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O Maravilhoso Mundo dos Brinquedos
Esta é uma das minhas
histórias preferidas de sempre.
Mesmo tendo ela início numa cave.
Vou contá-la tal como foi
escrita por este homem, o Bellini,
que vive por baixo da fantástica,
da notável...
Loja Mágica de Brinquedos
do Sr. Magorium.
E, sim...
ele dorme com uma boneca.
O trabalho do Bellini é fazer os livros
para todas as crianças que vêm à loja.
Mas também faz o registo
cronológico do próprio Sr. Magorium.
O Sr. Magorium fez brinquedos
para o Napoleão.
Ganhou ao Abraham Lincoln
a jogar à Macaca,
e tem o actual recorde
de permanecer de cabeça para baixo.
Há quem chamasse génio
ao Sr. Magorium...
A minha mãe chamava-lhe excêntrico.
E havia um homem de Detroit,
que, inexplicavelmente,
o chamava de Steve.
Mas a história do Sr. Magorium estava
a chegar aos seus últimos capítulos.
Tudo bem... todas as histórias,
até aquelas que adoramos,
têm eventualmente de chegar ao fim.
E quando isso acontece...
surge uma oportunidade
para uma outra história começar.
Então, o princípio do fim,
começa com um capítulo chamado:
"A Primeira de Molly Mahoney"
A Molly Mahoney era a gerente da loja,
aprendiz do Sr. Magorium,
e a minha única amiga.
Pela manhã,
a Mahoney tocava o seu piano,
no intuito de terminar o
seu primeiro concerto.
Mas nunca conseguia
encontrar as notas certas.
Quando era mais nova,
todos consideravam-na um génio musical,
uma pianista brilhante.
E ela acreditava neles.
Mas agora, já mais crescida...
ela já não estava tão certa disso.
Não percebo porque é que os adultos deixam de acreditar
no que acreditavam quando eram crianças.
Não deveriam ser mais espertos?
A Mahoney precisava era de uma
oportunidade para provar a si mesma
que era mais do que acreditava ser.
E essa oportunidade estava prestes a surgir.
E é assim que começa este capítulo.
Com o meu chapéu a ficar preso.
Eric!
Olá, Mahoney!
- Voltaste!
- Sim.
- Não eram quatro semanas no acampamento?
- Não... era só uma.
- Fiquei com o chapéu preso.
- Parece que vais precisar de uma escada.
Não...
- Só preciso de saltar mais alto.
- Eric...
São, dois metros de altura, pelo menos.
- Dois metros? A sério?
- Pelo menos.
Achas que devo começar?
Sim.
- Fizeste amigos, no acampamento?
- Sim.
O Jeff.
- O Jeff é real?
- Sim... claro.
É um animal?
Era um esquilo.
Bom dia.
Apanhei-te.
É uma boa forma de usar um comboio.
Campo de basquetebol
Casa
- Mahoney.
- Bom dia, senhor.
Já está na hora?
Que chatice. Entra.
- Dormiu bem?
- De cabeça para baixo, tenho formigueiro
nos pés.
Mortimer, sai do sofá.
- Gostas de nabo?
- Ninguém gosta disso.
Então não deves gostar
de pudim-de-nabo.
- Provavelmente, não.
- É pena, porque eu fiz.
Senhor,
tinha esperança de que pudéssemos...
falar sobre aquilo da semana passada.
Em como o papel não devia ganhar à pedra?
Não, sobre eu arranjar outro emprego.
- Foi isso que eu disse.
- O quê?
Estive a pé a noite toda a fazer
pudim-de-nabo e a pensar.
Ocorreu-me que eu,
sou dono da loja há mais de 113 anos.
É muito tempo, Mahoney.
- É sim.
- Quase 114 anos.
E nunca peguei num recibo,
por isso não faço ideia do valor da loja.
- Isso não deve ser bom.
- Exactamente.
Mortimer! Busca!
Zebra estúpida.
Vou contratar um contabilista.
- Um quê?
- Contabilista (accountant).
Segundo a palavra, é um cruzamento entre
uma conta (account) e um mutante (mutant).
- É isso mesmo que precisamos.
- Óptimo, mas acho que essa palavra...
Liguei a uma dessas agências e eles
disseram que iam mandar
um dos seus melhores mutantes,
ainda hoje.
Portanto, considera o assunto resolvido.
- Resolvido como?
- Muito bem, quanto a mim.
- Anda comigo.
- Senhor...
- Estou a falar a sério.
- Sobre?
- Estou encalhada.
- No meu chão?
- Não, senhor.
- Então no quê?
Como pessoa.
Lembra-se de quando eu era miúda e
tocava o concerto do Rachmaninoff
e todos falavam sobre o meu potencial?
Bem... tenho 23 anos.
E continuam todos a falar
sobre o meu potencial...
Mas se me pedir que toque
a minha melhor canção...
vou continuar a tocar a
segunda de Rachmaninoff.
Posso sugerir que espantes o mundo...
com a Primeira da Molly Mahoney?
- Eu quero...
mas estou encalhada.
Vem comigo.
- Isto, minha querida, é para ti.
- Obrigada.
- O que é?
- É o cubo de Congreve.
- Parece uma grande caixa de madeira.
- E é, mas agora é a tua grande caixa.
Obrigada, ainda agora dizia que não tinha
caixas grandes em número suficiente.
Aventuras improváveis...
requerem ferramentas improváveis.
- Vamos partir numa aventura?
Oh, minha querida...
nós já estamos numa.
Só vou dizer isto:
Com fé...
amor...
este bloqueio e um
contabilista mutante...
e pode ser que dês contigo
onde nunca imaginaste.
Assim sendo, vamos abrir a porta.
- Espere, senhor.
- Mortimer, não toques no frigorífico.
- Senhor...
- Sim, querida?
Você está de pijama.
Que parvoíce.
Vamos!
Eric.
- Emprestas-me o teu chapéu?
- Claro.
Desculpe...
Olá.
Quanto pede por aquele
espanta-espíritos com peixes?
- Aquele?
- Sim.
- São 50 dólares.
- 50?
50? Não acha um pouco caro
para um espanta-espíritos?
