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Alguns contos de fadas são verdadeiros.
A maioria é inventada para nos ajudar
a lidar com a vida.
Tudo depende do ponto de vista,
mas estes são os factos.
Era uma vez uma princesa
que vivia num castelo,
a grande altitude, sobre as ruas
de um reino encantado.
O rei e a rainha haviam partido há muito,
mas tinham deixado o seu tesouro,
para ela poder ser princesa para sempre.
Na noite do seu 22º aniversário
havia uma grande festa planeada.
Atendedora da Molly.
Diga o que tem a dizer.
Ó aniversariante. Atende.
O Huey e eu estamos á tua espera.
Acho bem que estejas a caminho.
- Aposto que ela ainda está a dormir.
- Acorda.
Atendedora da Molly.
Diga o que tem a dizer.
Aqui fala o Justin.
Por favor...
Dá-me mais cinco minutos,
e eu faço-te feliz.
Amo-te.
Não pode transformar o corredor
numa estufa, Menina Gunn.
Boa noite, Sr. McConkey.
Dê os meus cumprimentos á sua esposa.
Adeus. Tenha uma boa noite.
Eu alertei a administração.
Eu pus as flores lá em cima,
mas isto é demasiado.
- Tem namorada, Tony?
- Mas não cabe neste fio dental.
Mande tudo para o Salvation Army.
Você é o maior.
Ingrid, sou eu.
- Onde estás?
- Adormeci. Estava a ver televisão...
Foi uma sesta premeditada.
Fizeste-me isto de propósito.
Tu és a minha melhor amiga.
Como podes pensar uma coisa dessas?
É como se me apunhalasses no coração.
Esquece. A nossa pequena festa
cresceu um bocado.
O Huey e eu estamos aqui com os teus
melhores amigos, para te desejarmos...
Feliz aniversário.
Pensei que estavas a ligar de casa.
A miúda mais gira do mundo chegou.
Feliz aniversário.
- Surpreendemos-te, não foi?
- Sim. Pensei que éramos só nós.
Que raio de amigos achas tu
que nós somos?
Olha para isto. Isto é uma festa, certo?
Tens 22 anos? Eu acabei de fazer 19 anos
e tive vontade de me suicidar.
- Estás muito bonita. Queres uma bebida?
- Não, obrigada.
Eu quero fazer contactos, Molly.
Olha para aquelas miúdas.
São lindas, naturais e sensuais.
- Uma beleza assim é universal.
- Têm um ar muito jovem.
O que eu adoro nas mulheres é que vocês
se aceitam umas ás outras como são.
Lembras-te da Julie e da Holly,
do Comité Júnior da MoMA?
Feliz aniversário.
Adoro o teu gancho de cabelo.
- Issey Miyake?
- Home Depot.
Podes levar injecções de Botox
para tratar dessa ruga na testa.
Face Factory.
Não é preciso marcar consulta.
Porque tenho eu
uma ruga de preocupação?
Porque é que isso
há-de interessar a alguém?
- Desculpa?
- Eu já tive uns sapatos desses.
Quando tinha cinco anos.
E isso foi há três dias?
- Diz antes três anos.
- Desculpa, Polegarzinha.
Tu és nova demais para vir a discotecas,
não és?
E tu és velha demais para usar um abajur
no cabelo. Que ideia brilhante.
Trouxeste o teu sabonete pessoal?
Se queres apanhar meningite viral
ou polio, estás á vontade.
Mas isso não é nada, comparado com
as doenças que provavelmente já tens.
Aqui estás. Até que enfim te encontro,
seu diabrete. Vem cá.
Eu sei que tu tens dificuldade em ler
algo tão simples como um letreiro.
Eu ajudo-te.
Esta é a casa de banho das senhoras.
- Qual é a tua desculpa?
- Dá-me a minha carteira.
É a filha da minha patroa.
Este mês despediram a terceira ama.
Ela tinha as unhas sujas. Era ela ou eu.
- A minha carteira?
- Está comigo.
- Eu sou horrorosa?
- O quê?
És a minha melhor amiga,
o teu dever é não me mentires.
Estou-me a tornar numa bruxa horrorosa?
Podes ter qualquer um destes homens.
O que é que te deu?
Meu Deus.
Vou-te mostrar uma coisa. Anda cá.
- Senta-te.
- Só me faltava esta. Outra vez tu.
Obrigado por me terem convidado.
Onde está essa aniversariante?
Tudo bem contigo? Esta é para ti.
Quem é aquele?
É o Neal Fox. Encontrei-o a tocar numa
espelunca na cidade. Ele é o máximo.
- Posso tê-lo como prenda de anos?
- Não.
Eu trouxe-o para a Roma o ouvir. Além
disso, ele não quer nada com raparigas.
É celibatário, como o Morrissey.
Só se dedica á música.
Tu não reconhecerias a verdadeira
música, nem tocada por Mozart.
- Façam pouco barulho, vocês os dois.
- Pouco barulho?
Este sítio é tão barulhento
que me está a causar uma enxaqueca.
Mãe.
Está a falar com o Naz. Andamos a tentar
que ele assine um contrato há meses.
- Podes calar-te?
- Quero ir para casa.
- Eu acabei o meu disco novo e...
- Espectacular, Duncan.
Foi bom ver-te. Onde está ele?
O Huey diz que ele é quase um monge.
Onde queres chegar com isto?
Só o queres porque sabes
que não o podes ter.
Ele é um poeta do rock-and-roll,
um deus do sexo.
Vais largá-lo dentro de uma semana.
Este é diferente. Eu sinto-o.
Foste muito bom.
Desde o último álbum do Jeff Buckley
que não ouvia algo tão bom.
Vês? O que é que eu te disse?
