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No 1º dia de Faculdade de Direito,
meu professor disse duas coisas:
''De agora em diante, quando sua mãe
disser que te ama...
- ...peça uma segunda opinião. ''
- E?
''Quer justiça? Vá ao bordel.
Quer se ferrar? Vá ao tribunal. ''
Naomi!
Digamos que tenha um cliente
que sabe ser culpado.
Não! Nem nosso sistema de Justiça
nem eu ligamos para isso.
Todo réu, a despeito
do que tenha feito...
...tem direito à melhor defesa que
seu advogado possa oferecer.
- E o que acha da verdade?
- Verdade? Como assim?
Naomi!
Não sei quantas maneiras
há para defini-la.
- Acha que só existe uma?
- Está atrasado.
- Só há uma que interessa.
- Marty, fique quieto.
Minha versão. A que elaboro
na mente dos doze jurados.
Se quiser, pode dar outro nome:
a ilusão da verdade.
- Se quiser. Cabe a você.
- Está bem.
Jack, quer mais material?
Amanhã à tarde?
- Sim.
- Minha secretária vai marcar.
Tudo bem.
- É matéria de capa, certo?
- É.
Sim, tudo bem.
Tchau.
AS DUAS FACES DE UM CRlME
Coro dos Meninos de S. Miguel,
um grupo de muito talento.
Agora, teremos uma breve
sessão de fotos...
...enquanto os meninos estão
aqui com Sua Eminência.
Volto logo, não se zanguem,
degustem a sobremesa e obrigado.
Mangia, mangia.
Obrigado. Marty!
Mas que surpresa.
Vim ajudar nosso amigo promotor
a sair de uma encrenca.
- Com licença.
- Quanto vai custar?
Muito menos que a alternativa.
Amanhã, na minha sala, 9:30h.
- Está ligado? Está, sim.
- É bom vê-lo de novo.
Chegamos ao ''X'' da questão,
o motivo de estarmos reunidos.
É o quinto ano consecutivo
em que tenho o privilégio...
...de ser mestre de cerimônias da
Ordem dos Advogados de Chicago...
- Receio que tenha de apagar.
- Ora, bolas, isto é um bar.
Achei que tinha largado.
Eu diminuí.
Está linda.
Cortou o cabelo?
Sim, há alguns meses.
Quer dançar?
- Não tem música.
- Tem, sim.
Obrigado, senhoras e senhores...
Só precisa se virar.
Achei que gostava mais assim.
Desse jeito, não precisa
olhar para a pessoa.
Maldade.
Olhe para mim.
Venha, vamos achar um bar
onde ainda se possa fumar.
Obrigada pelo convite, mas não
gosto muito de relações casuais.
Nós saímos durante meses.
Foi uma relação casual, Marty.
Só que durou seis meses.
Bem, devo dizer que não vejo
tantos advogados e políticos...
...juntos no mesmo lugar desde
a confissão desta manhã.
Não vamos tolerar dar
um prêmio em dinheiro...
...a um latino que
merece 20 anos de cadeia.
Pode ser seu cliente, mas Pinero
é um criminoso sórdido.
- Tráfico, estelionato, lavagem...
- Você disse ''supostamente'', Yancy?
Ouviu-o dizer ''supostamente''?
O Sr. Pinero nunca foi
condenado por nada.
Os tiras o largaram sangrando na neve.
Foi um milagre ele sobreviver.
Dito isso, não me oponho
a fazer um acordo.
US$ 1 ,5 milhão
e Pinero sai do Estado.
Não pode limitar o direito do
cidadão morar onde quiser.
Legalmente,
não pode obrigá-lo.
Obrigado ou só por
um acordo de cavalheiros...
...o Sr. Pinero
saberá o que queremos.
Consigam a resposta que desejam,
não fiquem sentados, conversando.
Você é pior que
os bandidos que representa.
- Chega, Bud, acabou.
- Tenho de ver com ele.
Sua comissão é 40%.
Seu conselho será aceito.
Obrigado, John.
Meu Deus!
- Sr. Vail!
- Como vai?
Bueno.
Gostei da música.
- Traeme dos tequilas por aqui.
- Bien, m'hijito.
Então, o que disseram?
Uma oferta final de US$ 1 ,5 milhão.
Do próprio Shaughnessy.
O que acha?
Devemos aceitar. Se não quiser
passar dois anos apelando.
- Não, que se dane. Feche.
- Fechado.
- Tudo bem.
- Gracias.
- Salud.
- Salud.
- Mia?
- Sua vez.
Tem mais uma coisa.
Querem que saia do Estado.
- Querem que você suma.
- Sumir?
Essa é boa.
A mesma droga, certo?
Como? Que história é essa?
Esses caras vivem me fazendo
essas propostas, Marty.
Que propostas?
Há uns meses, um tira
entrou aqui e disse:
''Testemunhe contra Alderman
Martinez, e lhe devemos uma, Joey.''
Diga que lhe fez favores, que
ele está na sua folha de pagamento.
Eu o mandei ir se ferrar.
Martinez é um bom homem.
É o único que
está se aguentando...
...enquanto os outros querem tornar
South River moradia de rico.
- Por que não me contou antes?
- Por quê?
Essa droga acontece todo dia.
Não achei que tivesse
nada a ver com nosso problema.
- Não achou?
- Gastei muito dinheiro aqui.
- Eles gastaram mais.
- Construí uma clínica aqui.
Essa gente depende de mim.
Não estou nem aí!
Mande-lhes cheques da Califórnia.
Chucho, hazme el favor,
sácame el CD.
Respeito seu conselho, Marty,
mas não posso aceitar.
- Pego o dinheiro, mas não vou embora.
- Não gosto disso, Joey.
Chucho, dame.
O que eles vão fazer? Me matar?
Já tentaram uma vez.
Como vão matar um homem
que não dorme nunca?
- Pegue o dinheiro.
- Você é demais.
A canção de que gostou,
quarta faixa.
Muito legal, obrigado.
A polícia vai ficar
muito ocupada...
- Capitão, pode nos dizer algo?
- Não sei nada, acabei de chegar.
Capitão Stenner,
o que aconteceu?
Ainda não vi nada. Depois de
ir lá dentro, conto a vocês.
Devia estar na cama, Abel.
É uma epidemia.
Vou pensar nisso, Harvey.
Cristo, que bagunça, hein?
- Sam, precisa de mais alguma coisa?
- Vire-o de frente.
Pare!
Quatro dedos decepados.
Um símbolo, B 32.1 56,
entalhado no peito.
O corpo ainda está quente...
Capitão, temos
um suspeito em fuga.
A passagem de um trem
protegeu o suspeito...
Quer saber o que eu detesto?
Quando ficam insistindo que os
advogados de defesa são canalhas.
Somos nós os bandidos?
Sabe por quê?
Sentamos do lado de um bandido,
ficamos com cara de bandido.
Eles supõem que são culpados,
como se nós soubéssemos.
Não se sabe, não se pergunta,
não se liga. Se cumpre a tarefa.
Não é que eles sejam seus amigos,
droga.
Bom, alguns são seus amigos, mas...
Por que largou o
Ministério Público?
Trabalho sem futuro.
Ou se vira político
ou se vira juiz.
Por que virar juiz quando
se pode ser jogador?
...na área de S. Miguel e
da mansão do arcebispo...
Aqui! Ele está aqui!
Continuaremos com a cobertura
trazendo as últimas notícias.
Sabemos apenas que cerca
das 1 1:08h da manhã...
Então, quando percebeu
que os pegara?
Como? Desculpe.
No julgamento de Pinero,
quando disse: ''Peguei-os''?
Quando aceitei a causa.
Com licença.
O terrível assassinato de uma das mais
queridas personalidades de Chicago...
...o arcebispo Richard Rushman,
deixou a cidade atordoada.
Fui informada de que
Andy vai falar ao vivo.
Soubemos que a polícia
prendeu um rapaz de 19 anos...
...identificado como Aaron Stampler.
Segundo o capitão Stenner...
Precisamos remarcar.
Ligue para o escritório, sim?
- Martin Vail Advocacia.
- Está com a TV ligada nas notícias?
Ligue para Sullivan
na sala do juiz Trutter.
Descubra onde ele está e
ligue para mim no Álibi.
- Muita gente quer essa causa.
- Está bem.
A polícia tomou a iniciativa,
agindo depressa, para a prisão.
- Está pegando o caso Stampler?
- Lamento, não posso falar agora.
- O promotor já foi escolhido?
- Sim, Yancy, o próprio.
- Advogado público?
- Já veio e já foi.
Porta!
- Lembranças ao seu irmão.
- Serão dadas.
Quero falar com ele
a sós, se possível.
- Está bem, mas terei de trancá-lo.
- Compreendo.
Sabe quem sou?
Não, não, senhor,
não sei.
Meu nome é Martin Vail. Sou o que
chamam de advogado famoso.
- Eu não... tenho dinheiro.
- Não achei que tivesse.
Estou disposto a pegar
sua causa pro bono...
...ou seja, tem toda a minha
experiência e trabalho de graça.
Ou pega um funcionário público
do tribunal que ganha pouco...