Se reparar bem, vê que é peixe fresco.
Se não quiser gastar tanto, temos
aquele além, por apenas 17 dólares.
Mas aqueles não são frescos.
E são ricos em colesterol.
Mahoney?
- Molly Mahoney?
- Sim.
Sou eu, o Dave.
O Dave Wolf.
Tivemos aulas de Física juntos
na universidade.
- Raios partam... ainda trabalhas aqui?
- Sim.
Quer dizer...
sim.
Então e tu, o que fazes?
- Sou engenheiro.
- Parabéns.
Tem graça,
eu nunca te iria reconhecer,
se não fosse por aquilo dos dedos.
Dá jeito para a caixa registadora.
- Ainda tocas piano?
- Toco. Todos os dias.
Estou cá durante uma semana,
onde estás a tocar?
No meu apartamento.
- Pensei que...
- Queres que embrulhe alguma coisa?
Não, obrigado.
Foi mesmo bom voltar a ver-te.
Andava a pensar o que seria feito de ti.
- Foi bom rever-te.
- Igualmente.
Espera. Oh, lamento.
Bolas saltitonas.
Sempre a tentarem escapar.
Rua.
Rua.
E tu... e tu também.
Desculpa lá isto.
Cuida-te.
Certo.
Olá. Estou só...
a fazer umas compras.
Compras.
Estou só a fazer umas compras.
Digam o que te disserem, não és
obrigado a manter a escrita nas linhas.
Desculpe, menina.
Podia ajudar-me?
Com certeza que posso tentar.
O meu neto quer um carro
de bombeiros para os anos.
Com a escada que sobe e a
mangueira que esguicha água.
Mas não encontro nenhum.
Parece ser um serviço
para o Grande Livro.
Isto... tem todos os brinquedos
que temos em armazém.
"C" para carro ou "F" para fogo?
Vamos tentar o "F".
- Como fez isso?
- Não o fiz.
- Algo deve ter feito.
- Surpreendentemente, não.
É o livro... é mágico.
Levantem mais para cima!
Mais para cima, é isso.
Tirem aquele miúdo daqui, está bem?
Desculpe, menina.
Olá.
Oh... olá.
Olá.
Olá.
Creio que o Sr. Magorium me chamou.
Está mesmo bem arranjadinho,
para quem faz sombras chinesas.
Não, não...
Sou o Henry Weston, o contabilista.
Vim para uma entrevista.
Olá.
Sou a Mahoney, sou a gerente da loja.
Prazer em conhecê-la.
Tenho de admitir que quando a agência
me chamou, não fazia ideia
de que era uma loja de brinquedos.
Se estes miúdos descobrem que isto
é uma loja de brinquedos,
ficamos com uma loucura em mãos.
Era uma piada.
Eu sei.
Deve querer falar com o
Sr. Magorium. Dê-me um minuto.
Olá.
O que foi?
Sim?
Não é muito agradável, fitar as pessoas.
Porque não vais andando...
- Isto acontece sempre.
- Viva, sou o Edward Magorium
empresário dos brinquedos, aficionado
das maravilhas e utilizador de sapatos.
Está cá para o lugar de contabilista.
- Sim. Sou o Henry Weston.
Recite a série de Fibonacci,
do 11º ao 16º termo.
89, 144, 233, 377, 610.
Perfeito.
O número 4 faz-nos mesmo falta?
- Se gosta de quadrados, faz.
- Gosto.
Boa. Agora...
O rácio de salsichas para pães.
Porque é que nunca há pães que cheguem?
- Há salsichas a mais.
- Mas porquê?
- No caso de deixar cair algumas.
- Que tolo deixa cair uma salsicha?
Tudo pode acontecer, senhor.
Tudo pode acontecer.
Isso é bem verdade.
Você é exactamente o Mutante que
eu procurava. Está contratado.
- Como?
- Está contratado!
- Já está?
- É o que eu preciso.
- Não concordas, Mahoney?
- Senhor... nem por isso.
Perfeito.
Ouvi boas coisas sobre ti.
- A sério?
- Ainda não. Mas com certeza ouvirei.
Vejo que trouxeste o teu ábaco contigo.
Topo de gama. Vamos, eu mostro-te a loja.
Pato, pato, pato...
Ganso.
Vendemos quase tudo o que seja
imaginável. Desde quintas de formigas,
a dirigíveis. Sou dono há 113 anos,
desde que vim para este país, embora
invente brinquedos de 1770.
- Desculpe...
- Sim?
Disse 1770?
Sim. Como pode imaginar, contabilidade
é algo novo para mim.
- Isso significaria que tem 240 anos.
Já te contratei, Mutante,
pára de te exibir.
Agora segue-me.
Cá estamos.
- Eu não deitei nada fora.
- Sim, sim, estou a ver.
Isto é tudo recibos?
A maioria. São documentos importantes
ou são rabiscos que nunca emoldurei.
Não os consigo distinguir.
- Nunca controlou os seus rendimentos?
- Não.
- Entregou uma declaração de impostos?
- Não.
Renovou a sua licença
de comércio na câmara?
Renovei a minha...?
Esqueça. Percebe que para determinar
o valor da loja, a partir deste...
"risco de incêndio"...
é uma enorme tarefa.
Se você conseguiu evitar a
falência, ser despejado,
ser preso por fuga aos impostos.
Porque quer fazer isto agora?
- Consegue guardar um segredo?
- Temos uma política de exclusividade,
não se preocupe com isso.
- Mas, consegue guardar um segredo?
Sim, senhor.
Eu vou partir.
- Vai deixar a loja?
- O mundo.
Vê estes sapatos?
Encontrei-os numa pequena loja
na Toscânia.
Gostei tanto deles que comprei
pares suficientes para toda a vida.
Estes são o meu último par.
Então... se me dá licença.
Tenho um jogo de berlindes
e preciso de aquecer os polegares.
Eric!
Estás pronto para o nosso jogo
de berlindes?
- Sr. Magorium...
- Sim?
- Aquilo além parece-lhe bem?
- O quê?
Não, não me parece nada bem.
Temos de nos manter
atentos a isto, Eric.
Não te preocupes, M.
