que estava no funeral da Polly.
Porra! Não.
Se contarmos aos jornais,
podem fazer mal à Ann. Ou à bebé.
Pior do que ela vai passar em Whitechapel
quando lhe crescerem as mamas?
Não tenho a certeza.
Mas acho melhor falarmos
com o inspector.
Céus, afinal és mesmo jovem.
Quatro cabras.
Era o que eu pensava.
Só pagaste por uma pessoa.
- São minhas convidadas.
- Convidadas?
Deixa-me dar-lhes as boas-vindas.
Vamos! Saiam!
Saiam daqui, suas malditas putas.
Quando tiver quatro pence,
pode voltar com as suas aias,
Vossa Alteza.
Cala-te.
Vamos voltar ao trabalho.
Vamos tentar ficar juntas.
- Não podemos. Sabes isso.
- Então, afasta-te de Nichol Street.
Vamos.
Estás bem?
Maldito sacana.
- Ainda estás mal da cabeça?
- Muito engraçado.
Não te assustei, pois não?
Andei à tua procura.
Procurei-te em todo o lado.
Andaste à minha procura?
Não é para mim. É para o meu senhor.
Um senhor muito fino.
Mandou-me buscar-te.
O teu senhor mandou-te buscar-me?
Não gozes! Posso ser desafortunada,
mas não sou idiota.
É a verdade! Deus sabe que é.
Ele viu-te. Gosta de ti.
Disse que hoje só tu é que serves.
Mandou-me procurar-te e levar-te
para Hanover Street, onde te espera.
És muito bonita.
Vá. Entra, eu levo-te lá.
Quase me esquecia.
O meu senhor mandou-te um presente.
- Gostas de uvas?
- Sim.
O teu senhor deve ser muito distinto.
- Mesmo muito distinto.
- Entra.
- Eu levo-te lá.
- Está bem.
Chegámos.
- Sou uma senhora de sorte.
- Pois és.
O teu patrão quer alguma coisa especial?
O normal, acho eu.
Este beco leva-te ao quintal.
O meu senhor é discreto.
Não gosta de confusões.
Quanto é que um janota como ele...
me paga?
Toma, duas libras, por agora.
Para mim, chega.
Deixa-me olhar para ti.
- Por ali?
- A direito até à porta do fundo.
Por aqui, não é?
Cuidado com a língua!
Há mais informações?
Os meus leitores querem saber.
É verdade que acharam um pedaço
de um avental de couro na boca dela?
Não. Mas se quiser, terei todo o gosto
em encher a sua boca de couro.
Dê-nos um cheirinho.
Pomos a sua fotografia na primeira página.
Façam alguma coisa. Isto é ridículo.
Anda um maldito assassino à solta.
E a minha mulher?
Esta é a Annie.
Sim. Mais uma do grupo de amigas.
Annie Chapman.
Annie Escura, como lhe chamavam.
Ainda diz que não são os Nichols?
O guarda mostrou-lhe o pedaço de couro
encontrado junto à fonte?
Pode ser parte de um avental de talhante.
Um avental de couro. Céus, afinal sempre
podemos estar à procura de um talhante.
Eu vi-a.
- Esta?
- Sim, ontem à noite.
Vi-lhe a cara.
- Não andem nesta área.
- Deixem-nos ver o corpo!
- Vá lá, deixem-nos ver.
- Céus.
Aí está o londrino típico,
imbuído do espírito cristão
de compaixão para com o próximo.
Ou para com uma puta, neste caso.
Desta vez, ele superou-se.
Não só arrancou os intestinos,
como os dispôs cuidadosamente
à volta do pescoço e dos ombros.
Acho que desta vez tirou mais órgãos.
Uvas, outra vez. Porquê uvas?
Só a Polly e a Annie Escura
receberam uvas.
Só elas foram estripadas
de forma tão meticulosa.
Isto não é matar por lucro.
É um ritual.
Sim, mas porquê uvas?
Para elas aceitarem
tudo o que ele oferecer.
Nunca percebi bem essa tradição.
São para o barqueiro.
O barqueiro que leva o corpo para a outra
margem do rio, para a terra dos mortos.
Se ela não tiver dinheiro para lhe pagar,
terá de vaguear,
para sempre perdida entre dois mundos.
Tenho de consultar um médico.
Está doente?
Um cirurgião, mais exactamente.
O assassino retirou o útero da vítima
e adjacências.
Meu Deus. Ele está louco.
É muito astuto da sua parte.
Não aprecio o sarcasmo.
Desculpe. Não disse por mal.
Já tem um cirurgião ao seu dispor.
Preciso de um homem de estômago forte
e mente sóbria.
Algo que o cirurgião da polícia não tem.