...e vai te levar pessoalmente ao
corredor da morte. A escolha é sua.
Não, senhor. Fico muito grato
pelo que puder fazer.
De nada.
Agora, seu nome todo é...?
Meu... Aaron Luke Sta...
Stampler.
Stampler.
- É do Kentucky, Aaron?
- Sim, senhor. De Creekside.
- Diz isso aí?
- Não.
Há quanto tempo está
aqui em Chicago?
Acho que faz dois anos
mês que vem.
- Já foi preso?
- Não, senhor.
Como conheceu o arcebispo?
Estava mendigando na rua,
lá em Wacker Drive.
O bispo Rushman passou
de Cadillac.
Ele me viu e parou.
Me levou para
a Casa do Salvador.
Trabalho como coroinha.
E canto no coro.
Há quanto tempo está lá, Aaron,
na Casa do Salvador?
Há um ano...
um ano e meio.
A gente sai quando faz
1 8 anos, mas...
Mas o bispo Rushman me deixou
ficar até depois de meus 1 9 anos.
Foi bondade dele.
Foi. Foi, sim.
Aaron, tinha algum motivo para
não gostar do arcebispo?
Não gostar? Não, não senhor.
Ele era como um pai para mim.
Sim, mas você...
Como é que eu vou dizer?
Estava no quarto
quando ele foi assassinado?
Como pode explicar?
Havia mais alguém
no quarto, Sr. Vail.
- Havia uma terceira pessoa?
- Sim, senhor.
- Contou isso à polícia?
- Contei, sim.
- Mas não acreditaram em mim.
- Tudo bem, conte para mim.
Eu fui devolver um livro...
...à biblioteca do bispo Rushman.
Ouvi um barulho e
voltei ao quarto dele.
O bispo Rushman
estava caído no chão.
Era sangue para todo lado.
Aí, eu vi uma sombra.
Eu vi uma pessoa...
...curvada sobre o bispo Rushman.
Ele olhou para cima e veio vindo.
E foi aí que eu perdi o tempo.
Como assim? Perdeu o tempo?
Perdi... Perdi os sentidos.
Acontece comigo, às vezes.
Eu tenho...
...ataques. Eu tenho ataques.
Eu perco o tempo.
Não consigo me lembrar
de nada.
Por que fugiu da polícia,
se não fez nada de errado?
Bom, quando eu acordei,
estava coberto de sangue.
Não sabia o que fazer.
Fiquei com medo,
ouvi sirenes e fugi.
Olha, eu sei o que parece,
Sr. Vail, mas eu juro...
Não precisa me convencer.
Basta responder minhas perguntas.
- Não fui eu. Tem de acreditar em mim.
- Não tenho, não. Eu não ligo.
Sou seu advogado, ou seja,
sua mãe, pai...
...melhor amigo e padre.
Não quero que fale com ninguém,
a não ser comigo.
Nada com a polícia, a imprensa,
os caras nas celas, ninguém...
...sem a minha permissão.
Você entendeu?
- Entendeu?
- Sim, entendi, sim.
Tudo bem, agora, o que interessa.
Que número de terno usa?
- Como é?
- Tamanho de terno. É um...? Um 38?
- Não sei.
- Bom, 38 perna longa.
A polícia enxotou Stampler de
seu esconderijo atrás da catedral.
Eles o perseguiram pelo pátio
da ferrovia, quase o perderam...
...quando pulou os trilhos
antes de um trem os separar.
O famoso advogado
criminalista Martin Vail...
...parece ter visitado Stampler
na Maxwell Street...
Após curta perseguição pela ferrovia
atrás da Catedral de S. Miguel...
...Stampler foi capturado em
uma vala atrás dos trilhos...
- Vai defender este homem?
- Desculpe...
Muito obrigado. Obrigado.
Demos o primeiro passo
no processo.
Posso responder perguntas.
Shaughnessy, e o grupo de coroinhas
de que Stampler fazia parte?
Não sabemos muito
no momento.
Outros coroinhas
podem estar envolvidos?
Só temos motivos para suspeitar
de Stampler, ninguém mais.
Ele tinha acesso aos aposentos do
arcebispo e foi capturado em fuga.
O ensanguentado Aaron Stampler
foi caçado sob McCormick Place...
...mas não antes de quase ser
atropelado por um trem.
Ele vai ligar assim que chegar.
Obrigada.
- Naomi!
- Sim?
Desculpe, me atrasei.
Temos um novo cliente.
- Receava que dissesse isso.
- Quem?
Sabe do que o estão chamando?
O açougueiro de S. Miguel.
- Gostei dessa.
- Vai ouvi-la muito.
O garoto que fez picadinho
do arcebispo é nosso cliente?
Ponha a palavra ''supostamente'' no seu
dicionário se quer ser advogado.
- Café, Tommy?
- Não, obrigado.
Ele admite que estava no quarto
na hora do crime, mas não o viu.
- Pode parar por aí?
- Não. Ele foi devolver um livro.
Ele ouviu barulho no quarto.
Entrou e viu uma figura nas
sombras, curvada sobre o corpo.
Ele desmaiou.
Quando acordou...
...ele ouviu as sirenes,
e estava coberto de sangue.
A polícia o pegou num túnel.
Ele estava com o anel do arcebispo.
- Ele roubou o anel do arcebispo?
- Não, estava no bolso dele.
É isso aí?
É.
Mas é...
É a pior conversa fiada que
já ouvi na minha vida.
Agora, é a nossa
conversa fiada.
Tudo bem, vamos trabalhar.
O ''X'' da questão é ''motivo''.
A promotoria não oferece nenhum.
Temos de provar que alguém mais
pode ter cometido o crime...
...aí, podemos estabelecer
o benefício da dúvida.
Quero saber todo o possível
sobre esse sujeito.
Vá a banco de dados, ao arquivo
municipal, receita federal.
- Até às tais casas de caridade.
- ''As tais''? Ele era padre!
Naomi, escreva aí. B 32.1 56.
Estava gravado no peito do arcebispo.
- Supostamente.
- Não, de verdade.
- Mas agradeço o esforço.
- Obrigado.
Também quero jurisprudência em
esfaqueamento, mutilação e religião.
- Também preciso de um psiquiatra.
- Não me diga!
Não do tipo que vive no banco
das testemunhas, um pra valer.
- E um especialista em amnésia.
- Como é que ele é ao vivo?
O açougueiro?
- Parece um escoteiro.
- Um escoteiro...
...com primeiro prêmio
em entalhes.
O arcebispo era amigo íntimo
do Sr. Shaughnessy.
Ele perguntou quem era
meu melhor homem.
- Falei de você.
- Obrigada.
Percebo que vou fazer
a acusação desta causa.
Terei a autoridade que
ela acarreta.
Você vai litigar a causa.
Mas vamos deixar algo claro
de início: quero a pena de morte.
Quero estudar o caso antes de
decidirmos pedir isso ou não.
Estou aberto a tudo que quiser,
mas não tenho a menor dúvida.
O garoto que pegaram
disse alguma coisa?
Sim, que não foi ele.
- É um caso encerrado, Janet.
- Com licença.
Agradeço sua confiança em mim,
não quero polemizar.
- Para isso você é paga.
- Se é como diz, não precisa de mim.
A defesa não contestará e jogará
o guri à misericórdia do tribunal.
Não é um advogado público.
Ele tem advogado?
Já? Quem?
Sou Martin Vail.
Estou defendendo Aaron Stampler.
Quero ver o local do crime.
Ah, o açougueiro, é?
Sim, obrigado.
Esqueci o verdadeiro nome dele.
Qual é o problema, Marty?
Perdeu a fé?
Procurando uma religião?
Diga, doutora, quem é o verdadeiro
caçador de manchetes aqui?
- Diferente de você, fui convocada.
- É? E está disposta?
Vendeu os direitos do livro ou
vai esperar? Quer ver fotos?
São bonitinhas.
Vai concordar que elas mostram
a natureza hedionda do crime.
Um conselho: não use a palavra
''hediondo'' no tribunal.
Metade do júri não
vai saber o significado.
Um conselho:
não sou mais sua assistente.
Caso não tenha notado,
eu me formei.
- Não tinha motivo para sair.
- Tinha todos os motivos para sair.
- Como pode trabalhar para eles?
- Espera que eu vá atrás de você?
Que me demita
porque você se demitiu?
Não preciso de Mercedes. Nem
de ver minha cara nos noticiários.
Sabia que eu viria aqui, não?
Sabia que eu ia defendê-lo.
Por isso aceitou a causa.
Por favor! O que é que há, Marty?
Está nervoso?
Faz tempo que não fala
com uma mulher com cérebro?
O que é que há? Está cansada,
não anda dormindo bem?
Você é quem tem contas a acertar.
Eu durmo que é uma beleza.
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Obrigado.
- Onde ele está?
- Aqui.
Sentaremos numa mesa com
dois assistentes meus.
Quando lerem as acusações,
o juiz perguntará o que alega.
- lnocente.
- Não.
Mas não sou culpado, Sr. Vail.
Não tem importância.
Fique de boca fechada.
- Vai dizer que não sou culpado?
- Vou dizer o que disser. Não esquente.
- Mas...
