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GRAN TORINO
Sinto muito pela Dorothy, Walt.
Ela era uma senhora magnífica.
Obrigado por teres vindo, Al.
Óculos, testículos, verruga e relógio.
Vê a forma como o velhote
olha para a Ashley. Jesus.
Nem sequer consegue ser
mais brando no funeral da mãe.
O que esperavas?
O pai ainda vive nos anos cinquenta.
Ele espera que a sua neta se
vista um pouco mais modestamente.
Sim, e os teus filhos a usarem
uma jerseys dos Lion.
Tenho a certeza que pai gosta disso.
O que estou a tentar dizer é que
não há nada que ninguém possa fazer
que não desapontará o velhote.
É inevitável.
Por isso é que parámos de
celebrar o Dia de Acção de Graças.
Sabes aquela coisa com o motor do barco,
com a banheira para pássaros partida?
É sempre qualquer coisa.
O que vamos fazer com ele?
Não achas que ele arranjará sarilhos,
ao ficar sozinho no bairro?
Por que não lhe pedes
para ir viver contigo?
A morte... geralmente é uma ocasião
agridoce para nós, católicos.
Amarga na dor.
Doce... na salvação.
Amarga na dor que causa aos falecidos.
E às suas famílias.
Doce...
para aqueles de nós que sabem
a salvação que os espera.
E então pergunto:
O que é a morte?
Será o fim?
Ou será o início?
E o que é a vida?
E o que é esta coisa a que
chamamos de vida?
Todas estas perguntas
frustram-nos em momentos como este.
- Ashley, pára.
E por isso é que têm de
se virar para o Senhor.
Jesus.
Porque o Senhor é a doçura.
- Aquele é o pai?
- Não. Esse é o avô Walt.
"Terceiro Plantão, Companhia E,
2 de Março de 1952.
Coreia."
Onde fica a Coreia?
Muita gente apareceu depois do serviço.
Suponho que ouviram que
vai haver imenso presunto.
Vou lá abaixo à cave buscar umas cadeiras.
Posso fazer isso, pai.
Não, preciso delas agora,
não na próxima semana.
Fixe, encontrei uma medalha.
Olhem para isto.
Temos de ficar mais quanto tempo?
Este gueto é uma zona morta para
o meu telefone e estou aborrecida.
Ashley, querida, por que não
ajudas o avô Walt com as cadeiras?
- Eu?!
- Sim, tu. Vai ajudar.
Avô Walt, quer ajuda com...
isto, as cadeiras?
- Não.
Provavelmente acabaste de pintar as unhas.
O teu pai está a pôr-me louca.
- Porque me obrigaram a fazer isto?
- Está bem, querida, lamento imenso.
Vamos.
Anda, vamos.
Quantas ratazanas dos pântanos
se consegue meter numa divisão?
Avô, quando é que arranjou
este carro tão bom?
1972.
- Nunca imaginei que tivesse um carro fixe.
- Pois.
Tem estado aqui desde antes de nasceres.
Então...
O que vai fazer com ele quando...
tipo...
morrer?
E aquele sofá retro muito
fixe que tem na cave?
Porque estava a pensar, vou para a
Escola Estatual no próximo ano
e acho que ficaria muito bem no meu
dormitório e não tenho mobília nenhuma.
Credo.
Quem és tu?
- Olá...
- O que queres?
- Vivo aqui ao lado...
- Desembucha.
- Eu...
- Diz-me o que queres?
Tem algum cabo de arranque?
O carro do meu tio...
Não temos nenhum cabo de arranque.
E mostra algum respeito, pilantra.
Estamos de luto, aqui.
Como se está a aguentar, Walt?
Mr. Kowalski.
Mr. Kowalski, é esse o meu nome.
Certo. Mr. Kowalski.
Eu e a sua mulher tornámo-nos íntimos,
neste últimos meses.
Pediu-me para cuidar
de si quando falecesse.
Disse-lhe que tomava conta
de todo o meu rebanho, mas
ela fez-me prometer que lhe
desse mais atenção a si.
Olhe, agradeço o tipo de bondade
que mostrou à minha mulher,
agora que já disse o que tinha a dizer,
porque não passa para a próxima ovelha?
Está bem?
A Dorothy disse explicitamente que era
a sua vontade que o senhor se confessasse.
Ela disse que não se conseguia
lembrar da última vez que o fez.
- Ai é?
- É.
Bem, confesso que nunca me
preocupei muito com a Igreja,
a única razão pela qual
lá ia era por causa dela.
E confesso que não tenho
qualquer desejo de me confessar
a um rapaz que acabou
de sair do seminário.
Adeus, Karen.
Sim, ele vai ficar bem.
Gostaria de ajudar, pai.
Mas tenho de levar os miúdos a casa.
- Os miúdos estão a ficar inquietos.
- Está bem, vai lá.
Já lhe ligo,
para ver como é que está.
Matar-te-ia se comprasses
um carro americano?
Viste a forma como ele
olhou para a carrinha? Credo!
É sempre carros chineses para aqui,
carros japoneses para ali, sabes?
Nem no funeral da mãe
consegue deixar isso.
- Bem, ao menos não disse nada, desta vez.
- Não precisava.
O que estavas à espera, Mitch?
O homem trabalhou na fábrica da
Ford durante todos aqueles anos.
- Suponho que isso seja culpa minha.
- Esquece e conduz. Querem o rádio ligado?
- Querem ouvir um pouco de música?
- Sim.
Malditos bárbaros.
Estou tão desiludida.
Quero que a minha filha
encontre outro marido.
Se ela voltar a casar-se,
haverá um homem na casa.
E o Thao?
O homem da casa está ali mesmo.
Olha para ele a lavar os pratos.
Ele faz o que a irmã o manda fazer.
Como é que ele pode
tornar-se no homem da casa?
Seja paciente, assim que ele for mais
velho ele será o homem da casa.
De maneira nenhuma.
Hoje é um dia abençoado,
pois nasce uma criança.
Ofereço comida para
nutrir o corpo da criança.
Ofereço roupas para
proteger o corpo da criança.
Esta criança é abençoada
com uma mãe e um pai.
Espírito desta criança,
volta para casa e não vagueis mais.
Volta para casa espírito e alma,
volta para casa.
Vive uma boa vida e cresce.
O Polarski daria voltas na campa
se visse agora o seu relvado.
Por que raios estes chinocas
vieram para este bairro?
Por que o velho branco fica aqui?
Todos os americanos foram embora.
Por que não te foste?
Por que não te vais embora, seu palerma?
Já ficaste totalmente surdo?
Viva, Walt.
Não sou teu amigo, porque
insistes em tratar-me por Walt?
Peço desculpa. Mr. Kowalski.
O que andas a vender hoje, padre?
Nada.
Pensei em passar por cá e ver como estava,
já não o vejo na igreja há um tempo.
Bem, agora que já fez a
sua boa acção, porque não
continua a descer a rua?
- Gostaria mesmo de falar, Mr. Kowalski.
- Não nesta vida, filho.
- Porquê?
- Tem um problema comigo, Mr. Kowalski?
- Não queiras saber.
Não, eu quero.
Bem, acho que é um virgem de
27 anos com estudos a mais,
que gosta de dar as mãos
a velhas supersticiosas
e lhe promete eternidade.
És maricas?
És rapaz ou rapariga, meu?
Não consigo distinguir.
Se tivesse num contentor,
fodia-te todo para seres a minha puta.
Que estás a ler,
o "O Paspalho e Perseguição Automóvel"?
Isso mesmo continua a andar.
Continua a andar.
- Olha para mim enquanto falo contigo, meu.
- Lerda do caraças.
- Para onde quer que olhes.
- Olha para nós, puta.
- Insultas-me para onde quer que vá, meu.
- Comedor de arroz paneleiro.
Olha para ele.
Aquele ali é o meu primo, meu.
Tens a certeza que é o teu primo, meu?
Tenho, caralho. É o meu primo.
- Ele anda com alguém, meu?
- Não, ele anda sozinho.
- Ele anda sozinho?
- Anda sozinho.
Meu, vamos lá e ver que
caralho estão a fazer.
Gostaria de te ver a suplicar.
- Como é que é?
- Viva, cabrões.
Eles estão a meter-se contigo?
Eles estão a meter-se contigo?
- Queres apanhar?
- Dou cabo de ti, meu.
Ai dás?
Podes fazer isto agora mesmo!
Vai-te foder e volta para o teu país!
- Vai-te foder, meu.
- Sim.
- Cabrões de merda.
- Que giro, mais espertalhões!
Não queres um pouco de comida chinesa?
Que caralho estás a fazer, meu?
- Quantas balas tens?
- Pois.
- Tu, vejo-te na próxima, cabrão.
- Quantas balas tens?
Anda, conduz.
É só isso que tens?
Thao!
- Anda meu, entra no carro.
- Thao.
Entra no carro.
Foda-se, meu.