- Não. Pedido recusado.
- Porquê?
Está a questionar a minha decisão?
Não. Apenas quero saber porquê.
Já há demasiados disparates
e mexericos na imprensa.
Se começar a consultar médicos,
vão publicar todo o género de teorias.
Mais ninguém deve ver os corpos.
HOSPITAL DE LONDRES
Tenho a honra...
de apresentar este fenómeno médico único.
Até à semana passada,
o Sr. Joseph Merrick...
John Merrick.
Peço desculpa.
O Sr. John Merrick era uma atracção
num espectáculo de segunda.
Agora, está a ser tratado
no melhor hospital de Inglaterra.
Com a vossa generosidade,
poderemos continuar a fazê-lo.
Senhoras e senhores,
o Sr. John Merrick.
Vire-se.
Devia ter sido morto à nascença.
À saúde!
É o último, Vossa Alteza Real.
...um paciente psicótico.
Com licença. É o Dr. Ferral?
Sou.
Sou o Inspector Abberline,
nomeado para Whitechapel.
Céus! É o do caso do Estripador.
- Não é?
- Sim.
Muito bem.
Veio ao sítio adequado.
Temos cá muitos carniceiros.
Estou a ver.
A sua experiência podia ser-me útil
para ajudar a resolver este caso.
Dizem-me que é o melhor
jovem cirurgião de Londres.
A sério?
Não percebo o que poderá
um respeitável cirurgião saber sobre isso.
Este país está a abarrotar
de estrangeiros, orientais.
Judeus.
Socialistas que tentam agitar as coisas
contra a nossa monarquia.
São esses que devia perseguir, não acha?
Com licença.
O senhor não pertence aqui, pois não?
Receio que o Dr. Ferral sofra
da doença do cirurgião.
Que é isso?
Falta de sentimentos.
Sabe tudo sobre anatomia,
mas nada sobre a alma.
Em que posso ajudá-lo?
Desculpe a minha ignorância, mas...
é cirurgião?
Já fui.
Infelizmente,
sofri um ataque cerebral há seis meses.
- Lamento.
- Sim, hoje em dia limito-me a ensinar.
Por isso, estou acostumado
a responder a perguntas.
Pode dizer-me que género de faca é esta?
Creio que queria desenhar uma faca Liston.
Tem o nome de Liston,
que foi cirurgião na guerra da Crimeia.
Como não havia anestesias
no campo de batalha,
ele tinha de fazer as amputações
muito depressa.
Por acaso tem os relatórios
do cirurgião da polícia?
- Sim, tenho.
- Posso?
Tem de manter isto confidencial.
Claro.
Obrigado.
Ninguém teria ouvido os gritos delas?
Não, se ele cortou as gargantas antes.
Como pode ter a certeza que elas
não reagiriam ao verem uma faca Liston?
Uvas.
Primeiro, ele oferece-lhes uvas.
- As uvas são muito tentadoras.
- Elas devoravam-nas.
Talvez lhes oferecesse uma bebida
para as acalmar.
Uma bebida misturada com láudano.
Como sabe isso?
Encontrei restos de uvas
nos corpos de ambas as vítimas.
E senti o cheiro de láudano
nos lábios delas.
O láudano é um derivado do ópio.
Para além dos médicos e dos viciados,
poucos o reconheceriam.
Há quanto tempo é que consome?
Isto deve ajudar
a parar as dores de cabeça.
O ópio esgota os minerais do corpo,
por isso também lhe receitei um tónico.
Ajudará a restituir-lhe o apetite.
Muito obrigado.
- Sou um tolo.
- Não creio que o seja.
Longe disso.
Deveria saber que é médico da família real.
É certamente uma honra,
mas uma honra atribuída a vários médicos.
Quanto ao nosso amigo. Ele corta
as gargantas da esquerda para a direita.
Logo, é dextro.
Com licença.
Ele teve de cortar
quatro camadas de tecido...
e cerca de 2 cm de gordura subcutânea.
Depois,
penetrou na cavidade abdominal, pelo que
terá usado mais do que a faca Liston.
Talvez levasse um estojo portátil
de amputação, como este.
O que acha?
É possível o assassino
ser um homem culto?
Talvez alguém que tenha estudado
medicina, mas que não seja cirurgião?
Os intestinos são bastante simples,
mas o útero?
O fígado, difícil de localizar,
a menos que se saiba o que se faz.
E ele trabalhava depressa, no escuro.
Tive esperança que este...
monstro fosse um veterinário, um peleiro...
ou um talhante
especialmente bem formado.
Não, devo admitir, se fosse a si...
procuraria alguém com um profundo
conhecimento da anatomia humana.
Maldito seja ele.
Queres que o chupe?