- É disso que estou falando.
Não pode continuar assim no tribunal.
Acostume-se: eu falo, você não.
- Você senta com cara de inocente.
- Eu sou inocente.
É isso! É essa a cara
que quero que faça.
Consegue lembrar?
Olhe no espelho se precisar.
Não preciso.
Minha cara é sempre essa.
Então, já está muito
adiante no jogo, não é?
Sem sorrir.
Não.
- Sr. Vail, pode fazer uma declaração?
- Vamos descobrir o que aconteceu.
A única pressão
é descobrir a verdade.
Falou com a polícia. Avisei para
não falar: eles distorcem tudo.
Como explica as roupas
ensanguentadas dele?
Não explico nada agora.
Acabei de aceitar essa causa.
Fatos importantes estão em disputa
e continuarão a estar.
É mestre em colocar a vítima em
julgamento para ajudar seu cliente.
Desta vez, vai ser muito difícil.
Dessa vez, a vítima é meu cliente.
Aqui, há duas vítimas e
nenhum suspeito. Obrigado.
- Preocupado com a segurança dele?
- Não. Obrigado.
Acho que o veredicto
é líquido e certo.
De pé.
Boa tarde, senhoras e senhores.
Meirinho.
O Estado contra Aaron Stampler.
- Todos... Sentem-se. Todos aqui?
- Sim, meritíssima.
Senhora promotora.
O Estado acusa Aaron Stampler de
homicídio triplamente qualificado.
Como se declara seu cliente?
Com permissão do tribunal,
preciso de tempo para fazer...
...uma avaliação psiquiátrica antes
de encararmos as acusações.
O Estado tem provas suficientes
para apoiar as acusações.
Concordo. Moção indeferida.
Sr. Stampler.
- Compreende as acusações?
- Sim.
lnstruí meu cliente a não responder.
Sua resposta poderá incriminá-lo.
Ele apela à 5ª Emenda sobre
se entende ou não as acusações?
Sim, até termos uma avaliação
psicológica completa...
...ele apelará à 5ª Emenda em toda
e qualquer pergunta a ele dirigida.
O Estado contra Appleby.
Para seu conhecimento da
jurisprudência, obrigado.
Não, não posso fazer isso.
O que você quer?
Procuro o quarto onde um garoto,
Aaron Stampler, ficava.
- É da polícia?
- Sou tio dele.
Oi!
- É de Alex!
- Quem é Alex?
É um dos outros coroinhas.
Um coroinha.
Um coroinha usava isso?
Bom, na missa, não.
O coroinha atacou um colega meu
e o machucou muito.
O que acha que ele fazia
no seu quarto?
Não posso... Eu não sei.
Não tenho nada.
- Sabe onde encontrá-lo?
- Quem? Alex?
- Não, não sei onde ele está.
- Não sabe?
- Quem é Linda?
- Linda?
É sua namorada?
Onde ela está?
Gostaria de falar com ela.
Não sei onde ela está.
Tenho a sensação de que
não está me contando algo.
- Estou dizendo a verdade.
- Eu não acho.
Está surpreso de Alex
ter atacado meu amigo?
Não, não.
Ele é genioso.
É, também acho.
Acha que pode ter sido Alex...
...aquela figura que viu
no quarto do arcebispo?
Eu... Alex? Não tenho certeza.
- Mas poderia ser ele.
- Eu não sei.
Não está entendendo.
O Estado quer vê-lo morto.
Se não me ajudar,
eles vão conseguir.
Estou tentando.
Não consigo me lembrar.
Não entendo. Por que Alex
ia querer fazer uma coisa dessas?
Pelos motivos lá dele.
Vai ver alguém o contratou.
- Contratou? Quem?
- Esqueça.
Acha que ele é capaz do crime?
Eu não sei.
Não sei quem é capaz
de uma coisa dessas.
- Obrigada.
- De nada.
Ele alega que havia alguém mais
no quarto, de quem não se lembra.
Quer que examine a questão da amnésia
para ver o que ele sabe?
E se ele souber que é culpado?
As principais causas
de amnésia são:
abuso de drogas, ataques,
traumatismo craniano e fingimento.
Acho que o garoto
está dizendo a verdade.
Tudo bem, vamos
esclarecer uma coisa.
Quero entrar e analisá-lo.
Na verdade, estou ansiosa...
...mas não irei lá comprovar
sua história, entendido?
Faça seu trabalho,
eu faço o meu, e blablablá.
Se eu achar necessário...
...quero um eletro, ressonância
magnética e exame neuropsíquico.
- Sim, doutora. Boa noite.
- Boa noite.
Vou gravar nossos encontros
para o Sr. Vail.
Então, não é tão confidencial quanto
seria se me consultasse como médica.
Ele pode até me fazer testemunhar.
Se tem alguma pergunta...
- ...é melhor fazê-la agora.
- Não, senhora. Eu entendo.
Ótimo. Então, acho
que ficaremos bem.
- Te vejo mais tarde.
- Está bem.
Tchau.
Vail diz que teve um lapso
pouco antes e depois da morte.
- É verdade?
- É.
Eu perdi o tempo.
Quer dizer,
perdi os sentidos.
- Já desmaiou assim antes?
- Já, sim.
Qual a primeira vez que
lembra disso acontecer?
Começou quando eu tinha
uns 1 2 anos.
Seus pais sabiam do que
acontecia com você?
Não. Minha mãe
estava morta.
E seu pai?
Não, não.
Ele não era um homem bom.
- Procurou tratamento?
- Fiz o quê?
Procurou um médico por isso?
Não.
Não se vai ao médico em Creekside,
a menos que se quebre a perna.
- Posso falar com você?
- Fale.
Com licença.
Vou trazê-la de volta.
Como se atreve?
Sou um peão de xadrez que pode
movimentar? Estava almoçando.
Quando vamos ao
procedimento probatório?
- O que você quer?
- Quero saber quando.
- Tenho moções a registrar.
- Não tem nada.
Está querendo é fazer acordo.
Meu cliente não me autorizou a
negociar. Qual é sua desculpa?
Se precisasse fazer um acordo,
tenho a autoridade que quiser.
Conversa! Shaughnessy quer pena
máxima, e a está usando para conseguir.
Aceite assassinato
sem pena de morte.
Aceitar?
Temos uma causa formidável.
Formidável? R éu primário, sem
testemunhas, confissão ou motivo.
Provas concretas. Suponho que
não alegará insanidade. Pena.
Meus psiquiatras
fariam picadinho dele.
Apelar à 5ª Emenda na
acusação foi brilhante.
Foi bom, não foi? Eu gostei.
Perca esse caso e você está frita,
não Shaughnessy.
- Converse comigo.
- Vamos a julgamento, Marty.
Tudo bem, basta um.
Um jurado que ache que não foi ele.
Um jurado com um filho dessa idade
que olhe para aquele rosto...
O rosto é ótimo. Está preparando-o
para testemunhar?
A gagueira é preciosa.
Ah, Marty.
Não me diga que acha
que não foi ele.
O pequeno Aaron Stampler
conquistou você?
Não estamos falando só de cadeia,
mas de tirar a vida de alguém.
Se estiver errada e Shaughnessy
forçar sua mão, vai aguentar?
Eu sobrevivo.
Te vejo no tribunal.
Determinamos que o crime
foi cometido aqui.
Essas fotos não têm
valor probatório.
Não é só um assassinato,
mas é caso de mutilação e tortura.
A promotoria quer mostrá-las ao júri
pelo teor escandaloso.
Não é verdade! Elas determinam
a natureza hedionda do crime...
...e ligam o réu, encontrado coberto
de sangue, à cena do crime.
- É parcial.
- Permita-me discordar.
Doutores, por favor!
As fotos ficam, Sr. Vail.
Quer um recesso para
discutirem em particular?
Lamento, meritíssima,
mas é demais.
Daqui a pouco, ele protestará
ao apresentarmos a arma do crime.
Já que ela tocou no assunto...
É uma repartição pública.
Desculpe, Sr. Vail.
Me dá um autógrafo?
Fale-me de Linda.
O Sr. Vail disse que era sua namorada.
Ela era, sim.
Como se conheceram?
Bom, nós dois estávamos
na Casa do Salvador.
Eu era coroinha, ela trabalhava
para o bispo Rushman.
- Como era o relacionamento?
- Eu e Linda?
Ela era muito culta,
culta mesmo, e muito inteligente.
Nós nos divertíamos juntos.
Poderíamos ter casado.
Vocês dormiam juntos?
- Bom, isso é pessoal.
- Eu sei. Tenho de perguntar.
Vocês tinham
relações sexuais, Aaron?
Tínhamos, sim.
Você dormia com mais alguém
na época?
Não.
E ela?
Ela veio visitá-lo, Aaron?
- Bom, não, mas...
- Fica aborrecido.
Não.
Acontece que ela foi embora.
Ela foi embora
por um tempo.
Partiu antes disso acontecer.
Eu nem acho que...
Eu nem acho que ela sabe.
- Oi, chefe.
- Tem alguma coisa para mim?
Tenho.
No centro, não há nada catalogado
com os números B 321 56.
Mas não acho que B seja B. É um 8.