Estou aqui em cima, pessoal.
Este capítulo chama-se:
"A sério, reparem só."
Casa
Bolas
A sério, reparem só.
Não pode ser.
Vamos.
- Isto é muito fixe.
- Tem cuidado.
- Além.
- Vamos.
Alguém me ajude!
Socorro!
É uma bola bem impressionante, não é?
É impossível fugir-lhe.
Aquele rapaz é muito estranho.
Mahoney, viste o Sr...
Chiça...
Viste o Sr. Magorium?
Sim. Ele é mais ou menos desta altura
e tem umas sobrancelhas de doido.
- Ele está lá em cima.
- Obrigado.
- Tens de melhorar o teu humor, Mutante.
- Estou a rir-me por dentro.
Sr. Magorium.
Mutante.
- Sr. Magorium...
- Aceitaste o desafio para o Hula-Hoop?
- Temos alguns problemas sérios.
- Problemas sérios.
Eu não tenho nada disso.
- Por acaso tem.
- Acho que não.
Então e esta factura duma empresa
brasileira que diz que você lhes deve
300 mil dólares por uma
maçaneta mágica?
- Isto é ridículo.
- Obrigado.
300 mil dólares por uma maçaneta?
Não vale mais que 200 mil.
Toma, apanha.
- Então e o Bellini?
- Bellini é o construtor de livros
que nasceu na cave.
- Tem um inquilino na cave?
Ele nasceu lá,
não o posso mandar embora.
De acordo com o registo de funcionários
você teve várias personagens
fictícias nos registos.
- Como por exemplo?
- O rei do planeta Iawey.
- Ele não é fictício.
- Senhor...
Ele não é o rei do planeta Iawey,
que nem existe, mas ele não é fictício.
Ora aí está...
se não há nenhum planeta...
- Sr. Weston.
- Senhor?
- Não pode culpar as pessoas
por terem aspirações.
Desculpem...eu meio que...
monopolizei isto.
Pensei que ia ser engraçado,
mas acho que...
Desculpem.
Quem fez aquilo?
- Fui eu.
- A sério, quem te ajudou?
Ninguém.
Mahoney, tenho uma pergunta.
- É rápida, rapidinha.
- Está bem, Mutante.
Preciso da tua ajuda para explicar esta
história que o Sr. Magorium fabricou.
- Que história?
- Esta que tenho aqui, por exemplo.
Uma nota de dívida assinada
pelo Thomas Edison.
A sério?
" PS: Obrigado pela ideia,
quem se iria lembrar de um lâmpada."
Isso é verdadeiro?
Não, não é verdadeiro.
Uma nota de dívida do Thomas Edison?
Parece-te ser algo verdadeiro?
Tem uma assinatura, não tem?
Por favor!
Dispensa-me um minuto, por favor.
Mahoney, espera.
Só preciso de uma simples explicação.
Claro.
É uma loja de brinquedos mágica.
Isso não existe.
- Claro que existe.
- Quando dizes "Mágica"
queres dizer "Especial"?
- Não, quero dizer "Mágica".
- "Única"?
- "Mágica".
Que tal...
"Muito, muito fixe" ?
O que está atrás de mim...
é uma loja de brinquedos.
É grande e esquisita, mas...
é apenas uma loja de brinquedos.
Eu sabia... assim que vi esse fato.
- Sabias o quê?
- Que tu és um "É apenas".
- O que é um "É apenas" ?
- É um tipo como tu,
com o mesmo corte de cabelo,
o mesmo fato, os mesmos sapatos.
Anda por aí e pensa sempre:
"É apenas uma loja. É apenas um banco.
É apenas uma árvore."
"É apenas o que é e nada mais."
Mas isto...
é apenas uma loja.
Tenho a certeza que para ti é.
Você tem uma centelha?
Venha ver as estrelas ao planetário
Tenho de dizer...
que estou muito desapontado contigo.
Compreendo que estejas triste ou
assustada, até mesmo desconfiada,
mas isso não é desculpa para ficares
cinzenta e começares a escamar.
Esperava esse comportamento de uma
loja nova.
Ou até numa com alguns anos,
mas numa loja da tua idade?
A amuar?
É simplesmente atroz.
A verdade inegável,
é que eu parto amanhã.
E a Mahoney, Deus a abençoe,
vai ficar a tomar conta de ti.
Lamento, minha querida, mas é
um facto e comportares-te assim
não vai mudar as coisas.
Ela adora-te... assim como eu.
Temos de encarar o destino,
seja ele qual for,
com determinação, alegria e bravura.
Então sugiro que acabes
com esta rabugice.
Espero que te recomponhas.
E vê lá se fazes boa cara,
na altura da minha partida.
Este capítulo chama-se:
Divertimento e exercício mental,
é fundamental.
E há também um tipo novo,
o Mutante.
Ele é muito formal.
Passaste o dia todo na loja, querido?
- Fiz imensas coisas?
- Como por exemplo?
Fiz uma escultura, dei 20 mil
toques numa bola com uma raquete.
E descobri como acabar sempre
uma paciência, sem fazer batota.
Eric... isso são tudo coisas
que fazes sozinho.
Estavam lá pessoas... à volta.
Concordámos que voltavas cedo do
campo se te esforç***
por fazer amigos.
Não tenho culpa que as
pessoas não gostem de mim.
As pessoas adoram-te,
assim que têm a hipótese de conhecer-te.
Não gostam, não.
Acham-me estranho.
Porque fazes esculturas sozinho.
Porque ninguém quer brincar comigo.
Perguntaste se
alguém queria brincar contigo?
Nem por isso.
Tens de dar uma hipótese
ás pessoas, Eric.
Eu sei o que acontece depois.
Não sabes não, querido.
Confia em mim.
As pessoas são cheias de surpresas.
Apenas...
Apenas tens de escolher alguém.
Qualquer um.
Escolhe alguém que não conheças
e tenta criar uma amizade com ele.
Depois vê o acontece.
- Nem sei por onde começar.
- É fácil.
Começa por dizer "Olá".
Olá.
Eu sou Eric.
Eu sou Henry.
Gostas de jogar ás damas?
