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Existem peixes que não
podem ser apanhados.
Não é que sejam mais rápidos
ou fortes que os outros peixes.
Apenas são movidos
por algo mais.
Um desses peixes era A Besta.
E na época em que nasci
já ele era uma lenda.
Ele ignorou mais iscas que
qualquer outro peixe no Alabama.
Alguns diziam que era o
fantasma de um ladrão
que se afogara naquele
rio 60 anos antes.
Outros afirmavam que era um dinossauro
sobrevivente desde o Período Cretácio.
Eu não dei qualquer crédito a tais
especulações ou superstições
Tudo o que eu sabia era que
tentava apanhar aquele peixe,
desde que era um menino
não maior do que tu.
E no dia em que vocês nasceram...
Bem, esse foi o dia em
que finalmente o apanhei.
Eu tinha tentado tudo para o apanhar:
minhocas, iscas, manteiga de amendoim,
manteiga de amendoim e queijo.
Mas naquele dia eu tive uma revelação:
se aquele peixe era o fantasma de Henry
Walls, a isca comum não iria resultar.
Eu teria que usar qualquer coisa
que ele realmente desejasse.
- O teu dedo?
- Ouro.
Então, eu atei o meu anel na
linha mais forte jamais feita,
suficientemente forte para suportar uma ponte,
disseram, embora apenas por alguns minutos.
E então lancei-me rio acima.
A Besta saltou e agarrou o anel
antes mesmo de ele tocar a água.
E com igual rapidez,
arrancou-o da linha.
Bem, vocês podem imaginar o meu aperto.
A minha aliança, o símbolo da
fidelidade pela minha esposa,
prestes a ser a mãe dos meus filhos...
- Façam-no parar.
...estava agora perdido nas entranhas
de um peixe 'incapturável'.
O que é que fizeste?
Eu segui aquele peixe rio acima
e rio abaixo.
Este peixe, A Besta,
passávamos o tempo a chamar-lhe
de ele, quando de facto ele era ela.
Ela estava gorda com ovos,
um dia haveria de parar.
Agora, eu tinha um dilema.
Eu podia abrir este peixe
e recuperar a minha aliança,
mas ao fazer isso estaria a matar o peixe
gato mais esperto do Rio Ashton.
Quereria eu privar o
meu filho da hipótese
de apanhar um peixe
como este?
Esta Sra. Peixe e eu...
- Bem, nós tivemos o mesmo destino.
- Éramos parte da mesma equação.
Agora, bem que podem perguntar...
Oh, querido, querido,
a noite ainda é tua.
...porque é que ele investiu tão rápido
no ouro, quando mais nada o atraía?
Essa foi a lição que
aprendi naquele dia,
o dia em que o meu filho nasceu.
Por vezes a única maneira de apanhar
uma mulher 'incapturável'
é oferecer-lhe uma aliança.
O quê, um pai não está autorizado
a falar sobre o seu filho?
Eu sou apenas um pequeno
ponto nessa história, Pai,
o contexto para a tua grande aventura,
que na verdade nunca aconteceu.
Tu estavas a vender produtos
em Wichita quando eu nasci.
Vá lá, Will.
Todos adoram esta história!
Isso não é verdade. Eu não adoro essa história.
Agora já não. Não depois de milhares de vezes!
Eu conheço todas as partes engraças, Pai.
Eu posso contá-las tão bem como tu!
Por uma noite,
uma noite em toda a tua vida,
o universo não gira
em torno de Edward Bloom.
- Como podes não entender isso?
- Desculpa por te envergonhar.
Tu estás-te a envergonhar a ti, Pai.
Só que não te apercebes.
Depois daquela noite, não voltei falei
com o meu pai durante três anos.
William Bloom, United Press
International. Se eu pudesse apenas...
Nós comunicávamos indirectamente, suponho.
Nos seus cartões de Natal,
a minha mãe escrevia por ambos.
E quando telefonava, ela dizia que ele
tinha saído ou estava a nadar na piscina.
A bem dizer, nós nunca
falámos sobre não falarmos.
A verdade é que, eu não via nada
do meu pai em mim.
E eu acho que ele não via
nada dele em mim.
Nós eramos como estranhos
que se conheciam muito bem.
Ao contar a história
da vida do meu pai,
é impossível separar a realidade
da ficção, o homem do mito.
O melhor que posso fazer
é contá-la tal como ele me a contou.
Nem sempre faz sentido,
e a maior parte dela nunca aconteceu.
Devolve-me o anel!
Obrigado!
Mas este é o tipo de história que vou contar.
O seu nascimento seria o exemplo
da sua vida inacreditável.
Não mais longa que a da maioria
dos homens, mas mais intensa.
E por mais estranhas que as suas
histórias fossem,
os finais eram sempre a
maior surpresa.
Sim. Sim, ele está aqui.
É a tua mãe.
E o que é que o Dr. Bennett diz?
Não, certamente, eu falo com ele.
Sim, eu espero.
É grave?
Sim, é mais do que pensavam.
Vão parar a quimioterapia.
- Tens de ir.
- Provavelmente hoje à noite.
- Eu vou contigo.
- Não, não, não. Não podes.
Eu vou contigo.
Agora, qual delas vai ser?
"Macaco no Celeiro",
ou "Cão na Estrada"?
Aquela sobre a bruxa.
Já sabes que não te posso contar essa.
Depois tens pesadelos.
- Eu não tenho medo.
Bem, nem eu, no início.
Esta teve lugar num
pântano fora de Ashton.
Não era permitido às crianças irem até ao
pântano por causa das cobras, aranhas...
...e das areias movediças que te engoliriam
antes que pudesses sequer gritar.
Naquela noite estávamos
lá cinco de nós:
Eu, Ruthie, Wilbur Freely...
...e os irmãos Price,
Don e Zacky.
E nenhum de nós sabia
o que nos esperava.
É de conhecimento geral que a maioria das
localidades com um certo tamanho tem uma bruxa...
...ainda que só para comer
e maltratar criancinhas...
...e eventuais cãezinhos
que entrem no seu quintal.
A bruxa usa esses ossos
para lançar feitiços e maldições...
...e tornar as terras inférteis.
- É verdade que ela tem um olho de vidro?
- Ouvi dizer que ela o arranjou nos ciganos.
- O que é um cigano?
- A tua mãe é um cigano.
A tua mãe é uma vadia.
Não devias praguejar.
Estão presentes senhoras.
- Raios.
- Maldição.
- Porra.
Desliga as vossas luzes.
Ela vai ver-te.
De todas as bruxas do Alabama...
...havia uma que se dizia
ser a mais temida.
Pois ela tinha um olho de vidro que se
dizia possuir poderes mágicos.
Ouvi dizer que se olhasses directamente
para ele, verias como seria a tua morte.
Isso é treta, é o que é.
Ela nem é uma bruxa a sério.
Se tens tanta certeza, vai buscar esse olho.
Ouvi dizer que ela o guarda numa caixa
na sua mesa de cabeceira. Ou estás cheio de medo?
Vou entrar agora mesmo e trazer esse olho.
- Então vá.
- Está bem, eu vou.