A faca escorregou. 8321 56.
Thomas Jefferson.
Acho que não foi ele.
lsso não ajuda: a caridade de Rushman
e investimentos da fundação.
Nada de mais,
exceto pela quantidade.
Espere um minuto.
O que ele queria com o acordo
de South River? Abra esse.
CARREGANDO ARQUlVO
Sim. Os investidores.
Shaughnessy?
É o bairro de Joey Pinero.
Vê esse lote aqui?
Era todo de casas.
Na verdade, havia uma casa na esquina
onde beijei minha 1 ª namorada.
Eu a engravidei.
- Que beijo, Joey.
- Foi, sim.
Se eles conseguirem, o bairro
todo vira moradia de rico.
Por isso, vou recomprar o lote
com o acordo que você fez.
Soube do dinheiro, não?
- Quem não soube?
- Marty é o máximo, cara.
Só fiz meu trabalho.
US$ 1 ,5 milhão
e é só o trabalho dele.
Alderman, Joey disse que um policial
apareceu, querendo incriminá-lo.
Característico.
Não conseguem me comprar,
e tentam comprar um companheiro.
Muita gente acha que
essa terra aqui é da ferrovia.
Mas não é. É da lgreja.
Da lgreja?
- É da Fundação Rushman.
- Exato.
- Com um bando de empreiteiros.
- lnclusive John Shaughnessy.
Eles compraram terra e prédios
em volta da terra da lgreja...
...e derrubaram tudo.
Nosso bairro ia desaparecer.
Procurei o arcebispo e disse:
''O que está fazendo com essa gente?''
''São pobres. Estão sendo
expulsos de seus lares.''
- ''E são católicos.''
- Minha nossa.
Ele escutou.
Eu nem acreditei.
Ele os mandou parar de construir
em volta da terra da lgreja.
Os sócios têm prédios não-demolíveis e
terras nas quais não podem construir.
Shaughnessy perde milhões.
- Se precisar, você testemunha?
- Quem? Eu?
Ah, sim. Fácil.
Tiro essa roupa, boto um terno da
Brooks Brothers, sapato fechado...
Você, não, Joey.
Claro.
Eu testemunho.
Sabe o que esse pessoal acha?
Que a cidade se administra sozinha.
Acham que ela acorda, vai trabalhar
e volta para dormir, como nós.
Não sabem o que é preciso para
que ela não entre em colapso.
Crime, incêndios, tumultos.
Os encanamentos estourando no
subsolo... Que bagunça!
E o responsável chama o
empreiteiro que os construiu?
Não, ele me chama.
Todos me chamam.
Nossa, que delícia.
Me chamam porque mantenho
a paz. Esse é meu trabalho.
Essa cidade não desaba
porque eu não permito.
Sou o grande negociador.
Acha que as pessoas entendem?
Na verdade, não ligo.
Os imbecis nem votam.
Só comem, dormem, vêem TV
e, às vezes, transam com as esposas.
Acho que devíamos
lhe agradecer.
Não tem de quê.
John, você precisa
de novos discursos.
Já ouvi esse da grande cidade
umas dez vezes.
Seu garoto Pinero não está honrando
a parte dele no acordo.
- O jantar é por isso?
- Em parte.
Eu expliquei o acordo.
Ele é adulto. O que mais?
Sua assistente anda vasculhando
as finanças do arcebispo.
Pois é...
Quanto perdeu quando ele brecou
o projeto South River?
Escute uma coisa.
É besteira meter o dedo no olho
dos poderosos da cidade.
Não estou mirando no olho.
Não se meta comigo, Marty.
Os encanamentos estão
estourando de novo, John.
No mais aguardado julgamento
dos últimos anos...
...o ex-promotor estadual
Martin Vail vai iniciar...
Richard Rushman
era um homem de Deus.
Consagrou toda a sua vida
ao povo de Chicago.
Era uma fonte de inspiração,
não só um líder espiritual...
...fazendo suas declarações
de abertura amanhã...
Meu nome é Martin Vail. O motivo
de estarmos aqui...
...é garantir que toda
a verdade seja conhecida.
Podemos descobrir a verdade...
...falando sobre o que a promotoria
não quer que vocês saibam.
Não se enganem com a aparência
e postura inocentes do réu.
Aaron Stampler julgou
o arcebispo Rushman...
...e não só decidiu que
ele devia morrer...
...mas que ele deveria
morrer da forma mais brutal...
Vimos Aaron ser preso minutos
depois da morte do arcebispo.
Por quê? Porque era conveniente,
e a polícia estava sob pressão...
As provas mostrarão que Aaron
Stampler caçou, encurralou...
...e matou esse grande homem
com selvageria.
A promotoria não quer
que vocês saibam...
...dos outros coroinhas que
sumiram misteriosamente.
Ao fim da exposição
de provas, vocês saberão...
...que Aaron Stampler
tinha tudo de que precisava...
...para o crime perfeito.
Usando esta faca...
...Aaron Stampler apunhalou várias
vezes o peito do arcebispo...
...seus órgãos genitais
e seus olhos.
Eles não querem que saibam
que o arcebispo...
...fez investimentos em nome
da lgreja Católica Romana.
lnvestimentos que fizeram gente
poderosa perder muito dinheiro.
Não querem que saibam das 20 ameaças
de morte que ele recebeu só este ano.
E muito menos sobre a teoria deles
explicando o motivo.
E por quê? É muito simples.
Eles não têm nenhuma.
lnspector Woodside, explique ao
tribunal de onde saíram esses tênis.
Foram tirados do réu
quando ele foi preso.
Qual o resultado
da análise do sangue?
Mostrou que é sangue humano...
...combinando com tipo e
características do DNA do arcebispo.
O que descobriu a partir das pegadas
sanguinolentas em volta do corpo?
O criminoso deixou pegadas
em volta da área da luta...
...como indicado pela área marcada
com sangue no quarto.
Sim ou não, inspetor. Poderia haver
uma terceira pessoa no aposento?
- Não há indícios desse fato.
- Nem há indícios do contrário.
Não.
O que aconteceu
depois da luta?
Nossa análise sugere que
o criminoso se assustou e fugiu...
...do quarto, descendo as escadas.
Será possível, inspetor... que
o verdadeiro criminoso, a outra pessoa...
...que talvez saiba que não deve
deixar um rastro de sangue...
...pelo quarto todo...
...poderia essa outra pessoa ter colocado
as digitais do réu na faca...
- ...enquanto ele estava desmaiado?
- Tudo é possível.
É claro que a vítima recebeu
um grande número de facadas.
Recebeu, sim: 78.
Ele tentou se defender, o que explica
cortes nas mãos e nos antebraços.
Doutor, não é verdade que
não se pode ter certeza...
...se mais de uma pessoa infligiu as
78 facadas e perfurações?
Poderia haver mais de
uma pessoa, mas eu duvido.
A partir de sua análise
das facadas...
...é de opinião que o criminoso
era canhoto ou destro?
Os ferimentos na garganta e
a maioria dos do peito...
...foram feitos de um ângulo que
sugere uma pessoa canhota.
- O réu é canhoto?
- É, sim.
É possível que uma pessoa destra
tenha usado a mão esquerda.
Sim, creio que é possível.
Então, é razoável supor que havia
uma terceira pessoa na cena do crime.
Razoável, não, mas é possível.
...seguindo-se às aberturas, foi
um dia de depoimentos fortes...
...das primeiras testemunhas
de acusação...
...chefe de perícia Harvey Woodside
e médico legista Emile Weil.
Woodside e Weil também foram
minuciosamente interrogados...
...pelo advogado de defesa de Stampler,
Martin Vail.
Capitão Stenner, obrigado
pelo tempo que nos dedicou.
Enfim, quero chamar sua atenção para
o símbolo entalhado no peito.
Quer dizer ao júri
do que se trata, capitão?
Sim, a letra e os números...
...B 32.1 56 estavam entalhados
no peito do arcebispo.
Foi capaz de encontrar alguma
referência idêntica a eles?
Creio que sim.
O símbolo B 32.1 56 é um
código de catálogo para um livro...
...descoberto em uma sala de leitura
particular no porão da igreja.
Esse número em particular, o B 32,
se refere a A Letra Escarlate...
...de Nathaniel Hawthorne.
Quando abrimos o livro
na página 1 56...
...descobrimos uma
passagem sublinhada.
Pode ler a passagem sublinhada
para o tribunal?
''Homem algum, por qualquer
período de tempo...
...pode usar um rosto para si
e outro para a multidão...
...sem acabar por confundir-se sobre
qual deles é o verdadeiro.''
Obrigada.
O que a passagem
significa para o senhor?
Protesto. Ele é um policial,
não professor de literatura.
A interpretação será
especulativa e irrelevante.
Ela não pediu um parecer de perito.
A testemunha responderá.
Bem, para mim é simples.
Para o criminoso, a vítima
tem duas faces, é desonesta.
Na sua experiência, capitão...
...os criminosos intencionalmente
deixam pistas do motivo do crime?
Não é frequente,
mas acontece.
Obrigado.
- Obrigado, cara.
- Claro.
Sublinhou o livro?
- O quê?