Entra no carro, meu.
Thao!
Aqueles parvos dos mexicanos
estavam a incomodar-te?
Acabámos de te salvar o coiro, meu.
Anda lá, meu. Entra no carro.
- Que estás a fazer, meu?
- Entra no carro, meu, anda lá.
Relaxa connosco, meu.
Anda lá, meu,
acabámos de te salvar o coiro.
Anda lá.
Anda lá, Thao.
- Foda-se, meu, vamos.
- Estiveste perto de ser morto, meu.
- Virou puta mimada, vamos.
- Foda-se.
Esquece, meu. Vamos.
- Ele que se lixe.
- Amanhã, está bem?
- Ponho-te a vista em cima, está bem?
- Pára de te armares em gaja.
Amanhã! Anda, meu, vamos.
Temos a arma, meu.
- Vai-te foder, meu.
- Vamos dar de frosques, meu.
- Está livre de perigo.
- Pois, meu, vamos bazar.
- Ele que se lixe.
- Maricas!
Viva, Thao.
Como é que é?
Como é que é, Thao?
Que estás a fazer, pequenote?
Por que estás a fazer
trabalho de mulheres?
Que queres?
O quê? Já não posso vir
falar com o meu primo?
Ele não quer falar contigo.
Bem...
estou aqui, não é?
- Spider, quem é?
- Como é que é?
- Spider?
Foi isso que ele acabou
de te chamar, Fong?
Spider.
Há alguma coisa de errada com "Spider"?
O que estás aqui a fazer?
Que idade tens?
Mentalmente, sou muito velha para ti.
O quê?
- És tão estúpido, vou para dentro.
- Quê?
Sue!
Ajuda o teu irmão na jardinagem.
Cala-te, estúpido.
Muito bem, vais passar
a andar connosco? Vamos.
Meu.
- Anda connosco. Vamos.
- Põe-te na boa connosco.
Precisas de quem te proteja, meu. É para
isso que servem os primos mais velhos.
Olha, meu. Já lá estive,
já o fiz e já o vi, meu.
Antigamente, todos queriam bater-me meu,
agora vê. Ninguém me põe a mão em cima.
Anda, meu, vamos.
- Somos primos, certo?
- Vamos.
Somos primos, não é?
Somos família.
Olha, um irmão para o Spider,
é um irmão para mim.
Anda.
- Anda, meu. Larga essa merda. Vamos.
- Anda connosco, anda.
- Vamos divertir-nos um bocado.
- Isso é trabalho de mulheres, meu.
Assim sujas as mãos, meu.
Então, o que tenho de fazer?
O Spider disse que o nosso velho
aqui ao lado tem um carro do caraças.
Ajuda-me a arranjá-lo.
'Bora.
Fixe.
O meu primo a tornar-se num homenzinho.
Aquilo é que é um carro bacano.
Podes crer.
Gran Torino de 1972.
- Fastback.
- Motor cobra a jacto.
Meu, está novinho em folha.
Meu. Está novinho em folha, meu.
Bem, eu tenho uma.
Era uma vez um mexicano, um judeu,
e tipo de cor que vão a um bar.
O empregado de balcão
vira-se para eles e diz:
"Saiam daqui para fora."
Então. É aqui que o meu rebanho se
congrega quando não está na Igreja.
- Olá, padre Jake.
- Olá, Mel.
- Viva, Darrel.
- Olá, padre.
Olá, Walt.
O que o traz aqui, padre?
A lotaria da carne?
Não, vim só falar com o Walt,
se não houver problema.
Bolas, padre. É persistente, não é?
Prometi à sua esposa.
Está bem, vamos arranjar uma mesa.
Quero uma cerveja Pabst e um
shot de Jack Daniel's.
- E o que ele for beber.
- Refrigerante de dieta.
Tretas, isto é um bar, tem de beber.
É um Gin Tónico.
Lindo menino.
Então...
O que quer?
Prometi à sua esposa que o
faria com que se confessasse.
Porque haveria de fazer isso?
Foi a sua insistência,
ela obrigou-me.
Gosta de prometer coisas
que não consegue cumprir?
- Não é, padre?
- Vamos falar de outra coisa.
- Sobre o quê?
- Vida e morte.
Vida e morte.
Que raio sabe sobre a vida e a morte?
Gosto de pensar que sei muito.
Sou padre.
Pois, levanta-se e prega
sobre a vida e a morte,
mas tudo o que sabe é o que
aprendeu na escola para padres.
Tirado do livro "Padre para Totós".
- Não tenho a certeza quanto a isso, acho...
- A morte é agridoce.
Como que amarga na dor,
mas doce na salvação.
Se é isso que sabe sobre a
vida e morte, então é patético.
O que sabe, Mr. Kowalski?
Sei bastante.
Vivi durante quase três
anos na Coreia, obrigado.
Matámos homens.
Esfaqueámo-los com baionetas.
Cortávamos miúdos de dezassete
anos até à morte com pás.
Coisas que me lembrarei
até ao dia que morrer.
Coisas horríveis.
Coisas com as quais vou vivendo.
E a vida?
Bem, eu...
sobrevivi à guerra.
Casei-me, criei uma família.
Parece que sabe mais sobre a
morte do que sabe enquanto vive.
Talvez sim, padre.
Talvez sim.
Filho da puta.
- Meu, aonde vais?
- Entra no carro.
- Thao, que caralho? Entra.
- Entra, Thao.
- Anda lá, meu, entra.
- Que caralho, meu? Entra.
Estou?
Bom dia, pai.
É o seu filho favorito, Mitch.
Bom dia?
Já passa da uma da tarde,
não é de manhã.
Certo.
Boa tarde, pai.
Então, o que queres?
O quê?
Não, nada. Quer dizer...
- O que haveria de querer?
- Bem, sei lá.
A tua esposa já passou por
todas as jóias da tua mãe.
Não, pai. Só estou a ligar
para ver como é que está.
Algo de novo no velho bairro?
Não.
- Óptimo. Tudo nas calmas.
- Sim.
Está bem, bom, então.
- Pai?
- Sim?
Por acaso ainda conhece
aquele tipo da fábrica que tem os
bilhetes para a temporada dos Lions?
Seu...
Pai?
Como é que é?
O que estás a fazer cá fora, meu?
Nada.
Não metas o nariz onde não és chamado.
Só estamos a curtir.
O que é que vocês estão aqui a fazer?
- Já vos disse.
- O quê?
Não posso vir curtir com o meu primo?
Tenho boas notícias para ti, meu.
A sério? E quais são?
- Apenas para conversa de homens.
- Não me parece.
- Porque não?
- Anda meu.
Vamos dar-te mais uma hipótese, meu.
Vamos.
- Não vás, Thao.
- Não te metas onde não és chamada, gaja.
- Anda.
- Anda, vamos.
Anda.
- O que vais fazer?
- Anda.
Deixem o meu neto em paz.
Sei o que são.
Vão e nunca mais voltem.
Que raio é isto?
Saiam do meu relvado.
Ouve, velhote,
não te queiras meter comigo.
Não me ouviram? Disse para
saírem já do meu relvado.
Mas estás maluco?
Volta para dentro da casa.
Sim, faço-te um buraco na
cara e depois volto casa.
E durmo que não um bebé,
podes contar com isso.
Costumava empilhar cabrões como tu
até metro e meio de altura na Coreia.
E usávamo-los como sacos de areia.
Está bom.
Mas é bom que tenhas cuidado.
Ele é maluco.
- Anda, meu.
- Perdeu o juízo.
Vamos, meu.
- Vamos.
- Merda.
Vamos, vamos, vamos embora, meu.
Obrigada.
Saiam do meu relvado.
Que raio é isto?
Não, não. Não, não, não.
Por favor, mais não.
Mais não, mais não.
Que...
Fiquem aí mesmo, fiquem aí mesmo.
Porque não me podem deixar em paz?
Trouxemos-lhe umas Chalotas
para pôr no seu jardim.
- Não as quero.
- São "perenes". Renascem todos os anos.
Porque estão a trazer-me todo
este lixo, de qualquer das formas?
Porque...
- Porque salvou o Thao.
- Eu não salvei ninguém, só
mantive uma data de chinocas tagarelas
fora do meu relvado, só isso.
- Bem, o senhor é um herói para o bairro.
Não sou um herói.
É pena que o achem que é, por isso é
que continuam a trazer-lhe presentes.
- Por favor, aceite-os.
- Bem, eles estão enganados.
Só quero que me deixem em paz.
Obrigado.
Espere.
Esta é a minha mãe, Vu, eu sou a Sue,
e este é o meu irmão, Thao.
- Somos seus vizinhos?
- E?
O Thao quer dizer-lhe algo.
Peço desculpa.
Desculpa pelo quê?
Por tentar roubar-lhe o carro.
Deixa-me dizer-te uma coisa, rapaz.
Voltas a por os pés nesta propriedade,
estás feito.