Era capaz de chupar o Tamisa inteiro.
Não tenhas medo, querido.
A doença do nosso neto
já está muito avançada?
Ainda não apareceram lesões.
Há alguns danos neurais,
um ligeiro tremer da mão direita,
mas estou muito optimista,
o tratamento conterá a doença.
Parece-nos que a mente dele sofre muito.
A doença está a afectar-lhe as emoções?
Sim, claro, está deprimido...
devido às notícias do diagnóstico.
Mas isso deverá melhorar
à medida que recuperar as forças.
É um verdadeiro médico, Sir William.
De todas maneiras,
cuida da saúde do nosso império.
Estamos-lhe agradecido.
Obrigado.
Isto é o início de uma estrela
de cinco pontas.
- Como o raio de uma estrela judia!
- Withers.
O Inspector está a falar,
por isso tu estás a quê?
- Estou a ouvir.
- Sim.
Esta área é um ponto provável.
Quero o dobro dos homens nestas ruas,
até aviso em contrário.
E não se preocupem só
com judeus e talhantes.
Parem qualquer pessoa suspeita,
incluindo senhores bem vestidos.
A propósito,
a Estrela de David tem seis pontas.
Pronto! "Vamos enfrentar o perigo
mais uma vez, caros amigos."
Destroçar!
Porque me chamaste aqui?
É porque...
Diz que têm de ser mortas mais três.
Não aguento.
Está em todo o lado.
Em todos os jornais.
Sou apenas um tipo simples.
Não sou um grande homem
como o senhor.
Estou completamente perdido.
Calma, Netley.
Eu digo-te onde estamos.
Estamos na região mais extrema
e completa da mente humana.
Um abismo radiante,
onde os homens se encontram.
Não percebo isso.
Não percebo.
O Inferno.
Estamos no Inferno.
Deixe-me! Tire as mãos de cima de mim!
Desculpe.
Ela está loucamente apaixonada por mim,
embora o esconda bem.
Disse que o McQueen matou
as suas duas amigas. Então, que faz aqui?
Estou a ver. Matam mulheres
a torto e a direito no seu bairro,
não consegue fazer nada
e eu é que sou a tola?
Observamos. Não podemos prendê-los
sem provas, por isso observamo-los.
- Que mais podemos fazer?
- Eu testemunho.
Se me mantiver a mim
e às minha amigas vivas, testemunho.
O quê, exactamente?
O McQueen ameaçou cortar-me
se não lhe der £1 por semana.
- Não.
- Que quer dizer com: "não"?
Pediu-me que testemunhasse.
Tem medo que o deixe ficar mal?
Não deixo. Prometo que não.
Se testemunhar contra o McQueen,
talvez ele vá preso um ano ou dois.
Mas os homens dele irão vingar-se
de si e das suas amigas.
Não posso deixá-la fazer isso.
É a tua vez de pagar uma rodada!
Confesso que como bem.
Um dia, serei uma mulher grande
e redonda com um marido magricela.
E uma dúzia de filhos rechonchudos,
suponho.
Acha que é engraçado?
Uma desafortunada como eu
ser uma mãe decente?
Não, não quis dizer nada disso.
Será uma mãe óptima um dia.
A sério, posso prevê-lo.
Vejo-a numa pequena casa junto ao mar,
rodeada de crianças.
Posso vê-lo, claro como o dia.
- É verdade que eu tenho visões.
- A sério?
O Sargento Godley chama-lhe
a minha intuição.
Na realidade,
tenho uma sobre si neste caso.
Tem visões sobre mim?
De que género?
Quero que pense calmamente.
Além do McQueen,
além destes assassínios horríveis,
aconteceu alguma coisa um pouco invulgar
a si ou às suas amigas?
Ben Kidney?
É o Corpo Especial que ela descreve.
O que fariam o Ben Kidney
e o Corpo Especial em Whitechapel?
Espere aí.
Ela é irlandesa, não é? Aí tem a resposta.
Uma rebelde irlandesa secreta.
Por isso andavam atrás dela, não?
Eles estavam atrás da Ann Crook,
que tinha um caso com um senhor rico.
De quem teve uma criança,
uma criança que agora desapareceu,
tal como os avós.
Óptimo.
Continue, condutor.
Ninguém se mete com o Corpo Especial.
Eles é que se metem com os outros.
Não sei o que está a pensar,
nem me interessa.
- O Sr. Kidney mandou chamar-me.
- O Sr. Kidney não está.
Não disse onde ia.
Pode passar a noite fora.
Não. Disse que voltava antes das 23:00
e eu devia esperar.
Onde vai?
Ele mandou-me esperar no gabinete.
Em que andar fica o gabinete
do Sr. Kidney?