- Ele é o máximo, não é?
- Estiveste muito bem.
Se eu não dormir 8 horas,
o meu sistema imunitário colapsa.
- Grava uma demo. Algo up-tempo.
- Vá lá.
- Combina com o Huey. Nós pagamos.
- Vá.
Vês? Ela percebe. Eu percebo.
Tu não percebes.
- Espera.
- Tens de perceber.
Acho que conseguimos um Grammy.
- Detesto aquela...
- Crianças. Sempre a chamar a atenção.
- A aniversariante.
- Parabéns.
Isso da demo é a sério?
Ela vai-te contratar.
Sinto-o nos ossos.
Estás lançado, meu.
És mesmo a filha do Tommy Gunn?
A sério?
Podes segurar na minha carteira?
Obrigada.
Dá uns ares de família.
Todas as guitarras dele estão aqui?
Queres ver com os teus próprios olhos?
Podes esperar aqui um segundo?
Obrigada.
- Posso?
- Bem-vindo ao Chateau Chez Molly.
Que bonito.
- O que é aquilo?
- O Mu.
- Queres dizer, o "óink"?
- Mu significa porco em tailandês.
Ele ia ser o meu jantar de caril, uma noite,
em Bangkok, mas nós apaixonámo-nos.
Se esperares aqui,
eu preparo alguns doces e bombons.
Meu Deus.
- Parece que as encontraste sozinho.
- Nem acredito.
Esta é a acústica que o Muddy Waters
deu ao Tommy Gunn.
- Ele tocou-a em Budokan.
- No Verão de 1988.
A menina do papá
És tu.
Pinta o mundo com a sua varinha mágica
- Por favor, não cantes essa canção.
- Vá lá, "A Molly sorri".
Para mim
E depois ele e a minha mãe morreram.
- Eu não tinha intenção de...
- Não faz mal.
E agora?
E que tal a sobremesa?
- Eu vou saber pronunciar o nome?
- Não sei.
Consegues dizer "PEZ"?
Não é suposto eu actuar impulsivamente.
Nesta linha da sobriedade.
Fiz um voto. Ainda não o quebrei.
Há 224 dias que não bebo álcool.
E também é suposto eu não ter
relações românticas no primeiro ano.
Chama-se a lei
do comportamento contrário.
Quando quero beber álcool, não bebo.
Quando quero baldar-me a um concerto,
obrigo-me a ir.
Quando conheço uma rapariga e quero
que ela me visite, mando-a embora.
Estes são votos que não quebrei.
Navios cruzam a noite como fantasmas
Nomes esquecidos, rostos visíveis
Fazemos o que podemos
para sobreviver
- Meu Deus, é o máximo.
- É a coisa mais avançada que já fiz.
Não. O roxo significa a realeza do rock,
e realça o tom dos teus olhos.
És quente demais
para esses tons de terra.
Mas e a canção?
É demasiado rápida, demasiado lenta?
É assim sempre a mesma coisa,
repetitiva.
Isso é um refrão, ou um bom coro?
O refrão?
Eu não faço refrões. Não sou um vendido.
Não visto roxo nem faço refrões.
Tudo bem.
- Pensei que estavas morta.
- O Neal está no quarto ao lado.
Ele ainda aí está? Fazes sempre isto.
Quando é que cresces?
Nunca mais se vai embora. Anda aí,
desanimado, a cantar canções de falhado.
Ajuda-me. Não sei como hei-de livrar-me
dele sem lhe dar um desgosto.
Espera.
Só um minuto.
Sinto-me completamente sufocada.
Podes despir isso?
Eu depois telefono-te.
Querido, eu não sou
uma máquina de amor.
Podes devolver-me os meus boxers,
se fazes favor?
O que se passa?
Tenho de me ir embora.
Ir embora?
Ir embora para onde?
Para casa. O sítio onde eu vivo. Onde
tenho a minha vida, lavo roupa, durmo.
- Tento compor música.
- Porque é que não podes compor aqui?
Isto é um mundo de loucos.
Sinto-me do outro lado do espelho.
Há uma semana de restos na cozinha,
muita roupa por lavar.
Chamamos o serviço de limpeza.
Chama-o tu. Eu tenho de regressar
á raça humana.
- Não percebo.
- Ouve.
Sinto-me a sufocar. Preciso de ar.
- Podemos abrir as janelas.
- Não tem a ver com as janelas.
Preciso da minha camisa.
Esqueci-me de comprar cordas novas.
Tenho cinco concertos esta semana
e ainda não preparei nada.
Tenho de ir trabalhar.
Depois telefono-te. Juro.
Meu Deus. Este sítio está
mais grotesco do que o costume.
Está pós-nuclear.
98 mensagens?
A tua atendedora tem 98 mensagens.
Escreve-as para mim, está bem?
Ele foi-se embora. Não tenho vida.
O quê?
"Claro que tens vida.
Não preciso de to dizer."
- É o que tu devias dizer.
- Desculpa.
Sou a tua melhor amiga,
é o meu dever não te mentir.
Além disso, tu querias ver-te livre dele,
lembras-te?
Queria?
- O que são estes avisos finais?
- Vou-lhe telefonar.
Acho que agora é boa altura
para lhe telefonar.
Passas-me o telefone?
Vou-lhe telefonar e é já.
Concentra-te um segundo.
A luz e o gás foram cortados.
Quem paga as tuas contas?
O Bob.
- Quem é o Bob?
- O empregado dos meus pais, o Bob.
O telefone não dá sinal.
Esta casa parece tão vazia
sem o som da sua música.
O número do Bob foi desligado.
Meu Deus.
A menina não foi a única a ser roubada.
O Bob Kopalski tinha dez clientes.