- Sublinhou aquele livro?
- Não, Sr. Vail.
- Não?
Não, Sr. Vail. Nunca nem abri
A Letra Escarlate.
Não gosto de Hawthorne.
Lemos aquele sobre a casa com as
tais sete coisas, na escola.
Não consegui passar da página 1 0.
Eu não era o único a usar
a biblioteca do bispo Rushman.
Todo mundo pegava livros
do bispo Rushman.
Ele incentivava. Coroinhas,
funcionários, todo mundo ia lá.
Guarda.
Você não desiste, não é?
- Não sabia nada sobre aquilo?
- Não.
- Qual foi o impacto...?
- Não posso conversar agora.
Meu escritório vai ligar, tá?
Tudo bem, tchau.
- Obrigado.
- Até mais.
Tchau.
Que diabo aconteceu lá dentro?
Acho que o 8 era mesmo um B.
Qual é a graça?
Estamos perdendo a causa.
O que aconteceu?
Como não percebeu isso?
São 50 homens, além de
toda a polícia de Chicago.
Como ia saber que ele tinha
uma sala de leitura no porão?
- É seu trabalho.
- Quer meu emprego?!
- Não, quero que faça seu trabalho!
- Marty, qual é?
Estou defendendo a tese do
terceiro homem, perceberam?
Eu não tenho um terceiro homem.
Por quê? Vocês não o acharam!
- É tão difícil achar um garoto indigente?
- Talvez já estejamos com ele.
Precisamos ao menos considerar
a possibilidade de ter sido ele.
As provas apontam para ele e
você se recusa a considerar.
Não me recuso a considerar nada!
Não acho que foi ele!
Vamos estar lá em alguns dias
e não temos nada!
- Façam o trabalho de vocês!
- Droga!
Deve ter sido duro vir para Chicago.
Não conhecia ninguém?
Ninguém.
Tinha algum dinheiro?
Não, nada.
Quero falar mais de sua namorada,
Linda. Podemos, Aaron?
- Não.
- Por que não?
Aaron.
Ah, lamento.
Acha que podemos
fazer isso mais tarde?
- Não, quero continuar.
- Estou um pouco cansado.
Eu sei. Por que falar de
Linda Forbes o aborrece?
Não... não aborrece.
Só não quero
falar disso agora.
- Por que não? Você está bem?
- Não, estou com dor de cabeça.
Tudo bem, desculpe.
Deixe eu dar um jeito nisto.
- Sabe o que posso fazer com isso?
- Não, como vou saber, droga?
Jesus Cristo.
Aaron?
Como? O que estava dizendo?
O que você quer? Eu te mato!
Acho que não, Alex. Largue.
Largue.
- Lembra de mim?!
- Meu nome é Martin Vail.
Não estou nem aí!
Não tem o direito!
Tenho todo o direito! Sou advogado
de Aaron Stampler, seu merdinha!
Agora, o que sabe sobre
o assassinato do arcebispo?
- Nada.
- Aonde acha que vai?
Conversa! Não nos sacaneie.
Juro que não sei nada.
O que fazia na casa de Aaron?
O que procurava?
- Uma fita.
- Uma fita? Uma fita de vídeo?
- É.
- De quê?
- Pornografia.
- Pornografia?
Tenho de lhe explicar melhor?
Quem?
Quem?!
Eu, Linda...
- E Aaron?
- Ele gravava também, para o arcebispo.
Está me dizendo...
...que o arcebispo Rushman estava
envolvido com pornografia?
Sim, ele chamava de
''expulsar o demônio''.
Ele fazia dez minutos de sermão,
e depois nos dizia o que fazer.
Não me interessa
o que você acredita!
O que ia fazer com a fita?
Destruir. la jogar fora.
Uma só. Uma fita só.
Uma fita.
Ele ficava gravando por cima.
- Por que acha que foi Aaron?
- Não sei.
Achei que ele pegou,
voltou lá e o matou.
- Aaron o matou, certo?
- Não matou, não.
Onde está a menina?
Onde está Linda?
Ela pirou! Entrou em pânico.
Pulou fora.
E não estou esperando
que me mande um postal.
Olhe para mim.
Tire-o daqui, Tommy.
- Para onde?
- Uma cama quente e três refeições.
- Não pode me prender! Não é tira!
- Já fui. Serve?
- Olha quem está aqui.
- Termine. É uma boa matéria.
Conhece as regras.
Não desarrume nada...
...não leve nada ou estou frito.
E eu também.
Não vou mexer em nada.
Com licença.
...pregar o evangelho a todos...
Olá.
- O que estão assistindo?
- Espere um minuto.
Vá até ela.
Ótimo. Agora, ajude-a.
É isso mesmo, Aaron. Ótimo.
Linda, ajude.
Ótimo. Tire a blusa dela, Aaron.
lsso mesmo.
Agora, ajude-o, Linda.
Não é uma delícia, Linda?
Ótimo.
É isso mesmo.
Ponha na boca.
Olha o motivo aí.
Pegue-a por trás.
- Aaron, pegue-a por trás.
- Jesus Cristo.
Obrigado.
- Quero falar com você a sós.
- Temos algo a conversar...
Preciso ficar a sós
com o meu cliente.
Confia em mim?
Sim, sim, claro que sim.
Ótimo. Porque eu
não confio em você.
Vou te esclarecer:
Estou perdendo a causa porque
meu cliente mentiu para mim.
- Eu nunca... nunca menti...
- Conversa!
Chega de conversa,
parou a brincadeira.
Todo mundo pensa que foi você,
todo mundo.
Só eu acreditava em você,
e estou quase mudando de idéia.
Então, quero tudo para fora.
Aqui e agora mesmo.
Você sublinhou o livro?
Olhe para mim.
Você sublinhou o livro?
- Não, não sublinhei.
- Não acredito em você.
- É conversa fiada.
- Eu lhe diss...
Não acredito em você!
Eu vi a fita!
Eu vi a fita. Sei o que ele
lhe fez e quero que me conte.
Não! Não!
Não faça isso.
Quero que me conte a verdade.
- Você o matou, droga! Foi você!
- Não!
Está mentindo! Foi você!
Diga-me a verdade. Não minta.
Seu canalha! Você o matou!
- Seu filho da mãe! Você o matou!
- Não!
O que quer comigo agora?
Pare de chorar! Não entendo
uma palavra do que está dizendo.
Seu maricas! Você me enoja!
- Olhe aqui. Quem é você, droga?
- Quem é você, droga?
Esta cela é minha!
Quem é você, droga?
Já te manjei.
Você é o advogado.
É o advogado, não é?
De terno bacana. Já ouvi falar.
Ora, ora, ferrou tudo,
não é, doutor?
Parece que vão meter tanto veneno
no Aaron que vai sair pelos olhos!
- Cadê o Aaron?
- Está chorando num canto qualquer.
Você o espantou!
Agora, o negócio é comigo, cara.
Devia te dar uma surra.
Olhe para mim.
Jogue esse papo de durão no Aaron
outra vez e te parto em dois!
- Está me entendendo?
- Entendi, sim.
Aaron se encrenca e chama você.
Você é o homem.
Aaron não mata
nem uma mosca.
Já o viu com o ''da-da-da''.
É.
Nossa,
ele não aguenta nada.
Não aguentaria aquele
sangue todo do padre.
Se ele fizesse o que eu mandei,
não estaria nessa...
Mas ele se assustou, e ''da''.
Fugiu e foi preso,
aquele merdinha.
Então Aaron matou
o bispo Rushman.
Droga nenhuma! Credo,
onde foi que eles te acharam?
Não está me escutando?
Aaron não tem peito para nada.
Fui eu, cara.
- Foi você.
- Fui eu, sim.
Como sempre, ele veio chorando,
gaguejando e implorando.
''Não aguento mais, Roy.
Precisa me ajudar.''
''Por favor, por favor, Roy.''
E eu: ''Cala a boca! Vê se cresce.
Seja homem e te cuida.''
Então, seu nome é Roy?
Puxa vida, desculpe. É.
E o seu? Marty?
Marty, estou doido por um cigarro.
Tem um aí?
- Não, eu parei.
- Que droga.
Não vivo sem eles.
Deve ter uma bituca aqui.
Roy.
Roy, me fale de Linda.
Linda?
Quem liga para a Linda?
Eu ligo para a Linda.
Gostaria de saber dela.
Aquela vagabunda. Todo mundo
tirou casquinha dela, sabia?
Ela deixou Aaron tão doido que
ele achava que namorava ela.
Partiu o coração dele.
Por isso matou o Rushman.
Por causa da pornografia.
Você viu a fita.
Responde, seu filho da mãe!
Acha que estou brincando?
Quebro o teu pescoço!
- Estou perguntando: você viu?
- Claro que vi a fita.
Droga, eu disse para ele:
''Pega a fita que é motivo, babaca!''
Vai acabar com a nossa vida.
Não mostre para ninguém!
- Está me entendendo?!
- Sim.
- Aaron.
- Droga!
Senh...
Sr. Vail?
Sim, estou aqui, Aaron.
Foi ele. O merdinha o matou.
Como fui me enganar?
- Vou precisar de pontos?
- Não.