Não sei, porque nunca fui
à merda do gabinete dele, ou fui?
Disse-me que o recepcionista me mostrava,
mas estou para aqui especado...
porque você desobedeceu às ordens
do Ben Kidney.
- É no segundo andar, à direita.
- Obrigado.
ARQUIVO
Rua Cleveland
Orfanato de Bishopsgate
REFORMATÓRIO DE MARYLEBONE
Ann Elizabeth Crook
Loura - Altura média - Rua Cleveland
Reformatório de Marylebone
Alice Crook - bebé
Libertem a Irlanda!
Libertem a Irlanda!
Entre!
Foi só um pouco de pólvora.
Pouco mais do que fogo de artifício.
Entrou ou saiu alguém?
Sim. Desculpe, está o Inspector Abberline
no seu gabinete.
Não falta cá nada.
O dossier Webster parece estar completo.
Os sacanas estiveram aqui.
Posso cheirá-los.
REFORMATÓRIO DE MARYLEBONE
- Não.
- Sim.
Juntos, não. Levantaria suspeitas.
Espere por mim,
se ela estiver lá, pode visitá-la sozinha.
Vou entrar agora consigo,
senão vou para os jornais.
A sério.
Há uma série de doenças mentais
em que é necessário remover...
a parte frontal do cérebro.
O registo dela indica que era violenta,
ameaçando fazer mal a ela própria
e aos outros.
- Ela tem familiares?
- Não, está sob a guarda do estado.
- Isso é mentira.
- Ouça-me.
Você está presa e está aqui
para ajudar na minha investigação.
- Cale a boca! Percebeu?
- Desculpe.
Óptimo.
Que mais sabe sobre ela?
Só sabemos que é uma desafortunada...
que vivia no bairro de Whitechapel.
Gostava de lhe fazer umas perguntas.
Não vai conseguir respostas coerentes.
Estou habituado a isso.
Olá.
Trouxe a Mary Kelly.
Lembras-te da Mary Kelly?
Tu conheces-me, sou a tua melhor amiga.
Vão-se embora.
Vão-se embora.
Vou encontrar a bebé Alice.
Vou tratar dela.
A Alice está a rir para mim.
Ri-se para mim todo o dia.
Está tudo bem, querida.
E o pai dela?
Viste o pai da Alice?
É um príncipe.
Um príncipe.
E eu sou uma rainha.
Como soube que ele era pintor?
Ele contratou-nos para posarmos
como modelos.
O que é que isso implica?
Ficávamos muito quietas,
para ele nos poder pintar.
Que se passa? Acha que eu nasci puta?
Lamento, sou uma desafortunada,
não uma puta.
A Inglaterra não tem putas,
apenas uma grande ***
de mulheres com muito pouca sorte.
Então, a Ann Crook...
e o pintor tornaram-se amantes. É isso?
Ele casou com ela
numa linda igreja católica.
Do Santo Salvador.
Eu até fui uma das testemunhas.
Casou com ela numa igreja católica?
O que acha que fizeram à bebé Alice?
O Corpo Especial largou-a em Bishopsgate?
Sim, como uma desconhecida.
Porquê?
Quando descobrir, conto-lhe.
- Leve-me até ela. Tem de o fazer.
- Não. Ainda não.
Preciso de saber mais primeiro.
Ouça,
prometo que a ajudo com a bebé,
mas ainda não.
Tem de confiar em mim,
pelo menos um pouco.
Eu confio em si.
Óptimo.
Tem filhos?
Não.
Há um ano... não, dois anos...
Desculpe, há mais de dois anos,
a minha mulher faleceu,
ao dar à luz o que me disseram
ser um rapaz.
Lamento.
Obrigado.
Quero mostra-lhe alguns quadros
antes de sairmos.
- Vai levar-me à galeria?
- Porque não?
Venha.
- Viu o olhar dela?
- Acho que ficou sem respiração.
Ela é um susto.
Veja aqueles olhos frios.
Parece que está alguém
a andar sobre a minha campa.
Há mais um quadro que quero que veja.
Conhece-o, não é?
"Aqueles que Deus uniu,
que nenhum homem separe."
Declaro-os marido e mulher.
PRÍNCIPE EDWARD ALBERT VICTOR
DUQUE DE CLARENCE
- Sir William Gull, por favor.
- Sir William não recebe visitas.
Sir William? É o Inspector Abberline.
Preciso de falar consigo.
O Sir William está doente.
Não pode receber visitas.
Eu disse...
que não podia entrar.
Não faz mal, Dr. Ferral.
Não me importo de ter companhia.
Peça à Anna para nos trazer chá,
está bem?
Gostava de lhe poder dizer
que a sua história era fantástica.
Infelizmente, não posso.