Boa tarde, Walt.
Já lhe disse que não me vou confessar.
Porque não chamou a Polícia?
O quê?
Eu trabalho com algum
pessoal do gangue dos Hmong,
e ouvi que houve confusão no bairro.
Porque não ligou para a Polícia?
Bem...
Sabe, eu...
rezei para que eles aparecessem, mas
ninguém respondeu.
No que estava a pensar?
Alguém podia ter morrido!
Estamos a falar da vida e morte.
Quando as coisas dão para o
torto tem que se agir depressa.
Quando estávamos na Coreia e
milhares de chinocas berrantes,
passavam pela nossa linha,
não ligávamos para a Polícia,
reagíamos.
Não estamos na Coreia, Mr. Kowalski.
Tenho andado a pensar sobre a
nossa conversa sobre a vida e morte.
Sobre o que disse.
Sobre como transporta para todo o lado as
coisas horríveis que foi obrigado a fazer.
Coisas horríveis que não o deixam em paz.
Parece que lhe fará bem
descarregar um pouco desse fardo.
As coisas que se fazem durante
uma guerra são horríveis.
Ser levado a matar, matar para se salvar,
matar para salvar os outros.
Tem razão. Essas são coisas
sobre as quais não sei nada.
Mas sei sobre o perdão.
E vi imensos homens que
confessaram os seus pecados,
admitiram a sua culpa e
deixaram o fardo para trás.
Homens mais fortes que o senhor.
Homens que nas guerras
fizeram coisas horríveis.
E agora estão em paz.
Tenho que felicitá-lo, padre.
Veio cá com as suas armas
carregadas, desta vez.
Obrigado.
E tem razão numa coisa.
Sobre homens mais fortes que
eu a alcançar a sua salvação.
Bem, a maldita da aleluia.
Mas está errado sobre outra coisa.
Sobre o quê, Mr. Kowalski?
A coisa que mais assombra um tipo,
não é o que ele é mandado fazer.
Pronto.
Finalmente parece um ser humano novamente.
Não devias deixar passar tanto tempo entre
os cortes de cabelo, forreta filho da mãe.
Estou surpreso que ainda andes por aqui.
Sempre tive a esperança que morresses e
metessem aqui alguém que
saiba o que está a fazer,
em vez de ficares por aqui a
vaguear como o molenga que és.
São dez dólares, Walt.
Dez dólares? Credo, Martin.
És meio judeu ou algo assim?
Tens sempre subido o preço.
Tem sido dez dólares durante os últimos
cinco anos, seu polaco chato filho da mãe.
Está bem, guarda o troco.
Até daqui a três semanas, idiota.
Não se te vir primeiro, merdoso.
Não posso ir abaixo, depois disso.
- Pois, pois.
- Sabes? É uma treta.
Isso é fixe, sabes.
Pois.
Há merda a acontecer.
Meu, olha para isto.
Olha para isto.
Dá uma vista de olhos.
- Credo.
- Sim.
Traz esse belo rabo até aqui.
Anda cá, miúda.
Não sejas tímida.
- Bolas.
- Não nos podes cumprimentar?
Por que estás toda arrogante e assim?
O que é suposto tu seres, meu?
Está tudo na boa, meu.
Que caralho fazes no meu bairro, rapaz?
Nada. Vou ali à esquina,
sabes, comprar uns discos.
Está tudo na boa, mano.
- Ele chamou-te "mano".
- Ele chamou-te, "mano", meu.
O quê? Está tudo na boa, mano.
- Está tudo na boa?
- Cala-te, caralho.
Chama-me "mano" outra vez e
arranco-te o caralho da cara à dentada.
Pois, cabrão.
Agora, que raio vieram cá fazer?
Vieste cá para me trazer
este pequeno presente?
Então, meu?
Ele veio trazê-la para nós?
Outra delícia oriental.
Não te preocupes.
Vou tomar muito bem conta dela.
- Baza daqui para fora, meu.
- Baza daqui para fora, meu.
Merda fodida! Tu e essa puta!
Não nos digas o que fazer.
- Que achas que isto é?
- Não saias daqui.
- Estás a fugir de mim?
- Óptimo.
Outro parvalhão que tem um fetiche
por asiáticas. Isso está tão batido.
Merda.
Como te chamas, miúda?
Como me chamo?
- Porra.
- Baza daqui para fora.
É "Pega no teu petróleo bruto,
óbvio demais
para todas as mulheres que passam
e comprime-o." Esse é o meu nome.
Cabra com uma grande boca.
Pensas que estás a falar com quem?
O que te parece?
Achas que tens muita piada, não achas?
Merda. Não é dura?
O quê, vais bater-me agora?
Isso completa a fotografia, praticamente.
Tens de ter a tua puta numa coleira.
Pões uma corrente na cabra e puxa-la.
Claro, logo a seguir à redundância.
Chama-me puta e cabra na mesma frase.
- A cabra é maluca!
- Gosto dela assim.
Vamos levar esta cabra.
Merda. Não sabes quando parar,
pois não, miúda?
Vamos dar uma lição ao teu rabo,
é isso que vamos fazer.
Pára! Larga!
Mete-te aí.
Para que caralho estás a olhar, velhote?
O que é que vocês pretos estão a preparar?
- Pretos?
- Porra.
É melhor bazares daqui para fora,
branquelas, enquanto te deixo.
- Isso mesmo.
- É isso que deves fazer.
Quem é que pensas que és?
Já reparam como se cruzam com
alguém de vez em quando, e...
não se devem meter com ele?
Esse sou eu.
És um louco do caralho, meu.
Vai-te embora, meu.
Porque não bazas daqui antes que
chute o teu rabo branco cheio de rugas?
Este é um filho da mãe maluco, meu.
Qual é o problema dele, meu?
- Que raio?
- Que raio?
Este cabrão é maluco.
- Que há de mal com este bairro?
- Que caraças?
Entra na carrinha.
Que filho da mãe maluco,
que há de mal com ele, meu?
Dá para acreditar que
pôs os dedos de fora?
- Merda.
- Vá lá, meu.
- Velho.
- Calma, meu.
Cala-me a maldita boca.
Vocês caralhos não ouvem, pois não?
Agora, entra na carrinha.
- Entra na carrinha.
- Boa, velhote.
Cala-te, maricas.
Para que é essa treta toda,
de qualquer maneira?
Queres ser um super-herói
ou algo parecido?
Estes gajos não querem ser
teus manos e não os culpo.
Agora, põe-te na alheta.
Tenham cuidado.
Tu também.
Foda-se, meu. Não fiz nada.
- Ele deu cabo de ti.
- Meu, tu... Foda-se, merda.
Está tudo na boa, meu.
Vamos embora, meu.
Tinha a arma apontada à tua
cara e não fizeste nada, meu.
Estava à tua espera, meu.
Qual é o teu problema, por amor de Deus?
Estás a tentar com que sejas morta?
Pensei que vocês,
raparigas asiáticas, deviam ser espertas.
Estar num bairro daqueles é uma maneira
rápida de ires parar aos obituários.
Eu sei, eu sei, tenha calma.
E aquele idiota com quem estavas?
Aquilo era um encontro ou algo parecido?
Pois, mais ou menos.
Chama-se Trey.
Pois, não devias de andar com ele,
devias de andar com a tua própria gente.
- Com os outros Hu-mungs.
- Não quererá dizer "Hmongs"?
- Hmong, não Hu-mung.
- Como for.
Onde raio é Hu-mung, quero dizer,
Hmong, de qualquer maneira?
É tão culto, tem noção disso?
Não, Hmong não é um sítio, é um povo.
Os Hmong vêm de partes diferentes
de Laos, Tailândia e China.
Por que acabaste no meu bairro?
Por que não ficaste lá?
É uma coisa do Vietname.
Lutámos do vosso lado,
e quando a América desistiu, os comunas
começaram a matar todos os Hmongs.
Por isso, viemos para cá.
Bem, não sei como vieram
parar ao Midwest.
Há neve no chão
durante seis meses do ano.
O que é? O pessoal da selva
queria estar numa Tundra congelada?
Pessoal das colinas, somos pessoal
das colinas. Não pessoal da selva.
Pois, tanto faz.
Culpe os Luteranos, foram eles
que nos trouxeram para cá.
Toda a gente culpa os Luteranos.
Era de esperar que o frio mantivesse
todos os idiotas afastados.
Obrigada pela boleia.
Sabes que mais miúda, és porreira.
E o maldito do teu irmão?
Ele é meio lento ou algo parecido?
O Thao é muito esperto, na verdade.
Ele só... não sabe que rumo tomar.
Pois. Pobre Toad.
É bastante comum. As raparigas
Hmong daqui adaptam-se melhor.
As raparigas vão para a faculdade,
os rapazes vão para a cadeia.
Aquela bruxa velha odeia-me.
Hoje é o teu aniversário, Daisy.