Não foi ele. Aaron não faz idéia
do que aconteceu ali.
Eu via os sinais, os grandes.
Passado de maus tratos, desmaios
repetidos, pensamento desconexo.
Ele é ambidestro.
Tentei lhe dizer.
Pode estar encantada, mas eu
estou ferrado. Perderei a causa.
É um caso clássico de múltipla
personalidade. Eu testemunho.
Ele é louco.
Não posso. Não dá para mudar de
alegação no meio do julgamento.
A juíza nunca permitiria.
lnsanidade é fogo para provar.
Tudo bem.
Minha opinião profissional:
Não estamos lidando com
um criminoso. É um garoto doente.
Ele está sentado na cela,
e o lugar dele não é lá.
Tem uma aspirina?
Vamos, Connerman, pergunte.
Perguntar o quê?
A pergunta que
queria fazer antes.
Não entendo, Sr. Vail.
''Como pode defender alguém
que sabe ser culpado?''
''Como pode defender esses
vagabundos?'' É isso?
Todas as perguntas capciosas,
toda aquela droga.
Em última análise:
''Como pode fazer o que faz?''
Acha que é o dinheiro, não?
A grana é legal.
A grana é muito legal, Jack.
A primeira coisa que digo
a um novo cliente é:
''Andou economizando
para os dias difíceis?''
''Adivinha? É um dia difícil.''
Acha que é porque eu quero ver
minha cara em capa de revista?
Meus 1 5 s de fama? Eu adoro!
Adoro essa droga, sério mesmo.
Mas adivinha?
Não é por isso.
- Vai a Las Vegas?
- Sim.
Eu não vou a Vegas.
E por que não vou?
Marty, já é tarde.
Acho que devíamos levantar e...
Por que jogar com dinheiro quando
se pode jogar com a vida dos outros?
Brincadeira.
Tudo bem, eu lhe conto.
Creio que as pessoas são inocentes
até que se prove o contrário.
Creio nisso porque
optei por acreditar...
...na bondade intrínseca
das pessoas.
Optei por acreditar que nem todos
os crimes são cometidos por gente má.
E eu tento entender...
...que algumas pessoas muito boas
fazem coisas muito más.
Sabe, quando eu trabalhava
para Shaughnessy...
...fiz uma coisa muito má mesmo.
llegal. Era promotor na época.
lsso que eu fiz me deixou muito
bravo, e resolvi cair fora.
Então, caí fora.
Virei advogado de defesa.
A ironia é que todos acharam
que eu estava mentindo mesmo.
Fiz uma promessa a mim mesmo que...
...reservaria minhas mentiras para
outras coisas além da vida pública.
Publique uma palavra
e eu te processo.
- Tudo bem, eu me enganei.
- Não diga.
O que quer? Um terno novo?
Eu lhe dou.
Você se enganou?
Disse que foi um terceiro homem.
Conseguiu seu terceiro homem.
E um quarto e um quinto...
O que vai fazer, Marty?
Não sei.
Eu estraguei tudo.
Você tinha razão.
- Como vai livrar a cara dele?
- Eu não sei.
Sei que Aaron não cometeu
homicídio.
- Ele o apunhalou um bilhão de vezes...
- Aaron, não.
Para condenar à pena de morte,
o Estado tem de provar intenção.
- Roy tinha intenção, Aaron não.
- Tem de alegar insanidade...
...mas não podemos no meio do
julgamento, se quer ser advogado.
Podia estar enganado,
mas não estava errado.
Aaron é inocente.
O culpado é Roy.
Ele não precisa de advogado,
mas de um exorcista.
Mas que cara cheio de si!
Não estava lá, não viu.
É um garoto doente, ferrado
por todos: o pai, o padre.
É nossa obrigação garantir que o júri
saiba que ele não merece morrer.
- Tudo bem.
- Tá, mas como se faz isso?
Trazendo à tona todo
esse tema dos maus tratos.
- A fita.
- Está doido? É o motivo para eles.
Não, parece que é, mas...
Não, na verdade,
ela vira o jogo todo.
É documentação concreta do que
Rushman fez a esse garoto.
Mas não podemos abordar.
Você sabe muito bem.
Não vamos abordar.
Ah, droga!
- Tá legal.
- Ótimo.
O que diabo está fazendo?
Sabe muito bem quem é.
- Barleycorn's, Marty. E já.
- Janet?
Pornozinho legal.
É da sua coleção?
Onde arranjou? Roubou?
- Do local do crime?
- Não sei de nada...
- É um mentiroso.
- Pense bem.
Se a fita contivesse o que diz,
não a daria a você. É motivo.
Tinha de me dar.
Se você apresentasse, o júri o
desprezaria por desonrar o bispo.
Se me obrigar a apresentá-la, com
motivo ou sem, eu é que fico mal...
...e você angaria simpatia para
seu pobre menino maltratado.
- Você acha?
- Eu te odeio.
Não use.
Não tenho intenção de usá-la.
- O de sempre, Stu.
- É pra já.
- Está querendo mais que isso.
- Não estou querendo nada.
Está abrindo a porta para mim
com um tigre do outro lá e eu não...
Sabe quem iria se aborrecer?
Shaughnessy.
- Dane-se ele.
- Dane-se ele?
Dane-se você.
Muito obrigada.
- Se não for o seu motivo, o que é?
- Eu tenho o motivo.
Sim, o que é?
Vou mesmo te contar.
Melhor contar logo para o júri.
O tempo está se esgotando.
Aqui está.
Acha que me pegou, é?
Acha que, porque me conhece
tão bem, sabe como eu penso.
Bem, sei como você pensa.
Sabe o que estou pensando?
O que houve com seu rosto?
Eu... dei de cara
no armário do banheiro.
Não, foi uma garota,
quando estava indo embora.
- Devíamos voltar aqui mais tarde.
- Vão fechar em dez minutos.
Não, depois.
Depois do julgamento.
Quando não tivermos
nada a perder.
Como pode sua noção de
momento ser tão boa no tribunal...
...e tão ruim na vida real?
Pensarei nisso mais tarde.
Eu te odeio demais agora.
Tem visita.
Lá vem ela.
Falo contigo mais tarde.
Janet.
Bom dia.
Onde está a fita?
Tem coisas muito feias
naquela fita.
- Tem mesmo.
- Quem ia imaginar?
- De onde ela veio?
- Deixaram na porta, sem bilhete.
- Vail?
- Quem mais?
Canalha esperto.
O que acha que
ele está aprontando?
- Honestamente, não sei.
- Corta essa.
Você o conhece bem,
transava com ele.
- Onde está a fita?
- Em casa.
Um conselho para você:
Se tem ambições além
desta salinha aqui...
...pegue sua bolsa, vá para
casa e destrua essa fita...
...que já devia ter destruído,
como eu destruí.
Acha que Vail não tem uma cópia?
Acha que não existe um original?
Stampler está em julgamento,
não a lgreja Católica.
Se não achou outro motivo para
acusá-lo, que Deus a ajude.
De pé.
Por favor, sentem-se.
Senhora promotora.
Srta. Venable.
A promotoria chama
Thomas Goodman.
Protesto, meritíssima.
A promotoria sabe que o Sr. Goodman
é meu investigador nesta causa...
...e sob o regulamento da Ordem,
ele não é obrigado a testemunhar.
- Permissão para chegar à banca?
- Está dada.
Tenho uma prova importante que
essa testemunha pode autenticar.
É direito do Sr. Vail. Se ele não
deixar, Goodman não testemunhará.
Tome uma decisão, Sr. Vail.
- Já esteve em meu apartamento?
- Não.
- Quis dizer, no meu prédio.
- Supostamente.
Desculpe: esteve ou não esteve.
''Supostamente'' não é resposta.
Eu já... estive lá, sim.
- Por que foi lá?
- Fui fazer uma entrega.
Para quem?
Martin Vail.
O Sr. Vail o mandou
entregar algo a mim?
- Sim.
- O que era?
Uma fita de vídeo.
Seria esta a fita que
entregou pelo Sr. Vail?
Tenho a impressão de que sim.
A promotoria oferece
esta fita como prova.
Aceito. Que conste nos autos.
Onde o Sr. Vail conseguiu a fita,
se for esta mesma?
Ele tirou do armário
do arcebispo Rushman.
- Ele a roubou.
- Pegou emprestado.
Depois que fiz a cópia,
eu devolvi a fita.
Pode descrever o que há na fita?
Há um sermão do arcebispo,
um ensaio...
...seguido por...
- ..uma espécie de vídeo doméstico.
- Um filme doméstico? De quê?
- Uns coroinhas.
- E?
- Uma garota.
- Fazendo o quê?
Alguma aula para coroinhas?
Sexo.
Silêncio.
Um filme ***ô.
- Sim.
- Sim. Agora...
Como essa fita, essa fita ***ô...
...foi parar no armário do arcebispo,
de modo que Vail a encontrasse?
- Ele era o... diretor.
- Quem?
- O arcebispo Rushman.
- Silêncio!
E o réu era um dos coroinhas
que trabalhava no filme?
- Ele era, sim.
- E a namorada dele, Linda Forbes?
Era, sim.