Tenho a certeza que o príncipe
gosta de mulheres desafortunadas.
E suponho que é bem possível...
que ele tenha planeado
esta elaborada farsa,
para ter alguma privacidade
quando se entregava à sua vida secreta.
Mas tenho uma razão para afirmar...
que é incompreensível que
o Príncipe Edward seja Jack, o Estripador.
Qual é?
Se repetir o que lhe vou contar,
ambos correremos perigo de vida.
De facto, espero para seu bem
que o que lhe vou dizer...
o afaste do perigo muito real que corre.
Já passei a fase de me preocupar com isso.
O Príncipe Edward tem sífilis.
Não é um segredo de estado agradável,
mas é vital.
Isso é a prova.
Não entendia porque é que o príncipe
matava as amigas da Ann Crook,
especialmente de forma tão selvática,
mas ele não está só a matá-las,
está a castigá-las.
Ele quer vingança. Não vê?
Não, não vejo.
Lamento que as suas loucas especulações
sobre o estado mental do príncipe,
por muito inteligentes que sejam,
não sobrevivam à impossibilidade física...
de ele cometer estes crimes.
A doença está tão avançada
que as mãos tremem descontroladamente.
Ele está muito fraco e as mortes de Jack,
o Estripador, requerem mãos firmes...
e considerável vigor.
E esqueceu-se do facto mais significativo?
Sejam quais forem as suas outras facetas,
o príncipe pouco ou nada sabe
de anatomia.
...para o centro da loja
e obriguem-no a ajoelhar-se...
para orar.
Concede o Teu nome,
poderoso Pai do universo,
à nossa presente convenção.
Quem é este?
Um pobre candidato que vive nas trevas.
Veio de sua livre vontade,
perfeitamente preparado...
e solicitando humildemente ser admitido...
nos mistérios e privilégios.
Em todos os casos de perigo e risco,
em quem deposita a sua confiança?
Em Deus.
Como é que ele soube
da desafortunada e da filha?
Ele tem o tipo de esperteza que por vezes
se encontra nas classes médias.
Uma inteligência barata, mas eficaz.
Graças a Deus que não tens esse problema.
Sim, graças a Deus.
Recite o juramento solene.
"Nunca revelar os nossos segredos,
"sob pena de me cortarem a garganta,
"arrancarem a língua pela raiz...
"e de me enterrarem na areia
a 200 metros da costa."
Não achas que o Gull lhe contou, pois não?
O velhote ainda não está assim
tão acabado, pois não?
Não.
Não é tolo a esse ponto.
Que o irmão receba a luz.
- Continuo a ouvir...
- ...não teve tempo de gritar...
Outro belo assassínio.
Temam-me. Jack, o Estripador.
Não valem nada. Sabe disso.
Sim, concordo. Não valem nada.
Mas não percebo porque acredita
naquela ruiva perversa.
Já lhe ocorreu que ela pode gostar
de inventar histórias?
Especialmente sobre homens.
Afinal, é uma puta.
É uma mulher que...
"Uma rosa, sob uma outra designação"?
É isso?
Frederick, meu amigo,
ninguém fica mais encantado que eu...
por ter retomado o seu interesse
por mulheres, mas lembre-se...
que uma mulher daquelas pode fazer
um homem sentir aquilo que ela quiser.
- Sargento Godley.
- Sim.
Prenda o bando de Nichol Street.
- É para já.
- Tentei impedi-los.
Isto chegou no correio da tarde.
"Envio-lhe metade do rim
que tirei a uma mulher,
"a outra metade fritei e comi.
Estava muito boa."
Exigimos que seja feita alguma coisa
já esta noite.
"Do Inferno."
Pelo menos acertaram na morada.
Não pode ser.
De certeza que era o mesmo?
Eu conheço-o. Posei para ele duas vezes.
Estive nua como um bebé
a vê-lo a pintar-me durante horas.
E ele esteve com a Ann quanto tempo,
mais de um ano?
Quase dois.
Cá estão vocês. Olá, meninas.
Disse-vos para me esperarem.
Não posso estar num bar sem beber.
É cruel. Mas vejam quem encontrei.
Lembram-se da Ada?
É francesa.
Bruxelles.
É bonita, não é?
Em público, não.
Podes dar-nos um minuto a sós?
Precisamos de falar com a Liz.
Fica onde estás.
Vá lá, Mary, vai buscar bebidas.
Não se preocupe com Nichol Street
pelo menos por uma semana.
- Posso prendê-los durante esse tempo.
- Já é qualquer coisa.
Obrigada.
E a bebé? Tem a certeza que está bem?
Está bem.
Nós vamos reavê-la depois disto terminar.
"Nós"?
Ouça.