Este ano tens que fazer uma
escolha entre dois caminhos da vida.
Uma segunda hipótese
vem na tua direcção.
Eventos extraordinários culminaram
no que parece ser um anti-clímax.
Os teus números da sorte são:
84, 23, 11, 78 e 99.
Que monte de baboseiras.
Que raio se passa com a
juventude dos dias de hoje?
Está bem.
Olá Mrs. B,
deixe-me ajudá-la com esses.
Obrigada.
Trato deste.
Que tal?
Que tal, Daisy?
- Eu tenho-os.
- Credo.
Sabes, é demasiado pesado para mim.
- Não há problema.
- Obrigada.
Está bem, Karen, dá-lhe.
Aqui tem.
Bem, o que é isto?
É uma Gopher.
Para que possa chegar às coisas.
Facilitará muito as coisas.
Este é meu.
É um telefone.
Isso consigo ver.
Pensei que... Nós pensámos
que isso facilitará as coisas.
Obrigado, Karen.
Não há nada de mal em tornar-lhe
as coisas menos difíceis.
A Karen está certa, pai.
Trabalhou no duro a vida toda.
Talvez esteja na altura
de pensar em ter calma.
Credo. Outra coisa, pai,
E devia mesmo livrar-se
da caixa das beatas.
Mas... sabe, estamos a pensar na casa,
com a mãe morta, deve de haver bastante
para limpar, muita manutenção a fazer,
quanto mais limpar.
E... aqui sozinho.
Pois, agora, há este sítios magníficos.
Estas comunidades.
Onde não tem que se preocupar com o
cortar da relva, ou com limpar a neve.
As pessoas são como o senhor,
activas e em alerta, mas
estão sozinhas e beneficiam do facto
de estarem ao pé de gente da sua idade.
Pois, pai, olhe. Tem de dar uma vista
de olhos. Trouxemos uns panfletos.
Estes sítios não são
nada como os imagina.
- Não, não. São lindos.
- São fantásticos.
São muito agradáveis. São mesmo. Isto
é do melhor que há, como os resorts.
É como ficar hospedado
num hotel, basicamente.
- São lindos.
- São mesmo.
- Sim.
- Eles tratam de tudo.
Eles limpam. São muito simpáticos.
Têm lojas maravilhosas onde
pode comprar sapatos novos.
São espectaculares. São mesmo.
Passará um bom bocado,
jogará um pouco de golfe, talvez.
Conhecer outras pessoas.
Filho da mãe!
Expulsou-nos no seu próprio aniversário.
- Disse-te que isto era má ideia.
- Sei que tinhas razão.
- Não deixa que ninguém o ajude.
- Bem, tentámos. Podemos esquecê-lo?
Ninguém pode dizer que não tentámos.
Sabes que mais? Ele que se lixe.
Sabes o que devíamos ter feito?
Devíamos ter ficado em
casa com o Josh e a Ashley.
Bem, pelo menos eles foram espertos
o suficiente para não virem.
As malditas das crianças
têm mais juízo que nós.
Sentimos a falta da mamã,
não sentimos, Daisy?
Olá, Walt. O que anda a tramar?
Estamos a fazer um churrasco, quer vir?
- O que achas?
- Há imensa comida.
Pois, mantêm as mãos
afastadas da minha cadela.
Não se preocupe, só comemos gatos.
- A sério?
- Não. Estou a brincar, idiota.
- Venha, pode ser o meu convidado especial.
- Não, estou bem aqui.
Bolas.
Muito bem, então... o que comeu hoje?
Comi um bocado de bolo,
e um pequeno bife de vaca.
Venha até lá e arranje algo para comer,
também temos cerveja.
Posso muito bem... beber com estranhos.
Estava a beber sozinho, afinal
de contas, é o meu aniversário.
A sério? Feliz aniversário, Wally.
Não me chames Wally.
Bem, não há Pabst, mas há imensa cerveja.
Como se costuma dizer,
quando se é Hmong.
O que estou a fazer mal? Cada vez que
olho para alguém eles olham para o chão.
O senhor está óptimo.
- O que é que ela está a dizer?
- Está a dizer, "Bem-vindo ao nosso lar."
- Não, não está.
- Pois, não está.
- Ela odeia-me.
- Pois, odeia-o.
Está bem.
Olá.
Para onde é que vocês cabeças
de peixe estão a olhar?
Acho que devíamos ir para outra divisão.
Desculpem.
Muitas pessoas nesta casa
são bastante tradicionais.
Número um: Nunca toque num Hmong
na cabeça, nem mesmo numa criança.
O povo Hmong acredita que a alma reside
na cabeça, por isso, não faça isso.
Parece estúpido, mas está bem.
Pois, e o povo Hmong acha que olhar alguém
nos olhos é uma grande falta de educação.
É por isso que eles desviam
o olhar quando olha para eles.
Mais alguma coisa?
Sim, alguns Hmong costumam sorrir ou
rir forçadamente quando lhes gritam.
É algo cultural.
Exprime constrangimento ou insegurança,
não que eles se estejam a
rir de si, ou algo parecido.
Vocês são malucos.
Mas a comida...
...tem bom aspecto, e também cheira bem.
- Claro!
- É comida Hmong.
- Pois, está bem.
Posso voltar para repetir?
Meu Deus.
- Aqui tem.
- Obrigado.
Sabes o que mencionaste
sobre olhar para as pessoas?
Ele tem estado a olhar
para mim a tarde toda.
Aquele é o Kor Khue,
ele é o Xamã da família Kor.
E o que é isso,
uma espécie de médico bruxo?
Algo parecido.
Muito engraçado, Wally.
O Kor Khue está interessado em si, ouviu
o que o senhor fez. Ele gostaria de lê-lo.
Seria má educação não o deixar,
isto é uma grande honra.
- Sim, claro. Por mim tudo bem.
- Está bem, sente-se.
Aqui? Está bem.
Ele diz que as pessoas não o respeitam,
nem sequer querem olhar para si.
Ele diz que da maneira como vive a
sua comida não tem qualquer sabor.
O senhor está preocupado com a sua vida.
Cometeu um erro na sua antiga vida.
Como o erro que cometeu,
não está satisfeito com ele.
Ele diz que não tem qualquer
felicidade na sua vida, é como se
não estivesse em paz.
Está bem?
Sim, estou...
Sim, estou bem.
Estou bem.
Tenho mais em comum
com estes chinocas
do que com a minha família
estragada com mimos.
Jesus Cristo.
Feliz aniversário.
Está bem?
Sim, sim. Estou bem.
- Estava a sangrar.
- Mordi a língua, não é nada.
Porque não vamos lá abaixo comer um
pouco dessa comida chinoca, estou faminto.
Está bem.
É fantástico, vocês...
vocês asiáticos são maravilhosos.
Isto é mesmo bom.
Vamos, glutão.
- O que há?
- Vamos.
- Para quê?
- Para integrar-se.
Integrar-me?
Estou a integrar-me aqui.
Vamos, o senhor disse-me
para não o deixar sozinho.
Muito obrigado, mas tenho de ir.
Eu volto, não deixem a
"integração" se ir embora.
- Óptimo.
- Bem, bem, bem.
Veja quem está ali.
Pois, o miúdo que me
roubou o meu Gran Torino.
- O meu irmão, Thao.
- Tentou, de qualquer das formas.
Pois, pois, o Toad.
Estava um pouco instável,
mas isso deve arranjá-la.
Então, de onde é que vocês são?
- De Hoffman.
- Hoffman, Texas.
- O que é isto?
- Um pouco de licor de arroz, experimente.
Está bem.
Os meus amigos e eu estávamos a
perguntarmo-nos o que está aqui a fazer.
Isso é uma boa pergunta.
"O que estou a fazer aqui?"
- Chamo-me Walt.
- Olá, Walt, sou a Youa.
- Youam, é? Prazer.
- Não, Youa.
Youa, está bem.
Então... o que faz?
- Arranjo coisas, coisas assim parecidas.
- Como o quê?
Bem, acabei de secar
aquela máquina de secar.
Arranjei o lavatório de
uns amigos da minha mulher.
Levei aquela velha casada ao
médico para levantar a sua prescrição.
Até arranjei uma porta que
ainda não se tinha estragado.
O senhor é engraçado.
Já me chamaram várias coisas,
mas nunca engraçado.
Bem, estou prestes a ir-me embora.
Divirta-se.
Está bem, Yum-Yum, foi um prazer.
Relaxa, pilantra. Não te vou matar.
Também olharia para baixo se fosse a ti.
Sabia que eras um merdas
da primeira vez que te vi,
mas nunca pensei que fosses pior com as
mulheres do que és a roubar carros, Toad.
- É Thao.
- O quê?
Não é Toad, é Thao, chamo-me Thao.
Pois, bom, estavas a estragar
tudo com a rapariga que ali estava.
Não que me importe com alguém como tu.