Gostava quando era miúdo.
Queres jogar?
Estou a trabalhar.
E quando parares de trabalhar?
Eu nunca paro de trabalhar.
Mahoney?
- Mahoney, chouriça...
- Senhor.
- Tenho uma adivinha para ti.
- Agora não.
É fácil. O que é baixo,
extraordinário e diz "Ai"?
Não faço ideia... Ai!
Muito engraçado.
Senhor,
o que se passa com este canto?
Apesar dos meus esforços...
a loja não está a aceitar bem
a minha partida.
O quê?
Espere.
Que partida?
Era para ser uma surpresa espectacular
mas parece que a loja
tem outras intenções.
- É uma das minhas preferidas.
- O que é que era para ser surpresa?
Vou dar-te a loja.
- Vai... dar-me a loja?
- Surpresa! Surpresa...
- Se faz favor.
- Sim?
Tem o
"Curious George vai para o hospital"?
Mahoney?
- Vou perguntar.
- Uma excelente obra literária,
uma bela escolha.
- Já o leu?
- Bellini?
- Se o li?
Tomei o pequeno almoço com o
homem do chapéu amarelo em pessoa.
- A sério, senhor.
- O que foi, Mahoney?
- Não posso ficar com a loja.
- Mas disseste-me
que precisavas de uma nova ocupação.
- Referia-me a compor músicas,
não a gerir a loja.
- Porque não?
Fazes um excelente trabalho.
- Sr. Magorium...
- Sim?
Obrigado, Bellini.
É para o cavalheiro de cabelo ruivo.
- Sr. Magorium...
- Sim?
- Porque não me contou nada?
- Pelos vistos,
percebeste mal as regras
para fazer uma surpresa.
E se eu não quiser a loja?
- Porque haverias tu de não a querer?
- Porque não a consigo gerir.
- Porque não?
- Porque...
é você que tem de geri-la.
- Isso não é razão.
Chama-se A Loja Mágica de Brinquedos
do Sr. Magorium.
Rima!
Já para não mencionar que...
você é mágico e eu não.
Além disso, o que fará você,
estando eu a gerir a loja?
- Eu vou partir.
- Vai partir?
- Faz favor.
- Sim?
Há algo errado com este livro que me deu.
Errado?
Isto é incompreensível.
O livro está na brincadeira.
Vou avisar o Bellini.
- Obrigado.
- Sr. Magorium!
- Sim, Mark?
- Siga-me.
- É estranhamente esquisito.
- O quê?
Estávamos como de costume a pintar
com os dedos.
A Kattie olhou para cima e... vê?
As cores esmoreceram todas.
Temos de verificar a salas.
Campo de basquetebol
Ratos.
Comboios
Líderes de claque?
Chega-te à frente, Mahoney.
Vai verificar o Grande Livro.
Eu queria... um chupa-chupa.
Senhor...
A lei da gravidade está em efeito.
Eu pedi um chupa-chupa ao Grande Livro
e recebi um Lémure!
Um Lémure? Nós nem temos disso.
Nem sei o que é um Lémure. Espera.
- É aquele primata...
- Senhor, não temos tempo...
Mahoney, não temos tempo para
discutir sobre Lémures!
Tens razão!
Onde está o Eric?
Eu também devia fazer qualquer coisa.
Eric.
Precisamos de ti.
Há um problema.
Alguém que... me ajude!
Explora os Oceanos
Está na hora de irmos.
A loja está a passar por
umas pequenas dificuldades.
Por favor saiam pela porta da frente,
calma e ordeiramente.
Tentem evitar a rapariga viscosa.
...dois, um.
Lançamento.
- Senhor?
- Fecha a loja.
Vamos reagrupar-nos lá em cima, já.
Porra.
- O que se passa?
- Não sei.
Mas faz-nos um favor e
tenta apanhar o Lémure?
Não sei como apanhar um Lémure.
Eu sou dentista.
Eu não sei como apanhar um Lémure,
tenho 9 anos.
Desculpe...
Estou muito desapontada com este livro.
Só o abri.
A loja está fechada.
- Estás aqui?
- Por pouco.
Mas eu estou mesmo.
Por favor senta-te, Mahoney.
Devemos iniciar já a nossa conferência.
Eu tenho de me desculpar.
Eu e o Mortimer preparámos
uns aperitivos, mas...
ele comeu as panquecas.
- Quem é o Mortimer?
- É a zebra.
- A quê?
- A zebra...
- Esquece, Eric.
Ordem.
- O primeiro ponto de trabalho, Eric.
- Sim, senhor?
- Tens um chapéu magnífico.
- Obrigado, senhor.
O segundo ponto de trabalho,
a loja está extremamente perturbada como
se pode observar pelo ataque de raiva.
Ataque de raiva?
Não o viste?
Como foi isso possível?
- A ele, passam-lhe muitas coisas ao lado.
- Não me passou ao lado,
a notificação do Município.
Esse apanhei-o. Graças a Deus.
Corria o risco de violar a alínea SP/435
e recebia uma carta de aviso.
Ele estava no escritório.
Percebo.
Acredito que a loja está
cada vez mais triste...
e hoje reagiu assim
com receio da minha partida.
Eu tentei dar a esta loja
a mesma atitude,
imaginação e emoção das
crianças que nela vêm brincar.
Como tal, é possível ela ter as mesmas
birras, como algumas vezes
acontece à clientela mais jovem.
- Como um ataque de raiva.
- Isso mesmo, Mahoney.
- Talvez ela precise de uma pausa.
Desculpem, como pode uma
loja ter um ataque de raiva?
Ninguém explicou ao Mutante que é uma
loja de brinquedos mágica?
- Eu tentei.
- É uma loja de brinquedos mágica.
- Pode fazer imensas coisas.
- Mas só começou a ficar cinzenta,
depois do Henry ter chegado.
- Eu?
- Eu apercebi-me disso, Eric.
- Como?
- Mutante!
- Desculpem...
se eu estou a fazer com que a vossa
loja mágica se passe,
submeto um formulário e
arranja-se outro contabilista.
O teu trabalho baseia-se
em submeter formulários?
- Não, às vezes também os recebo.