Quero-a a si e às suas amigas
fora das ruas, até resolver isto.
- Por quanto tempo?
- Pelo menos uns dias.
É melhor prender-nos, porque
não temos dinheiro para comer ou dormir.
Muito bem, tome isto.
Compre comida,
alugue um quarto e fique lá.
Não diga a ninguém para onde vai.
Eu não quero saber.
Daqui a três dias venha ao Ten Bells,
eu deixarei uma mensagem ao empregado.
Que foi?
Não chega?
Gostava de lhe poder mostrar a aldeia
onde nasci.
É tão bonita.
É perto do mar, onde disse que me viu.
Pensava que era pequena demais
para passar lá a vida,
mas já não tenho a certeza.
Não.
O quê?
Acha que lhe estou a retribuir?
Não o fiz por negócio.
Ainda sou uma mulher.
Ainda não me tiraram isso,
pelo menos ainda não.
Já chega.
Então, rapaz, pelo menos leva-a...
Desculpe.
Mais uma vez.
Uma vénia.
E acabou-se.
Não sejas tímida.
Elas não se importam.
Não esqueças que te paguei o jantar.
Pára de abanar a cabeça, sua cabra!
- Deixa-a em paz!
- Ela é problema meu, não teu!
- Liz, cala-te pelo menos uma noite.
- Não, não baixo a porra da voz!
Não saias esta noite, não é seguro.
Vou só arranjar algo para me aguentar.
- Volto já!
- Não sejas estúpida!
- Não bebas esta noite.
- Não. Quero a merda duma bebida.
Cá está.
A folha de serviço.
"Guardas Granadeiros.
Tenente Benjamin Kidney."
Aqui.
Tal como suspeitava.
Antes de ir para o Corpo Especial,
o Ben Kidney serviu
nos Guardas Granadeiros.
Os seus deveres incluíam
a assistência a um cirurgião.
Deixe-me dizer-lhe uma coisa
de que estou certo.
Assistir um perito é muito diferente...
de ser o próprio a fazer.
Pense nisso. Alguém tem de limpar
as porcarias do príncipe.
E de quem é o trabalho
de limpar as porcarias da viúva?
Tornou-se no Othello, sabia?
Tudo são suspeitas.
E como o trágico mouro,
todas as suspeitas resultarão
no seu afastamento.
Por amor de Deus, estas mulheres
não estão a ser só silenciadas.
Estão a ser brutalmente assassinadas.
Porque faria o Ben Kidney isso?
Para assustar as pessoas.
- Para afastá-las do verdadeiro problema.
- Que é?
Pense no que está em jogo
para o Corpo Especial.
O Príncipe Edward casado com Ann Crook,
uma plebeia e católica.
Casou com ela numa igreja católica,
tiveram uma filha, legítima,
que é a herdeira do trono de Inglaterra.
Todas estas mulheres estavam lá.
Todas elas testemunharam
um acontecimento...
que podia destruir o Império.
Quando ela começa a beber,
fá-lo toda a noite, sabes disso.
- Ela sabe do perigo.
- Não acreditou na história do príncipe.
Ela acha que andas a dar corda ao polícia
para mantê-lo interessado.
Olá.
Há algum problema, minha querida?
Não. Por momentos,
pensei que era outra pessoa.
Tem sede?
Tenho sempre.
Talvez haja algum sítio onde possamos ir,
enquanto o meu cocheiro fica de guarda.
Sim.
Por aqui.
Siga-me.
É por aqui.
Siga-me.
Deixei cair as minhas uvas.
Não!
Para onde raio estás a olhar?
Cala-te!
Ouço alguém a vir aí.
Senhor!
É uma delas, não é?
A garganta foi cortada do mesmo modo.
Sim.
Ele não terminou.
Ela não ficou menos morta por isso.
Ele não vai ficar satisfeito com isto.
Wilkins.
Chame a ambulância. Depressa.
Com licença, menina.
Podia estar morto...
neste momento.
Mas haveria demasiadas perguntas.
Ignore os disparates do velhote.
Encontre um bode expiatório, ou da
próxima não nos interessa que perguntem:
"Que aconteceu ao Inspector Abberline?"
Devíamos despachar-nos. Está a clarear.
Tens um pouco de giz, Netley?
Giz?
Encontraram outra em Mitre Square!
Belo trabalho.
Encorajou-o a matar duas numa noite.
Saia-me da frente.
Catherine Eddowes.
Há algo escrito na parede,
mais abaixo na rua.
Devia ir ver.
"Os judeus são os homens
que não serão culpados por nada."
Não é bem Shakespeare, mas serve.
Senhora, tenha calma.
Veja se apanha também o avental.
Foi escrito pelo assassino.