Não sabe do que fala.
Estás enganado paspalho,
sei exactamente do que estou a falar.
Posso não ser a pessoa mais
agradável para ter por perto,
mas casei-me com a melhor
mulher deste planeta.
Trabalhei para tê-la, foi a melhor coisa
que me aconteceu, sem sombra de dúvida.
Mas tu, deixas o Click Clack,
o Ding *** e o Charlie Chan
irem-se embora com a menina
como-é-que-ela-se-chama.
Ela gosta de ti, sabes?
Apesar de eu não perceber porquê.
Quem?
A Yum-Yum.
A rapariga na camisola violeta.
Ela tem estado a olhar para
ti o dia todo, estúpido.
- Quer dizer, a Youa?
- Sim, a Yum-Yum. Rapariga adorável.
Rapariga adorável, muito
encantadora, falei com ela.
Pois, mas tu, deixaste-a
sair com "Os Três Patetas".
E sabes porquê?
Porque és uma grande maricas.
Tenho de ir.
Bom dia, mariquinhas.
Não, mais não.
Está bem, ponham isso aí.
Jesus Cristo.
Sim, está bem, eu gosto.
Não, não, mais não.
Mais não, vá lá, mais não.
Mais não, por favor, eu...
Isto é aquela coisa de galinha
que trouxe da outra vez?
Está bem.
Sempre é melhor que bife de vaca,
isso é de certeza.
Que se está a passar?
Raios, o que se está a passar?
O Thao está aqui para emendar as coisas.
Ele está aqui para trabalhar para si.
Não, não vai.
Ele não vai trabalhar para mim.
A minha mãe diz que ele desonrou a família,
e agora tem de pagar a sua dívida.
- Ele começa amanhã de manhã.
- Não, não. Amanhã não, nem nunca.
Nem sequer o quero na minha propriedade,
pensei que tínhamos ultrapassado isto tudo.
É muito importante para a minha mãe que
aceite e seria um insulto se recusar.
Por que é que isto está
outra vez centrado em mim?
Foi ele que me tentou roubar o carro, e de
repente sou o mau da fita se não aceitar?
A minha família é muito tradicional
e ficaríamos muito chateados
se não deixar o Thao compensá-lo.
Se ele não o quer fazer, vamos embora.
Cala-te, cala-te, cala-te!
Pois, cala-te.
Está bem, amanhã. Amanhã, vamos.
Amanhã, obrigado.
Obrigado.
Jesus, Maria e José. Estas mulheres
Hmong são piores que texugos.
Filho da mãe,
nunca pensei que fosse aparecer.
Muito bem, em que és bom?
Como o quê?
É isso que estou a perguntar.
Se vais trabalhar para mim
tenho de saber em que és bom.
Tenho de saber o que consegues fazer.
Sei lá.
Isso é metade do que estava
à espera que fosses dizer.
Estás a ver ali aquela árvore?
Vai até lá e conta os pássaros.
- Quer que conte os pássaros?
- Sim, consegues contar.
Todos vós, maricas, sois supostamente
bons a matemática, certo?
- Sim, sei contar.
- Óptimo.
Um, dois...
Então, o que tem para mim, hoje?
Quer que veja tinta a secar talvez
até contar as nuvens que passam?
Não te passes comigo, rapaz.
Não fui eu que tentei roubar,
não te esqueças disso.
Força.
Não me importo se me
insulta ou diz coisas racistas.
Sabe porquê? Eu aguento.
Claro que aguentas, porque não
tens dentes nem tomastes, miúdo.
Olhe, estou aqui preso. Porque
não arranja algo útil para eu fazer?
Ao contrário de ti, não sou inútil,
preservo a minha própria propriedade,
Vocês, ratazanas dos pântanos, por
outro lado, não o conseguem evitar.
Tenho-te durante quanto tempo?
Toad, durante quanto tempo?
Até à próxima sexta-feira.
Muito bem,
vai buscar a escada à garagem.
Quando acabares aí com o telhado,
podes...
podes pegar nessa calha
e pô-la outra vez no sítio.
Estou cansado de olhar para
ele nos últimos três anos.
Pois. Nem mais, irmão.
Olá.
O avô diz que quer saber
se pode fazer com que o Thao
tire o grande ninho de vespas que
está debaixo do nosso alpendre.
Ninho de vespas?
Bem, isso é terrível.
Sim, acho que conseguimos
tratar disso depois do almoço.
Credo, pára com isso!
É o meu último dia,
que mais tem para eu fazer?
Tira o dia de folga,
já fizeste o suficiente.
Toad.
Nada, esquece.
Koski?
Koski?
Koski?
Mr. Kowalski, bom dia.
Olhei para a sua papelada e
acho que devíamos começar imediatamente
uma grande quantidade de ***.
Acho que isso seria a melhor maneira de
ver todos os problemas que o senhor teve.
Desculpe, o que aconteceu ao Dr. Fellman?
O meu médico regular.
O Dr. Fellman retirou-se há três anos,
sou a sua substituta, a Dr. Chang.
É o avô Walt.
- Atende.
- Fala tu com ele.
Mitch?
- Estou a tratar das contas.
- Fala tu com ele, ele é teu pai.
Olá, pai.
- Olá, Mitch. Sou eu, o teu pai.
- Sim, eu sei. Que se passa?
Nada, quase nada, na verdade.
Como está tudo?
Estou bem.
Estou bem, bem.
Óptimo. E a Karen e as crianças?
Estão bem, estão todos óptimos.
- Estão bem.
- Óptimo, e o trabalho?
Ocupado.
- Sim.
- Pois, acredito.
Na verdade, por falar em ocupado,
tenho bastante que fazer,
por isso, se não é algo de urgente.
Não. Não, nada mesmo.
Então, porque não me
liga neste fim-de-semana?
Claro.
Está bem, foi agradável falar consigo,
pai. Obrigado por ter ligado.
Obrigado, vou desligar.
Este miúdo não tem hipótese.
- O que sabe sobre torneiras?
- Sei bastante sobre elas, miúdo.
Deixa passar.
- Céus, credo.
- O quê?
Devem estar uns 38 graus aqui dentro.
Liga a ventoinha.
O sítio está a cair aos bocados.
Pá.
- Onde arranjou estas coisas todas?
- De que estás a falar?
Todas as ferramentas e assim.
Bem, pode ser uma
surpresa para um ladrão,
mas comprei estas coisas, tudo o que
está aqui dentro, com o meu dinheiro.
Pois, pois.
Não foi isso que eu quis dizer.
Quer dizer,
há tanta porcaria aqui dentro!
Pois, bem, cada ferramenta
aqui dentro tem um propósito,
tudo tem um trabalho a fazer.
São todas usadas quando é necessário.
Está bem, então... o que é isto?
Isso é uma escavadora
de buracos para postes.
- Isto?
- Alicate.
- Isto?
- Corta-fios.
Sabes que isso é uma pá de mão,
anda lá.
Há um busca-pólos, isso é uma serra,
e isso é um martelo de pregar.
Não me consegues enganar, miúdo.
Está bem, no que pensas?
É que... não consigo comprar isto tudo.
Bem, acho que até um cabeça de
vento como tu consegue compreender
que um homem adquire isto
num período de cinquenta anos.
- Sim, mas...
- Está bem, olha, toma.
Leva estes itens de graça.
Podes ficar com isto.
WD-40, alicates,
e um pouco de fita adesiva.
Qualquer homem que
valha um chavo furado
consegue fazer metade dos trabalhos
domésticos só com essas belezas.
Qualquer coisa que precises,
pedes emprestado.
Está bem, fixe.
Bolas.
- O que é isso?
- Nada, o quê?
Nada? Acabei de o ver a tossir sangue,
isso não é bom. Devia mesmo ver um médico.
Olha... os tipos que estiveram
aqui na outra noite...
...no meu relvado,
o que é que eles têm?
É só um gangue,
uma data de Hmong pistoleiros.
Sim, presumi isso,
mas que faziam eles aqui?
Iam levar-me, ficaram um pouco fulos por
ter dado cabo da minha primeira iniciação.
Pois. Bem, és...
És um maricas, sabes?
Queres andar com tipos daqueles.
Como é que era suposto
ser a tua iniciação?
O meu Gran Torino?
C'um caraças.
Raios!
Toad, tens um minuto?
Aqui está, eis o seguinte:
Fico com a parte de cima,
porque é a mais pesada.
Puxo aquilo e tu ficas
aqui e empurras aquilo.
E ajuda-me a empurrar em cada degrau.
Assim dessa forma.
Então, deixe-me ficar
com a parte de cima.
- Não, eu fico com a parte de cima.
- Nem pensar, eu fico com a parte de cima.
Parece muito pesado.
Não sou aleijado,
eu fico com a parte de cima.
Se não me deixa ficar com a
parte de cima, não o ajudo.
- Volto para casa.
- Ouve-me, pilantra...