- Bem, vai.
- Estou a ir.
Edward, não!
Ela vai-te transformar em sabão.
É isso que ela faz.
Ela faz das pessoas sabão.
Senhora, o meu nome é Edward Bloom...
...e há algumas pessoas
que gostavam de ver o seu olho.
- Tens o olho?
- Eu trouxe-o.
Deixa lá ver isso.
Socorro!
Eu vi como é que iria morrer.
Eu era velho e caí.
Eu não era assim tão velho.
Eu até estava a pensar sobre a morte.
Sobre ver como é que vamos morrer.
Bem, por um lado, se morrer
é tudo o que se está a pensar...
...isso pode lixar-nos.
Mas também nos poderia ajudar,
não é verdade?
Pois, a tudo o resto,
sabemos que sobrevivemos.
Estou a dizer que gostava de saber.
É assim que eu vou morrer.
Olá, mãe.
- Aquele é o carro do Dr. Bennett?
- Sim. Ele está lá em cima com o teu pai.
- E como é que ele está?
- Bem... Não, eu levo.
Ele está impossível. Não come e
como não come, está mais fraco.
Como está mais fraco,
ele não quer comer.
- Quanto tempo é que lhe resta?
- Não vamos falar sobre isso.
Ainda não.
Will.
Dr. Bennett. Como é bom vê-lo.
A minha esposa, Josephine.
Prazer.
- Você está de sete meses.
- Exactamente!
É um rapaz.
Tenta fazer com que ele beba um destes.
Não vai beber, mas vai lá e tenta.
Pai?
Quer um pouco de água?
- Vieste para uma surpresa.
- Eu?
Ter um filho muda tudo.
Há as fraldas, os arrotos
e a refeição da meia-noite.
- Você fez alguma coisa dessas?
- Não.
Mas ouvi dizer que é terrível.
Então passas anos a tentar corromper
e desencaminhar essa criança...
...e encher a cabeça dela de absurdos,
e mesmo assim ele sai perfeitamente bem.
- Acha que estou preparado?
- Aprendeste com o melhor.
Beba metade da lata.
Vou dizer à mãe que bebeu tudo.
Ganhamos todos.
Não se precisavam de preocupar tanto.
Ainda não chegou a minha hora.
Não é assim que eu vou morrer.
- A sério?
- Podes crer. Eu vi-o no olho.
- A senhora idosa do pântano?
- Ela é uma bruxa.
Não, ela era idosa e provavelmente senil.
Eu vi a minha morte naquele olho,
e isto não é assim que acontece.
Então como é que acontece?
Surpresa.
Não te quero estragá-la.
A tua mãe pensava que
não voltaríamos a falar.
Olha para nós. Estamos a falar na boa.
Nós somos contadores de histórias, ambos.
Eu conto as minhas,
tu escreves as tuas. É a mesma coisa
Pai...
Espero falar sobre certas coisas
enquanto eu aqui estiver.
Queres dizer enquanto eu aqui estiver.
Eu só quero saber
a verdadeira versão das coisas.
Eventos. Histórias.
Você.
A tua mãe não tem
tratado da piscina.
Se quisesses, podias arranjá-la.
- Sim, eu faço isso.
- Sabes onde estão os químicos.
- Eu costumava fazer isso quando foste embora.
Nunca fui muito de ficar
em casa, Will. É muito limitado.
E isto aqui, estar preso à cama...
...a morrer é a pior coisa que
jamais me aconteceu.
- Pensava que tinhas dito que não estavas a morrer.
- Eu disse que não era assim que vou morrer.
A última parte é muito mais estranha.
Acredita em mim.
O Dr. Bennett disse que eu tinha que
ficar em casa durante uma semana.
Isso não é nada. Uma vez, eu tive
que ficar de cama durante três anos.
- Tiveste varicela?
- Quem me dera.
Na verdade, ninguém sabia
realmente o que é que eu tinha.
Normalmente uma pessoa
cresce gradualmente...
...enquanto eu crescia
depressa demais.
Os meus músculos e ossos não
aguentavam a ambição do meu corpo.
Assim eu passei grande parte de
três anos confinado à minha cama...
...sendo a enciclopédia o
meu único meio de exploração.
Já a tinha lido toda até ao 'G'...
...à espera de encontrar uma resposta
para o meu 'gigantismo'...
...quando encontrei um artigo
sobre o peixe-vermelho.
"Mantido num pequeno aquário,
o peixe-vermelho manter-se-á pequeno.
Com mais espaço...
...ele crescerá até ao dobro, o triplo,
ou o quadrúplo do seu tamanho."
Então ocorreu-me que provavelmente
a razão para o meu crescimento...
...era que eu estava destinado
a coisas maiores.
Afinal, um gigante não pode ter
uma vida do tamanho normal.
Depressa os meus ossos adquiram
a sua configuração adulta...
...e eu coloquei em marcha o meu plano de fazer
um lugar maior para mim em Ashton.
Vão!
Edward Bloom!
O meu cão! O meu cão!
O meu cão está encurralado.
Eu era a maior coisa que
Ashton já havia visto.
Até que um dia,
um estranho chegou.
Calma. Calma pessoal.
Acalmem-se. Já chega.
- Sr. Presidente, ele comeu um campo de milho inteiro.
- Ele comeu o meu cão.
Se não o parar, Sr. Presidente,
nós iremos.
Eu não terei desacatos
nesta cidade.
Bem, alguém tentou
falar com ele?
- Não se pode argumentar com ele.
- Ele é um monstro.
Eu falo.
Eu vou falar com ele.
Vou ver se o consigo que vá embora.
Essa criatura vai-te esmagar
sem esforço.
Acredite, ele terá que se esforçar.
Olá?
Chamo-me Edward Bloom,
e gostava de falar consigo!
Vai-te embora!
Não vou a lado nenhum
até que te mostres!
Eu disse, vai-te embora!
Armado com o conhecimento
da minha própria morte...
...eu sabia que o gigante não me podia matar.
Mesmo assim, preferia manter
os meus ossos inteiros.
Porque é que estás aqui?
Para me poderes comer.
A cidade decidiu enviar um sacrifício
humano e eu voluntariei-me.
Os meus braços são fraquinhos, mas
as minhas pernas dão uma boa refeição.
Quer dizer, eu próprio ficaria
tentado a comê-las.
Eu acho, bem...
Se podias tratar disto depressa, pois para
dizer verdade não aguento muito a dor.
Então? Eu não posso voltar!
Eu sou um sacrifício humano!
Se eu voltar,
eles dirão que sou um covarde.
Prefiro ser um jantar do que covarde.
Aqui.
Podes começar pela minha mão.
É o aperitivo.
Eu não te quero comer.
Eu não quero comer ninguém.
Apenas tenho muita fome.
Sou grande demais.
Alguma vez pensaste que
se calhar não és grande demais...
...mas que esta cidade é que
é pequena demais?
Eu ouvi falar de cidades a sério
com edifícios tão altos...
...que nem lhes consegues
o topo.
- A sério?
- Eu não te ia mentir.
E com ‘buffets’ onde podes comer
o que te apetecer.