Levou com ele
mais de 100 milhões de dólares.
E nada disso está no seguro?
Que desastre.
Graças a Deus pelos residuais.
O Bob Kopalski fez tamanhos avanços
sobre as receitas de direitos de autor,
que a Menina Gunn vai acabar
na segurança social.
Para onde foge alguém
com 100 milhões de dólares?
- Supomos que para a América do Sul.
- Não o podem processar?
Meu Deus. Como é que ele foi capaz
de Ihe fazer isto?
Ele vai voltar. Eles voltam sempre.
Se ele voltar, será dentro de uma carrinha
do FBI a caminho da prisão,
e você tardará anos a ver um tostão.
Na melhor das hipóteses.
Sr. Feldman,
como advogado,
pode aconselhar-me acerca do que devo
fazer entretanto, quanto a dinheiro?
Arranjar um emprego?
Caro futuro empregador, embora eu não
tenha experiência profissional prévia,
tenho uma lista de recomendações
e contactos.
O Dalai Lama, Tibete?
100º% algodão egípcio.
Não há homem que resista
a algodão egípcio.
O Tibete é um país, não é um contacto.
Porque não escrever "Terra",
para eles saberem onde fica?
- Isto não é um CV.
- Mostra que tenho contactos.
Concentra-te na entrevista.
Olá. Prazer em conhecê-la.
Eu faço horas extraordinárias, fins
de semana, férias, Yom Kippur, Natal.
Não será necessário. A Ingrid disse que
vocês se conheceram em Darlington?
- Fui a melhor da turma durante dois anos.
- Isso é o máximo.
Quanto custa um conjunto destes?
$1369. Mais IVA.
Estás em recusa. Não podes pagar isto.
Estás falida.
Trish, os empregados têm desconto?
Dez por cento. Alguns são
dos nossos melhores clientes.
Vou comprá-los.
Este emprego é espectacular.
Quem é?
Estive a fazer compras nas redondezas.
- À meia-noite?
- Esta é a cidade que nunca dorme.
Tenho de estar no estúdio ás nove.
Não posso portar-me como um ***.
A sério? Desde a primária
que não vejo lençóis assim.
- Foguetões?
- Trouxeste o meu casaco?
É o meu casaco da sorte. Nunca toco
sem ele. Deixei-o em tua casa.
Não. Vais ter de vir buscá-lo
a minha casa.
Não posso desaparecer do mundo
outra vez.
Não posso perder-me neste
comportamento obsessivo-compulsivo.
Sente isto.
- Como?
- Sente isto.
Algodão egípcio.
100º%.
Já sei. Talvez possamos sair juntos.
Mas terá de ser
uma relação adulta, madura,
com despertadores de manhã.
- Eu adoro despertadores.
- E trabalho durante o dia.
Comemos com talheres - garfos, facas.
Bebemos de copos.
Lavamos a louça.
Já são horas de ir para a cama?
Acorda.
Desculpe. Isto não vai resultar.
Passas a noite toda em casa dele,
e adormeces no emprego.
Não acredito que me fizeste isto.
Sei que sou uma lesma indigna,
mas podemos falar disto ao almoço?
O almoço foi cancelado,
porque não tens dinheiro para o pagar.
Tudo bem. E eu ralada.
Vou viver de água e luz do sol.
Não precisas. Mais uma vez,
o Huey vai-te safar.
- Vais-me lançar na música.
- Não exactamente.
Meu Deus. Tu és a minha nova ama?
- Olá, Laraine.
- Ray.
Ninguém me chama Laraine.
Eu sou a Molly. Conhecemo-nos
na minha festa de anos.
- Estás atrasada.
- Um segundo.
Três minutos e meio.
Tenho de tomar o Aciphex ás 4:26,
e agora são 4:18.
- Toma-lo quando chegarmos a casa.
- Essa é a hora do Coliatin.
Devem estar a ficar desesperados
na agência.
Eu tenho qualificações únicas
para este emprego,
tendo passado tanto tempo a desenvolver
as minhas relações públicas.
- Missão cumprida?
- Ponche de fruta?
Porque não bebes cianeto?
Ao menos é rápido.
Bolas.
Pendura aqui o teu casaco.
O que é isto, The Shining?
- Quem é aquele?
- Ninguém.
- O que tem ele?
- Não é da tua conta.
Sapatos.
Este é o teu quarto?
A ti ninguém te engana, pois não?
É tão...
... organizado.
Que fixe. Lembro-me quando só havia
4 modelos. É incrível.
É linda.
É a Polly que faz pliés.
Põe-na onde estava.
Não é um espectáculo?
Olha-me só
para este servicinho de chá.
Não tocas nisso, a menos que eu
te convide para tomar chá.
- Olha-me estes scones tão giros.
- Sai daí.
Menina Sassafraz,
quer crème fraîche
com os seus queridos bolos?
Deixaste o meu scone de plástico
cheio da tua baba infecta, sua anormal.
Já foste a um psiquiatra?
Desde os três anos de idade.
- O quê?
- Boa tarde, Menina Ray.
O jantar está pronto.
Não há nada como uma boa ajuda.
Deixaste uma mancha.
Não é suposto ser a criada
a lavar a louça?
- Ela deixa sempre manchas.
- E tu destróis o meio ambiente.
Por cada rolo de papel que desperdiças,
morre uma árvore na floresta.
E eu posso morrer com botulismo por
causa dos germes dessa toalha nojenta.
Ao menos eu não prefiro tofu
a hambúrgueres normais.
E eu não vou apanhar a doença
das vacas loucas.
Mas tu nem sequer tens cérebro
para pifar.
Mas ao menos não tenho a toalha nojenta
e infestada de germes na mão.