Pareceu-lhe que o réu estava
se divertindo...
...ao trabalhar nesse filme
com a namorada?
Não me pareceu, não.
Não vou lhe perguntar se acha
que descobrimos o motivo.
Nós mesmos resolveremos isso,
depois de ver a fita.
Sem mais perguntas.
A defesa quer interrogar?
- Não, meritíssima.
- A sessão está suspensa.
Meirinho, prepare o vídeo.
Sr. Goodman, está dispensado.
Obrigada pelo conselho.
- Sr. Vail disse que era sua namorada.
- Ela era, sim.
- Como se conheceram?
- Estávamos na Casa do Salvador.
Eu era coroinha...
...e ela trabalhava para
o bispo Rushman.
Fazendo o quê?
Estava dormindo com
mais alguém na época?
- Não, não.
- E ela?
Não.
Ela veio visitá-lo, Aaron?
Sim. Não, ainda estou aqui.
O quê?
Sr. Vail, está pronto para continuar,
chamando a primeira testemunha?
Sim, meritíssima.
A defesa chama John Shaughnessy.
Protesto. O Sr. Shaughnessy
nunca foi identificado como...
- Meritíssima, posso me aproximar?
- Sim, podem vir.
A vida de meu cliente está em jogo.
Ele alega que havia outra pessoa.
O Sr. Shaughnessy pode confirmar?
A Constituição é soberana aqui...
...permitindo chamar testemunhas
que provem a inocência.
Está na Sexta Emenda e explicitado
em Brady contra Maryland.
Sr. Shaughnessy, é diretor da
Fundação Rushman?
Sou membro honorário
da diretoria.
Explique a natureza e
o objetivo da fundação.
Ela foi fundada
pelo falecido arcebispo.
Seu objetivo é investir em projetos
pelo bem da comunidade.
Pelo bem da comunidade,
está bem.
Seria o caso do agora falido...
- ...Empreendimento South River?
- Sim.
Pode dizer ao tribunal por que o
projeto South River foi abandonado?
Houve uma diferença de opiniões
a respeito dos custos.
Também não houve
uma diferença de opiniões...
...entre os investidores
e o finado arcebispo?
- Não me lembro.
- Não se lembra...
De quanto dinheiro
estamos falando?
Quanto dinheiro foi investido
no fracassado projeto South River?
- US$ 60 milhões.
- Silêncio.
US$ 60 milhões!
Nossa, é muito dinheiro!
O senhor e o arcebispo
foram amigos por 20 anos?
- Se conheciam bem.
- É verdade.
- A fita o surpreendeu?
- Sim, é claro.
Nunca ouviu qualquer declaração
contrária ao arcebispo?
Não que me lembre.
Desde que se tornou procurador
do Estado nos 1 5 últimos anos...
...supervisionou todos os julgamentos
na Prefeitura de Cook...
...especialmente o julgamento
de figuras proeminentes.
Também tenho uma equipe com
mil dos melhores promotores...
Como procurador do Estado,
cabia-lhe decidir em última instância...
- ...quem seria indiciado.
- Sim.
Vamos voltar no tempo.
Voltemos a junho de 1 985.
Lembra de alguma acusação
de atentado ao pudor...
- ...contra o arcebispo, então?
- Não me lembro de nada.
Lembra de um jovem chamado
Michael O'Donnell que...
...procurou a unidade de investigações
do seu departamento?
Não tenho noção
do que está falando.
É estranho, pois um documento da
Polícia Metropolitana de Chicago...
...diz que Michael O'Donnell falou
com o supervisor por 2 semanas...
...explicando o ***édio *** que
sofreu do arcebispo Rushman.
Também é falso, Sr. Procurador, que
resolveu, na época, que seu amigo...
...não seria julgado
por nada daquilo?
Ele lhe devia muito, John.
Deve ter ficado furioso
quando ele abandonou South River.
Ele disse: ''Não aguento mais''?
Ele disse: ''Não!''
Você e seus investidores tinham
60 milhões de motivos para matá-lo!
- Seu veado!
- Chega! Testemunha dispensada.
- Vail, já para o meu gabinete.
- Foi por Joey Pinero, babaca.
Comece a procurar emprego.
Acha que pode usar meu tribunal para
suas vinganças e contas pessoais?
Está redondamente enganado.
Vou considerar esse depoimento
irrelevante e retirá-lo dos autos...
...e vou multá-lo em um total
de US$ 1 0 mil.
Está dizendo que não obterei um
julgamento justo no seu tribunal?
Tenha muito cuidado, Sr. Vail.
Está pisando em terreno perigoso.
Quer que faça o cheque
nominal à senhora?
Quer que o retire desse caso?
Está debochando do meu tribunal,
e eu não vou permitir.
Sugiro que represente seu cliente
e pare de representar a si mesmo.
- Podemos fazer isso mais tarde?
- Não, quero continuar.
- Estou muito, muito cansado.
- Sim, seu sei.
Por que falar de
Linda Forbes o aborrece?
Não me aborrece. Eu só...
- Tudo bem.
- Desculpe. Desculpe.
- Sabe o que posso fazer com isso?
- Como vou saber, droga?!
Dra. Arrington, quanto tempo
passou com Aaron Stampler?
- Cerca de 60 horas.
- O que descobriu na avaliação?
O Sr. Stampler sofre de
processo dissociativo agudo.
- Síndrome da múltipla personalidade.
- Protesto, meritíssima.
Ela só está declarando
o que observou em pessoa.
- Meritíssima.
- Doutores.
- Sei o que está fazendo.
- Nos dá licença um minuto?
Se ele quer questionar
a sanidade do cliente...
Quero estabelecer uma base
médica para a amnésia.
Não é isso que ele quer.
Está dizendo que ele é louco.
- Está?
- Não estou, não.
Permitirei que prossiga com
a testemunha se tiver muito cuidado.
Com certeza. Sim.
Escreva o que ele disse.
Muito bem, onde estávamos?
Agora, poderia Aaron Stampler...
...estar presente no homicídio
do arcebispo Rushman...
- ...e não se lembrar?
- Sim, ele poderia.
Pode explicar, por favor?
O estado de Stampler era tal que
seu corpo estaria presente no crime...
...mas sua mente seria
incapaz de recordá-lo.
- Como seria possível?
- Esse mecanismo neurológico...
...começou com o abuso
sofrido nas mãos de seu pai.
Como defesa, a psique de Aaron se
dividiu em duas personalidades.
- Meritíssima.
- Não fui eu que falei. Não fui eu...
Foi avisado duas vezes.
Quer continuar nessa linha?
Sugiro que pense muito bem
antes de responder.
Meritíssima, uma última pergunta.
Muito bem, Dra. Arrington...
...em sua opinião, Aaron Stampler
é capaz de matar?
Não, ele foi traumatizado demais
para expressar raiva e frustração.
Ele mantém as emoções
reprimidas...
...motivo pelo qual
ele criou Roy, que é capaz...
- Protesto.
- Já chega, Sr. Vail.
O júri ignorará a última declaração
da testemunha, e o tribunal também.
- Promotora, quer inquirir?
- Com toda a certeza!
Já que tocou no assunto contra
as instruções do tribunal...
...síndrome da múltipla personalidade
é sua principal especialidade?
Não é minha especialidade.
Seu primeiro campo de estudo
é psiquiatria criminal?
- Não, sou neuropsicóloga.
- Entendo.
Então não tem experiência criminal
e é mais uma acadêmica?
Então, perdoe-me essa
pergunta bastante acadêmica.
Estou dirigindo e alguém
me dá uma fechada.
Penso: ''Podia matar esse cara'',
mas não mato, não é?
- Espero que não.
- Exatamente.
Coisas acontecem conosco.
As pessoas nos ofendem.
Mas nem todos inventam psicopatas
para fazer o trabalho sujo, não é?
Não estou sugerindo que a senhora
tenha múltiplas personalidades.
- Disse que o Sr. Stampler tem.
- Eu já sei, nós ouvimos.
Também disse que conheceu esse...
Como é mesmo o nome dele?
- Roy.
- Roy de quê?
- Ele não deu sobrenome.
- Sei...
Esse tal Roy lhe disse que
assassinou o arcebispo?
O Sr. Vail estava com ele,
eu estava do lado de fora...
...mas, pouco depois, entrei na sala
e vi tanto Roy...
...quanto sua transformação
de volta em Aaron.
E a senhora tem a fita
dessa aparição de Aaron...?
Ah, desculpe.
Não consigo me acostumar com o nome.
- Roy.
- Tem a fita?
- Não, a câmera estava desligada.
- Desligada?
Não tem nenhum registro
dessa aparição.
- Não.
- Não.
- Aaron sabe o que é certo e errado?
- Ele sabe, sim.
- Se Aaron trucidou o arcebispo...
- Protesto.
Se Aaron matou
o arcebispo...
- ...ele saberia que violou a lei?
- Saberia, sim. Mas não foi Aaron...
Ora, eu sei, doutora.
Foi Roy.
É só.
Sem mais perguntas, meritíssima.
A testemunha pode descer.
Se quiser reabrir o caso e chamar
os psiquiatras da promotoria...
- ...eu certamente concordaria.