Como sabe isso?
Estive aqui há três quartos de hora.
Neste prédio moram quase só judeus.
Não é?
Sim.
Estou pronto.
Guarde isso e saia já daqui.
- Limpe isso.
- Quê?
- Ouviu-me.
- São provas.
Ouça-me.
Daqui a uma hora,
haverá mil pessoas a andar por aqui.
Se virem estas palavras,
nenhum judeu em Londres estará a salvo.
Teremos o caos nas ruas,
por isso mande limpar.
É uma caligrafia culta.
Foi uma pessoa culta que escreveu aquilo.
- Veja por si.
- Não preciso de ver, já vi.
Um homem culto sabe escrever "judeus".
Não sei o que isto significa,
mas de certeza que não tem nada a ver
com quem mora aqui.
Sargento,
quero dois guardas para limpar aquilo.
Para que está a olhar para ele?
Limpe aquilo!
Sim.
Já seis homens as viram,
o sargento copiou-as.
Lembrar-me-ei destas palavras
enquanto viver.
Por isso, apenas está a destruir
o seu valor como prova.
Não, apenas estou a tomar as rédeas
de uma investigação...
que você arruinou com a sua ineficácia
e estou farto.
Está suspenso do serviço.
O Inspector Abberline está suspenso.
Os seus privilégios estão cancelados.
Então, não a viu?
Se ela aparecer, dê-lhe isto.
Uma carta longa, não?
Isto é pelo seu incómodo.
A carta é privada, percebe?
Percebo.
Quem é este?
Recite o juramento solene.
"Nunca revelar os nossos segredos..."
Uvas, outra vez.
Porquê uvas?
Isto não é matar por lucro.
Não é tolo a esse ponto.
- Questiona a minha decisão?
- Encontre um bode expiatório.
"...me cortarem a garganta..."
É um ritual.
HISTÓRIA DA MAÇONARIA
E Jubelum disse:
"Que o meu corpo seja cortado"
Judeus.
Sou eu, Ada. Só eu.
Trouxe tudo para o jantar.
Sua ladra, preciso desse dinheiro.
Só tirei algum dinheiro para a comida,
para nós as duas. Fiz mal?
Não, querida. És boa pessoa, mas ouve,
até eu sair de Londres, não é seguro saíres.
Percebes?
Fico com a Mary.
A bela Mary.
Não é preciso. Não tens de pagar a comida.
Pardon?
À nossa saúde.
Desculpe-me por recebê-lo assim,
mas estou atrasado para um encontro.
Importa-se que acabe de me vestir
enquanto falamos?
- Por favor, continue.
- Obrigado.
Gostaria de falar consigo
sobre a maçonaria, se me permitir.
Sim.
A disposição das moedas
aos pés da Annie Escura...
e também a localização dos corpos,
formam uma estrela de cinco pontas.
A estrela de cinco pontas
é o símbolo da maçonaria, não é?
Sim.
E a forma como estas mulheres
foram mortas,
com golpes da esquerda para a direita...
e remoção dos órgãos.
São reconstituições, não são?
De quê?
Dos judeus.
Os traidores que mataram Hiram Abiff,
fundador da maçonaria.
Foram executados dessa forma.
Sim, é o que diz a Bíblia.
Então, Jack, o Estripador,
não está apenas a matar prostitutas.
Está a executar traidoras.
É um mação a cumprir um dever.
Sim, receio...
que não lhe seja permitido prendê-lo.
Não quero prendê-lo.
O Estripador ainda tem mais uma traidora
para matar...
e eu irei impedi-lo.
Eles foram ter consigo,
enquanto mação leal?
Pediram-lhe para os ajudar a esconder
o casamento secreto do príncipe?
Foi assim que começou, sim.
Depois,
descobriu que o príncipe tinha sífilis.
Ele vai morrer da doença.
Quer visitar a ala dos sifilíticos?
É médico da rainha,
incumbido de velar pelo bem-estar
do herdeiro ao trono.
Só o senhor tinha razões para crer
que estas desafortunadas,
estas prostitutas,
estas traidoras,
destruíram o trabalho de uma vida.
Por baixo da pele da história,
estão as veias de Londres.
Estes símbolos, a mitra,
a estrela de cinco pontas,
até alguém tão ignorante
e degenerado como você...
pode sentir que eles transportam
energia e significado.
Eu sou esse significado.
Sou essa energia.
Um dia,
os homens olharão para o passado...
e dirão que eu dei início ao século XX.
Não chegará a ver o século XX.
Arregaça-lhe a manga.
Não resista.
Só tornará isto mais doloroso.
Está bem?
Está alguém ali debaixo.
Dr. Gull?
Estava a descrever o coração humano.
O coração humano...