- Tu consegues comer muito, não é?
- Consigo.
Então porque é que perdes tempo
numa pequena localidade?
Tu és um grande homem.
Devias estar numa grande cidade.
Só estás a tentar fazer com que
eu vá embora, não é?
- Como te chamas?
- Karl.
Bem, eu chamo-me Edward.
E para dizer a verdade...
Bem, eu quero que vás embora, Karl.
Mas quero ir contigo.
Quer dizer, tu achas que esta terriola
é pequena demais para ti?
Bem, é pequena demais para um homem
com as minhas ambições.
Então, que dizes? Vens comigo?
Está bem.
Certo.
Primeiro temos que
te preparar para a cidade.
Edward Bloom, o primeiro filho de Ashton...
...é com tristeza
que te vemos partir.
Mas leva contigo esta
chave da cidade...
...e sabes que quando
quiseres voltar...
...as nossas portas estão abertas para ti.
Naquela tarde que deixei Ashton,
todos pareciam ter um conselho.
Encontra uma bela rapariga!
Mantém o ânimo, Edward Bloom!
Mas houve uma pessoa cujo conselho
guardei acima de todos os outros.
Ela disse que o maior
peixe do rio...
...atingiu aquele tamanho
pois nunca foi apanhado.
- O que é que ela disse?
- Provocou-me.
Haviam duas estradas para Ashton.
Uma nova que era pavimentada
e uma velha que não era.
A velha não
era muito usada...
...e tinha ganho a reputação
de ser assombrada.
Bem, uma vez que eu não tinha
qualquer intenção de regressar a Ashton...
...esta parecia a melhor altura para
descobrir o que havia na estrada antiga.
- Conheces alguém que passou por ela?
- Aquele poeta, Norther Winslow, passou.
Ele ia para Paris, França.
Acho que ele gostou.
Nunca mais ninguém voltou a ouvir falar dele.
Vou-te dizer uma coisa.
Tu vais pelo outro caminho.
Eu vou por aqui, e
encontramo-nos do outro lado.
Só estás a tentar fugir,
não estás?
Toma.
Só para teres a certeza,
podes levar a minha mochila.
Seu...
Há sempre um momento em
que um homem sensato...
...engole o seu orgulho e admite
que cometeu um erro terrível.
Mas a verdade é que
eu nunca fui um homem sensato.
E o que eu me lembro da
catequese é que...
...quanto mais difícil é algo,
maior a recompensa no final.
Seja bem-vindo.
Como se chama?
- Edward Bloom.
- "Bloom" (desabrochar) como uma flor?
- Sim.
Aqui está.
Edward Bloom.
Ainda não te esperávamos.
- Estavam à minha espera?
- Ainda não.
- Deves ter apanhado um atalho.
- Sim, quase morria.
A vida fará isso por ti.
E na verdade, o caminho mais longo é o mais fácil.
- Mas mais longo.
- Muito mais.
E agora estás aqui,
e isso é que interessa.
Onde é que estou?
A cidade de Spectre.
O segredo mais bem guardado do Alabama!
Diz aqui que vens
de Ashton, verdade?
A última pessoa que tivemos de Ashton
foi Norther Winslow.
O poeta?
O que lhe aconteceu?
Ainda cá está. Deixa-me pagar-te uma bebida.
Vou contar-te tudo.
Ele conta-te tudo!
Tenho que ir ter com uma pessoa,
e já estou atrasado.
Filho, já te disse.
Estás adiantado.
Diz-me se esta não é
a melhor tarte que já comeste.
Realmente é.
Aqui tudo sabe melhor.
Até a água é agradável.
Nunca fica muito quente,
muito fria, ou muito húmida.
De noite, o vento atravessa as
árvores e podia-se jurar
que lá fora há uma sinfonia
a tocar só para nós.
Jenny!
Volta aqui!
Jenny!
Eu preciso disso.
- Não há solo mais suave que a cidade.
- Isso quase rima.
Ele é o nosso melhor poeta. Anda.
Concordei em passar lá a tarde,
pelo menos para entender
o mistério de como um sítio poderia
ser tão estranho e ao mesmo tempo familiar.
Tenho estado a trabalhar neste poema
há 12 anos.
A sério?
Há muita expectativa.
Não quero desapontar os meus fãs.
Posso?
"A relva é verde,
O céu é azul"
"E Spectre é maravilhosa"
Só tem três linhas.
É por isto que nunca se deve mostrar
um trabalho inacabado.
Apanhei-a!
Há lá sanguessugas.
- Viste aquela mulher?
- Como é que ela era?
- Bem, ela era...
- Estava nua?
Sim, estava.
Não é uma mulher, é um peixe.
Nunca ninguém a apanhou.
O peixe parece diferente
a diferentes pessoas.
O meu pai disse que se parecia com
o cão que ele teve quando era criança,
regressado dos mortos.
Maldição.
- Que idade tens?
- Dezoito.
Eu tenho 8. Isso significa que quando eu
tiver 18 tu terás 28.
- E quando eu tiver 28, tu terás 38.
- És boa a matemática.
E quando tiver 38, tu terás 48.
A diferença até nem é muita.
Porém, agora é bastante, não é?
Edward!
"As rosas são vermelhas,
As violetas são azuis,"
"Eu adoro Spectre"...
Com licença.
A Jenny acha que tu és um óptimo partido.
Todas nós achamos.
O quê?
Eu disse que tu és um óptimo partido.
Tenho que ir.
Esta noite.
Porquê?
Esta cidade é mais do que qualquer
homem poderia pedir.
E se eu tivesse que acabar aqui,
considerar-me-ia um sortudo.
Mas a verdade é que não estou
preparado para terminar em lado nenhum.
Mas nunca ninguém partiu.
Como é que vais fazer,
sem os teus sapatos?
Bem, acho que vai doer. Muito.
Tenho pena, mas...
Bem, adeus.
- Não encontrarás um sítio melhor.
- Não estou a contar com isso.
Promete-me que voltarás.
Eu prometo. Um dia.
Quando for a altura certa.
Naquela noite,
cheguei a duas conclusões.
A primeira era que um caminho perigoso
torna-se muito pior na escuridão.
A segunda era que eu estava
desesperadamente e irremediavelmente perdido.
Aquela floresta tornar-se-ia
a minha sepultura.
Por mais difícil que fosse chegar a Spectre,
eu estava fadado a lá chegar.
Afinal, nenhum homem pode evitar
alcançar o fim da sua vida.
Então, apercebi-me de que aquele
não era o fim da minha vida.
Não é assim que vou morrer.
Amigo.
- O que aconteceu aos teus sapatos?
- Eles fugiram de mim.
Não sei se tu viste,
mas a Josephine tinha algumas fotos
na última Newsweek.
A sério?
Isso é maravilhoso.
Passei uma semana em Marrocos
para a história. Foi incrível.
Temos que arranjar uma cópia.
Não sei se estás a par disto,
Josephine
mas os papagaios Africanos, na sua terra
nativa no Congo, só sabem falar Francês.
A sério?
Se tirares deles quatro palavras
em Inglês já estás com sorte.