Não, oiça-me, velho!
Estou aqui porque precisava de ajuda.
Por isso, ou é a parte de cima,
ou vou-me embora.
Está bem, ficas com a parte de cima,
e eu empurro. Só não o deixes
escorregar das tuas mãozinhas de mulher
e me esmagues.
Não me dê ideias, Walt.
Esta coisa pesa uma tonelada.
Pois, mas funciona como um relógio.
Já não se fazem mais destas.
- Então, o que vai fazer com isto?
- Vender, creio eu.
- Por quanto?
- Sessenta dólares.
Estou cansado de o ter
a ganhar pó lá na cave.
- Porquê? Estás à procura de um congelador?
- O nosso do andar de baixo está a morrer.
Está bem, vinte e cinco dólares e é teu.
Vinte e cinco?
Mas acabou de dizer sessenta.
Eu sei, mas isso poupar-me-ia
dinheiro para pôr um anúncio no jornal.
- Anda, vamos pô-lo em tua casa.
- Está bem.
- Um pouco irónico, não?
- O quê?
O Toad a lavar o carro
que tentou roubar-lhe.
Se ele não limpar uma parte,
faz tudo de novo, também.
É simpático estar a cuidar
dele assim desta forma.
Ele não tem nenhum
modelo exemplar a seguir.
Bem, não sou nenhum modelo exemplar.
Mas é um bom homem, Wally.
Quem me dera que o nosso pai
tivesse sido mais como o senhor.
- Não me chames Wally.
- Estou a falar a sério.
Ele era muito duro connosco, muito
tradicional, e muito à velha guarda.
Sim, eu sou da velha guarda.
Sim, mas é americano.
Que é que isso quer dizer?
Gosta dele, não gosta?
Está a brincar?
Ele tentou roubar-me o carro.
E passa tempo com ele,
ensina-o a como arranjar coisas,
salvou-o daquele nosso primo fodido.
- Tem tento na língua, menina.
E o senhor é bom homem.
Não sou bom homem. Traz-me outra
cerveja, Dragon Lady, esta está vazia.
Sabe, os Hmong consideram a
jardinagem um trabalho de mulheres.
Pois, por isso é que te
vejo sempre naquele jardim.
Além disso, já não estamos em Hu-mung.
Tem piada.
Sabe, deve deixar de fumar,
é mau para si.
Ai sim? Tal como entrar
para um gangue, merdas.
Não ouviu o que acabei de dizer?
Vi-o tossir sangue.
Devia deixar de fumar.
O que significa esse emblema?
O seu antigo clube de escuteiros?
Primeira cavalaria, tenho-o desde 1951.
Então, o que queres fazer
com a tua vida, rapaz?
Estava a pensar talvez
no ramo de vendas.
Vendas?
O meu filho mais velho
está no ramo de vendas.
- Está a safar-se?
- Se está, licença para roubar.
Trabalhei na fábrica da Ford durante 50
anos. E ele está a vender carros japoneses.
- O senhor fazia carros?
- Sim.
Eu pus a coluna de direcção
neste Gran Torino em 1972,
mesmo no sítio.
O senhor é mesmo velho, tão fixe.
Pois, queres estar nas vendas, estás
a pensar em ir para a escola, talvez?
Mais ou menos,
mas a escola custa dinheiro.
Bem, talvez devesse arranjar emprego,
não podes ficar aí sentado e
espalhar estrume no meu
jardim o resto da tua vida.
- Bem, talvez me possa pagar.
- Pois, muito engraçado.
Bem, que tipo de trabalho
é que conseguiria arranjar?
Pois, tens razão,
nunca ninguém te contrataria.
- Sim, eu sei.
- Olha, estou a brincar, pilantra.
Consegues arranjar emprego, consegues
arranjar emprego em qualquer lado.
- Como o quê?
- Que tal em construção?
- Eu?
- Sim.
Construção, tem Alzheimer
ou algo semelhante?
Não, consegues arranjar emprego em
construção conheço pessoas no ramo.
É claro que te tenho de dar uns pequenos
ajustes, tornar-te homem, um pouco.
- Tornar-me homem?
- Sim.
E acho que devias ter um encontro
com a menina Yum-Yum.
Far-te-ia bem.
Para saíres do armário.
Agora vais aprender como
é que os homens falam.
Ouves só como é que o
Martin e eu dialogamos.
Estás bem, pronto?
- Claro.
- Muito bem, entremos.
Perfeito, um polaco e um chinoca.
Como estás, Martin,
seu idiota maluco italiano?
Walt, seu sacana forreta,
devia saber que estavas para vir,
estava a ter um dia muito agradável.
O que fizeste? Burlaste algum cego?
- Deste-lhe o troco errado?
- Quem é o chinoca?
É um maricas da casa ao lado, só estou
a tentar torná-lo um pouco mais homem.
Estás a ver, miúdo? É assim que
os homens falam uns com os outros.
- É?
- O quê, és surdo?
Agora, sai volta e fala com ele
como um homem. Como um homem a sério.
- Anda lá, Walt.
- Anda, vai lá para fora. Volta.
- Desculpa por isto.
- Não faz mal.
Como é que é,
seu velho idiota italiano?
Sai da minha loja antes que te rebente
com a cabeça, seu chupa-pilas. Vai!
Jesus Cristo, merda.
Acalma-te, acalma-te.
Que raios estás a fazer,
perdeste o juízo?
Mas foi isso que disse, foi isso
que disse que os homens dizem.
Não entras aqui dentro e insultas
o homem na sua própria loja,
simplesmente não o fazes.
O que acontece se encontrares algum
estranho, ele fica com mal humorado,
vai querer rebentar a
tua cabeça de chinoca.
O que deveria ter dito, então?
Miúdo, porque não começas
com um "boas" ou um "olá"?
Sim, entra e diz, "Senhor, gostaria
de cortar o cabelo, se tiver tempo."
Sim, sê simpático, mas não bajules.
Na verdade, podes falar de um local
de construção de onde acabaste de vir.
E reclama sobre a tua
namorada e o teu carro.
Caraças, acabei de arranjar os travões
e aqueles filhos da mãe tramaram-me bem,
quer dizer, foderam-me bem.
Sim, não mandes vir com o tipo,
fala de pessoas que não estejam na sala.
Podes queixar-te do teu patrão, que
te faz fazer horas extraordinárias
na tua noite do bowling
- Certo, ou...
A velha da minha mulher queixa-se
durante duas horas sobre como
eles não aceitam cupões
fora de prazo na mercearia,
e assim que ligo a televisão no jogo começa
a chorar sobre como nunca conversamos.
Viste? Agora, sai,
volta e fala com ele...
E não é um bicho-de-sete-cabeças,
por amor de Deus.
Pois, mas não tenho emprego,
carro nem namorada.
Credo, devia ter-lhe rebentado
a cabeça quando tive hipótese.
Sim, talvez. Muito bem,
quero que dês meia volta
e vás lá fora, e voltes.
E não fales em não ter emprego, carro,
namorada, futuro, nem pila, está bem?
Vira-te e vai.
Desculpe, senhor, preciso de um corte
de cabelo, se não estiver muito ocupado,
seu barbeiro velho sacana idiota italiano.
Bolas, dói-me o rabo de todos os homens
do meu trabalho no local de construção.
C'um caralho. Jesus Cristo.
Estás preparado para levares
isto em frente, certo?
- Sim, sim.
- Não me digas, "Sim, sim."
Diz-me só,
"Sim senhor e farei o meu melhor."
Sim, farei o meu melhor.
Quando meto uma cunha por alguém,
quer dizer que lhe dou a minha palavra.
Não quero que me faças fazer má figura.
Não, estou bem. Quero mesmo isto.
Também não fiques muito calmo,
olha-o olhos nos olhos e um homem pode
dizer bastante pelo seu aperto de mão.
Toma, mete isto no teu bolso de trás.
- Fixe.
- Não dês cabo disto.
Olá, Kennedy, seu idiota irlandês
bêbado, como estás?
- Com problemas, mas quem vai ouvir-me?
- Eu não, isso é certo.
Serve-te, Walt, seu polaco burro.
Muito bem, era este o
miúdo de que estava a falar.
Thao, este é o Tim Kennedy,
ele é o supervisor neste trabalho.
Então, o que temos aqui, Walt?
Bem, ele percebe de construção e...
...é um rapaz inteligente,
fará tudo o que precisares.
- Tens a certeza?
- Sim.
- Falas inglês?
- Sim, senhor.
- Nasceste aqui?
- Pode apostar.
Vejo que o Walt te trouxe até cá,
tens um veículo?
Não, de momento.
Estou a apanhar o autocarro, por agora.
O autocarro?
Credo, não tens um carro?
A minha junta-da-cabeça partiu-se, e o
idiota da oficina quer que pague $2100.
Por favor, acabei de substituir
o meu rádio do meu Tahoe,
e os filhos da mãe lixaram-me bem,
quase 3200 dólares.