- Ordem!
- É ela por ela... recebo, submeto...
- Ordem.
- Ordem.
- Apenas para realçar o facto,
que não sou responsável
pelo que aconteceu na loja.
Estava apenas no escritório.
- Lá está a palavra "Apenas".
- Deixa-me sossegado "Apenas" um minuto?
"Apenas" os adultos falam.
"Apenas" eu e...
Chega!
Embora a presença do Sr. Weston tenha
coincidido com o desalento da loja,
não é a causa do mesmo. A única razão da
presença do Sr. Weston aqui,
é para determinar
o meu legado à Mahoney.
Legado?
Quer dizer que a Mahoney vai
ficar com a loja?
Que fixe!
- Como assim... legado?
- És a herdeira dele.
- Estás no seu testamento.
- Porquê a existência de um testamento?
- Porque sabes tu disso?
- Eu disse-te, minha querida...
eu vou partir.
- Mas...
pensei que estava a falar da reforma,
ou...
férias.
A que género de partida se refere?
Mahoney...
acho que ele quer dizer,
que vai para o céu. Certo?
Para o céu, para o Eliseu, Shangrilá...
Posso voltar como um zangão.
- Vai morrer?
- Tal como os papas morrem, querida,
eu vou partir.
- Espere.
- Mahoney...
- Espere.
- Está doente?
- Não.
Não?
Então, exactamente quando é que
planeava partir?
Por volta das 04:30.
É preocupante.
Estava a dizer coisas sem nexo...
- Sem nexo?!
- ...depois desmaiou.
- Nada disso!
- Esteve assim 5 minutos.
Depois, quando voltou a si estava...
estava assim.
- Paranóico?
- Paranóico?! Não sou paranóico!
- Só diz coisas sem sentido.
- Bolas! Isso é puro cocó de cavalo!
- Afirma que tem uma loja mágica.
- Tenho sim. Tu trabalhas lá.
- E que tem 242 anos e...
- Não tenho nada 242 anos.
Tenho 243. Esqueceste-te da festa?
Tu levaste os balões.
Sim. Paranóico.
Pode ter sofrido um ataque de coração.
Ataque?
Seu charlatão!
O único ataque que tive
foi de genialidade!
- Enfermeira. Arranje-me um sedativo.
- Por que mentes assim?
- Porque tenho de o fazer.
- Mas as tuas calças vão pegar fogo.
Não me importo, senhor.
Você tem de viver.
Querida..
eu tenho vivido.
- Isto é mesmo difícil.
- Sim... é.
Porque tenho de dizer-te que estou
muito preocupado.
Eu também estou.
Não encontro quaisquer cartões de saúde dele,
nem qualquer tipo de seguro que ele tenha.
- O quê?
- As contas de hospital estão elevadíssimas.
- Ele pode estar a morrer.
- Isso requer ainda mais preparação.
Preparação?
Eu só soube disto há uma hora.
- Eu estou a tentar ajudar.
- Estás a ser dum negativismo extremo.
- É só que...
- Que o quê?
- Nada.
- Talvez devesses ir para casa.
- Posso ficar.
- Mutante...
vai para casa.
Certo.
- Sabes que...
- Olá.
não devias ser tão dura com ele.
- Ele quer falar de seguros.
- Eu sei, mas ele só sabe falar disso.
O que vamos nós fazer?
Não sei.
Mas há outro problema.
O que é?
- O Sr. Magorium...
- Sim?
ele... não trouxe pijama.
Os médicos não encontram
nada de mal em si.
Claro que não, estou saudável.
- Então porque vai partir?
- É a minha hora.
- Só isso?
- Que mais haveria de ser?
O que faremos sem você?
- Vais cuidar da loja.
- Senhor, eu não sei como.
- Por isso te dei o Cubo de Congreve.
- Mas ele não faz nada.
- O que lhe fizeste?
- Não sei o que fazer com ele.
- É uma caixa de madeira.
- Não te ocorre nada?
Posso pensar num milhões de coisas
para lhe fazer.
Há um milhão de coisas para fazer com
uma caixa de madeira.
Mas, o que achas que acontecerá se
alguém, por uma vez que seja, acreditar?
Não entendo, senhor.
Eric! Que tarefa trouxe tal belo jovem
a este quarto de doentes e moribundos?
Olá, doutor.
Trouxe algumas coisas do quiosque
que pensei que lhe fariam falta.
Super!
Eric, importas-te de fazer companhia ao
Sr. Magorium enquanto falo com o doutor?
- Claro.
- Mahoney, porque precisas do doutor?
Estás doente?
O que tens aí, Eric?
- Vamos lá.
- Vamos lá.
Pijama.
Escova de dentes.
Eléctrica e tudo.
E...
Um microscópio.
Uma mangueira.
Com agulheta de pressão.
Uma prancha de madeira.
Obrigado.
E...
isto.
- Eric! O que é isso?
- É um eufónio!
Magnífico. Passa-o cá.
Se ele não tem nada,
temos de lhe dar alta.
Não podemos ficar responsáveis
por um homem saudável.
Por mais velho ou mágico
que ele afirme ser.
- O facto é que tem de levá-lo para casa.
- Não.
Compreenda. Ele decidiu que é
a sua hora de partir.
O melhor que pode fazer é certificar-se
que ele tem bastante pelo que viver.
Mas que raio...
- O que pensa que está a fazer?
- A praticar com o eufónio.
Com o quê?
Pensei em amanhã dar um
concerto na ala psiquiátrica.
Há pessoas a tentar dormir.
Neste hospital não é
preciso uma assinatura
para se remover o eufónio a alguém?
- Onde encontrou isto?
- Fui eu.
Na dispensa.
Nós não guardamos instrumentos musicais
nas nossas dispensas.
Onde mais o poderia ter encontrado?
O que fazes aí em cima?
Estou em cima de uma cadeira.
Já chega.
Vocês os dois, fora daqui. Vamos.
Podem vir vê-lo amanhã.
- Adeus.
- Adeus, Eric.
Adeus, Mahoney.
Não parta antes de amanhã.
De acordo.
Quanto a si... jovem.
Precisa de descansar.
Concordo.