Mas se desses um passeio
pela selva,
ouvi-los-ias falar
o Francês mais rebuscado.
Esses papagaios falam sobre tudo.
Política, filmes, moda.
Tudo menos religião.
Porque não religião, Pai?
É de má-educação falar sobre religião.
Nunca se sabe quem se vai ofender.
Na verdade, a Josephine foi
ao Congo no ano passado.
Ah, então sabes.
Olá.
Olá. Como se sente?
Estava a sonhar.
O que é que estava a sonhar?
Normalmente não me lembro,
a menos que seja algo especialmente portentoso.
Sabes o que essa palavra significa?
Significa que quando sonhas
qualquer coisa ela vai acontecer.
Como quando, uma noite, eu tive um sonho
onde um corvo veio e disse:
"A tua tia vai morrer".
Eu fiquei com tanto medo,
e acordei os meus pais,
mas eles disseram que era só um sonho
e voltaram para a cama.
Mas na manhã seguinte,
a minha Tia Stacy estava morta.
Isso é terrível.
Terrível para ela, mas pensa em mim,
um pequeno rapaz com esse poder.
Não passaram três semanas quando o
corvo voltou a aparecer-me num sonho
e disse, "O teu pai vai morrer".
Eu não sabia o que fazer.
Finalmente eu contei ao meu pai, mas ele disse:
"Não te preocupes."
Mas eu vi que ele estava apavorado.
Na manhã seguinte, ele não era o mesmo.
Ficava a olhar à sua volta, à espera que
alguma coisa lhe caísse em cima.
Porque o corvo não disse como isso
iria acontecer, apenas aquelas palavras:
"O teu pai vai morrer".
Bem, ele saiu de casa cedo
e esteve fora muito tempo.
Quando finalmente voltou,
estava com péssima cara,
como se estivesse à espera
que o machado caísse a cada momento.
Ele disse à minha mãe:
"Hoje foi o pior dia da minha vida".
"Achas que tiveste um dia mau?",
disse ela.
"Esta manhã, o homem do leite
caiu morto na varanda."
Porque a minha mãe
estava a comer o homem do leite.
- Posso tirar-lhe uma fotografia?
- Tu não precisas de uma fotografia.
Basta procurares a palavra "bonito"
no dicionário.
Por favor?
Está bem.
Tenho fotografias do casamento
para lhe mostrar.
Há uma mesmo boa
de si com o meu pai.
Quero ver as fotografias do seu casamento.
Ainda não vi nenhuma.
Isso é porque nós nunca tivemos
um casamento como deve ser.
A tua sogra não era
suposto ter-se casado comigo.
- Estava comprometida com outra pessoa.
- Não sabia.
O Will nunca te disse?
Melhor ainda.
De qualquer maneira, ele teria contado
tudo mal.
Todos os factos, nada de tempero.
Então esta é uma história comprida.
Bem, não é pequena.
Eu tinha acabado de sair de Spectre e estava
no caminho para descobrir o meu destino.
Sem saber como seria exactamente,
aproveitei todas as oportunidades
que se me apresentaram.
Coco! Coco! Ali estão eles.
Senhoras e senhores!
Vocês podem pensar que já
viram o incomum.
Vocês podem pensar que já
viram o bizarro.
Mas eu viajei pelos
cinco cantos do mundo
e deixem-me dizer-vos,
nunca tinha visto nada assim!
Quando conheci este homem,
ele estava a apanhar laranjas na Florida.
Os seus colegas trabalhadores chamavam-no
“El Penumbra”. A Penumbra.
Porque quando alguém
trabalhava ao seu lado.
ele tapava a luz do dia!
Não é para vos alarmar, senhoras,
mas se este homem quisesse
ele podia esmagar a vossa cabeça
com os seus pés,
como uma pequena noz.
Mas ele não o fará.
Não. Não, senhoras e senhores,
ele não vos magoará,
porque é um Sr. Gigante.
Senhoras e senhores,
eis o Colosso!
Senhoras e senhores,
meninos e meninas,
obrigado por terem vindo.
Conduzam com cuidado.
Obrigado por terem vindo.
Foi nessa noite que
Karl conheceu o seu destino.
E eu conheci o meu, quase.
Dizem que quando conhecemos
o amor da nossa vida, o tempo pára.
E é verdade.
O que não nos dizem é que
quando o tempo recomeça,
anda mais rápido para
compensar o tempo perdido.
Como te chamas?
- Chamo-me Karl.
- Karl.
Diz-me, Karl, alguma vez ouviste
o termo "serventia involuntária"?
- Não.
- "Contrato despropositado"?
- Não.
- Óptimo.
Aqui.
Toma.
Mr. Soggybottom,
desça
para que ele possa usar
as suas costas para assinar.
Está bem. Obrigado. Sim.
Rapaz.
O seu amigo tornou-se numa estrela.
- Isso é fantástico.
- O meu procurador, Mr. Soggybottom.
- Prazer em conhecê-lo.
Prazer.
Qual é o problema? Já não
via um cliente tão deprimido
desde que o elefante se sentou
na mulher do camponês.
"Deprimido"?
Vê? O matulão gostou.
Eu acabei de ver a mulher com quem vou casar.
Eu sei. Mas perdi-a.
Isso é mau.
A maioria dos homens tem de se casar
antes de perder a sua mulher.
Vou passar o resto da minha vida
à sua procura. Isso ou morrerei sozinho.
Então, rapaz?
Deixa-me adivinhar. Linda?
Cabelo loiro-avermelhado?
Vestido azul?
Sim.
Eu conheço a tia dela.
Amigos da família.
Quem é ela? Onde mora?
Esquece. Não percas tempo.
Não estás à altura dela.
- O quê? Você nem me conhece.
- Conheço, sim.
Tu eras popular lá na aldeia, mas
aqui no mundo real, estás por baixo.
Não tens um plano ou um emprego.
Sem nada a não ser a roupa
que trazes no corpo.
Bem, eu tenho uma grande
mochila cheia de roupa.
Alguém roubou a minha mochila.
Tu eras um grande peixe num pequeno
aquário, mas isto aqui é o oceano
e estás-te a afogar.
Volta para a tua terriola.
- Lá serás feliz.
- Você diz que eu não tenho um plano e tenho.
Eu vou encontrar aquela rapariga, casar com ela,
e passar o resto da minha vida com ela.
Não tenho um emprego, mas
teria se me desse um.
E posso não ter muito
mas sou mais determinado que qualquer
homem que alguma vez conhecerá.
Desculpa, rapaz. Eu não faço caridade.
Anda, matulão.
Espere. Olhe, eu trabalharei
noite e dia para si
e não terá que me pagar.
Só tem que me dizer quem ela é.
Por cada mês que trabalhares para mim,
eu dir-te-ei uma coisa sobre ela.
É a minha última oferta.
Vamos lá começar.
A partir desse momento, fiz tudo
o que Mr. Calloway pediu.
Eu trabalhava três dias
sem parar para comer.
E quatro dias sem dormir.
O que me fazia continuar era
a promessa de conhecer a rapariga
que um dia seria a minha mulher.