- Dá-me esse prato.
- Ainda o infectas.
Porque não vais buscar penicilina?
- Não.
- Vá lá.
- Dá-me esse prato.
- Estás desesperada por ele?
- Vai buscar uma vassoura.
- Vai tu buscar a porra da vassoura.
Quando trabalhas para mim,
vais-te embora quando eu disser.
Eu não trabalho para ti.
A tua mãe é que me contratou.
Ah sim? Olha á tua volta.
Estás a vê-la nalgum lado?
Para tua informação: nem verás.
A menos que marques uma entrevista.
Ou esperes á frente do quarto dela
ás três da manhã.
Entretanto, trabalhas para mim.
Ah é?
Para tua informação, ó Mussolini.
Despeço-me.
Porta de batente.
- Sente-se bem, Menina Gunn?
- Óptima.
Meu querido.
O que estás a fazer cá fora sozinho?
Como é que ficaste trancado cá fora?
A mamã teve cá um dia.
Eu vivi aqui durante 20 anos.
Como é que me podem fazer isto?
Além disso...
Este é um prédio decente.
Procure um sítio mais adequado para si.
Como Los Angeles.
Só poderá entrar no seu apartamento
acompanhada.
O tempo suficiente para recolher
os seus pertences.
Os pertences pessoais
que não retivermos como compensação
da renda e serviços que deve.
De resto, o acesso ao apartamento
está-lhe vedado.
Esta é uma mudança muito grande,
mas em breve vais sentir-te em casa.
Este é o quarto. O meu quarto, claro.
Mas tens muito espaço nas gavetas,
se precisares.
Aqueles vermes puseram na rua
uma mulher desamparada.
Já não há cavalheirismo.
Aqui é a casa de banho.
Pus toalhas para ti.
Eu já cá estive milhares de vezes.
Sabes onde é a cozinha. A Julie e a Holly
vêm fazer bolos ás quintas.
E ás segundas a Penny e a Ethel
vêm fazer yoga com o Rajiiv na sala.
Mas isto vai ser um problema.
Não é estranho
o Neal não me ter telefonado?
O que é estranho é vestires o casaco dele.
Eu disse-te para trazeres o essencial.
Não podes ficar com isto tudo.
E, definitivamente, ele tem de ir.
O que vamos fazer?
Reduz. Purifica. Flui.
Encontra o teu centro.
Tens razão. E vamos-te dar o melhor
presente da tua vida.
Não sejas tonta. Vai ser suficientemente
difícil para ti pagar metade da renda.
Excelente. Amanhã começamos a ensaiar
para o recital do próximo mês.
Mas acho que ainda temos 5 minutos.
Que tal um pouco de freestyle?
Dançaste muito bem.
Eu só...
Sabes, gritei-te no outro dia, e isso.
Desculpa.
- O que estás aqui a fazer?
- Eu telefonei á Roma, a tua mãe...
Ela disse que, se tu concordasses,
eu podia voltar.
Estás á experiência.
Porta-te de acordo com a tua idade.
Porque saíste da aula tão cedo?
O freestyle parecia divertido.
O freestyle é para crianças imbecis
e hippies anormais.
É divertido.
Os essenciais são a base do divertimento.
- Quem disse?
- Mikhail Baryshnikov.
Alguém de quem nunca deves
ter ouvido falar.
O ballet baseia-se na precisão,
disciplina e equilíbrio.
Nós tínhamos ballet em Darlington.
Eu ansiava por improvisar.
- Figuras. Sua simplória desleixada.
- Sua tirana, caixa de comprimidos.
- Nunca me faças isso.
- Estás a magoar-me.
Tu também me magoaste.
Retira o que disseste.
Retira o que disseste.
Está bem.
Retiro o que disse.
Ainda bem.
Senão, não te dava a tua surpresa.
Surpresa?
Detesto surpresas. Duvido que me possas
dar algo que eu não tenha.
Não custa nada tentar, pois não?
Estás bem?
As minhas glândulas incharam.
É reacção alérgica.
O meu sistema imunitário
foi-se abaixo.
O Mu só passou uma noite contigo.
Vá lá.
E não passa nem mais uma.
Não foi giro levá-lo a passear?
Foi uma aventura a sério.
Bem sabes que gostaste.
- Não vou ser guardadora de porcos.
- Quanto custa este taco?
Este taco não está á venda. Foi engano.
- Tu não jogas golfe.
- Foi o Tiger que mo deu.
Essenciais. Livra-te desta tralha.
Isto é essencial.
- 20 dólares.
- Dez.
- Vendido.
- Posso falar contigo um momento?
Anda por aqui.
Preciso que me faças um favor.
Esta é a Kelli. Kelli, esta é a Molly.
Fica-lhe quase tão bem como te fica a ti.
Parece que, para além do Mu,
tens mais amigos porcos.
Vai-te embora.
Deve ser difícil desfazer-se
de tanta coisa fixe.
Não. Na verdade, estou a adorar.
É muito refrescante.
Acho que todos deviam fazer isto,
livrar-se do mau...
Espere. Desculpe. Com licença.
- Isto é meu.
- Acabei de o comprar.
Eu sei. Quanto pagou por ele?
- 30 dólares.
- É um Anna Molinari. Dou-lhe 50. 75.
Pára com isso.
Estamos a reduzir, lembras-te?
A livrar-nos do excesso
e encontrar o nosso centro.
É o que tu queres.
Fecha os olhos e repete comigo.
Eu quero isto.
Estamos prontos para fechar
esta sala.
Dão-me mais cinco minutos?
- Claro.
- Obrigada.
És tu?
O teu pai é uma estrela de rock?
Era. Morreu.
Aposto que isto vale uma fortuna.
Não as posso vender.