Isto foi extenuante.
Porque estava o miúdo
em cima da cadeira?
Estava a certificar-se que eu tenho
espaço suficiente para dormir.
Muito bem, se se supõe que me ajudes...
se se supõe que tragas grande sabedoria
que me vai ajudar a resolver tudo...
Por favor...
fá-lo agora.
Está bem, faço-o eu própria.
Este capítulo chama-se:
Uma mudança de crenças,
de ideias... e de calças.
- Bom dia.
- Bom dia.
Como está ele?
Escuta, Mutante.
Vim só buscar umas coisas do Sr. Magorium
e depois vou-me embora
e já não volto hoje.
Certo, eu fico a trabalhar no escritório.
A menos...
que queiras que fique a trabalhar aqui.
- Podes trabalhar onde quiseres.
Caso haja uma emergência de brinquedos.
Alguém que precise de algo...
eu posso ajudá-los.
- Podes ajudar.
Sim... caso um pequenote faça anos,
ou alguém precise de Legos, algo assim.
- Queres ficar a tomar conta da loja?
- Já que aqui estou...
Gostava de ficar a tomar conta da loja.
Tenho estado à espera há já 2 horas,
num banco muito desconfortável
para oferecer os meus préstimos.
- Porquê?
- Porque...
Porque sou um parvalhão.
Senti-me mal porque não quero que penses
que não me interesso e...
Eu interesso-me.
Há quem leve flores
ou mande um cartão...
ou abrace as pessoas,
eu certifico-me
que a papelada dessa pessoa
está bem preenchida...
Hoje pensei em experimentar
algo diferente.
Porque gosto de ti e quero ajudar.
Mutante...
quando olhas para mim, o que vês?
Um borracho?
Não...
estava a referir-me... a tipo...
vês alguma centelha?
Agora?
Tipo um brilho na tua cara?
Não, tipo uma centelha.
Que tipo de centelha?
Como... algum reflexo de algo maior
que está a tentar sair.
Sabes que mais? Esquece.
Talvez não seja uma centelha.
Talvez um "piscar"?
- Esquece.
- Ou um "cintilar".
- Deixa.
- Tens aquilo que fazes com as mãos.
- Isso é um tique.
- Tiques não são centelhas?
Pois...
- Bom dia, minha flor.
- Bom dia, senhor.
Olha.
Calças.
- O que têm?
- Nada, são apenas calças.
Também tenho.
Espectáculo.
Para a loja?
Por acaso... você vem comigo.
- Estou um pouco nervosa com isto.
- Porquê?
- Porque é imaturo e infantil.
- Mal posso esperar.
Está preparado?
- Quando eu disser já.
- "Já"? É sempre com o "já".
- Quando eu disser "Triscadecafofia".
- Essa é boa!
Preparado? Pronto?
Triscadecafofia!
Triscadecafofia!
Posso falar com o gerente, por favor?
Tim?
Está aqui um tipo que quer falar contigo.
Posso ajudá-lo?
É uma honra.
Bem, eu tenho uma pergunta sobre
os pães de cachorro.
É o último.
37 segundos.
Óptimo, bom trabalho.
Agora esperamos.
Não. Nós respiramos,
temos pulso, regeneramo-nos.
Os nossos corações batem,
as nossas mentes criam,
as nossas almas alimentam-se.
37 segundos bem usados, são uma vida.
O que me surpreende é que
ninguém sabe, Mahoney.
Era de pensar que alguém na indústria dos
carrochos-quentes faria alguma ideia
sobre esta anomalia óbvia.
- Aqui está bom.
Aqui está bom?
- Mahoney... estou confuso. E agora?
- Dance.
És brilhante!
Que último dia espectacular.
- Não pares, dança mais.
- Não faz mal, senhor.
- Porque fizeste isto tudo, Mahoney?
- Queria que você visse
todas as pequenas coisas de que
vai sentir saudades se partir.
Compreendo.
Pensei que este seria o melhor último dia
de quem quer que já viveu.
Este não pode ser o seu último dia.
- Mas é.
- Não.
E agora graças a ti,
parece que vai ser um notável.
Tudo o que me falta fazer
é usar um telefone público,
e a minha vida fica completa.
Como?
Aqui?
Tens razão.
És um génio.
És bom com números.
Devias ensinar.
Bom dia.
Bom dia.
- Isto hoje está sossegado.
- Sim.
Não entrou ninguém, a Mahoney saiu
e desde aí só cá estou eu.
Estiveste aqui sozinho a manhã toda?
- Sim.
- E a loja não ruiu à tua volta?
Sim.
- O que estás a fazer?
- A assentar os códigos da mercadoria.
Não...
com o Einstein.
- Com?
- O Einstein.
Estava a brincar.
A passar o tempo.
A fazer de conta?
Não...
apenas mantinha a mente ocupada.
Não havia muito mais em que pensar.
Percebes?
- Sim.
- Óptimo.
Chama-se a isso "fazer de conta".
Tudo bem.
Podes ficar aqui a brincar com
os brinquedos, Mutante.
Eu não conto a ninguém.
- Aqui tem.
- Boa.
- Vamos.
- Está bem.
Loja Mágica de Brinquedos
do Sr. Magorium.
Vendemos brinquedos não
arranjamos automóveis.
Eric, estou a ligar de
um telefone público.
Que bom para si, senhor.
Tenho duas coisas para te dizer.
Primeira...
tens um chapéu brilhante.
- Obrigado, senhor.
- E a segunda...
Gostava que arranjasses amigos.
Está bem?
Está bem.
Adoro-te.
Agora passa o telefone ao Mutante.
Henry, tens uma chamada.
- Estou?
- Tenho algo importante para te dizer.
Por favor insira mais 35 cêntimos.
Estou?
Por favor insira mais 35 cêntimos.
- Estou?
Estou?
Por favor insira mais...
Estou?
Ele há-de descobrir.
Tenta outra vez.
Vá lá.
Vá lá, estás a ser ridícula.
Mais tarde ou mais
cedo vais ter de o fazer.
Tenta outra vez.
- O que estás a fazer?
- Temos uma mola saltitona nervosa.
Safámo-nos bem.