Juntos, essa era a maneira
que tinha de ser.
- A maneira que seria, e a maneira que iria ser.
- Sr. Calloway, senhor?
Hoje faz um mês.
Esta rapariga, o amor da tua vida,
as suas flores favoritas são os narcisos.
- Por isso arranja isso.
- Narcisos.
Narcisos.
Narcisos.
Fiel à sua palavra,
todos os meses, Amos dizia-me
algo de novo
sobre a mulher dos meus sonhos.
Alegra-te, alegra-te.
Ela vai para a universidade.
Universidade. Ela vai para a universidade.
Ela gosta de música.
Música. Ela gosta de música.
Ao longo dos meses, aprendi muito
sobre a mulher com quem casaria,
mas não o seu nome,
nem onde a encontrar.
Esse dia chegara.
Não conseguia esperar mais.
Sr. Calloway?
É Edward Bloom.
Preciso de falar consigo.
Sr. Calloway?
Não. Espera!
Nessa noite, descobri que a maioria das
coisas que consideramos má ou estranha
apenas são solitárias
e falta-lhes traquejo social.
Não matei ninguém, pois não?
Alguns coelhos. Mas acho que um deles
já estava morto.
Isso explica a indigestão.
Obrigado.
Eu estava enganado em relação
a ti, rapaz.
Podes não ter muita coisa,
mas o que tens, tens muito.
Conseguirias qualquer rapariga.
Só há uma que eu quero.
O seu nome
é Sandra Templeton.
Ela vai para Auburn.
O semestre está quase a terminar,
por isso é melhor apressares-te.
Obrigado. Obrigado.
- Boa sorte, rapaz!
- Obrigado, Senhor!
- Agora, adeus.
- Adeus, Edward.
Depois das despedidas,
apanhei três comboios...
...para chegar a Auburn naquela tarde.
Tu não me conheces,
mas chamo-me Edward Bloom
e eu amo-te.
Passei os últimos três anos a
trabalhar para descobrir quem eras.
Levei tiros, facadas e fui esmagado
algumas vezes. Parti as costelas duas vezes.
Mas valeu a pena
ao ver-te agora aqui
e finalmente conseguir falar contigo.
Estou destinado a casar contigo.
Soube quando te vi no circo,
e agora sei mais do que nunca.
- Sinto muito.
- Não tens que te desculpar.
Eu sou a pessoa mais sortuda
que encontrarás hoje.
Não, sinto muito, estou
comprometida e vou casar.
Mas estás enganado, eu conheço-te.
Pelo menos por reputação.
Edward Bloom de Ashton.
Eu estou noiva de
um rapaz de Ashton, Don Price.
Ele é apenas uns anos mais velho que tu.
Bem...
Parabéns.
Desculpa ter-te incomodado.
Parem! Não tem piada.
Pobre rapaz.
O destino é cruel nas
suas reviravoltas.
Depois de todo aquele trabalho
para deixar Ashton,
a rapariga que eu amava estava noiva
de um dos seus maiores idiotas.
Há uma altura na vida em que
um homem tem de lutar
e uma altura em que ele tem de aceitar
que o seu destino está perdido,
que o navio zarpou,
e que só um louco continuaria.
Mas a verdade é que eu sempre fui um louco.
Sandra Templeton, amo-te,
e vou casar contigo!
Assim, como podem ver, se aplicarmos
estas regras ao nosso dia-a-dia,
a procura e a oferta
fazem muito mais sentido.
Olhando para o próximo gráfico, vemos
que o retorno disto será ainda maior.
...durante três horas.
Olha!
- Narcisos!
- São a tua flor favorita.
Como conseguiste tantos?
Telefonei para todas as lojas em cinco Estados.
Disse-lhes que era a única maneira de conseguir
que a minha mulher se casasse comigo.
Tu nem sequer me conheces.
Tenho o resto da minha vida para descobrir.
Sandra!
É o Don. Promete-me que não o magoas.
Se é o que queres, eu prometo.
- Bloom?
- Don.
Que raio estás tu a fazer?
Esta é a minha rapariga. Minha!
Ninguém me avisou
que ela pertencia a alguém.
Qual é o problema?
Estás demasiado aterrorizado para lutar?
Eu prometi que não o faria.
Pára!
Don, pára!
Enquanto eu levava a sova da minha vida,
Don Price sofria a sua derradeira derrota.
Toda a actividade física piorou
um defeito congénito de uma válvula.
Simplificando, o seu coração
não era suficientemente forte.
Don! Eu nunca casarei contigo.
O quê?
Queres dizer que amas este gajo?
Ele é quase um estranho,
e eu prefiro-o a ele que a ti.
Contudo, Sandra pôde manter
a mesma data na capela.
Apenas o noivo mudou.
Pensei que tinha dito que não
teve um casamento numa igreja.
Já estavam todos prontos,
mas havia um problema.
É o medicamento que
lhe está a dar sede?
Na verdade,
toda a minha vida fui sedento.
Nunca soube bem porquê.
Houve uma altura quando tinha 11 anos...
Estava a falar sobre o seu casamento.
Não me esqueci.
Só estou a trabalhar numa paralela.
Sabes, a maioria dos homens
contam uma história do início ao fim.
Não é complicado,
mas também não é interessante.
Eu gosto de histórias.
E eu gosto de ti.
Bem, quando se trabalha num circo
não se tem uma morada certa.
Passados três anos,
havia muito correio não entregue.
Durante as quatro semanas
que estive no hospital,
o carteiro
finalmente encontrou-me.
E parecia que enquanto o meu coração
pertencia a Sandra,
o resto do meu corpo pertencia
ao governo dos EUA.
A ligação ao exército era
de três anos nessa altura
e depois de ter esperado três anos
só para conhecer Sandra
eu sabia que não aguentaria
estar longe dela tanto tempo.
Por isso agarrei todas as
tarefas perigosas que encontrava,
com a esperança de conseguir
reduzir o tempo para menos de um ano.
Vai! Vai!
Quando me foi oferecida
uma missão secreta
para roubar os planos da planta
da central eléctrica de Wong Kai Tang,
eu aceitei a oportunidade
de servir o meu país.
Vão! Vão!
Nenhum de vocês tem necessidades?
Como é que pudeste falhar
a tua deixa?
Fizeste-me parecer uma
tontinha ali sozinha.
Não estavas sozinha!
Quem és tu?
Eu não te vou magoar.
Claro que não vais.
GUARDA!
Diga aos seus homem para não nos incomodar!
E feche a cortina!
Por favor, preciso de ajuda.
O que o faz pensar que o vamos ajudar?
Durante a hora que se seguiu, descrevi
o meu amor por Sandra K. Templeton
e a ordem que me trouxe
diante delas.
Como sempre havia sido,
este amor foi a minha salvação.
Estava destinado a sê-lo.
Montámos um elaborado
plano de fuga
envolvendo um baleeiro
para a Rússia,
uma barcaça para Cuba,
e uma pequena e pestilenta canoa para Miami.
Todos nós sabíamos que iria ser perigoso.
E o que é suposto fazermos
quando chegarmos à América?