Eram dos meus pais.
Não, vais encaixotá-las para ficarem
numa arrecadação a acumular pó.
Meu Deus, és patética.
Aquele homem na biblioteca da tua casa.
A enfermeira disse que ele teve
um derrame e entrou em coma.
É o teu pai?
Era. Agora é um vegetal.
Em breve será nada.
Que duro.
É um mundo duro.
Olha por onde andas.
Neal, detesto atendedores.
Onde estás?
Ainda tenho o teu casaco.
Sei que tens andado louco á minha
procura, mas tenho estado em transição.
Agora sou a Miss Proletariado.
Lavo o chão, trato da fedelha
e recebo o cheque á sexta-feira.
Sou mulher. E tu?
Merda.
- Lava debaixo da cauda.
- Não lhe vou passar a mão no tutu.
Queres que ele fique aqui ou não?
Ai caramba!
- Está na minha cama.
- Calma.
Muito bem. Saiam de postura
de arado. Excelente.
Respirem. Isso. Mula bandha. Muito bem.
Molly, saia da posição. Vá. Liberte-se.
Não se importa de me ajudar?
Já começa a doer.
Meu Deus.
73. Lindo.
74. 75. Muito bem.
76. 77.
- Deixa-me só põr mais alguns destes.
- Já está.
Cintura.
Ficas encarregue dos biscoitos
de chocolate.
Já estão prontos, só tens de os põr
no forno e programar o tempo.
Marota.
Vais deixá-la fazer isto?
Calma. São só biscoitos.
O que poderia correr mal?
- Meu Deus!
- Apaga o fogo!
Este é o casaco do Neal.
Retira o que disseste. Já.
O que estás a fazer?
Enlouqueceste?
Nunca há desculpa para bater em alguém.
O que aconteceu?
Ela riu-se porque a au pair dela disse
que a minha ama é uma pega desleixada.
Esta é a casa da Ingrid. Deixe o seu
telefone e a hora. Seja específico.
É o Neal, queria falar com a Molly.
Espero que este seja o número certo.
Adoro a Ingrid
e as suas amigas pretensiosas.
Aquilo lá em casa
é uma festa de estrogéneo.
Uma rapariga precisa de uma injecção
de testosterona de vez em quando.
Não que eu pense em ti nesses termos.
Tu és super-sensível.
Não sejas tontinho.
Deixa-me patrocinar as artes.
Bom, na verdade,
acabei de assinar um contrato
com a Schleine Records.
Meu Deus. O quê?
Incrível. Espectacular.
Porque não disseste nada?
Eu teria dito, mas é a primeira vez
que me deixas falar, esta noite.
Então como é que fechaste o contrato?
Navios cruzam a noite como fantasmas
Nomes esquecidos, rostos visíveis
Fazemos o que podemos
para sobreviver
Eu conheço esta. É a profunda.
As palavras trocam beijos futuros
Deixas-me marcado, confuso
Vou ver o que nasce daí
Não escondas o que eu preciso,
agora amo-te tanto
Lençóis de algodão egípcio
Procurei bem fundo
e encontrei o refrão interior.
Lá isso encontraste.
E isso pede...
Um exterior a condizer.
- O que é isso?
- O teu casaco da sorte.
O meu casaco da...
- O que é que lhe fizeste?
- Alguns melhoramentos.
Melhoramentos? Mutilaste-o.
Arranjei-o. Olha, tinha...
- Ouve.
- O roxo é a tua cor mágica.
- Temos de falar.
- As três palavras mais detestáveis...
- Temos de acabar.
- Desculpa isso do casaco.
Não é pelo casaco.
Não te posso voltar a ver. Só isso.
Pois.
Dormes com a filha da estrela de rock
para te gabares aos teus amigos.
- E cavalgas em direcção ao põr do Sol...
- Não é isso. Eu só não...
Podes baixar isso, por favor?
Obrigada.
Devias põr as natas antes do açúcar.
Não quero natas. Não posso engordar.
O recital de ballet é na sexta. Lembras-te?
Pois. Lembro-me.
Eu convidei-te para tomar chá.
Podias pelo menos ser bem educada.
Porque estás a põr manteiga
no meu scone de plástico?
Para quê ter scones de plástico,
quando há comida a sério?
Tu achaste que eles eram giros.
Ainda andas a choramingar por causa
daquele tipo repelente?
Os outros deixam-nos sempre ficar mal.
Esquece-os e faz algo por ti própria.
- Como por exemplo?
- Uma coisa na qual sejas boa.
Sem ser fazer compras.
Talvez alguns de nós
não sejam bons em nada.
Todos os adultos são bons
nalguma coisa.
Perdão. Não vejo aqui adulto nenhum.
Além disso, o que tem de tão especial
ser-se adulto?
- Para que eu posso ficar como tu?
- Tens medo.
Às vezes, quando o Mu
ouve pessoas do lado de fora
corre para a casa de banho,
como se achasse que eles vêm buscá-lo.
- É essa a impressão que transmites.
- Onde é que vais?
Se te recusas a passar um bom bocado
comigo, vou-me divertir sozinha.
Fazer 200 pliés não é divertido.
É escravatura.
Os essenciais são a base do divertimento.
Certo. Tinha-me esquecido disso.
Que música é esta?
Dá vontade de cortar os pulsos.
- É Mozart.
- É deprimente.
Se queremos divertir-nos,
precisamos de ouvir música divertida.
Lamento dizer-te,
mas este lixo não é música.
Mas dá gozo dançá-la.
Pára com isso.
Pareces uma hiena espástica.
Vou vomitar! Larga-me!
Cresce.
Onde é que vais?
Tenho mil coisas para fazer. E vou sair
com um adulto normal que conheci.