- Não, eu...
Não creio que seja necessário.
Todos entendemos o que aconteceu.
Sr. Vail, está pronto para continuar?
Quer um recesso?
Roy?
Aaron.
Pode nos falar sobre sua relação
com o arcebispo?
Bom, ele era como um pai para mim.
Eu o amava muito.
Por que o amava?
Por quê?
Bom, ele... ele salvou minha vida.
Foi a única pessoa que me tratou
como se eu valesse alguma coisa.
Pare de choramingar, maricas.
Seja homem.
Todos nós vimos a fita em
que você aparecia, Aaron.
Como se sentiu? Mudou de idéia
sobre o bispo Rushman?
Não.
Ele era um homem maravilhoso.
Então, não sentiu raiva dele por
obrigá-lo a participar da fita?
Não, ele fez tudo por mim.
Não havia outra coisa que eu
pudesse fazer por ele, e ele precisava.
Conhece alguém chamado Roy?
Não, senhor.
Ouviu a Dra. Arrington contar
o que ela e eu vimos na prisão.
Aconteceram coisas estranhas lá.
Você se lembra?
Ouvi o que ela disse,
mas não me lembro de nada.
Matou o arcebispo Rushman?
Não matei, não, senhor.
Obrigado.
Sua testemunha.
Sr. Stampler,
quer um pouco de água?
- Não, senhora.
- Tem certeza?
Sim, senhora.
Sr. Stampler, acha que o
arcebispo usava máscaras?
Desculpe, o que disse?
Acha que ele agia de um jeito em
público e de outro em particular?
Não, não acho, não.
Não foi por isso que sublinhou
a passagem de Hawthorne?
Sr. Stampler?
Não, não sublinhei aquele livro.
- Não o sublinhou?
- Não, senhora.
E não entalhou os números
do trecho no peito dele?
Não, senhora, eu não.
Eu lhe disse que...
Você o amava.
Você o amava como um pai.
Mesmo que ele tenha feito
você e sua namorada...
...realizarem atos sexuais sórdidos
para seu próprio prazer.
Não, a senhora não entende. Ele...
Não havia outro jeito dele
expulsar seus demônios. Ele...
Ele precisava gozar, Aaron.
Era isso que ele estava fazendo.
Para isso ele precisava de você.
Para diverti-lo como animal de circo.
- Era essa sua função na vida dele.
- Não.
Ah, Sr. Stampler, vou lhe perguntar
uma vez porque estou cansada.
Já suportei demais essa sordidez,
e quero ir para casa.
Quero lavar as mãos e
esquecer tudo sobre você...
...e o arcebispo Rushman.
O arcebispo obrigou você,
sua namorada e outros...
...a ter relações sexuais enquanto
ele assistia? Sim ou não?
- Sim, ele obrigou, mas...
- Sim, sim, ele os obrigou.
Ele os obrigou com a ameaça de
expulsão da Casa do Salvador...
...para uma vida na rua, sem
aquecimento, água, ou comida.
Ele o botou na frente de uma câmera!
Ele o fez tirar a roupa!
E não acha que isso
é um outro lado?
A outra face de um homem
que todos pensávamos...
- Não! Não.
- Se fizessem isso comigo, eu matava.
Eu o esfaquearia 78 vezes
com uma faca de açougueiro!
Eu deceparia seus dedos!
Eu lhe rasgaria a garganta!
Eu entalharia números em seu peito!
Eu lhe arrancaria os olhos! Eu juro.
Mas isso sou eu.
- Sem mais perguntas.
- Aonde pensa que vai, droga?
Olhe para mim quando
eu falar com você, vaca!
Vai se ferrar, dona! Vem cá!
Ordem! Meirinho! Ordem!
Vamos jogar duro! Vamos!
Para trás!
- Roy!
- Cheguem mais e quebro-lhe o pescoço!
- Venha conversar comigo.
- Dane-se, Marty! Estou caindo fora!
Não! Não! Não se... !
Está bem?
Nem pense em acender
esse cigarro, Srta. Venable.
- Como está o pescoço?
- Vou sobreviver.
Eu poderia chamar um médico.
O Sr. Shaughnessy ligou para me dizer
que o julgamento não será suspenso.
- Como se tivesse o direito.
- Não acredito que...
...aquele vagabundo
teve a ousadia de ligar.
Não, obrigado.
lnteressa-me o que tem a dizer.
Sua causa foi prejudicada.
Por justiça com a promotoria,
eu declaro a suspensão...
...a despeito do que Shaughnessy
ou Vail pensem, se é o que quer.
A promotoria não quer litigar mais
esse caso, mesmo se pudesse.
E não pode.
Ao menos, não comigo.
Acho que posso lhe garantir
que não há ninguém...
...no departamento que aceite.
Então, cabe à senhora.
Vou dispensar o júri em favor
de uma sentença direta...
...e uma alegação imediata de inocência
por motivo de insanidade, sim?
O réu será devolvido a Elgin para
um período de avaliação de 30 dias.
Que eles decidam a duração
de sua internação.
- Algum problema?
- Ele sai em um mês.
Reclame com o Legislativo,
Srta. Venable.
Eu vou para casa.
- Meritíssima.
- Não vou devolver sua multa.
Da próxima vez que quiser livrar um
cliente por insanidade, declare logo...
...ou farei que seja expulso da Ordem.
- Você está bem?
- Se estou bem? Pareço bem?
Fui atacada por um tarado maluco,
perdi a causa e perdi o emprego.
Não estou bem, não, mas você venceu,
fez-se justiça. Quem liga, não é?
Parabéns.
Você sabia, não é?
Sabia que se eu o pressionasse,
ele ia estourar.
Eu sabia que ele reagiria
se fosse ameaçado.
Quem o faria melhor que eu?
Você me usou.
Usei, sim. Não tive escolha.
O que ''usei'' de tão terrível?
Sabia que faria seu trabalho,
que enfrentaria Shaughnessy.
Sabia que tentaria vencer a causa.
O que isso tem de errado?
- Perdi o emprego!
- Ótimo, devia ter saído há anos.
- Sempre sabe o que é melhor para mim.
- Sou arrogante.
Sou muito...
...muito arrogante.
- Quer dançar?
- Não.
- Certeza?
- Tenho.
Só precisa virar para cá.
Não.
Não.
Preciso ir ver meu cliente.
- Quero um minuto a sós com ele.
- Tem certeza?
Tudo bem?
Estou com dor de cabeça.
Você não lembra
do que aconteceu?
Não?
Eu perdi o tempo de novo.
Ora, eu tenho boas notícias.
Concordaram em
parar o julgamento.
Vão mandá-lo para um hospital...
para obter a ajuda de que precisa.
Há uma boa chance de que
possa sair muito em breve.
Sim.
Não consigo acreditar.
- Não sei o que dizer, Sr. Vail.
- Está tudo bem.
Eu soube no momento em que entrou
na minha cela que tudo ficaria bem.
Salvou minha vida.
Preciso ir.
- Quando o verei de novo?
- Agora, é com o tribunal.
Não quero que se preocupe.
Vou ficar de olho no caso, viu?
Obrigado.
- Ligue para mim, se precisar.
- Eu ligo.
- Sr. Vail?
- Sim.
Quer dizer à Srta. Venable
que eu lamento?
Diga a ela que espero que
o pescoço dela esteja bem.
Sim.
- O que foi que disse?
- Como?
Disse que não se lembrava.
Que perdera os sentidos.
Como sabe sobre o pescoço dela?
Ora, muito bem, Marty.
Eu ia deixar barato.
Estava com uma cara tão feliz.
Eu fiquei pensando...
Para falar a verdade,
foi bom você descobrir.
Eu estava doido para lhe contar.
Só não sabia de quem
você ia ouvir.
Aaron ou Roy, Roy ou Aaron.
Bom, vou lhe contar um segredinho
tipo confidência de advogado e cliente.
Não importa de quem você ouça.
A história é a mesma.
Eu simplesmente...
Eu tive de matar Linda, Sr. Vail.
A putinha recebeu
o que merecia.
Mas... cortar aquele
canalha do Rushman...
Aquilo foi uma obra de arte.
Você é bom.
Você é muito bom.
É, mas eles me pegaram, não foi?
Então, nunca houve...
nunca houve um Roy?
Meu Deus, Marty. Se é isso
que pensa, você me decepciona.
Nunca houve um Aaron, doutor.
Qual é? Achei que tinha
adivinhado no fim.
O modo como me pôs para depor
foi brilhante.
A coisa toda do ''seja homem''.
Eu sabia o que você queria.
Parecia que estávamos
dançando, Marty!
- Guarda.
- Não fique assim, Marty.
Nós conseguimos, cara! Conseguimos!
Somos uma dupla e tanto, você e eu.
Acha que eu conseguiria
se não fosse você?
Está zangado porque começou
a gostar do pobre do Aaron, mas...
...é dor de amor, Marty.
O que quer que eu diga?
Estou brincando, cara!
Não queria magoar você!
O que mais eu deveria fazer?!
Vai me agradecer no futuro, pois
isso vai fortalecê-lo, Martin Vail!
Está me ouvindo?
Eu lhe garanto!
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