Eu posso conseguir-vos contratos.
Eu conheço o maior homem
do mundo do espectáculo.
Bob Hope?!
Melhor.
Prontas?
Então as gémeas e eu
demos início à nossa árdua jornada,
cruzando metade do mundo.
Infelizmente, não havia maneira
de enviar uma mensagem para a América.
Por isso foi sem surpresa que o
Exército acreditou que eu estava morto.
Não, meu Deus!
Após quatro meses, Sandra tinha
passado pelo pior dos pesadelos.
Quando o telefone tocava, ela
nunca pensava que seria eu.
Quando um carro passava, ela não
se levantava para olhar pela janela.
Falei com o teu pai a noite passada.
Tu nunca me contaste
como os teus pais se conheceram.
Eles conheceram-se em Auburn.
E os detalhes?
Como se apaixonaram?
O circo, a guerra.
Nunca me contaste nada disso.
Isso é porque a maior parte disso
nunca aconteceu.
Mas é romântico.
O quê?
- Nessa não caio...
Discutir romance
com uma Francesa.
Amas o teu pai?
Todos adoram o meu pai.
Ele é uma pessoa muito agradável.
Tu ama-lo?
Tens que compreender.
Enquanto eu crescia, ele passava
mais tempo ausente do que presente.
Então eu comecei a pensar que provavelmente
tinha uma segunda vida noutro lado qualquer.
Outra família, outra casa.
Deixa-nos
e vai ter com eles.
Ou...
Ou não existe segunda família.
Se calhar ele nunca quis uma família.
Seja o que for, ele prefere a sua
segunda vida e conta essas histórias
porque não aguenta
este lugar maçador.
- Mas não é verdade.
- Bem, qual é a verdade?
Ele nunca me contou
nada que fosse verdade.
Olha...
Eu sei porque gostas dele.
Eu sei porque todos gostam dele.
Mas eu preciso que tu me digas
que não estou maluco.
Não estás.
E acho que devias falar com ele.
O "Chevrolets do Larry Puckett"
deixa os clientes falar.
Os veículos Larry Puckett certificados pela
GM têm garantia de fábrica.
E pode poupar até 40%
do imposto automóvel original.
- Alguma vez falei sobre...
- Sim.
A árvore e o carro?
Já ouvimos essa.
Eu conheço alguém que ainda
não ouvi.
- A...
- A árvore caiu no carro, derramando a seiva.
O que atraiu as moscas,
que ficaram presas à seiva
e levantaram voo com o carro.
Mas a verdadeira história
foi como consegui o carro.
- Prestem atenção...
- Pai?
Filho?
Podemos falar?
Vou ver se lavo
estes pratos.
Eu ajudo-a.
- Percebe alguma coisa de icebergs, Pai?
- Se percebo?
Uma vez eu vi um iceberg.
Estavam a levá-lo para o Texas
para usar como água potável.
O que eles não contavam era que
estava um elefante congelado no interior.
- Do tipo peludo. Um mamute.
- Pai!
O quê?
Estou a tentar fazer uma metáfora.
Então não devias ter começado
com uma pergunta,
porque as pessoas
querem respostas para as perguntas.
Devias ter começado com
"O que acontece com os icebergs é..."
Está bem, tem razão. O que acontece com
os icebergs é que apenas se vêem 10%.
Os outros 90% estão debaixo
de água e não se vêem.
E isso
é o que se passa consigo, Pai.
Eu só consigo ver
essa pequena parte
que está à superfície.
Só me vês até ao nariz?
Até ao queixo? Até...
Pai, não faço ideia de quem é
porque nunca me disse
o que quer que fosse.
Eu disse-te milhares de coisas, Will.
É isso que eu faço, conto histórias!
Conta... mentiras, Pai.
Conta mentiras maravilhosas.
Histórias é o que se conta a um
rapazinho de 5 anos antes de dormir.
Não são mitologias elaboradas
que se mantenham
quando o teu filho já tem
10, 15, 20 ou 30 anos.
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Eu acreditei em si.
Eu acreditei nas suas histórias
muito mais tempo do que devia.
Então, quando me apercebi que tudo
o que dizia era impossível,
senti-me um tolinho
por ter acreditado em si.
É como o Pai Natal
e o Coelho da Páscoa.
Tão queridos como falsos.
Achas que eu sou falso...
Apenas à superfície, Pai.
Mas foi tudo o que sempre vi.
Eu estou prestes a ter
o meu próprio filho.
Eu ficaria arrasado se
em toda a minha vida
ele nunca me compreendesse.
Ficarias arrasado?
Que queres, Will?
Quem queres que eu seja?
Você mesmo.
Bom, mau, o que quer que seja.
Mostre-me apenas quem é de uma vez por todas.
Sempre fui eu mesmo
desde o dia que nasci.
E se não consegues ver isso,
o problema é teu, não meu!
O teu pai achou que
precisava de um escritório
e, claro, não dava para
o termos em casa.
Então...
Saberás melhor do que eu
o que é importante.
O que é isso?
Foi durante a guerra.
O teu pai andou desaparecido.
Eles pensavam que estava morto.
Isso aconteceu mesmo?
Nem tudo o que o teu pai diz
é só imaginação.
Vou ver como ele está.
Preciso de descansar um pouco.
Está bem, vai.
Depois da guerra, os filhos de Alabama
regressaram a casa, à procura de emprego.
Todos estavam em vantagem
em relação a mim.
Eles estavam vivos,
enquanto eu estava oficialmente morto.
Com poucas perspectivas,
aceitei um emprego como vendedor ambulante.
Serviu-me como uma luva.
Se havia uma coisa que podias
dizer sobre Edward Bloom,
era que eu era uma pessoa sociável.
- Parabéns.
- Obrigado, Senhor.
Por vezes estava fora
durante semanas.
Mas todas as sextas-feiras,
colocava todo o dinheiro que arranjava
numa conta à parte para
comprar uma casa própria,
com uma vedação branca.
Dêm-me um minuto do vosso tempo
para vos falar do meu novo produto,
a Handi-matic.
Uns anos mais tarde, arranjei
outros produtos e outras cidades,
até que estendi o meu território
da costa até ao Texas ocidental.
Edward?
Edward Bloom!
Sou eu, Norther Winslow.
Não acredito.
Eu estava espantado por ver o maior
poeta de Ashton e Spectre
tão longe de casa,
no Texas.
Quero que saibas que a tua partida
de Spectre abriu-me os olhos.
Havia uma vida inteira lá fora
que eu não estava a aproveitar.
Então viajei.
Fui a França, África,
metade da América do Sul.
Todos os dias, uma nova aventura.
É o meu lema.
Isso é óptimo, Norther.
Fico contente por ti.
O que é que estás a fazer agora?
A assaltar isto.
Muito bem, todos no chão!
Atira isso para aqui.
- Importas-te de pegar nisso?
- O quê?
A arma.
Eu vou limpar as caixas
e aqui o meu sócio
vai tratar do cofre.
Muito bem, você!
Você ajuda o meu amigo, está bem?
Vamos!
Sinto muito, senhora.
Sinto mesmo.