é um músculo denso e poderoso,
como se fosse o equivalente orgânico
do mogno...
e é muito difícil de queimar.
Tem o tamanho aproximado dum pulso.
Fornece a energia
para o aparelho circulatório.
O coração contém duas cavidades,
dois ventrículos e quatro válvulas.
Na verdade, é uma bomba...
que alimenta um circuito duplo.
Num adulto, a pulsação ronda
as 70 a 80 batidas por minuto.
O coração tem tamanha força,
que se a maior artéria do corpo,
a aorta, for cortada,
será libertado um jacto de sangue...
de dois metros.
...não temas Deus.
Levanta-te.
A tua fé é bem alicerçada.
Outro assassínio!
Não entre ali. Não há necessidade.
Qual é a gravidade?
Está feita em pedaços.
Ele pode entrar.
Dê-mo.
Vamos tratar dele. Juro.
- Quero-o.
- Acabou-se. Dou-lhe a minha palavra.
Que se lixe a sua palavra!
Vou derrubar-vos a todos, seus cabrões.
A si e aos seus irmãos.
Ouça-me.
A sua situação difícil
foi amplamente discutida.
Foi reintegrado. Até foi promovido.
Não! Isto não ajuda nada.
Não seja tolo.
Será vigiado de muito perto.
Estão aí todos.
Onde estavam quando isto aconteceu?
É fácil estar para aí a falar.
E quem trata de nós?
O Inspector Abberline é o responsável.
Dê-lhe toda a ajuda necessária.
Lembre-se que está a ser vigiado.
Libertem esta passagem. Afastem-nos.
Afaste-se. Abram caminho.
Continuamos?
O corpo está no meio da cama.
Ombros direitos, mas o eixo do corpo
está inclinado para a direita.
O braço esquerdo está junto ao corpo.
O antebraço está dobrado
num ângulo recto, sobre o abdómen.
O braço direito
está ligeiramente afastado do corpo.
Está sobre o colchão, com o cotovelo
dobrado e o antebraço virado para cima.
Os dedos estão cerrados,
indicando uma luta enquanto ela morria.
Reparou em alguma coisa?
Não.
Não, continuem.
Entrou pouco depois de amanhecer,
com alguma pressa.
Deixou isto para si.
Sei que me que pediu para esperar.
Se é para ser assassinada,
prefiro morrer na minha terra.
Vou ao orfanato buscar a Alice.
Eis uma morada onde nos pode encontrar.
Esperaremos ansiosamente por si.
O meu coração sabe que podemos
ser felizes a viver junto ao mar.
Tal como viu.
Espero estar consigo em breve,
meu querido.
Com todo o amor, Mary.
Estamos muito preocupados,
Lorde Hallsham.
Pedimos a Sir William para acabar
com uma ameaça à nossa família e trono.
Não para se entregar
a estes rituais sinistros.
Claro que não, Vossa Majestade.
Isso foi imprevisto.
Por outro lado, ele cumpriu o seu dever.
A ameaça acabou, Vossa Majestade.
À sua maneira, Sir William foi leal.
E estamos-lhe gratos por isso.
O resto está nas suas mãos,
Lorde Hallsham.
Não queremos ouvir falar mais nisto.
Cavaleiros do Leste.
Estamos aqui reunidos,
ao abrigo do Deus do amor...
e perante a vista do Grande Arquitecto,
para julgar este caso.
É acusado de mutilações que colocaram
a nossa irmandade em perigo.
Está perante os seus iguais,
tanto mações como médicos.
Não tenho aqui iguais.
Quê?
Nenhum de vós é digno de julgar...
a poderosa arte que criei.
Os vossos rituais são juramentos ocos,
que não compreendem nem cumprem.
O Grande Arquitecto fala comigo.
Ele é a balança
que pesa e julga as minhas acções.
Não são vocês.
Cavaleiro do Leste,
ouça o nosso julgamento.
Já não o vigiam.
Estou a dizer-lhe, já pode ir ter com ela.
Eles pensam que está morta.
Se eu desaparecer
ou mudar a minha rotina de repente,
eles podem estranhar.
Sabe em quem é que se vai tornar?
Naquele velho do bar,
ao pé de quem ninguém se quer sentar,
porque mal bebe uns copos, começa a falar
na rapariga que deixou fugir.
É isso que quer?
Quer viver o resto da vida
como um fantasma?
Não.
O que quero é ir ter com ela.
Mas à mínima suspeita que ela está viva,
eles não pouparão esforços...
nem recursos.
Por isso, ficarei.
A vigiá-los.
Alice!
Anda cá, querida.
Vou já, Mãe.
Levante-se.
Levante-se! Vá lá.
Boa noite, doce príncipe.