Formamos uma boa equipa.
Sim, acho que sim.
Mas o Einstein continua chateado.
Sim.
Vamos fechar a loja por hoje?
- Sim, parece que sim.
- Boa.
- Damas.
- O quê?
Damas.
- Eu tenho de voltar para a agência.
- Vá lá, Henry. Um jogo.
Desculpa.
Fica para outra vez.
Só um.
Henry.
Sim, Eric?
- Importas-te...
- Sim?
Geralmente, a Mahoney leva-me
a casa e... está a ficar escuro.
- Queres que te leve a casa?
- Obrigado.
Posso perguntar-te onde
arranjas esses chapéus?
- No meu quarto.
- Sim.
Todos os dias te vejo com
um chapéu diferente.
Sim.
- Eu colecciono-os.
- Coleccionas?
O Sr. Magorium diz que eu tenho a
colecção de chapéus mais gira de sempre.
Conheço pessoas que
têm vários chapéus mas,
acho que nunca tinha ouvido
falar de um coleccionador de chapéus.
Queres vê-los?
- Tenta só não ficar demasiado espantado.
- Certo.
Oh meu...
Está giro, não está?
Quando disseste que eram muitos,
eu esperava uns vinte.
Não.
- Tenho mais que isso.
- Usa-los todos?
Claro. Para que serviriam
se não os usasse?
- Queres experimentar um?
- Não, obrigado. Estou bem assim.
- Henry...
- Sim?
Ambos sabemos que queres
experimentar um.
Eu nem sei por onde começar...
Temos de comprar uma escova de
dentes para o dragão, excelência.
Depois de ter devorado
a maioria da população...
- Ele comeu a cidade?
- Comeu o padeiro e a mulher.
Comeu...
o marceneiro e os seus 3 filhos...
e a para a sobremesa... chegue aqui.
Comeu o sapateiro.
Boa ideia, bobo.
Vai escovar os dentes do dragão.
- Eu? Ele não gosta de mim.
- E?
E o quê?
Ele é bem grande e...
eu pareço-me bastante com... um palito,
visto ao longe.
Eric?
Tens alguém...
Quem é este?
- É o Mutante.
- O quê?
- Sou o Henry.
- É o Henry, desculpa.
- É o Henry.
- Henry? Henry quê?
- Henry Weston, trabalho...
- O que faz na minha casa?
- Eu... estava a fazer de conta.
- Não sejas má para ele.
O Henry é meu amigo.
Sou?
És.
Fixe.
Não se acha um pouco velho demais
para se andar a mascarar?
Sim, sim. Desculpe.
É tarde, tenho trabalho para fazer
que devia estar a fazer,
e vou fazê-lo agora. Até depois.
Não tens tarefas para fazer, Eric?
Por acaso... ele trabalhou o dia
todo na loja...
- Não disse que se ia embora?
- Sim, claro. Com licença.
Adeus.
- Mahoney...
- Não vá.
Minha querida...
Eu não estou pronta.
Não estou pronta para isso.
Desculpa.
Quando, no acto V, o rei Lear morre
sabes o que escreveu Shakespeare?
Escreveu:
"Ele morre".
E pronto, mais nada. Sem fanfarra, nada
de metáforas, nada de últimas palavras.
O culminar do maior trabalho
de literatura dramática é...
"Ele morre."
Foi preciso o génio de Shakespeare para
inventar: "Ele morre."
Mas sempre que leio essas
duas palavras...
dou por mim ultrapassado por tudo isto.
Sei que é natural ficar triste,
mas não por causa do "Ele morre".
Mas por causa da vida que vimos,
antes daquelas palavras.
Eu vivi todos os meus cinco actos,
Mahoney.
E não te peço que fiques feliz
por eu ter de partir.
Apenas te peço que vires a página.
Continua a ler.
E deixa que a próxima história comece.
E se alguma vez alguém
perguntar o que
me aconteceu,
tu contarás a minha vida
em todo o seu esplendor.
E depois, um simples e modesto:
"Ele morreu."
Adoro-o.
Também te adoro.
A tua vida é uma ocasião.
Põe-te ao nível dela.
Adeus, meu amor.
Empresário dos brinquedos
Aficionado das maravilhas
Ávido utilizador de sapatos.
Não... não...
Não é assim tão mau.
Podemos trazê-la de volta.
Certo, Mahoney?
Mahoney, vamos abrir a loja
e vemos se ela arrebita.
- Lamento, Eric.
- Eu ajudo-te, mas não te vás embora.
- Eric...
- Mahoney, não vás.
- Lamento.
- Só precisa de um pouco de magia.
Eu sei...
mas não tenho nenhuma.
Este capítulo chama-se:
Um novo começo.
Para venda
- Eric?
- O que estás a fazer?
- Estou a tocar Jennifer Juniper.
- Porquê?
Porque houve alguém que pediu.
- Não... porque estás aqui?
- Porque preciso de dinheiro, Eric.
- Então trata da loja.
- Não consigo.
Olha, eu adoraria ficar
com a loja, mas não consigo.
- Não sou o Sr. Magorium.
- É por isso que está à venda?
Sim.
Lamento.
Não te queria decepcionar.
- É isto que queres?
- Não.
Não, mas...
eu não sei fazer mais nada.
Pára de dizer isso.
Eric...
compreendo que isto seja duro para ti.
Para mim também não é fácil.
Mas, eu já não posso ser uma criança.
Foi por isso que o Sr. Magorium
te deu a loja.
Meu Deus.
Não admira que esteja a deixar o negócio.
- É deprimente.
- Posso brincar além?
- Claro.
- Não... Jack, não toques em nada.
Não faz mal, ele que brinque
com o que quiser.
Deixe-me mostrar-lhe a escada
em espiral.
Sabes como funciona?
Eu mostro-te.
Fixe. Muito giro.
- É um íman.
- Como funciona um íman?
Não sei.
É...
É por magia?
Bem...
eu acredito que sim.
...uma excelente fonte de rendimento.
- Planetas e o foguetão, eu...
tenho de lhe dizer que o uso do espaço
é completamente impraticável.
Não foi construída para a praticabilidade.