Na verdade eu só não quero
que alguém se magoe.
Não é isso.
É que...
Não há dinheiro.
Estamos completamente falidos.
Não diga a ninguém.
Soube então que o Savings & Loan
já tinha sido roubado,
não por bandidos armados, mas
por especuladores imobiliários do Texas.
Muito bem, vamos!
Norther!
Boa! Devem estar perto
de $400 aqui!
E isto só das caixas.
Vejamos o que tu
conseguiste no cofre.
Só isto? Em todo o cofre?
Receio que sim.
Tem a tua nota de depósito.
Bem, eu só não queria que
saísses de mãos a abanar.
Há uma coisa que tens que saber.
A razão para eles não terem dinheiro...
Eu contei a Norther sobre as
vigarices do dinheiro do petróleo no Texas
e sobre o seu efeito nos preços do
mercado imobiliário.
E de como a vigência negligente
sobre o processo fiduciário
tinha tornado as poupanças e os
empréstimos particularmente vulneráveis.
Ao ouvir estas notícias,
Norther tirou uma conclusão.
Eu devia ir a Wall Street.
É lá que todo o dinheiro está.
Eu sabia que enquanto os meus dias
como criminoso haviam terminado...
Obrigado pela mão!
...os de Norther apenas tinham começado.
Quando Norther juntou
o seu primeiro milhão de dólares,
enviou-me um cheque de $10,000.
Eu protestei, mas ele disse que era o meu
honorário como consultor da sua carreira.
Era o suficiente para comprar
para a minha mulher uma casa
com uma vedação branca.
E por isso, essa era toda a riqueza
que um homem podia desejar.
Estava a ressecar.
Estou a ver.
Acho que temos que te
arranjar um regador
para que te possamos borrifar
como se fosses um feto.
Então?
Acho que nunca vou ressecar.
Continua.
Olá.
- É a Jennifer Hill?
- Sim.
E tu és o Will.
Eu vi uma fotografia tua.
Foi por isso que te reconheci.
Ouve, Kenny, porque é que não
terminamos a sessão por hoje?
Podemos continuar na próxima semana.
Tenho que o devolver à minha mãe?
Bem, se não o fizeres, eu não lhe digo nada.
Como é que conheceu o meu pai?
Bem, esta cidade estava na
rota de vendas dele,
por isso ele estava sempre a passar
por cá e todos o conheciam.
Tinham um caso?
Disseste-o.
Estava à espera que rodeasses o
assunto durante mais um quarto de hora.
Já o vi com mulheres.
Ele tem casos, sempre teve.
E de algum modo,
eu deduzi que ele estava
a enganar a minha mãe,
só que nunca tive provas.
Bem, posso fazer-te uma pergunta?
Se descobriste isto, porque
é que simplesmente não lhe perguntaste?
Porque ele está a morrer.
Olhe, eu não sei até que ponto é
que queres saber sobre isto tudo.
Tens uma ideia do teu pai
e não seria correcto
da minha parte mudá-la,
especialmente nesta altura do jogo.
O meu pai falou de coisas
que nunca fez
e eu tenho a certeza de que ele fez
muita coisa das quais nunca falou.
Só estou a tentar conciliar as duas.
A primeira coisa
que tens que compreender
é que o teu pai
nunca tencionou ficar aqui.
No entanto ficou.
Duas vezes.
Da primeira vez, ele chegou adiantado.
Da segunda vez, ele chegou atrasado.
Nessa época, o teu pai trabalhava
por conta própria.
Se havia uma coisa que se podia dizer
sobre Edward Bloom
era que ele era uma pessoa sociável,
e as pessoas afeiçoavam-se a ele.
Uma noite, ele voltava de três
semanas de viagem
quando foi atingido por uma tempestade
como nunca tinha visto na vida.
O destino gosta de dar reviravoltas
na vida de um homem
e apanhá-lo de surpresa.
Um homem vê as coisas de modo diferente
em diferentes alturas da sua vida.
Esta cidade nunca mais fora a mesma
agora que ele estava mais velho.
Uma nova estrada trouxe
o mundo exterior a Spectre
e com ela, os bancos,
as penhoras e os débitos.
Para onde quer que olhássemos,
as pessoas estavam falidas.
O leilão de hoje
é pela cidade de Spectre.
- A licitação base é de $10,000.
Então Edward Bloom
decidiu comprar a cidade.
- $50,000.
- Eu não podia acreditar no que via...
Ele nunca fora rico,
mas tinha feito outros homens ricos,
e agora pedia-lhes ajuda.
- Estou a tentar salvar...
A maior parte deles não conhecia Spectre.
Apenas tinham as palavras de
Edward para a descrever.
Era tudo o que precisavam.
Ele vendeu-lhes um sonho.
Primeiro ele comprou as quintas.
Depois as casas, e finalmente as lojas.
O que quer que comprasse, às pessoas
não era pedido para pagar renda ou sair.
Apenas lhes era pedido para continuarem
a viver como sempre haviam feito.
Desse modo, ele teria a certeza
de que a cidade nunca morreria.
Em seis meses, ele tinha
comprado toda a cidade.
Com uma excepção.
Deve ser o Edward Bloom.
Como sabe?
Ninguém viria aqui a não
ser por negócios.
E ninguém teria negócios
comigo a não ser você.
Está a comprar a cidade.
Aparentemente negligenciei esta parte
e gostaria de remediar isso.
De maneira a preservar a cidade,
tenho que a possuir, na sua totalidade.
Já ouvi dizer.
Vou oferecer-lhe mais do que ela vale
e não terá que se mudar.
Nada mudará a não ser o nome
na escritura, tem a minha palavra.
Deixe-me ver se entendi bem.
Você compra-me o pântano,
mas eu fico cá?
Você compra-me a casa,
mas ela continua a pertencer-me?
Eu estou cá e você vai e vem a seu belo
prazer de um lado para o outro.
Estou certa?
Em muitas palavras, sim.
Bem, então não me parece,
Sr. Bloom.
Se nada vai mudar,
prefiro continuar assim,
da mesma maneira que as coisas
sempre estiveram durante todo este tempo.
Você não vai perder nada.
Pergunte a quem quiser da cidade.
Porque é que está a comprar a cidade,
Sr. Bloom?
É por causa de uma espécie
de crise da meia-idade?
Em vez de comprar um descapotável,
você compra uma cidade?
Ajudar as pessoas faz-me feliz.
Talvez você não deva ser feliz.
- Desculpe, ofendi-a?
- Não.
Você fez exactamente o que prometeu.
Voltou, apenas o esperava mais cedo.
Você é a filha do Beamen.
O seu nome está diferente.
Você casou?
Tinha 18 anos, ele tinha 28.
Afinal era uma diferença muito grande.
Não lhe vou vender esta casa,
Sr. Bloom.
Compreendo.
Bem, obrigado pelo seu tempo.
- Está presa.
- Sim.
- Desculpe! Eu...
- Tudo bem. Vá embora.
- Não, eu vou...
- Por favor! Vá embora.
- Mas...
- Vá.
A maioria dos homens numa situação destas
aceitaria o seu erro e continuaria.