- Malditos ladrões, isso não está certo.
- Podes crer.
Está bem, aparece na segunda-feira,
arranja-se algo para fazeres.
- Obrigado, Mr. Kennedy.
- É Tim.
E... como é que te chamas, outra vez?
- Thao.
- Thao, está bem.
Ficas a dever-me uma, Walt.
Pois, bem, compro-te um
bolo de frutas para o Natal.
Que se lixe o bolo de frutas, e que tal...
se me desses a chaves daquele Gran Torino?
Por que raio toda a
gente quer o meu carro?
- Bem, não estou surpreendido.
- Bem, nem sabes a missa a metade.
Muito bem, vamos, pilantra.
Deixa a aqui o irlandês
a brincar consigo mesmo.
O que estamos a fazer?
O que queres fazer? Carregar as
tuas ferramentas num saco de arroz?
Aqui estamos, podes usar uma destas.
E vais precisar de uma destas.
- Não tenho dinheiro para nada disto.
- Eu pago.
Podes pagar-me de volta quando
receberes o teu primeiro cheque.
- Fixe.
- Toma, vais precisar de algo assim.
É disto que estou à procura,
toma, cinta de ferramentas.
Aí tens.
Não é para refilar, mas não vou
precisar de algumas ferramentas?
Ferramentas eu tenho, mas não te vou
deixar usar a minha cinta de ferramentas.
Podes buscar as ferramentas
quando as precisares.
- Agradeço que esteja a fazer isto.
- Esquece.
Não. Agradeço mesmo, obrigado.
Como é que é, meu?
Como estás?
- Que há de novo, meu?
- Que tens, vadio?
Só estou a dar uma vista
de olhos no meu primo.
Pois, meu. O nosso primo.
- O que é isto?
- De onde vens, meu?
Estou a ir para casa do trabalho.
Não que vocês saibam muito sobre isso.
Então é verdade, tens emprego.
- Não me podem só deixar em paz?
- O quê?
Meu, vê isto.
Estás assustado?
Quem te comprou esta porcaria,
o teu pai?
- O que é querem de mim?
- O teu pai comprou-te esta porcaria?
- Tirem a mão das minhas coisas.
- Para que precisas desse maldito chapéu?
Porque caralho me
fizeste passar má figura?
- Tirem a mão das minhas coisas!
- Batam-lhe.
- Dá-me isso, dá-me isso.
- Vá lá, essas coisas são minhas.
Anda, Smokie, parte-o!
- Deixem-me ir.
- Sua puta.
Dá-me cá isso, meu.
Dá-me cá isso.
Qual é a frase que estou à procura?
- Fode-o.
- Pois é, "salva a cara".
- Viva.
- Olá, tenho de ir.
Não te vejo há alguns dias,
por onde tens andado?
- Tenho estado ocupado.
- Pois...
Ocupado?
- Que raio te aconteceu?
- Não se preocupe.
Que queres dizer, não se preocupe?
Olha para a tua maldita cara.
- Já disse para não se preocupar.
Está bem? Não é problema seu.
- Quando?
- Agarram-me há dois dias.
- Mesmo depois de ter saído do trabalho.
- Cobardes!
Fiz tudo o que estava ao meu alcance,
mas partiram algumas das suas
ferramentas, eu substituo-as.
Não te preocupes com as ferramentas.
Onde vive o teu primo?
Não, Walt. Eu vou ficar bem.
Não quero que faça nada.
Está bem.
Se precisares de alguma
ferramenta a mais, avisa-me.
Bem, dar-me-ia jeito
um martelo de telhados.
Óptimo, vai buscá-lo à minha garagem.
Este deve ser o último deles.
Muito bem, eis o acordo.
Mantêm-te afastado do Thao, percebes?
Vais dizer aos teus amigos para
se manterem afastados do Thao.
E se eles não te derem ouvidos, vais
dizes-lhes que já não os queres ver mais.
É tudo. Percebeste?
Vou tomar isso como um sim,
porque se tiver de cá voltar,
vai ficar feio como o caralho.
Levanta-te e sai-me da frente.
Como quer o seu cão...
quero dizer, bife?
Engraçado.
Já lhe disse, só comemos gatos.
Nunca o tinha visto assim.
Bem, estou a sentir-me bem,
tenho mulheres lindas, óptima comida...
- E o Thao.
- E até mesmo o Thao não me está a chatear.
- Está a divertir-se, estou a ver.
- Pois.
E nunca acaba.
O que aconteceu aos seus nós das mãos?
Escorreguei no chuveiro,
não é nada de mais.
Yum-Yum, se ele não te convida
para sair, convido-te eu.
Bem, não lhe dês ouvidos, Youa.
Ele é um demónio branco.
Sim, sou, sou o "demónio branco".
Adoraria, Walt, mas ele deu cabo de si.
A sério? Não me digas.
Jantar e cinema, ou o quê?
Pois, ele vai apanhar o autocarro.
Não, ele não pode apanhar o autocarro.
Temos de te arranjar algo
com mais estilo que isso.
Como o quê, uma limusina?
Que tal aquilo?
- O Gran Torino?
- Sim.
- Deixar-me-ia levar o Gran Torino?
- Sim, deixar-te-ia levar o Gran Torino.
A sério?
Sim, a sério.
Aqui está o lançamento e o strike.
Estão todos bem?
Está óptimo. Estás bem.
Está tudo bem, está tudo bem.
Onde está a avó?
Onde está a Sue?
Onde está a Sue?
Ela foi para casa da nossa tia.
- A tua tia, tens a certeza?
- Sim.
Pega no telefone e liga-lhe, agora mesmo.
Sue. Sabia que isto ia acontecer.
Que raios estou aqui fazer?
Talvez alguns dos seus amigos
tenham ligado e mudado de planos.
Sim.
Na guerra, nós...
...perdemos muitos amigos, mas até que
se ultrapassa isso. Como estão a fazê-lo.
Não, não, não, não, não.
Seu caralho.
Qual é o teu problema?
Mr. Kowalski?
- O senhor está bem?
- Sim, estou bem.
A Polícia finalmente se foi.
Ninguém está a falar.
Uma coisa sobre os Hmong,
eles mantêm a sua boca fechada.
Pois, já reparei.
Sabe, o Thao e a Sue nunca
encontrarão paz neste mundo
desde que hajam gangues por perto.
E é demasiado tarde para
deixar estar, sabe, para sempre.
O que está a dizer?
Sabe o que estou a dizer.
Levaram a Sue para o hospital.
Ela está assustada.
- Estão todos assustados.
- Pois.
Especialmente o Thao.
Ele está lá fora, neste momento.
A olhar para a sua porta da frente.
Ele sabe o que esperar, Mr. Kowalski.
O que é faria, se fosse o Thao?
Sei o que faria se fosse o senhor.
Ou pelo menos,
o que acha que deve fazer.
A sério?
Se fosse o Thao acho
que quereria vingança,
quereria juntar-me a si
e matar aqueles tipos.
- E o senhor?
- O que é que eu faria?
Viria até cá e falaria consigo, acho.
Sei que é chegado a estas pessoas,
mas isto também me irrita, Mr. Kowalski.
- Quer uma cerveja?
- Adoraria uma.
Há umas na arca atrás de si.
Raios partam isto tudo.
- Isto não é justo.
- Nada é justo, padre.
Então, o que vai fazer, Mr. Kowalski?
Trate-me por Walt.
Está bem.
O que vai fazer, Walt?
Não sei. Mas pensarei em algo.
Seja o que for,
eles não terão hipótese.
O que está a fazer?
- Pensar.
- Pensar? A hora para pensar já acabou!
Agora está na altura de
dar cabo daqueles idiotas.
Sei que não queres ouvir isto,
mas agora é a altura para estarmos calmos.
Calmo?!
Quer que esteja calmo?
Estejamos calmos, ou cometermos erros.
Temos de afastar-nos desta coisa.
Não, não me decepcione, Walt.
Não o senhor, isto vai acabar hoje!
- Senta-te.
- Não me quero sentar.
Disse para te sentares!
Ouve-me.
Temos de planear isto, e temos
de o planear com muito cuidado.
Não podemos cometer qualquer erro.
Sabes que sou o homem certo para isto.
Por isso, quero que vás para
casa e que te mantenhas calmo.
Volta aqui às quatro da tarde.
E o que precisar de ser feito,
será feito.
Eu digo para irmos agora, agora mesmo!
E o quê, matar o teu primo
e o resto daqueles pilantras?
O senhor "Tipo-Agressivo-Assim-De-Repente,"
está pronto para derramar sangue?
Não sabes nada sobre isso.
Vai para casa, manténs-te calmo
e voltas para aqui às quatro da tarde.
Certo? Está bem!
Está bem.
Sim, eu sei.
Poupa-me, por favor.
É a primeira vez que fumo dentro de casa.