Ele trabalha em computadores.
Estou farta de músicos de rock-and-roll,
atletas milionários
e supermodelos parvalhões.
Pensei que te ias lembrar que nós
tínhamos planos para esta noite.
Prova de chá verde na Associação
Asiática. Lembras-te?
Já não posso ver mais chá á minha frente.
Por favor, vai sem mim. Vais-te divertir.
Eu já estou meia-hora atrasada.
Mas era suposto irmos juntas.
Eu planeei isto há um mês atrás. É tarde
demais para convidar outra pessoa.
Somos companheiras de quarto.
É por isso que eu pago metade da renda.
Não te devo todo o meu tempo livre.
Dever?
O yoga gratuito, ou quase
pegares fogo á casa?
Dever? É isso que pensas
da nossa amizade?
Só porque tu achas que amizade
quer dizer controlares a minha vida.
Infelizmente tu não sabes gerir a tua vida.
Felizmente, o problema não é teu.
Deixou de ser agora.
Olha-me para ti.
Tens rolos no cabelo. É o teu novo estilo?
- Esqueci-me. Estava com pressa.
- Estava a gozar.
- As minhas malas.
- Desculpa.
O teu quarto é ali. Podes põr lá as malas.
Fiz-te a cama.
Desculpa. Obrigada por me receberes.
Não tens de quê. Todos sabemos
que a Ingrid é um bocado quadrada.
Além disso, a vida com o Huey
é uma festa constante.
Vamos aos shots corporais.
É disto que eu estou a falar.
É a tua vez.
Olá, Roma.
Sou eu, a Molly.
A ama da Ray?
Claro. Fui á sua festa de anos.
- Sim.
- Sou uma fã do seu pai.
Ele tinha aquela música. Como era?
- Com o seu nome.
- Sim.
Quem está com a Ray, hoje?
É a minha noite de folga.
Ela está numa coisa qualquer do ballet.
Meu Deus.
É o recital dela? Tenho de ir para lá.
A esta hora já acabou.
Eu mandei buscá-la de carro.
Dê-me licença por um momento.
Ergue-te e brilha, Ofélia.
Olá, meu docinho. Como é que estás?
Não estás de folga?
É verdade. E tu também estás.
Não tens escola, deveres
nem doenças fatais.
Deixa-me ver isto.
Olha para isto.
Perfeito. 37 graus.
Apenas 20 graus acima
da temperatura lá fora.
Eu cá não vou a lado nenhum.
Especialmente contigo.
Vais, sim.
Vamo-nos sentar em chávenas gigantes
e girar até vomitarmos.
- Estás drogada, ou quê?
- Vamos divertir-nos.
- Estás drogada, ou quê?
- Vamos divertir-nos.
Nem acredito que me deixei convencer.
Vais adorar Coney lsland.
Chávenas gigantes?
É um carrossel.
Como os da Disneylândia.
Nunca foste á Disneylândia?
- Nunca?
- Porque não avisas os media?
Nunca foste a um parque de diversões?
Meu Deus.
- Estás tão entusiasmada.
- Pois.
Diz "Estou tão entusiasmada."
Estou entusiasmada.
Então tens de pagar a portagem.
- Larga-me.
- É como entrar na Cidade Esmeralda.
Estás a tentar assassinar-me?
Tens de comer um,
ou não te deixam entrar.
São tóxicos, sua demente.
Têm ratos mortos e nitratos.
Queres andar nas chávenas gigantes
ou não?
Agora engole.
Engole.
Espera.
Ela está viva.
A operação foi um sucesso,
senhoras e senhores. Ela está viva.
Se faz favor. Porque é que está tudo
tão parado, por aqui?
Os carrosséis só funcionam
durante a época alta.
- A época alta?
- Ainda falta uma semana.
Obrigada.
Vamos para casa.
A última vez que vi os meus pais
tinha entre os 8 e os 9 anos.
Oito anos, seis meses e três dias.
Tinha quase a tua idade.
Eles foram em digressão sem mim
pela primeira vez.
Não queriam que eu faltasse á escola.
Não lhes abri a porta do quarto
quando vieram despedir-se.
E eles foram-se embora.
Eu adormeci.
Quando dei por mim,
a minha ama acordou-me a meio da noite
e disse que o avião deles se despenhara.
- Tiveste sorte.
- Sorte?
De teres ficado louca.
Quando se é louco,
não se tem saudades de ninguém.
E se continuares louca,
é como se nunca os tivesses conhecido.
Assim não tens de te sentir mal.
Tiveste sorte.
Boa noite.
Eu não estava louca.
Estava confusa.
Toda a gente vinha falar comigo,
eu não entendia uma palavra.
Depois as vozes
tornaram-se um zumbido.
E em breve eu nem sequer reconhecia
as caras deles.
Eram como borrões.
Depois as garras deles cresceram
e os olhos faiscaram.
E eu soube que tinha de fugir.
Por isso agarrei na mochila,
apanhei o comboio,
olhei para o mapa e decidi que queria
viver em Coney lsland.
Pensei que era uma ilha verdadeira,
e que me ia esconder lá, como o Tom
Sawyer e o Huckleberry Finn.
Imagina a minha surpresa.
Só me deixavam andar sozinha
nas chávenas.
Por isso sentei-me e comecei
a girar vezes sem conta.
E ainda me sinto lá,
a girar vezes sem conta.
Sem parar.
E não me atrevo a sair do carrossel.
Tinhas razão.
Eu tenho medo.
Mas tu também tens.
Tens tanto medo como eu.
E eu pensei que talvez...
Talvez se pudéssemos ir juntas...
Bom dia, fofinho.
Tens fome?
Levantaste-te cedo.