Mas Edward não era como
a maioria dos homens.
Pára!
Ambas tinham personalidade
completamente diferentes, mas,
bem, apenas um par de pernas.
Com o passar dos meses, ele descobria
cada vez mais coisas para arranjar,
até o barracão
não parecer o mesmo.
Claro, a melhor parte viria com
o novo material.
Quando eu e as gémeas
chegámos a Havana,
tínhamos trabalhado num novo número,
usando apenas um banjo e uma harmónica.
Bem...
- Podes deixá-lo aí.
Não.
Vá lá.
Não fiques envergonhada. Eu nunca devia
ter-te deixado pensar que...
Estou apaixonado pela minha mulher.
Sim, eu sei.
E desde o primeiro dia que a vi
até ao dia da minha morte,
ela vai ser a única.
Sortuda.
Desculpa, Jenny. A sério.
Espera, Edward.
Um dia, Edward Bloom partiu
e nunca mais voltou
à cidade que salvou.
Quanto à rapariga,
conta-se que ela
se tornou numa bruxa
e enlouqueceu.
Ele tornou-se numa
espécie de lenda.
E a história terminou onde começara.
Logicamente, você não poderia
ser a bruxa, porque quando ela era
velha ele era novo.
Bem, é lógico, se pensares
como o teu pai.
Para ele apenas existem
duas mulheres:
a tua mãe...
E as outras.
E um dia,
eu percebi que eu estava apaixonada por
um homem que nunca me poderia retribuir.
Eu vivia um conto de fadas.
Não sei se te devia ter
contado isto tudo.
Não, não, eu queria saber.
Eu fico feliz por saber.
Gostava de ser tão importante
para ele como vocês são.
E eu...
Eu nunca o seria.
Eu era imaginação.
E a sua outra vida, vocês...
Vocês eram reais.
Mãe?
Josephine?
Josephine?
Will!
Que aconteceu?
O teu pai teve uma trombose.
Está lá em cima com a tua mãe
e o Dr. Bennett.
Ele vai ficar bem?
Não sei se poderia
ficar aqui com ele.
Quero dizer, para o caso...
Para o caso de ele acordar,
eu queria mesmo estar aqui.
Eu fico.
Porque é que não vais para casa com
a Josephine? Eu fico cá esta noite.
- Pode ser?
- Tudo bem.
Will, telefonas se houver...?
Deixe. Eu telefono.
Queres estar algum tempo com o Pai?
- Sim. Obrigado.
Fico contente por ver que não
estão a tentar ter conversas comoventes.
Uma das minhas maiores
preocupações é quando
as pessoas tentam falar com
aqueles que não as podem ouvir.
Bem, nós temos uma vantagem.
Eu e o meu pai nunca falámos.
O teu pai alguma vez te contou
sobre o dia em que nasceste?
Sim, milhares de vezes.
Ele apanhou um peixe 'incapturável'.
Não é essa. A verdadeira história.
Alguma vez te contou?
Não.
Bem, a tua mãe entrou por
volta das 3 da tarde.
Quem a trouxe foi um vizinho, uma vez
que o teu pai estava fora em negócios,
em Wichita.
Tu nasceste uma semana mais cedo,
mas não houve complicações.
Foi um parto perfeito.
O teu pai teve pena de não estar presente.
Mas não era comum os homens
estarem nas salas de parto,
por isso não vejo como poderia ter
sido diferente se o teu pai lá estivesse.
E essa é a verdadeira história
de como tu nasceste.
Não é lá muito interessante, pois não?
E eu acho que se tivesse que escolher
entre a versão verdadeira
e a versão elaborada envolvendo
um peixe e uma aliança,
eu escolheria a versão da fantasia.
Mas esta é a minha opinião.
Eu gostei bastante da sua versão.
Pai?
Pai? Quer que eu
lhe chame a enfermeira?
O que quer? Que posso fazer?
Que quer que lhe dê?
Quer água?
Quer um pouco de água?
O rio.
O rio?
Conta-me como acontece.
Como acontece o quê?
Como vou morrer.
Queres dizer o que viste no olho?
Eu não conheço essa história, Pai.
Nunca me contaste essa.
Está bem. Vou tentar.
Preciso da tua ajuda.
Diz-me como começa.
Assim.
Está bem. Está bem.
Então é de manhã,
tu e eu estamos no hospital,
e eu tinha adormecido. E quando acordo,
vejo-te, e de
certo modo estás melhor.
Pai?
Estás diferente.
- Pai.
- Vamos sair daqui.
Então eu digo:
Pai, não está em condições...
Traz aquela cadeira de rodas.
Despacha-te! Não temos muito tempo!
Assim que sairmos deste andar,
estamos livres.
E vamos na cadeira de rodas...
- Mais rápido!
...como se estivéssemos a fugir do hospital.
O que está a fazer?
Passamos pelo Dr. Bennett,
que nos tenta parar.
- Parem-nos!
- Nós voamos pelo corredor fora.
Os assistentes a tentar apanhar-nos.
A Mãe e a Josephine
estão no fundo do corredor.
Não há tempo para explicações!
Empatem-nos.
Voamos sobre a escadaria
e o seu antigo carro vermelho está lá.
Mas está novo, novo em folha.
E eu pego em si
e de certo modo não pesa
nada. Não sei explicar porquê.
Deixa! Não precisamos disso!
Água. Preciso de água.
- Onde vamos?
- O rio.
Temos que ir por Glenville
para evitar o trânsito,
porque por causa da igreja as
pessoas conduzem muito devagar.
E assim que chegamos junto ao rio...
Ele chegou!
...vemos que toda a gente
já lá está.
E eu quero mesmo dizer...
...todos.
É inacreditável.
A história da minha vida.
O que é estranho é que
não há uma única cara triste.
Todos estão satisfeitos
por vê-lo
e desejam-te boa sorte.
Adeus a todos!
Fiquem bem! Adieu!
A minha menina no rio.
O Pai torna-se no que sempre foi.
Um grande peixe.
E é assim que acontece.
Sim.
Exactamente.
Mãe?
O Senhor é o meu pastor,
nada me faltará.
Ele deita-me nos
verdes pastos.
Ele guia-me entre
as águas calmas.
Ele devolve-me a alma.
Ele guia-me pelos bons
caminhos em seu nome.
E mesmo que caminhe pelo
vale das sombras e da morte,
não temerei o demónio,
pois tu estás a meu lado.
Certamente que a bondade e o amor
seguir-me-ão todos os dias da minha vida.
Alguma vez ouviram uma anedota tantas vezes
que se esqueceram porque tinha piada?
E um dia voltam a ouvi-la
e de repente ela é novidade.
E lembram-se porque a adoraram
da primeira vez.
Então, ele disse que iria lutar com o
gigante que tinha 15 pés de altura!
- Mentira!
- Pai! É verdade, não é?
Com certeza.
Vêem? Ele era um gigante.
Creio que esta foi a
última piada do meu pai.
Um homem conta a sua história tantas
vezes que ele se torna nas histórias.
Elas vivem para além dele.
E dessa maneira,
ele torna-se imortal.