Deixa o homem apreciar-se,
não deixas, miúda?
Tudo terminado,
dez dólares americanos.
Suponho que as tuas mãos
não sejam firmes o suficiente
para me fazeres a barba.
Fazer a barba? Nunca me
pediste para te fazer a barba.
Eu sei, mas sempre pensei nisso.
Isso, a não ser que
estejas muito ocupado.
Não, deixa-me só aquecer a toalha.
Sim, está bem. E toma, aqui
estão os teus vinte dólares.
Guarda o troco, no caso de
acertares na minha veia jugular.
Sim, vai demorar cerca de uma hora.
Vamos reduzir um pouco as mangas.
Vamos ajustar os ombros.
Sabe, nunca tive um fato feito à medida.
Sim, senhor.
Está com muito bom aspecto.
O que posso fazer por si, Mr. Kowalski?
Estou aqui para me confessar.
- Bolas, o que é que o senhor fez?
- Nada, tenha calma.
- O que anda a preparar?
- Vai-me dar uma confissão ou não?
Há quanto tempo foi a
sua última confissão?
Bem, desde sempre.
Perdoe-me, padre, pois pequei.
Quais são os seus pecados, meu filho?
Bem...
...em 1968, beijei a Betty Jablonski
na festa de Natal da fábrica,
a Dorothy estava noutro
quarto com as outras esposas.
- Aconteceu.
- Sim, continue.
Bem, fiz 99 dólares de lucro
ao vender um barco a motor,
não paguei impostos,
isso é o mesmo que roubar.
Sim, está bem.
Agora, por último.
Nunca fui chegado aos meus dois filhos,
não os conheço, não sabia como.
- É isto?
- É isto!
Tem-me incomodado grande
parte da minha vida.
Reze dez Ave-Marias e cinco Pais-Nossos.
Deus ama-o e perdoa-o,
eu absolvo-o de todos os seus pecados.
Em nome do Pai,
do Filho e do Espírito Santo.
Obrigado, padre.
Vai retaliar sobre o
que aconteceu com a Sue?
Vou hoje até aquela casa,
Mr. Kowalski.
- Ai é?
- É.
E todos os dias que forem precisos até
que veja a queda do que está a planear.
Dia preenchido, tenho de ir.
Vá em paz.
Estou em paz.
Jesus Cristo.
Tenho a certeza que esta é a minha.
Já alguma vez disparaste uma arma?
Não.
Porque não baixas essa?
Tenho algo que te quero mostrar.
- Anda.
- O quê?
Em 1952, fomos enviados para dar cabo
de um ninho de metralhadoras chinesas,
eles danificaram-nos bastante.
Eu fui o único que regressou nesse dia.
Por isso, deram-me uma Estrela de Prata.
Aqui está.
Toma, quero que fiques com ela.
Porquê?
Porque todos nós sabíamos
os perigos dessa noite,
mas fomos à mesma,
pode ser assim esta noite.
Há sempre hipótese de não voltares.
O caraças é que não há,
vamos lá dar cabo deles.
Pois, pois, isso é estupidez. É essa
mesma reacção que eles estão à espera.
- Vai, fecha isso.
- Quantos?
Quantos quê?
Quantos homens é que o
senhor matou na Coreia?
Treze, talvez mais.
Como é que era matar um homem?
Não queiras saber.
Agora fecha isso.
Walt, Walt?!
O que está a fazer?
O que está a fazer?
Calma, não consegues sair daí.
Deixe-me sair, agora mesmo!
Deixe-me sair. Deixe-me sair!
- Vou matá-lo!
- Cala-te!
Queres saber como é que é matar um homem?
Bem, é horrível para caraças, é o que é.
A única coisa pior é
receber uma Medalha de Honra
por matar uma pobre criança,
que só desistir. É isso.
Sim, um chinoca pequeno assustado,
tal como tu.
Matei-o com aquela espingarda
que estavas a segurar há pouco.
Não há um dia que passe que eu não pense
nisso, não queiras isso na tua alma.
Agora, tenho sangue nas mãos, estou sujo,
por isso é que vou sozinho esta noite.
Walt, leve-me consigo, agora mesmo!
Deixe-me sair.
Olha, percorreste um longo caminho,
tenho orgulho em chamar-te amigo,
mas tens a tua vida toda à tua frente.
Mas eu, acabo as coisas.
É isso que faço, e vou sozinho.
Não, espere. Walt!
Walt! Walt! Walt! Walt!
Preciso que fique de olho na minha cadela.
Sim, também a adoro.
Sim, eu trato disso.
Sim, ela também é velha.
Ela chama-se Daisy.
- Estou?
- É o Walt. As chaves da minha casa
estão debaixo da tartaruga de
cerâmica do alpendre da frente.
Entra à vontade, o teu irmão está na cave.
Tenho de ir.
Sue, quem era, para onde estás a ir?
Sue.
Diz-me o que se está a passar.
Lamento, padre, mas temos de ir.
Estou a dizer-vos, se não ficarmos
aqui haverá sangue derramado.
Estamos aqui há horas. Não podemos
ancorar uma unidade numa localização.
Imploro-vos que fiquem.
Acabei de receber ordens do
meu Sargento, vamos desligar isto.
- Eu fico.
- Não, não fica.
Temos ordens específicas.
Veio connosco, vai connosco.
Cuidado com a cabeça.
Sue, aqui. Aqui.
- Solta-me, agora mesmo.
- O que se está a passar?
Ele foi-se embora sem mim.
Foi a casa do Smokie sem mim.
Thao!
- Meu, lixaste isto tudo.
- Quem fez isto?
Onde é que andaste à porrada o dia todo?
- Que é isto, cabra?
- Afasta-te, meu.
Que caralho, meu?
Alguma ratazanas dos pântanos aí dentro?
- Não pensei que fosses aparecer.
- Cala-te, chinoca!
Não tenho nada a dizer-te,
pila de camarão, anão como és.
Força, defende o teu namorado.
Porque ou foi ele, ou tu, ou alguém
que violou alguém da tua família.
Do teu sangue, por amor de Deus.
Força, disparem essas pistolas
como cowboys em miniatura. Força!
Onde está o Thao? O maricas
daquele filho da mãe não pôde vir?
Não te preocupes com o Thao.
O Thao nem tem um segundo para vocês.
Diz quem? Tu?
- Isso que se lixe.
- Que caralho vais fazer, velhote?
- Que vais fazer, vadio?
- Olha, meu!
- Estamos um pouco nervosos, não estamos?
- Cala-te.
Cala-te tu.
- Têm lume?
- Que caralho?
Não. Eu...
...tenho lume.
Ave-maria cheia de graça.
- Sim, Sargento.
- O que aconteceu?
- Precisa de se afastar.
- Ele é meu amigo!
Disse para se afastar!
Não o ouviu? Afaste-se.
- O que aconteceu?
- Afaste-se.
- Afaste-se.
- Ele é meu amigo.
Por favor, é importante.
Ele ia tirar o seu
isqueiro e eles alvejaram-no.
Não tinha nenhuma arma com ele.
Desta vez, temos testemunhas.
Estes rapazes vão
dentro por muito tempo.
Agente Chang, afaste essas pessoas!
Afaste-se agora, está bem?
Tirem-nos daqui para fora.
Tirem-nos daqui.
Walt Kowalski disse-me uma vez que eu
não sabia nada sobre a vida e a morte,
porque era um virgem de
27 anos com estudos a mais,
que dava as mãos
a velhas supersticiosas,
e prometia-lhes a eternidade.
O Walt não tinha qualquer
problema em dizer o que pensava.
Mas ele tinha razão.
Não sabia mesmo nada sobre a
vida e morte até conhecer o Walt.
E credo, o que aprendi.
"...e quero deixar a minha casa à Igreja,
porque a Dorothy teria gostado."
O que nos traz ao nosso último item,
e de novo, peço desculpa pela linguagem
no testamento do Mr. Kowalski,
só o estou a ler como foi escrito.
"E gostaria de deixar o meu
Gran Torino de 1972 para...
"...o meu amigo...
"...Thao Vang Lor.
"Sob a condição de que não cortas o
tecto, como um daqueles mexicanos,
"não pintes qualquer chama
idiota como um campónio branco.
"E não ponhas um aileron
maricas no parte de trás
"como vês no carro de
todos os outro pilantras.
"Fica horrível.
Se te conseguires privar
de fazer tudo isso, é teu."
Tradução e Legendagem:
M
Tradução e Legendagem:
Mr
Tradução e Legendagem:
MrD
Tradução e Legendagem:
MrDr
Tradução e Legendagem:
MrDru
Tradução e Legendagem:
MrDrug
Tradução e Legendagem:
MrDrugF
Tradução e Legendagem:
MrDrugFr
Tradução e Legendagem:
MrDrugFre
Tradução e Legendagem:
MrDrugFree
Agradecimentos:
mariamiranda