Bem, é grande o suficiente para o preço.
Os acessórios estão incluídos?
Sim, a caixa registadora...
o escorrega, a árvore, os planetas,
o foguetão, o quarto...
- Está bem.
Óptimo.
Eu depois dou uma resposta.
- Jack, querido, vamos embora.
- Tens de ver isto, mamã.
Eu não tenho tempo.
A mamã ainda tem muitos imóveis para ver.
Esfrega as mãos.
- Nós entramos em contacto.
- É mágico, mamã.
Eric?
Estou aqui para lhe fazer uma
oferta substancial pela loja.
O quê?
Embora eu seja incapaz de oferecer a
quantia total, e de ter 9 anos,
creio que ficará interessado na
minha proposta.
Consiste em pagar uma entrada à Mahoney
no valor de 237 dólares
em cêntimos, tostões e um
cheque que a minha avó me deu no Natal.
Depois, estou disposto
a dar-lhe a minha
semanada e uma percentagem
do lucro da loja
numa base semanal. Não esquecer que
a minha idade é um benefício.
Significa que tenho mais semanas na minha
vida, do que um comprador normal.
- O que significa mais semanadas.
- Porque estás a fazer isto?
Eu...
quero entrar no negócio do imobiliário.
"Sacar" uns terrenos...
Deixar a minha marca na cidade.
Eric...
A única coisa onde podemos investir
é no futuro.
- Companheiro...
- Eu quero...
Pára, Eric.
Não quero que seja outro
a ficar com a loja.
- Não quero que mude.
- Está bem.
- Junto a minha colecção de chapéus.
- Não faças isso.
Tem de haver alguma forma.
Por favor.
Ela está prestes a cometer um erro
terrível, Mutante.
Não a podes deixar fazer isso.
Como meu amigo...
ajuda-me... por favor.
Olá.
O que aconteceu aqui?
Acho que não ias compreender.
- Tenho novidades.
- Sim?
Tiveste uma oferta pela loja.
Uma boa oferta.
Em dinheiro.
Da senhora que esteve cá hoje.
Sei que é tarde, mas a mulher é muito
agressiva. Devias estudar isso hoje
e dar uma resposta amanhã de manhã.
Está bem.
Achas que devo aceitar?
Bem...
Achas que devo aceitar?
Na minha opinião
profissional é uma oferta
única e é muito mais
do que esperávamos.
Acho que serias tola se não aceitasses.
Mas não estou aqui como profissional.
Estou aqui como teu amigo.
- E acho que devias ficar com a loja.
- Tu nem acreditas na loja.
- Não, mas...
- Não posso.
Quero, mas apenas não posso.
Apenas não podes.
Acho que não.
O que tens aí?
É o cubo de Congreve.
Deveria ajudar-me a desvendar algum
grande mistério ou algo assim.
- Parece uma caixa de madeira.
E é.
Deverias desvendar um mistério
com uma caixa de madeira?
É uma caixa de madeira mágica
que provavelmente, nas mãos certas,
revelaria uma tal grandiosidade que...
nós nem imaginamos.
- Isso é impossível.
- É isto que tu não percebes.
Como é que nunca reparaste?
Todos os dias, a toda a hora,
em todos os cantos desta loja,
o que acontecia era o impossível.
- Acreditas mesmo nessas coisas?
- Sim.
- Que a loja era mágica?
- Tu nunca viste.
Que essa caixa é mais do que uma
caixa de madeira?
Completamente.
Acredito de todo o meu coração.
Mas a verdade é que apenas o
Sr. Magorium fazia isto funcionar.
- Era a sua loja, não a minha.
- Olha...
Agradeço-te teres cá vindo, mas...
acabou.
- Diz lá que a caixa não é mágica.
É mágica.
- O que se passa contigo, Mutante?
- Diz mais uma vez:
- "É mais que uma caixa de madeira".
- É muito mais que uma caixa de madeira.
Bem... para começar, ela mexe-se.
Mexe-te.
Vá lá, consegues fazer
melhor que isso. Mexe-te!
Não te preocupes.
Se caíres eu apanho-te.
Mexe-te!
Não pode ser...
Este capítulo chama-se:
"Tens de acreditar para ver", ou
"A dar cabo do juízo ao Mutante"
Mutante.
Mutante.
Tens de acordar, ó bela adormecida.
Estão aqui pessoas.
- O quê?
- Acorda, minha flor.
Olá.
Bom dia.
Desculpa acordar-te,
mas já dormiste o suficiente.
- O que tens na cabeça?
- Dói-me. Bati com força.
- Ai sim?
- Sim. Deve ter sido quando desmaiei.
Como assim?
- Eu dei um tombo.
- Não vi nada disso.
Viste sim. Ontem à noite.
- Ontem à noite fui para casa.
- Antes disso...
Eu desmaiei.
- Acho que deves estar confuso.
- Não, não...
Lembro-me de ter desmaiado.
Foi depois do cubo voar.
- Que cubo?
- "Que cubo"?
O Cubo de Congreve que voou
por toda a sala.
Acho que deves ter sonhado.
Eu deixei-te aqui
para que finalizasses o negócio do
imóvel. Se calhar ficaste com sono.
Não fiquei nada. Eu desmaiei depois
de tu teres feito aquele cubo voar.
Não interessa.
Vou vender a loja.
O quê?
Sim. Lembras-te da oferta?
Vamos assinar o contrato hoje.
- Não podes.
- Porque não?
Porque... é mágica.
- Achas mesmo que a loja é mágica?
- Sim.
- Não é um pouco difícil de acreditar?
- Não... não acho.
Nem por isso.
Eu acho que tu podes fazer
tudo o que quiseres.
És tu.
Tu és uma caixa de madeira.
- Sou uma caixa de madeira?
- Sim, Mahoney, és tu.
Não tens de ter fé nesse cubo,
na loja ou em mim.
Tens de ter fé... em ti.
Caramba...
O que foi?
Uma centelha.
E foi assim que começou a história
da Molly Mahoney.
Tradução e legendagem por: Not_U
No final dos créditos... mais Sr. Magorium ;-)
O que achas, Milo?
Nada mau.
Obrigado.