O que estás aqui a fazer?
Eu trabalho aqui.
O que estás tu aqui a fazer?
Não te esqueças do açúcar, querido.
Respira.
Minha senhora? Essa água está
contaminada, sabe.
É melhor sair daí. Isso é puro esgoto.
- Ouviu?
- Ouvi.
Essa água está suja.
Saia daí, ou chamo a polícia.
Estou a sair.
38,5 graus. Doente como um cão.
Esperemos que não estejas envenenada
com radiações daquele lago imundo.
Toma dois comprimidos de equinácia
um Benadryl para a sinusite.
Chama-me se precisares de alguma coisa.
Fica aqui, Mu.
Onde é que vais?
Não sei. Talvez para a biblioteca.
Foi onde estiveste ontem á noite?
Não o vou incomodar.
Vou-me sentar lá em silêncio, a ler.
Podes ler em voz alta.
- Ele é capaz de gostar.
- Ele é um vegetal.
Não adianta nada conversar
com o meu pai.
- Tu és a médica.
- Não adianta nada.
Uma vez vi um programa na TV.
Sobre doentes.
Aqueles com quem a família
e os amigos conversavam
viviam dez vezes mais do que
os que estavam sozinhos.
E isto é um facto.
Juras?
Juro.
Prometes?
Não toques.
Micróbios. Desculpa.
Queres vir?
- Desejam alguma coisa?
- Ela vai falar com ele.
Percebe, em privado.
- Não sei o que dizer.
- Para tudo há uma primeira vez.
Olá, pai.
Eu sei que não tenho...
O que eu queria mesmo contar-te é que
tenho um novo bicho de estimação.
Na verdade, pertence á Molly,
a minha ama.
O curioso é que é um porco.
Literalmente.
O nome dele é Mu. Veio da Tailândia.
É muito asseado, tenho de admitir.
Mesmo sendo um porco.
Ultimamente, tenho-me dedicado
muito ao ballet.
Tu e a mãe diziam que é antiquado,
mas é mesmo fixe.
Já estou a fazer
changements e chaînes.
Sabes, girar muitas vezes.
Antes ficava tonta, mas agora...
NEAL FOX
LENÇÓIS DE ALGODÃO EGÍPCIO
Aquela besta ficou famosa
com uma canção.
É o seu primeiro single.
Há semanas que ando com a melodia
na cabeça, e é uma merda.
O que é isto? É tão anos 80,
até me põe os cabelos em pé.
Aguenta aí. Eu produzi este vídeo.
E os anos 80 estão na berra.
Não sei em que mundo tens andado.
A ouvir Tchaikovsky, Mozart e Chopin.
Tu não saberias reconhecer
música a sério.
Vais parar de me chamar Gooey.
- O que é que achas?
- O que é?
- É um tutu, seu tonto.
- Para quem, para um anão?
Para uma menina chamada Ray.
É para o recital de fim de ano.
Os fatos são tão aborrecidos. Quero
surpreendê-la com algo espectacular.
Ele tem o casaco vestido.
É o meu casaco.
Eu fiz aquele casaco.
A ideia foi minha.
Ele é a reincarnação do Lizard King.
Ouve. Olha para mim.
Eu sou o Lizard King.
Este tipo não passa de uma ilusão.
Ele não é real.
Fui eu que criei o que ele é.
Se queres algo real, se queres conteúdo,
aqui o tens, á tua frente.
Eu sou o Lizard King.
Tens razão.
Amigos e corações verdadeiros.
É isso que conta, na vida.
Exactamente. Dá cá mais cinco.
Dá-me amor.
Curioso. Não esperava visitas.
Vai ver quem é.
Eh, meu.
O que é que se passa?
81st com a Fifth, por favor.
- Quando é que aconteceu?
- Ele faleceu esta tarde.
Sinto muito.
Tu prometeste.
A Srª Schleine está á sua espera
no gabinete.
- Sinto muito.
- Obrigada por ter vindo.
Numa altura destas,
tinha de estar presente.
O pagamento da semana passada
e um mês de indemnização.
lndemnização?
Nós vamos dispensar os seus serviços.
- Nós?
- Exacto. Eu e a Ray. Nós.
Boa noite.
Desculpe, mas não me vou embora
sem uma explicação.
Não sei o que aconteceu, mas a Ray
não a quer ver nunca mais.
Ela deve estar louca de desgosto.
Ela está a reagir bem.
Eu estava numa reunião quando soube
da morte do meu marido.
Vim para casa e encontrei a Ray
a acabar o trabalho de casa.
Ela tem-se mostrado muito calma
e estável com tudo isto.
Chama a isso reagir bem?
Sabe em que nível a sua filha
está no ballet?
Ou que ela foi expulsa
da aula de ciências
por roubar um porco em formol
para o enterrar no Central Park?
E o serviço de chá que lhe deu é lindo,
mas sabe como é que ela gosta do chá?
Quantos cubos de açúcar, natas?
O que está a querer dizer
com esse discurso?
Que tem razão. De facto, você não sabe
o que se passa entre mim e a Ray.
Porque você não sabe muito
sobre a sua própria filha.
Conheço a minha filha suficientemente
bem para respeitar os seus desejos.
Você não a respeita.
Dá-lhe tudo o que ela quer,
para não ter de lidar com ela.
Ela tem oito anos.
Não tem 28.
Lembre-se disso da próxima vez
que a respeitar.
- É a minha musa.
- A meter-se outra vez no teu caminho.
Vim aqui para te ver.
Para quê?
Desde a última vez que nos vimos
não consegui compor nada de jeito.
Ouve. Desculpa.
Tentei dar um passo para a frente,
mas dei dois para trás.
Porque é que não dás um passo
para o lado e me deixas passar?
Então é assim.
Quando não estou pronto, persegues-me.
Quando me esforço,
não estás interessada.
Desde que nos conhecemos,
só falas no que eu faço de errado.
Mas o problema não é meu.
É teu. É o teu egoísmo.
Só sabes receber, e eu não tenho
nada para te dar agora.
É capaz de ser uma boa altura
para deixares de pensar só em ti.
Até lá...
Bom dia, senhoras e senhores.
Vamos leiloar uma colecção
que fez história.
Tommy Gunn foi membro de várias
bandas. Teve um êxito a solo...
Talvez devêssemos esperar
até toda a gente chegar.
Receio bem que isto seja o melhor
que podemos esperar.
Esta é a famosa acústica que ele tocou
na sua banda, os Shoey-Shoes.
A licitação começa aos $2500.
Quem dá $2500?
- $2500. Quem dá $2600?
- $2500?
- 2600.
- Obrigado.
- $2500?
- Sinto muito.
O entusiasmo gerado pelo legado do
Sr. Gunn ficou aquém das expectativas.
3000. 3000, e vai uma.
- 3000, e vão duas.
- 75000.
Tenho uma oferta de 75000,
de um comprador anónimo.
Pela colecção inteira.
O que diz?
A decisão é sua.
Eu não prevejo um resultado melhor,
se vendermos á peça.
Isto é tudo o que ele deixou
no mundo inteiro.
Isto é o meu pai.
Sinto muito.
Livrem-se disso.
Onde é que me levas?
A malta está á nossa espera.
A malta pode esperar. Isto é importante.
Calma. Aguenta aí. Devia haver aqui
um desfibrilhador.
Gooey, cala-te. É bom para o teu cu.
Bem-vindo ao Chateau Chez Molly.
- Isto é...
- O meu novo apartamento.
A cozinha é por aqui.
Nesta direcção encontramos a secção
ultra-privada da casa de banho.
Fantástico.
E tu estás na sala, que é também...
... o quarto.
- Tem potencial.
- Como cela de presidiário, talvez.
Isto não é para ti.
- É o que posso pagar.
- Podes continuar em minha casa.
É altura de me tornar independente.
Olá.
Como havia eu de saber onde está a Ray?
- O que se passa com ela?
- Espera um segundo.
Obrigada.
Olá, é a Molly.
Menina Gunn, bem sei que dispensámos
os seus serviços,
mas por acaso viu a minha filha hoje?
De certeza?
A Ray não voltou da escola
e desde então ainda não apareceu.
Pensei que ela talvez tivesse...
Se souber dela, avise-me.
Fala com ela.
- Sente-se bem?
- Sim, obrigada.
Que bom ver-te. Sinto a tua falta.
Eu também. As circunstâncias são tristes.
- Olá. Prazer em ver-te.
- Igualmente.
Vi o vídeo do Neal Fox. Não foste tu
que criaste o visual dele?
Não. Só reparei o casaco dele.
Não sei porque todos falam nisso.
Também fazes calças?
De cabedal, fixes, mas sóbrias?
Tinha esperança que me pudesses fazer
um casaco na mesma onda.
Pessoal, obrigada. Vocês são uns
queridos. Foi uma casualidade.
Foi uma casualidade dos diabos.
Então, o que dizes?
- OK. Adoraria fazê-lo.
- Fixe.
Calças também.
O Garth Brooks quer conhecer-vos.
- Estás a gozar.
- Ele está ali.
Obrigada.
Não, fica com ele.
Ela está quase preparada
para receber visitas,
mas quer falar consigo primeiro.
Podes voltar ao trabalho, sabes.
Não me parece.
Tu e eu vamos ser amigas.
Os adultos nunca ficam amigos
das crianças.
Não vejo aqui nenhum adulto.
Eu vejo.
Você conhece o Dalai Lama?
Sempre me considerei
uma boa relações públicas.
A maioria dos candidatos ao instituto
de moda matariam pelas suas referências.
Você pode dispensar a escola e trabalhar
com um dos seus amigos designers.
Seria mais divertido do que labutar aqui
durante quatro anos.
Os essenciais são a base
do divertimento.
Como eu costumo dizer.
Meu Deus.
Ela vai-me matar. Desculpe.
Desculpe. Telefone-me, por favor.
E eu vou telefonar-lhe, e obrigada.
Tenha um bom dia. Adeus.
Ela faz-me sempre isto.
Não vai aparecer.
Se não andasses para aí a abanar o rabo,
não tinha caído.
Por fim, apresentamos uma actuação
especial pela Laraine Schleine.
E, a acompanhar a Menina Schleine,
anunciamos um convidado especial.
Como vai isso?
Temos connosco alguém
que nos emprestou a sua magia,
e agora gostaríamos de a retribuir.
Esta era a guitarra preferida
do Tommy Gunn.
Vou cantar-vos a canção que ele escreveu
para a sua pessoa favorita no mundo.
Esta canção é dedicada á Molly Gunn.
A menina do papá
Pinta o mundo com a sua varinha mágica
A fofinha do papá
Traz nova vida á manhã
Para mim
Mesmo estando separados,
Os pensamentos dela acompanham-me
Quando volto para casa,
A Molly sorri com a aurora
A Molly sorri
E irradia um brilho na sua auréola
Quando brinca, a Molly sorri
Num dia de Verão, a Molly sorri
Um novo dia, a Molly sorri
A menina do papá
Ata uma fita á volta do meu coração
A fofinha do papá
Acena á maré que me arrasta
Mesmo estando separados,
Ela faz parte de mim
Todas as histórias têm um fim.
Mas na vida,
cada fim é um recomeço.
Tudo está bem quando a Molly sorri